Partindo do curso sobre música litúrgica, coloco aqui alguns apontamentos usando para a reflexão dos nossos amados leitores. Estou disponível para acolher contribuições, comentários e convites. Informações: josewilson.fabricio@gmail.com
Canto (ou música) litúrgico é aquele que a Igreja
admite de direito e de fato na celebração litúrgica, e por este mesmo motivo,
deve manifestar plenamente a fé católica. A música será litúrgica quando nela a
Igreja reconhecer sua oração, quando ela aparece para acompanhar os textos a
serem cantados. Como dizia santo Agostinho aos pagãos que indagavam sobre sua
fé: "Queres ver em que eu creio, venha à Igreja ouvir o que canto".
Diferença
entre "canto litúrgico" e "canto religioso"
É preciso distinguir a diferença que existe entre
música liturgia e música religiosa. Faz-se necessário considerar que uma música
religiosa, por melhor que seja não serve para o uso litúrgico, mas foi composta
para outra finalidade. São aquelas músicas que procuram expressar o sentimento
religioso dos fiéis, mas não têm lugar na liturgia. Elas servem para encontros,
exercícios de piedade, etc. Na música religiosa podemos encontrar cantos para
encontros, para reuniões de grupos de rua, cantos para grupos de oração, etc.
Também não se deve nutrir pré-conceito a respeito da música religiosa. Ela tem
seu valor na vivência cristã. Pelo fato de não serem adequadas para liturgia
não significa que não tem sua importância no sentimento religioso de nosso
povo. Porém, não podemos cair no erro de acharmos que temos o direito de
colocá-las na liturgia só porque são bonitas e animadas e por conta disto
desprezarmos a música litúrgica. Cada canto no seu lugar. Não temos o direito
de ignorar as regras litúrgicas e as orientações do Magistério da Igreja.
No presente artigo serão analisados os cantos
relativos à celebração da Eucaristia.
A importância
do canto
“A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável
valor que ultrapassa todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o
canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte integrante da
liturgia solene” (Constituição Sobre a Sagrada Liturgia). Esta afirmação do
Concílio Vaticano II faz eco à Sagrada Escritura que apresenta em suas páginas
mais de seiscentas referências ao canto e à música. Do primeiro livro, o
Gênesis, ao último, o Apocalipse, o canto aparece como o desenrolar de uma
esplendida e majestosa liturgia. “Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome,
apregoais entre as nações suas obras. Cantai-lhe hinos e cânticos, anunciai
todas as suas maravilhas”, diz o rei Davi em 1Cr 16,8-9. Este relato, entre
tantos outros, deixa transparecer uma rica e jubilosa liturgia, na qual as aclamações,
a música e o canto são elementos que fazem parte da fé de um povo. Deste modo,
os atos litúrgicos revestem-se de forma mais elevada e nobre quando os ofícios,
nos quais o povo participa ativamente, são celebrados com canto, pois onde há
manifestação de vida comunitária existe o canto e onde existe o canto,
celebra-se a vida. Podemos perceber, então, que após a comunhão sacramental, o
canto é o elemento que melhor colabora para uma verdadeira participação na
liturgia, já que é uma das expressões mais profundas e autênticas da própria
liturgia, possibilitando ao mesmo tempo a participação pessoal e comunitária
dos fiéis. Por ser a celebração do Mistério Pascal realizada pelo povo de Deus,
a participação das pessoas é de fundamental importância. Na liturgia, essa
participação manifesta-se também através do canto e da música. Estes, no
contexto da ação litúrgica, não são realidades autônomas, mas sim funcionais,
ou seja, têm uma função: estão a serviço do Mistério da Fé e da assembléia. O
que deve prevalecer não são os gostos, a estética individual de cada um, mas a
essência do Mistério e a participação prazerosa e frutuosa de todos. Como já
