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quarta-feira

Relação entre Fé e Razão nos escritos do Papa Bento XVI, pelo Cônego José Wilson Fabrício da Silva, OCRL



Procurando entender a relação entre Fé e Razão, faço chegar a todos os nossos leitores algumas reflexões que fiz à luz dos discursos do Papa Bento XVI. Espero que aos interessados, estes textos sejam de grande valia.

Atenção!
Qualquer uso de todas as matérias aqui postadas, favor comunicar aqui: conegojosewilson@globomail.com




BENTO XVI ENCONTRO COM JOVENS PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS

Basílica do Mosteiro de São Lourenço do Escorial em 19 de Agosto de 2011





Ao examinarmos o discurso do Papa Bento XVI aos professores universitários, somos impactados por suas palavras, que nos convidam a fazer uma releitura da história do progresso intelectual dado no Ocidente, tendo como protagonista a Igreja Católica, sendo a iniciadora de todo o estudo universitário, fruto de uma ação gestada da necessidade de vermos que, fé e ciência são duas coisas necessárias no ser humano. Afirma o Papa: “Com efeito, a universidade foi, e deve continuar sendo, a casa onde se busca a verdade própria da pessoa humana”.

Aos jovens professores, o Papa fez uma exortação: “Um ideal que recebestes dos vossos mais velhos, Devemos sentir-nos seus continuadores, numa história muito diferente da deles, mas cujas questões essenciais do ser humano continuam a exigir a nossa atenção convidando-nos a ir mais longe”. Lança esta necessária responsabilidade para estes formadores de pessoas, para dizer que a Razão é a faculdade onde são purificadas as mais profundas respostas, para saciar os nossos questionamentos. Pois, é pelo uso da razão que chegamos a determinados lugares inalcançáveis sem ela.

Não fica somente no resultado final (definições fixas que com o tempo se chegou), mas, uma vez conhecido o resultado (o conteúdo) “não basta ensiná-lo, é preciso vivê-lo, encarná-lo, à semelhança do Logos que também encarnou para colocar a sua morada entre nós. Neste sentido, os jovens precisam de mestres autênticos”.

Sendo assim, o grande compromisso do professor, fazendo honrar o seu juramento, prestado no dia da colação de grau é “a não perderdes jamais tal sensibilidade e encanto pela verdade, a não esquecerdes que o ensino não é uma simples transmissão de conteúdos, mas uma formação de jovens a quem deveis compreender e amar, em quem deveis suscitar aquela sede de verdade”. Importantíssimas palavras, ditas por Bento XVI.

Sua Santidade indica certos requisitos que são de grande valia para os que se empenham na busca da verdade: “Em primeiro lugar, que o caminho para a verdade completa empenha o ser humano na sua integralidade: é um caminho da inteligência e do amor, da razão e da fé. Em segundo lugar, havemos de considerar que a verdade em si mesma está para além do nosso alcance. Podemos procurá-la e aproximar-nos dela, mas não possuí-la totalmente; antes, é ela que nos possui a nós e estimula”.

Não basta somente a ciência, a fé é a força motriz que a ilumina, sem permitir que ela perca o seu brilho. Muito pelo contrário, ambas são tão necessárias no conhecimento que, sem elas, não chegamos a Verdade última das coisas.  





DISCURSO DE BENTO XVI À PONTIFÍCIA COMISSÃO TEOLÓGICA

INTERNACIONAL Sexta-feira, 2 de Dezembro de 2011





O Papa inicia seu discurso, convidando a todos a olhar para a teologia, como algo atual e fundamental para os nossos dias. Diz ele que devemos por “especial atenção a uma temática que atualmente é de grande atualidade para o pensar teológico sobre Deus”. Porque “em fecundo diálogo com a filosofia, a teologia pode ajudar os fiéis a tomar consciência e a testemunhar que o monoteísmo trinitário nos mostra a verdadeira Face de Deus, e este monoteísmo não é fonte de violência, mas força de paz pessoal e universal”. Entendo esta afirmação, chegaremos a conclusão que a reta concepção teológica é meio de promoção de paz, dignidade e sabedoria no mundo.

Afirma ainda: “O ponto de partida de cada teologia cristã é o acolhimento desta Revelação divina: o acolhimento pessoal do Verbo que se fez carne, a escuta da Palavra de Deus na Escritura. A partir desta base, a teologia ajuda a inteligência crente da fé e a sua transmissão”.

