Vivemos nos dias em que tudo só é credível, se estiver cientificamente comprovado, fazendo reaparecer a potencialidade racionalista que dominou uma parte do período da história ocidental. Isto também, de certa forma, alcançou as paredes internas de nossas igrejas, mosteiros, conventos e seminários, gerando uma legião de consagrados insensíveis às questões de fé, piedade, amor e caridade.
As consequências espirituais foram enormes, gerando inquietações nos corações do povo de Deus, que lamentavelmente procuraram, muitas das vezes, em caminhos errados, por uma espiritualidade ou piedade que na Igreja não estavam encontrando, por parte dos seus pastores.
O povo de Deus ainda procura por homens e mulheres da Igreja que são amigos íntimos de oração, da devoção, da Sagrada Escritura, da Eucaristia, da modéstia no agir e no vestir, do amor a Nossa Senhora e dos Santos.
A Igreja tem mais necessidade de sacerdotes e consagrados santos e zelosos, do que de pessoas doutas e insensíveis, para com as coisas Sagradas para Deus e para os fiéis. O desrespeito ao que é sagrado já domina quase todas as comunidades. Participar do Santo Sacrifício da Missa ou de qualquer rito sacramental é igualado a qualquer evento social, ou a um teatro em que o padre dará seu show de humor, de música e de perguntas e respostas na hora da homilia.
Os fiéis não exigem nada que é impossível à capacidade humana, apenas que todos os que são consagrados, vivam amando a Deus. Este amor não é matéria de ensino, nem de prescrição, mas é coisa prática. Não adianta falar bonito de Deus, se a vida do religioso não fala de Deus.
Participando de um encontro formativo em uma casa carmelitana, li uma frase que estava escrita na parede de um salão que mexeu profundamente comigo, fazendo-me pensar sobre a santidade na vida da Igreja. Este escrito remetia a Santa Terezinha que, recordando de seus pais, disse: “Bastavam olhar-los para saber como rezam os santos”. Agora, faço uma pergunta a todos: será que podemos afirmar a mesma coisa quando vemos as pessoas que se dizem “viver para Deus, com Deus e em Deus”?
Estamos dentro das festividades dos cinquenta anos da abertura do Concílio Vaticano II, rezemos com mais intensidade para que, aquilo que foi impresso na SACROSANCTUM CONCILIUM deixe de ser verdade escrita, para ser verdade vivida por todos os batizados:
Cristo está sempre presente em sua Igreja, e especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agora se oferece pelo ministério sacerdotal é o “mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz”, como sobretudo nas espécies eucarísticas. (num. 7)
O Espírito Santo no Concílio chama a todos os ministros ordenados a viverem conforme o que acabamos de ler. A assimilação dessas palavras é necessária para a edificação da Igreja militante e a glorificação da Igreja gloriosa.
Conta-se na vida do Beato Frederico de Ratisbona que ele exultava de alegria ao ornamentar os altares e em procurando o decoro do recinto sagrado. Pois o que importava para ele era a beleza externa da casa de Deus para edificar a beleza interna nos corações das almas. Com esta atitude, Frederico proporcionava um encontro piedoso dos filhos com o Pai que, em nossos sacrários, vive para as suas criaturas. Provocando assim nos consagrados ao Senhor uma vivência mais radical no chamado.
Os Santos nos fazem tremer ao tratarem dos prejuízos que podem acarretar o estado da insensibilidade para com o sagrado e a tibieza na fé! Santo Afonso usa de expressões candentes quando se fala sobre o amor pela vida em Deus, usando este argumento: “Há pessoas que, pela sua própria condição, estão obrigadas a uma vida de santidade, a saber, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas”. Ele mesmo narra que declarou um dia Nosso Senhor a Santa Ângela de Foligno que: “Aqueles que Eu ilumino para trilharem o caminho da perfeição, e treinam em seguir a via ordinária, serão por mim abandonados”. (Selva Predicab. cap. V: Cap. V e VI: Del pericolo d’una religiosa imperfetta)
Existem também, muitos homens e mulheres de Deus que servem ao Altar com amor, respeito e fé! A estes, o nosso carinho, onde somos convidados a nos espelharmos neles, para achegarmos ao Senhor com o corpo, alma e coração, ajudados com os exemplos desses irmãos e irmãs que vivem sua vocação.
Autor: Cônego José Wilson Fabrício da Silva, OCRL
Referências
DOCUMENTOS do Concílio Ecumênico Vaticano II, 2° Ed. - São Paulo : Paulus, 2001;
CASTELLAMMARE, Fr. Antonino de. A Alma Eucarística. São Paulo : Privada, 2006;
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