A sociedade nos últimos dias avança a passos largos, em consequência da inovação acelerada e descartável que o consumismo vai proporcionando em meio a uma economia opressora e ateia. O resultado desse progresso chega as nossas casas de uma forma tão imediata que somos impossibilitados em quase todos os casos, de fixar limites para impedir que ele não nos atinja. Graças a este fator, concluímos que se a família vem se degenerando é porque foi assumindo certos estilos de relacionamentos com as pessoas e os objetos, chegando a divinizar-los, esquecendo-se de Deus. Isto tornou-se de uma forma explícita em uma “egolatria” ou “idolatria”, onde eu sou meu deus, por mim mesmo me basto, não preciso de ninguém para dizer o que eu posso fazer ou não, com quem eu devo andar, que roupa eu devo vestir e aonde eu não devo ir, porque eu trabalho e tenho dinheiro para ser independente. Fazendo assim, se manifesta livremente um culto de mim mesmo, onde todos devem estar a minha disposição.
Quando uma pessoa pensa, age e exige que os outros a vejam assim, esta pessoa terá uma grande dificuldade de dividir a mesma casa com os outros, nunca viverá satisfeita com o que tem e levará aos demais a um martírio da convivência. Afirmo que tal sujeito passa por um complexo de “taraxia” espiritual. Muitas pessoas que sofrem desse complexo estão sendo cultivadas em nossas casas, pois a educação que os pais estão dando para seus filhos é aquela do “tudo quero”, “tudo peço”, “tudo tenho”, “todos vivem por mim”. Há pais que estão cuidando de suas próprias cobras, daqueles que quando atingirem a uma certa idade, vão os abandonar em uma casa de repouso. Por quê? Porque não foi cultivado nos corações dos filhos a fé em Deus, a prática da religião, o amor sacrificado, o limite e a responsabilidade. Claro, se eu não tenho a quem temer, ninguém me impede! Quando falo em temer, não é no aspecto do medo, mas do respeito no amor.
O Beato João Paulo II afirma na encíclica Evangelium vitae, afirmou no número 92 que:
No seio do povo da vida e pela vida, resulta decisiva a responsabilidade da família: é uma responsabilidade que brota da própria natureza dela — uma comunidade de vida e de amor, fundada sobre o matrimônio — e da sua missão que é guardar, revelar e comunicar o amor. Em causa está o próprio amor de Deus, do qual os pais são constituídos colaboradores e como que intérpretes na transmissão da vida e na educação da mesma segundo o seu projeto do Pai. É, por conseguinte, o amor que se faz generosidade, acolhimento, doação: na família, cada um é reconhecido, respeitado e honrado porque é pessoa, e se alguém está mais necessitado, maior e mais diligente é o cuidado por ele.
A família tem a ver com os seus membros durante toda a existência de cada um, desde o nascimento até à morte. Ela é verdadeiramente « o santuário da vida (...), o lugar onde a vida, dom de Deus, pode ser convenientemente acolhida e protegida contra os múltiplos ataques a que está exposta, e pode desenvolver-se segundo as exigências de um crescimento humano autêntico ». Por isso, o papel da família é determinante e insubstituível na construção da cultura da vida.
Como igreja doméstica, a família é chamada a anunciar, celebrar e servir o Evangelho da vida. Esta tríplice função compete primariamente aos cônjuges, chamados a serem transmissores da vida, apoiados numa consciência sempre renovada do sentido da geração, enquanto acontecimento onde, de modo privilegiado, se manifesta que a vida humana é um dom recebido a fim de, por sua vez, ser dado. Na geração de uma nova vida, eles tomam consciência de que o filho « se é fruto da recíproca doação de amor dos pais, é, por sua vez, um dom para ambos: um dom que promana do dom ».