foi dito, Deste modo, a liturgia, como exercício da função sacerdotal de
Cristo, comporta um duplo movimento: de Deus para nós homens, para operar nossa
santificação, e de nós homens para Deus, para que possamos adorá-lo em espírito
e verdade. Por isso, a liturgia, de um modo geral, pode ser entendida como um
diálogo entre Deus-Trindade e o Homen-Comunidade. Este diálogo é composto de
vários momentos. Cada momento tem seu “espírito” próprio, seu sentimento
peculiar e, portanto, uma expressão diferenciada. Adaptando-se a essa
espiritualidade, cada momento exige um tipo de expressão musical. Os cantos
litúrgicos da missa devem respeitar cada um dos seus ritos: os Ritos Iniciais,
o Rito da Palavra, o Rito Eucarístico, o Rito da Comunhão e Ritos finais. Devem
ser cantos originais e jamais adaptações de cantos não religiosos. Na liturgia,
os cantos podem ser classificados em dois grupos:
a)
Os cantos que
acompanham o rito
Os cantos que acompanham o rito, como a própria
definição demonstra, devem terminar quando o rito terminar. Os cantos que são o
próprio rito devem ser cantados por inteiro, pois não se deve interromper o rito
pela metade. São exemplos de cantos que acompanham o rito: o “canto de
abertura” que acompanha o rito da entrada, o “canto de apresentação das
oferendas” que acompanha o rito da procissão das oferendas, o "cordeiro de
Deus" que acompanha a fração do pão e o “canto de comunhão” que acompanha
a procissão de comunhão.
b)
Os cantos que
são o próprio rito
São exemplos de cantos que são o próprio rito: o
“santo” que é um grande louvor, o Ato Penitencia, o Hino de louvor. Se a música
for de fato como requer a Liturgia, será um sinal que nos leva do visível ao
invisível, um carisma que contribui para a edificação de toda a comunidade e a
manifestação do mistério da Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo. Enfim, a
música auxilia nossa prece, fortalecendo a Palavra que ouvimos.
Nas nossas celebrações devemos levar em
consideração as pessoas. A liturgia é o lugar por excelência do encontro das
pessoas humanas entre si, e das pessoas humanas com a as Pessoas Divinas, ou
seja, a assembléia reunida encontra-se consigo mesma e com Deus. Servir a essa
assembléia e ajudar a promover esse encontro é o papel de todos aqueles que
atuam na liturgia. Trata-se de desempenhar seu papel de tal modo que se
introduza o povo reunido cada vez mais, pela fé, nos Mistérios de Cristo,
levando em consideração as suas possibilidades, sua riquezas culturais e seus
limites. Este é o caminho mais seguro para se chegar a uma celebração cheia de
vida, sobretudo quando se trata de canto e música. A assembléia litúrgica não é
apenas uma soma dos indivíduos que a compõem. Ela é a Igreja inteira
manifestando-se naqueles que estão reunidos e Cristo aí está, presente e
agindo. É uma comunhão de pessoas e servir a essa comunhão é a função do agente
litúrgico-musical. Assim, não tem sentido, por exemplo, escolher os cantos de
uma celebração em função de alguns que se apegam a um repertório tradicional ou
de outros que só cantam músicas do seu grupo ou movimento. Todos têm o direito
de compreender e participar. É preciso que se pense em todos, e em cada um na
comunhão com os demais. Desse modo, alguns critérios devem ser observados para
que uma musica seja executada na liturgia:
a)
A música deve
estar intimamente ligada à ação litúrgica a ser realizada, exprimindo mais
suavemente a oração, favorecendo a unanimidade e dando maior solenidade aos
ritos sagrados.
b)
Deve-se respeitar
a sensibilidade religiosa do povo.
c)
A música deve ser
adequada ao tipo de celebração na qual será executada, levando em conta o tempo
litúrgico.
d)
Deve estar em
sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o
Evangelho, no que diz respeito ao canto de comunhão.
e)
A música deve
estar de acordo com o tipo de gesto ritual que será executado pelos ministros e
pela assembléia.