Entendamos que o “importante (é) recordar que a teologia católica, sempre atenta ao vínculo entre fé e razão, desempenhou um papel histórico no nascimento da Universidade”, como vimos nas palavras do papa com os jovens professores universitários. Mas, o objetivo de Sua Santidade aqui é alcançar os corações, quando afirma que “uma teologia verdadeiramente católica, com os dois movimentos, «intellectus quaerens fidem  et  fides  quaerens  intellectum», é  hoje  necessária  como nunca, para tornar possível uma sinfonia das ciências e para evitar as derivas violentas de uma religiosidade que se opõe à razão, e de uma razão que se opõe à religião”.

A missão dos teólogos no mundo contemporâneo é tão necessária, como a de qualquer profissional ou político que visa com a sua função, o progresso e a dignidade humana na sociedade. Isto salienta o Papa: “a Igreja precisa da reflexão competente e fiel dos teólogos a respeito do mistério do Deus de Jesus Cristo e da sua Igreja. Sem uma reflexão teológica sadia e vigorosa, a Igreja correria o risco de não expressar plenamente a harmonia entre fé e razão”. Tendo palavras acertadas, será a Igreja, sal da terra e luz do mundo. O testemunho dela deve ser lógico, coerente e convidativo ao a todos os povos à fazerem a diferença.





BENTO XVI EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL VERBUM DOMINI Fé e razão na abordagem da Escritura





Na parte selecionada da Verbum Domini para a nossa reflexão, o Papa Bento XVI pede que “os que se dedicam ao estudo da Sagrada Escritura nunca devem esquecer que as diversas metodologias hermenêuticas têm também na sua base uma concepção filosófica: é preciso examiná-las com grande discernimento, antes de as aplicar aos textos sagrados”. Porque, com o uso da fé e a razão, chegaremos ao que os textos sagrados verdadeiramente queriam dizer para aquela época, aquele lugar e aquelas pessoas, sem esquecer que a Bíblia também é um livro atual e, sua Palavra é viva e eficaz.

Diz ainda: “A unidade dos dois níveis do trabalho interpretativo da Sagrada Escritura pressupõe, em última análise, uma harmonia entre a fé e a razão. Por um lado, é necessária uma fé que, mantendo uma adequada relação com a reta razão, nunca degenere em fideísmo, que se tornaria, a respeito da Escritura, fautor de leituras fundamentalistas. Por outro, é necessária uma razão que, investigando os elementos históricos presentes na Bíblia, se mostre aberta e não recuse aprioristicamente tudo o que excede a própria medida”.







DISCURSO DO PAPA BENTO XVI A UMA DELEGAÇÃO DA FACULDADE DE TEOLOGIA

DA UNIVERSIDADE DE TÜBINGEN (ALEMANHA) - Quarta-feira, 21 de Março de 2007







Relevantes palavras pronunciou-as o Papa Bento XVI, quando esteve em seu país de origem. Elas merecem todas as honras possíveis para um amante da teologia. Disse assim o papa, ao fazer uma alusão a história do estudo teológico na Universidade que: “A Teologia era uma das suas primeiras preocupações, como o coração da Universidade”. E depois continuou o seu discurso dizendo: “Gostaria de esclarecer este aspecto com um exemplo. Um exegeta, um intérprete da Sagrada Escritura, deve explicá-la como obra histórica "secundum artem", ou seja, com o rigor científico que conhecemos, segundo todos os elementos históricos que isto exige, segundo o método necessário. Mas, contudo, só isto não é suficiente para que ele seja um teólogo.

Com esta afirmação, compreendo que ser teólogo, nas palavras do papa, é ser estudiosos que utilizem das ciências necessárias para ter a justa segurança na hora de examinar e de comunicar com êxito a palavra de Deus. Pois, “para ser teólogo e para desempenhar o serviço para a Universidade e, ouso dizer, para a humanidade o serviço que dele é esperado deve ir além e perguntar: mas é verdade o que ali é dito? E se é verdade, diz-nos respeito? E de que modo nos diz respeito? E como podemos reconhecer que é verdadeiro e que nos diz respeito?  Penso que neste sentido a teologia, mesmo no âmbito do cientismo, seja exigida e interpelada sempre além do cientismo”.

Isto é fato, não se pode fazer da teologia uma ciência que caia no cientificismo, tão pouco, um fideísmo. A justa medida deve-se ter. Porque “deve ser radical a teologia. Quem não pergunta não recebe resposta”. Diz ainda o papa: “Mas, acrescento, para a Teologia é preciso, além da coragem de perguntar, também a humildade de ouvir as respostas que a fé crista nos dá”.





