Introdução
Vamos
começar um estudo sobre um aspecto importantíssimo da Liturgia que merece uma
total atenção por parte de quem se interessar pelo tema. Procuraremos ajudar a
nossos leitores a reconhecer a simbologia litúrgica da Igreja de uma forma bem
simples, com uma linguagem bem acessível a todos. A “fé e a razão” deverão conduzir
a nossa reflexão, para que nenhum ponto do que trataremos aqui, seja mal
interpretado ou assimilado de forma incorreta.
A Liturgia
da Igreja não deve ser entendida como algo morta, rígida e sob a pena de
condenação eterna, caso não a execute de uma forma correta por falta de
conhecimento. Mas, como momento da ação viva da Igreja, algo que deve ser respeitada
e obedecida por amor a Mãe (Igreja), porque ela é única e exclusivamente da
Igreja, para a Igreja e deve ser vivida na Igreja! devemos entende-la como meio
eficaz e seguro da comunicação de Deus com o seu povo, e, visse e vessa.
Queremos
trabalhar aqui a essência fundamental da Liturgia, para que seja aplicada a
qualquer celebração da Igreja. É fato, conhecendo a íntima aspiração da
Tradição apostólica sobre a liturgia, e, no fundo a sua forma de se comportar
diante de Deus, com sua oração e liturgia, originadas e conduzidas pelo próprio Espírito
Santo, em que Cristo, sempre de novo, se torna nosso contemporâneo, possamos
estar abertos para que a Trindade domine completamente a nossa vida mortal,
tornando-a divina.
O grande
Ratzinger (Bento XVI) em sua obra “Introdução ao espírito da Liturgia”,
procurou sabiamente conduzir os fiéis de todas as partes do mundo a verdadeira essência
da Liturgia, demostrando na prática, enquanto estava assentado sobre a Cátedra de Pedro. Assim diz ele, fazendo uma introdução ao livro: “Podia dizer-se
que, em 1918, a Liturgia se assemelhava em muito a uma obra de arte que, apesar
de intacta, estava cheia de reboco. No missal, segundo o qual o padre celebrava
a Liturgia, a sua forma nascida das raízes, era de forte presença; para os fieis,
contudo, ela estava oculta sob formas e instruções de oração privadas. Através do
movimento litúrgico e, definitivamente, após o Concílio Vaticano II, esta obra
de arte foi posta a descoberta e, por um instante, ficamos fascinados pela sua
beleza, pelas suas cores e formas. Porém, entretanto, na sequência de
reconstruções e restaurações falhadas e devido a vagas de multidões afluentes,
esta mesma obra encontra-se em grande perigo, ameaçando de ser destruída se
rapidamente não se diligenciar o necessário para por término a essas
influências nocivas. Obviamente, não se pode voltar a cobrir-la; recomenda-se,
porém, um novo respeito ao lidar com ela, para que a nova descoberta não se
torne o primeiro grau da definitiva perda.”[1]
Tendo
a preocupação e o zelo pelo que é essencial na sagrada Liturgia da Igreja, me
proponho a refletir com você sobre este tema. Quero ver uma comunidade que
saiba verdadeiramente inculturar a liturgia, conforme pede o Concílio Vaticano
II[2], sem deturpar o seu real
desejo. Quero ajudar-vos a entender que Jesus Cristo é o sujeito e o ministro
principal, ou melhor, o sacerdote supremo e único Pontífice verdadeiro do culto
da Igreja que utiliza dos símbolos para mostrar ao mundo a sua realidade
transcendente.
A Liturgia dar o que pensar
A Igreja foi constituída por Nosso Senhor Jesus
Cristo ministro do culto litúrgico, cujo papel desempenha oferecendo
diariamente a Deus, muitas vezes, o Santo Sacrifício, administrando os
Sacramentos, abençoando e orando para a glória de Deus e o bem das almas. Sendo
assim, esta necessita dos símbolos para materializar o que na realidade existe
de verdade e está invisível aos olhos humanos. Um exemplo: Ninguém ver o sangue do Cordeiro,
ninguém vê o cordeiro sacrificado sobre o altar, mas ali ele está.
O
símbolo é abordado por muitas ciências. No meio de tantas abordagens, surge
muitas divergências, mas também as convergências. O mais importante é ficarmos
com a sua definição mais comum, quando afirma que o símbolo é um signo de
reconhecimento. Ele pede que se reconheça nele uma originalidade.
O
símbolo não é uma algo qualquer, mas é fruto de revelação que aproxima uma coisa da
outra, uma vez unindo ambas as partes, uma realidade a ser reconhecida se funde ali. Então, o símbolo é
algo operador de aproximações, de unificar e plenificar algo que estar por ser
revelado.
