Falar da morte é falar da vida, pois ninguém morre, sem está vivo primeiro. Isto é fato! Biologicamente estamos sempre morrendo, pois, é impossível pensar na vida, sem nos depararmos com a nossa realidade última. Por essa causa, à luz da nossa Fé no Senhor da vida, vamos olhar para a morte como oportunidade necessária que proporciona, segundo a Palavra de Deus, o nosso encontro definitivo com Ele.
Mesmo sabendo que nosso corpo é “templo vivo do Espírito Santo” (1Cor 6, 19), devemos ter em mente que ele é algo passageiro como um pó que ao vento se dispersa. Tal afirmação não deve ser motivo para desprezar-lo ou profanar-lo, porque ele é morada de Deus, matéria inviolável e lugar digno de respeito.
Vivemos em uma época que venceu muitos medos, tabus e preconceitos, mas ainda se têm muitos enigmas, incompreensões e pavor frente à morte. O padre Leomar Brustolin chega a dizer que “a morte em si é um dado que não possui significado próprio” (Brustolin p. 10), dando a entender que é um evento que pode assumir diferentes sentidos, e cada um deles, a seu modo, pode ser justificado. É verdadeira tal afirmação, porque em cada cultura, de diferentes lugares e tempos, a morte assume um valor, segundo a concepção de vida que cada povo tem.
Sendo assim, quero partir da nossa concepção cristã católica, para dizer no que acreditamos a respeito dessa realidade que todos os seres vivos em um momento da vida no tempo, têm a experimentar.
Quando a Doutrina Católica afirma que a morte não é o fim último do homem, significa que pela morte começamos a viver plenamente a vida eterna doada a cada um de nós no dia do nosso Batismo. Isto está bem claro, no Catecismo da Igreja Católica quando afirma:
“Até que o Senhor Venha em sua majestade e com ele todos os anjos, e destruída a morte, todas as coisas lhe forem sujeitas, alguns dentre os seus discípulos peregrinam na terra, outros, terminada esta vida, são purificados, enquanto que outros são glorificados, vendo ‘claramente o próprio Deus trino e uno, assim como é’” (CaIC n. 954).
A morte é necessária, pois, para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Ele, para irmos estar com o Senhor (2Cor 5, 8). É diante da morte “que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormenta o homem, mas também, e mais ainda, o temor de que tudo acabe para sempre” (GS n.18). Isto faz parte de nossa condição humana, mas, orientados pela Palavra de Deus, damos um sentido diferente a morte, chamando-a de “irmã”, como disse S. Francisco de Assis, porque por ela, passaremos a viver a Vida Verdadeira.
São Paulo escreve os romanos uma das passagens maravilhosa sobre a nossa morte, dando uma visão privilegiada a cada irmão que estava em Roma quando diz: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos, e se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor” (Rm, 14, 7-9). Aos Filipenses (3, 20) disse: “Nós somos cidadãos do céu”. Todas estas palavras foram ditas para entendermos que a morte é transformada por Cristo. Ele destruiu a morte com sua morte para dar-nos vida, isto já sabemos, nisto acreditamos. Mas, nem sempre a encaramos assim.
Peçamos a Sabedoria de Deus para entendermos que para os que crêem no Senhor, a vida não é tirada, mas transformada (Rm 5, 19-21). “O homem foi criado por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena” (GS n. 16). Somente pela fé entenderemos o sentido verdadeiro da morte.
A cada momento que nos encontrarmos em um rito das Exéquias, somos convidados a fazer uma releitura de nossas vidas, para encontrarmos um meio que utilizaremos para tentar refazermos as nossas caminhadas, visando uma mudança necessária, para vivermos melhores no Amor, enquanto pudermos estarmos aqui. Pois, “Há um só corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados” (Ef 4, 4). Então, a única oportunidade de sermos melhores, segundo o coração de Deus, é nos dada aqui, enquanto estamos vivos. A continuidade de nossa vida eterna, será consequência daquela que vivemos aqui e agora.
Autor: Cônego José Wilson Fabrício da Silva, OCRL
Bibliografia
Brustolin, Leomar Antônio. Morte: uma abordagem para a vida, Porto Alegre, EST Edições, 2007.
Bíblia Sagrada, Tradução CNBB, Brasília, Edit. CNBB, 2011.
Católica,Catecismo da Igreja. Petrópolis, Vozes, 1993.
Vaticano II, Documentos do Concílio Ecumênico, São Paulo, 2ª Ed., Paulus, 2002.
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