BENTO XVI – DISCURSO DE RATISBONA (12/09/2006)





Bento XVI em Ratisbona ao fazer o seu discurso, acelerou toda a reflexão que estávamos fazendo a cerca da Fides et Ratio, para percebermos que a Igreja ao utilizar-se da razão para entender a fé, quer que todos assumam e autentiquem o seu ensinamento, reconhecendo nele a Revelação do Logos. Para isto, disse assim: o “Logos significa ao mesmo tempo razão e palavra. Uma razão que é criadora e capaz precisamente de se comunicar, mas como razão. Com isto João deu-nos a palavra conclusiva sobre o conceito bíblico de Deus, a palavra na qual todos os caminhos muitas vezes cansativos e sinuosos da fé bíblica alcançam a sua meta, encontram a sua síntese”.

Longe de apoiar ou aceitar o pensamento iluminista contrário à fé, mas, reconhecendo o verdadeiro significado para este movimento, disse o papa: “Trata-se do encontro entre fé e razão, entre autêntico iluminismo e religião. Partindo verdadeiramente da natureza íntima da fé cristã e, ao mesmo tempo, da natureza do pensamento grego já fundido com a fé, Manuel II podia dizer: Não agir "com o logos" é contrário à natureza de Deus”.

Dando uma resposta às pessoas que são indiferentes a religião, ou que tão pouco a praticam, disse Bento XVI: “Deus não é mais divino pelo fato de que o afastamos para longe de nós num voluntarismo puro e impenetrável, mas o Deus verdadeiramente divino é aquele Deus que se mostrou como logos e como logos agiu e age cheio de amor em nosso favor.

Para estas palavras o papa apresenta as suas razões: “Esta tentativa, feita apenas em linhas gerais, de crítica da razão moderna a partir do seu interior, não inclui absolutamente a opinião de que agora se deva voltar atrás, à época anterior ao Iluminismo, rejeitando as convicções da era moderna.  Aquilo que no desenvolvimento moderno do espírito é válido, é reconhecido sem hesitações:  todos  estamos  gratos  pelas  grandiosas  possibilidades  que ele  abriu  ao  homem  e  pelos  progressos  no  campo  humano  que  nos  foram proporcionados.  O ethos da cientificidade, afinal, é como Vossa Magnificência mencionou vontade de obediência à verdade e, por conseguinte, expressão de uma atitude que faz parte das decisões fundamentais do espírito cristão.

Porque com toda a alegria diante das possibilidades do homem, vemos também as ameaças que sobressaem destas possibilidades e devemos perguntar-nos como podemos dominá-las.  Só o conseguiremos se razão e fé estiverem unidas de uma nova forma; se superarmos a limitação autodecretada da razão ao que é verificável na experiência, e lhe abrirmos de novo toda a sua vastidão.  Neste sentido, a teologia, não só como disciplina histórica e humano-científica, mas como verdadeira teologia, ou seja, como interrogação sobre  a razão da fé, deve ter o seu lugar na universidade e no amplo diálogo das ciências”. Creio que aqui está o coração do discurso de Bento XVI.

Podemos incluir aqui algumas palavras escritas por ele, quando se preparou para fazer um discurso na Universidade La Sapienza que, logo em seguida foi anulado. Escreveu: “A teologia deve continuar a beber num tesouro de conhecimento que não foi inventado por ela, que sempre a supera e que, não podendo jamais ser totalmente esgotado mediante a reflexão, por isso mesmo leva o pensamento a começar sempre de novo”. Tudo isto para dizer que ela deve ouvir outras ciências que podem ajudá-la na compreensão da fé. Mas, conclui o seu discurso em Ratisbona fazendo uma afirmação que deve ser perpetuada, quando diz: “Uma razão, que diante do divino é surda e rejeita a religião do âmbito das subculturas, é incapaz de se inserir no diálogo das culturas”.

                          Autor: Cônego José Wilson Fabrício da Silva, OCRL
Bibliografia:


BENTO XVI, Discursos: “Fé, razão e universidade”, Regensburg, 12/09/2006; “A uma delegação da Faculdade de Teologia da Universidade de Tubingen”,  21/03/2007;  “Discurso  para o encontro na Universidade La Sapienza”, 17/01/2008; “Encontro com jovens professores universitários Basílica do mosteiro de São Lourenço do Escorial”, 19/08/2011; “Discurso de Bento XVI à Pontifícia Comissão Teológica Internacional”,  02/12/2011.

