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quinta-feira

A Padre Cícero, todo o amor de Luiz Gonzaga


O Rei chegou a pedir que o seu corpo fosse levado a Juazeiro do Norte, para que pudesse "tomar a benção" ao "Padim”.



Imagem de Padre Cícero Romão Batista simboliza apreço de Luiz Gonzaga pelo religioso

Logo na entrada da sala, na casa onde morou o Rei do Baião, erguida dentro do Parque Aza Branca, no Exu, a imagem de Padre Cícero esculpida em cerâmica, colocada ao lado da estante, simboliza o apreço do antigo morador pelo religioso. Maior referência da região do Cariri cearense, "Padim Ciço", como era chamado carinhosamente por Luiz Gonzaga, foi eternizado na voz e nos versos do sanfoneiro, considerado até hoje um dos seus seguidores mais fiéis e ilustres.

"Vou ver meu 'Padim', de bucho cheio ou barriga vazia. Ele é o meu pai. Ele é o meu santo. É minha Alegria", declamou o Rei, na composição "Viva Meu Padim", na parceria com João Silva, gravada no disco Forró de Cabo a Rabo, de 1986. Assim como se vangloriava por ter nascido perto de Lampião, Luiz Gonzaga enchia o peito para dizer que vinha do mesmo chão do Padre Cícero Romão Batista, do Sertão do Nordeste. A veneração ao religioso não se resumiu apenas a canção, mas também às ações e gestos.

A exemplo de Padre Cícero, que ajudou e acolheu os flagelados da seca, ‘Seu Luiz’ emprestou um pouco da sua generosidade aos seus irmãos nordestinos. Reverteu renda de shows em troca de comida e ajudou a construir um hospital no Crato, vizinha a Juazeiro do Norte, cuja cidade o Rei tanto amava.

Lúcia Helena, que junto com o marido Evani Estevão de Barros, ex-juiz do Exu, integrava um movimento em defesa das vítimas da seca, testemunhou ao jornalista pernambucano Gildson Oliveira, na obra "Luiz Gonzaga, o matuto que conquistou o mundo", a bondade do velho. "Mesmo de longe, fazendo suas apresentações pelo Brasil afora, telefonava tomando pé da situação. O Rei do Baião assumia a campanha totalmente. Além de dar dinheiro para compra de mantimentos, passou então a cantar, tendo como pagamento víveres".


Segundo Venturelli, Padre Cícero tentou solucionar o problema das famílias, vítimas da seca

Segundo amigos, Luiz Gonzaga deixou de ficar rico por conta desses desprendimentos às coisas materiais. No final da vida, já com seu corpo devastado pelo câncer, queixava-se de não ter mais condições de sair da cadeira de rodas para ir ao Sertão fazer tais ações. Transformou em canção o grito de protesto contra os governantes, que pouco faziam pelo seu povo.

Oriundos do mesmo chão, Luiz Gonzaga e Padre Cícero seguiram caminhos diferentes, mas são ligados pelo tão falado "sentimento místico", relatado por Gildson, e unidos pela mesmas causa. "Padre Cícero acolhia todo mundo que vinha de fora, e onde é que ele botava esse povo? Enquanto tinha terra, ele botava lá. Pedia terras aos coronéis para colocar esse povo. Tentou solucionar o problema de milhares de famílias, vítimas da seca", cita o administrador do horto e do museu de Padre Cícero, Padre José Venturelli.

Antes da sua morte, Luiz Gonzaga pediu ao filho Gonzaguinha que o seu corpo fosse levado a Juazeiro do Norte, para que pudesse "tomar a benção" ao "Padim". Em três de agosto de 1989, dia da passagem do caixão pela capital do Cariri, uma multidão em polvorosa tomou as ruas da cidade para reverenciar o Rei.

* Musica: Viva Meu Padim

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