Na
história do símbolo lembramos dos pactos antigos, onde cada um dos que firmavam
um compromisso diante de alguma coisa, ficava com um dos pedaços de um sinal
que era repartido e entregue aos interessados, para que um dia, quando ambos os
pedaços se encontrassem, pudesse acontecer um encaixe perfeito, uma formação de
figura, dando assim, uma autenticidade do signo e a realização da promessa
feita a um momento atrás. Quer dizer, teria que haver junção perfeita para se
obter um reconhecimento perfeito do pacto realizado. Assim acontece com toda a
liturgia da Igreja, tendo sua plenitude no rito da Missa. Se há algo estranho
ao corpo do rito, em plenitude ele não acontece.
É
necessário o reconhecimento da originalidade dos pedaços para que os signos se
tornarem símbolos. Uma vez, reconhecida o signo, causa assim um significado
verdadeiro, levando a algo maior do que a vontade humana. Este é meu, este é
teu. O meu unido ao teu, se torna o nosso. O meu sem o teu é incompleto. A minha
parte quando é completada sem a tua, se torna falsa, não tem originalidade de
algo que é de dois.
Na
liturgia temos um pacto com Deus pelo Rito, uma originalidade. Para que Deus
reconheça que este rito é simbólico, quer dizer, pertence a Igreja (sua Esposa,
seu corpo), o Rito não tem que ser adulterado, modificado. Porque se não, não
irá unir, não será reconhecido como um signo da Igreja, mas como algo pessoal, particular,
de um grupo que não diz nada do todo.
A
palavra que faz oposição ao símbolo é o diabólico. Aquilo que separa, desune,
desordena, causa um curto circuito. Isto quer dizer, que diabólico é um ser que
proporciona uma separação da originalidade, do que é verdadeiro, do que de fato
deveria ser na realidade.
O
diabólico não permite que aconteça o reconhecimento daquilo que tem a obrigação
que seja reconhecido.
Como
se chega ao sinal? Todo símbolo se refere a alguma coisa! Quer dizer, o símbolo
tem uma finalidade, exemplo:
Ø A
música litúrgica tem uma finalidade: eu canto a missa, e, não canto na missa. Quando
um grupo resolve cantar na missa, um corpo estranho é introduzido no Rito,
causando uma ação diabólica, onde por obrigação deveria ser simbólica;
Ø No Rito
da missa por exemplo, após o Kyrie a
Igreja deve de imediato rezar (cantar) o Glória,
quando o tempo litúrgico e a celebração permite. O Ritual não espera, nem
permite que aja uma introdução da parte de ninguém, quer seja da parte do
presidente da celebração, quer da parte do comentário. O Kyrie já é a
introdução que a Igreja faz ao Glória. Não deve haver outra intenção pela qual
se vai rezar (cantar) o Glória, nem o número do canto que vai ser executado. Se
isto ocorre, logo acontece algo estranho na liturgia da santa Missa, tornando-se
assim, algo diabólico;
Ø Na
procissão de entrada se espera a cruz, o Evangeliário, os acólitos, os
diáconos, os sacerdotes com o(s) seu(s) bispo(s). Se vierem enfeites, vasilhas,
pessoas com cartazes, bailarinas, atabaques, leitores, ministros
extraordinários (como é comum as suas inclusões nas procissões de entradas das
missas no Brasil), logo no começo, o Ritual da Missa, começa a ser um corpo estranho,
a liturgia já inicia enferma;
Ø Na
procissão das oferendas se espera o que de fato está sendo ofertado, não o que
será representado, pois, em nenhuma parte do Ritual da Missa é como se fosse
teatro. Celebramos uma REALIDADE! NOSSO SENHOR JESUS CRISTO É EM CADA MISSA A
OFERTA E AO MESMO TEMPO O OFERTADO. Exemplo de algo que para muitos são
simbólicos, mas para o Rito da Igreja é algo diabólico, pois se utilizam de
teatralização para comunicar algo que não se encaixa naquilo que é próprio do
Rito: procissões com sandálias, pão e uva, etc. torna-se algo estranho. O que
vai ser sacrificado a Deus é o pão eucarístico e o vinho (devidamente aprovado
pela autoridade eclesiástica), e, não o pão integral e vinho de qualquer marca,
sabor ou coloração.
Quer dizer, o símbolo no Ritual da Missa
tem o poder de transmitir uma mensagem e ao mesmo tempo É UMA REALIDADE que
transcende a limitação humana. O símbolo ultrapassa a simples realidade do que
está representado no signo.
Autor: José Wilson Fabrício da Silva, crl
(josewilson.fabricio@gmail.com)