A Visão Católica da Morte, como lugar teológico


Falar da morte é falar da vida, pois ninguém morre, sem está vivo primeiro. Isto é fato! Biologicamente estamos sempre morrendo, pois, é impossível pensar na vida, sem nos depararmos com a nossa realidade última. Por essa causa, à luz da nossa Fé no Senhor da vida, vamos olhar para a morte como oportunidade necessária que proporciona, segundo a Palavra de Deus, o nosso encontro definitivo com Ele.

            Mesmo sabendo que nosso corpo é “templo vivo do Espírito Santo” (1Cor 6, 19), devemos ter em mente que ele é algo passageiro como um pó que ao vento se dispersa. Tal afirmação não deve ser motivo para desprezar-lo ou profanar-lo, porque ele é morada de Deus, matéria inviolável e lugar digno de respeito.

            Vivemos em uma época que venceu muitos medos, tabus e preconceitos, mas ainda se têm muitos enigmas, incompreensões e pavor frente à morte. O padre Leomar Brustolin chega a dizer que “a morte em si é um dado que não possui significado próprio” (Brustolin p. 10), dando a entender que é um evento que pode assumir diferentes sentidos, e cada um deles, a seu modo, pode ser justificado. É verdadeira tal afirmação, porque em cada cultura, de diferentes lugares e tempos, a morte assume um valor, segundo a concepção de vida que cada povo tem.

            Sendo assim, quero partir da nossa concepção cristã católica, para dizer no que acreditamos a respeito dessa realidade que todos os seres vivos em um momento da vida no tempo, têm a experimentar.

            Quando a Doutrina Católica afirma que a morte não é o fim último do homem, significa que pela morte começamos a viver plenamente a vida eterna doada a cada um de nós no dia do nosso Batismo. Isto está bem claro, no Catecismo da Igreja Católica quando afirma:



“Até que o Senhor Venha em sua majestade e com ele todos os anjos, e destruída a morte, todas as coisas lhe forem sujeitas, alguns dentre os seus discípulos peregrinam na terra, outros, terminada esta vida, são purificados, enquanto que outros são glorificados, vendo ‘claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é’” (CaIC n. 954).



            A morte é necessária, pois, para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Ele, para irmos estar com o Senhor (2Cor 5, 8).  É diante da morte “que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormenta o homem, mas também, e mais ainda, o temor de que tudo acabe para sempre” (GS n.18). Isto faz parte de nossa condição humana, mas, orientados pela Palavra de Deus, damos um sentido diferente a morte, chamando-a de “irmã”, como disse S. Francisco de Assis, porque por ela, passaremos a viver a Vida Verdadeira.

            São Paulo escreve os romanos uma das passagens maravilhosa sobre a nossa morte, dando uma visão privilegiada a cada irmão que estava em Roma quando diz: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos, e se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor” (Rm, 14, 7-9). Aos Filipenses (3, 20) disse: “Nós somos cidadãos do céu”. Todas estas palavras foram ditas para entendermos que a morte é transformada por Cristo. Ele destruiu a morte com sua morte para dar-nos vida, isto já sabemos, nisto acreditamos. Mas, nem sempre a encaramos assim.

            Peçamos a Sabedoria de Deus para entendermos que para os que crêem no Senhor, a vida não é tirada, mas transformada (Rm 5, 19-21). “O homem foi criado por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena” (GS n. 16).  Somente pela fé entenderemos o sentido verdadeiro da morte.

            A cada momento que nos encontrarmos em um rito das Exéquias, somos convidados a fazer uma releitura de nossas vidas, para encontrarmos um meio que utilizaremos para tentar refazermos as nossas caminhadas, visando uma mudança necessária, para vivermos melhores no Amor, enquanto pudermos estarmos aqui. Pois, “Há um só corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados” (Ef 4, 4). Então, a única oportunidade de sermos melhores, segundo o coração de Deus, é nos dada aqui, enquanto estamos vivos. A continuidade de nossa vida eterna, será consequência daquela que vivemos aqui e agora.

Autor: Cônego José Wilson Fabrício da Silva, OCRL



Bibliografia



Brustolin, Leomar Antônio. Morte: uma abordagem para a vida, Porto Alegre, EST Edições, 2007.

Bíblia Sagrada, Tradução CNBB, Brasília, Edit. CNBB, 2011.