Ministérios e
serviços do Canto
Quando a assembléia litúrgica se reúne para
celebrar o Mistério de Cristo, ela se serve de pessoas (os diversos ministros),
e de coisas (música, flores, velas, etc...) que passam então, a desempenhar um
papel ministerial na celebração. Em se tratando de pessoas, temos aí a equipe
de liturgia, que cuida da preparação da celebração e assume as várias tarefas
de animação e coordenação. Entre essas pessoas temos os cantores e os
instrumentistas. Uma coisa importante que temos que ter em mente é que “nas
celebrações litúrgicas, cada um, ministro ou fiel, ao desempenhar sua função,
faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe
compete”.(Sacrossanto Concilium, nº20). Devemos, então, evitar o costume de
acumular funções e ministérios durante uma celebração, como por exemplo, uma
pessoa tocar um instrumento, cantar e fazer os comentários da missa. Não
esqueçamos que uma assembléia litúrgica se expressa na diversidade de
ministérios e serviços, preservando-se sempre a unidade. Vejamos algumas
funções do ministério da música e suas atribuições:
a) O cantor. A função do cantor no contexto
de uma assembléia litúrgica é mais antiga do que se pensa e não se resume a
animar o canto, mas também, orientar a escolha das músicas que serão executadas
na celebração, para que as mesmas sejam adequadas ao tempo, à festa, aos ritos.
O cantor quando transmite uma mensagem religiosa ao povo, torna-se um
verdadeiro profeta de Deus (1Cron 25,1).
b) O instrumentista. Como o próprio nome
diz, é aquele que se ocupa com os instrumentos. Estes, os instrumentos podem
ser de grande utilidade na liturgia, quer acompanhando o canto, quer sem ele,
na medida que prestam serviço à palavra cantada, ao ritual e à comunidade em oração.
Além de serem usados para acompanharem o canto, os instrumentos podem ser
executados sozinhos em alguns momentos da celebração, como por exemplo, antes
da celebração, para criar um clima de recolhimento; durante a procissão das
oferendas, após a comunhão; no final da celebração. Um detalhe importante: O
recurso de “fundo musical” em momentos como a proclamação da leitura e durante
a oração eucarística, será sempre “inoportuno”.
O instrumento deve sempre ser tocado de forma
adequada ao momento celebrativo e à natureza da assembléia, nunca abafando sua
voz ou a do cantor. Da mesma forma, a voz do cantor nunca deve encobrir a da
assembléia. Deve-se observar também o espaço celebrativo: uma igreja grande
requer um som mais “carregado” e mais instrumentos, enquanto que uma pequena
igreja exige um som mais baixo. Executar um instrumento musical exige atitude
espiritual em qualquer situação, principalmente quando se trata de uma
celebração litúrgica. Portanto, o instrumentista como ministro da celebração, deve
estar profundamente envolvido com a ação litúrgica por sua atenção e
participação.
c)O salmista. É importante valorizar a
função do salmista na assembléia, como ministério específico, como um dom de
Deus para a comunidade. Este ministério poderá ser exercido com habilidade
artística, evitando-se o virtuosismo, na proclamação do salmo e na participação
nos outros cantos responsoriais. Durante o canto da assembléia, o salmista deve
cantar sempre a melodia principal evitando uma segunda voz, a fim de não dificultar
o canto da assembléia ou inibi-la em sua participação, principalmente ao usar o
microfone.