A família cumpre a sua missão de anunciar o Evangelho da vida, principalmente através da educação dos filhos. Pela palavra e pelo exemplo, no relacionamento mútuo e nas opções quotidianas, e mediante gestos e sinais concretos, os pais iniciam os seus filhos na liberdade autêntica, que se realiza no dom sincero de si, e cultivam neles o respeito do outro, o sentido da justiça, o acolhimento cordial, o diálogo, o serviço generoso, a solidariedade e os demais valores que ajudam a viver a existência como um dom. A obra educadora dos pais cristãos deve constituir um serviço à fé dos filhos e prestar uma ajuda para eles cumprirem a vocação recebida de Deus. Entra na missão educadora dos pais ensinar e testemunhar aos filhos o verdadeiro sentido do sofrimento e da morte: podê-lo-ão fazer se souberem estar atentos a todo o sofrimento existente ao seu redor e, antes ainda, se souberem desenvolver atitudes de solidariedade, assistência e partilha com doentes e idosos no âmbito familiar.
Não é fácil ser família autêntica em Cristo Jesus hoje, mas também não é impossível. Todo matrimônio deve ser vivido a três pessoas, o Homem, Jesus e a Mulher. Se não for assim, será inviável ver a durabilidade da união em meio aos ataques do consumismo, da infidelidade, do descartável, do individualismo e do des-compromisso para com a casa em que habitamos. O Beato João Paulo II ainda afirma no mesmo documento que, é na família que se deve celebrar o Evangelho da vida com a oração diária, individual e familiar: nela, todos devem agradece e louvar ao Senhor pelo dom da vida e invocar sua luz e sua força para enfrentar os momentos de dificuldade e sofrimento, sem nunca perder a esperança. Agora eu pergunto: Será em nossas casas colocamos esse ensinamento em prática? A resposta fica para cada um responder pessoalmente.
No dia que percebermos que o futuro da sociedade passa pela família, ela será dignificada. Mas, pelo que experimentamos isto parece que a cada dia que passa está mais difícil de acontecer. Por isto que a Igreja vem promovendo incansavelmente uma pastoral familiar capaz de ajudar cada família a redescobrir, com alegria e coragem, a sua missão no que diz respeito ao Evangelho da vida. Mas aqui caímos em outro abismo! este compromisso fica a critério de cada bispo com seu clero em sua diocese. Como sempre estão atarefados com outras atividades que o dever lhe chamam, a família em muitos lugares passa para um segundo plano no campo da preocupação. Ficando a critério de cada pastoral caminhar sozinha. Será que os frutos dessa caminhada independente a Igreja logra? Não adianta ter diretrizes, documentos e subsídios se não há um acompanhamento capaz de responder, aconselhar e compartilhar as dificuldades e experiências à luz da Palavra de Deus e da Igreja, para uma seguridade espiritual da família.
Vendo a família com os olhos da fé, na Palavra de Deus, filhos são uma benção que vem do Senhor, “o fruto do ventre o seu galardão.” (Sl 126,3). Não são só os filhos que são uma benção, mas também os filhos dos filhos são “a coroa dos velhos” (Prov 17,6). Assim sabemos pela história do povo de Deus que quando o Senhor queria abençoar um casal lhe dava filhos (Abraão e Sara - Gn 17, 20; Ana – ISm 1, 3-27; Isabel - Lc 1). Se vamos ter a mesma atitude que Deus tem deste assunto, devemos já nos dobrar à idéia de que filhos, em qualquer época, não são menos que uma bênção. Por isto chamo a atenção dos pais para que assumam a responsabilidade e procurem a graça de Deus para por a casa em ordem seguindo os princípios da Palavra de Deus. Os filhos não são seus, são propriedades do Senhor, mas vocês são os colaboradores do dEle por excelência.
O Catecismo da Igreja Católica (artigo 1656) diz que:
Em nossos dias, num mundo que se tornou estranho e até hostia a fé, as famílias cristãs são de importância primordial, como lares de fé viva e irradiante. Por isso, o Concilio Vaticano II chama a família, usando uma antiga expressão, de “Ecclesia doméstica”. É no seio da família que os pais são “para os filhos, pela palavra e pelo exemplo... os primeiros mestres da fé. E favoreçam a vocação própria a cada qual, especialmente a vocação sagrada”.
Se entendermos bem este artigo, nos daremos contas de que a família foi, é e sempre será o coração da sociedade. Se ela está bem, a sociedade também estará, se nela Deus for o Absoluto, na sociedade Ele governará os acontecimentos do povo.
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