Católica,Catecismo da Igreja. Petrópolis, Vozes, 1993.

Vaticano II, Documentos do Concílio Ecumênico, São Paulo, 2ª Ed., Paulus, 2002.

sábado

Até a Veja compreendeu o que a Igreja nunca escondeu!

Por Dom Henrique Soares:
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Doutrina Católica
 

Olhe só, caro Internauta, com toda incompetência quando fala de catolicismo e com todo ranço contra a Igreja, até a revista Veja desta semana compreendeu o sentido do documento do Papa. Só tem alguns errinhos, que apontarei ao fim da matéria. Mas, vale ler:
No documento divulgado pelo Vaticano na semana passada, o papa Bento XVI reforça um aspecto central da doutrina católica. Intitulado Respostas a Questões Relativas a Alguns Aspectos da Doutrina sobre a Igreja, o texto reafirma a Igreja Católica como a única Igreja de Cristo. Elaborado pela Congregação para a Doutrina da Fé em forma de perguntas e respostas e ratificado pelo papa, o documento tem por objetivo esclarecer interpretações teológicas modernosas, surgidas com o Concílio Vaticano II, na década de 60. "As comunidades cristãs nascidas da Reforma do século XVI não conservam a genuína e íntegra substância do mistério eucarístico e não podem ser chamadas Igrejas em sentido próprio, segundo a doutrina católica", diz o texto. A declaração causou protestos entre os protestantes e os ortodoxos. Acusa-se o papa de dificultar o diálogo ecumênico. Mas bancar as madalenas enganadas não passa de jogo de cena dos cristãos não-católicos. Afinal de contas, em mais de 2.000 anos de história, a Igreja Católica nunca relativizou essa posição.
O próprio nome da Igreja expressa como ela sempre se enxergou única. A Igreja é Católica (palavra de origem grega que significa "universal"), Apostólica (fundada por Pedro e Paulo, herdeiros diretos da verdade de Cristo) e Romana (não há legitimidade cristã fora do âmbito papal). A unicidade é reforçada, ainda, por dois dos oito títulos exibidos por um papa – o pontífice romano é o Vigário de Jesus Cristo e o Sucessor do Príncipe dos Apóstolos (Pedro). Depois do Concílio Vaticano II, que fez entrar uma lufada de ar fresco na Santa Sé, passou a ser politicamente incorreto bater nessa tecla. Em especial, porque criava embaraços com as outras vertentes do cristianismo, com as quais se procurava estabelecer algum diálogo.
Por que Bento XVI voltou a afirmar o caráter único da Igreja Católica? Para diminuir o ruído provocado pelos desvarios dos padrecos que, ao questionar a autoridade de Roma em matéria teológica, tentam também retirar a excelência que a Igreja se atribui. Trata-se de uma limpeza de horizontes periódica. Em 2000, por exemplo, ainda como o cardeal Joseph Ratzinger, ele assinou um documento sobre a universalidade de Jesus Cristo e da Igreja, chamado Dominus Iesus. Nele, está dito que os cristãos não pertencentes à Igreja Católica se encontram em situação deficitária na busca por salvação quando comparados aos católicos. Em 2006, Bento XVI renunciou ao título de Patriarca do Ocidente justamente porque, do ponto de vista da universalidade da Igreja, era contraditório reconhecer a existência de uma Igreja do Oriente.
Observações minhas:
1) “Católica” não quer dizer somente universal; quer dizer também “segundo a totalidade”, isto é: a Igreja tem a totalidade daquelas características que Cristo deu à sua Igreja;
2) “Romana” não é uma das características da Igreja; mas somente uma indicação do Primado do Bispo de Roma, como Sucessor de Pedro;
3) Bento XVI renunciou ao título de “Patriarca do Ocidente” porque não fazia mais sentido: na antiguidade, “Ocidente” era a parte latina do Império Romano. O Oriente tinha quatro patriarcas: Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém; o Ocidente tinha somente o de Roma. Mas hoje, quando se fala “ocidente” pensa-se nos Estados Unidos e seus aliados europeus. E disso o Papa não é nem quer ser patriarca. Para evitar esse mal-entendido, o Papa renunciou ao título;
4) Mas, quanto às “interpretações modernosas”, as “madalenas enganadas” e os “desvarios dos padrecos”, a revista está certíssima!

Enriqueça sua espiritualidade meditando a Palavra de Deus com Deom Henrique

Palavras de Dom Henrique para a nossa meditação