Algumas
falhas
a)
A postura de
alguns animadores de canto nem sempre tem proporcionado um clima de oração e
interiorização. Às vezes, tem-se mais “ruído” e distração do que contemplação e
louvor. Em alguns casos a música é vista como algo complementar e que serve
apenas para quebrar a monotonia de algumas celebrações.
b)
Muitos animadores
de canto, por falta de formação litúrgica, desconhecem os critérios para a
escolha dos cantos de uma celebração, esquecem que o canto é funcional, ou
seja, tem uma função a exercer na liturgia.
c)
Muitos desconhecem
a hierarquia dos cantos, já que alguns são “elementares”, e por isso mesmo,
mais importantes e necessários; outros são “acessórios”, e conforme as
oportunidades são dispensáveis.
d)
A adequação dos
cantos a cada tempo litúrgico, a cada festa, tipo de celebração, tipo de
assembléia, passa às vezes, totalmente despercebidos pelos animadores de
música.
e)
Observa-se uma
total separação entre canto e liturgia. Canta-se “na” liturgia qualquer música
religiosa, ao invés de se cantar “a” liturgia.
f)
A questão da
comunicação também e problemática, apresentando alguns problemas que não
favorecem a execução do canto: instalação inadequada do som, abuso do
microfone, que abafa a voz da assembléia, bandas e grupos não integrados com a
equipe de celebração, etc.
g)
A mudança
constante de repertório faz com que o povo não aprenda bem nenhum canto,
ficando impedido de participar com gosto e prazer, uma vez que a repetição, em
matéria de música, é fundamental no aprendizado.
Os Diversos
Cantos Da Missa
O “canto de
abertura”
Deus caminha ao nosso encontro: esse é o sentido da
procissão de entrada. Em diversas passagens bíblicas vemos o povo de Deus
caminhar, seja em busca da terra prometida, seja em busca de libertação. Ora a
caminho de Jerusalém, ora ao encontro de Jesus. É por isso, que na pessoa do
sacerdote, aclamamos a Cristo que vem ao nosso encontro, com toda a sua
majestade, seu poder e autoridade, para celebrarmos juntos os Mistérios do
sacrifício da Missa. O canto de abertura (ou de entrada) está inserido nos
ritos iniciais e cumpre o papel de criar comunhão. (IGMR 48) Uma de suas
funções é a de acompanhar a procissão do sacerdote e não para acolher ou
receber o sacerdote, pois é este quem acolhe a todos os presentes na assembléia
para participarem do grande sacrifício da Santa Missa. Toda a assembléia
reunida canta a alegria festiva de reunir-se com os irmãos. Seu mérito é o de convocar
a assembléia e, pela fusão de vozes, juntar os corações ao encontro com do
Cristo ressuscitado. Este canto tem que deixar a assembléia num estado de ânimo
apropriado para a escuta da palavra de Deus, além de deixar claro que festa ou
Mistério do tempo litúrgico irá ser celebrado. Todo o povo deve estar envolvido
na execução desta canção. Este canto não deve ser longo e deve terminar quando
o sacerdote chegar ao altar (ou quando terminar o rito de incensação do altar).
Conforme
diz Santo Agostinho: “Canta e caminha!” Finalidade: constituir e
congregar a assembléia, introduzindo-a no mistério a ser celebrado – tempo
litúrgico, sonorizar o caráter festivo da celebração, fomentar a união dos
fiéis, dar o tom da celebração. O Missal Romano diz: “... seja adequado à ação
sagrada ou à índole do dia ou do tempo litúrgico”, elevando seus pensamentos à
contemplação do mistério litúrgico.
Senhor,
tende piedade ou Kyrie eleison - é uma aclamação
suplicante endereçada a Cristo, o Senhor, louvando-O e à sua misericórdia.
Pertence aos cantos rituais, constituindo o próprio rito da celebração
(Ordinário da Missa) Não é o Ato Penitencial (IGMR 52), mas sim uma doxologia ou proclamação da
bondade e misericórdia de Deus, cantado após o Ato Penitencial e a absolvição,
a não ser que já tenha participado do mesmo, através das várias fórmulas
apresentadas pelo Missal Romano, como variante deste. Historicamente o Kyrie eleison parece
provir da Oração dos fiéis, com caráter de ladainha. Após o Concílio Vaticano
II: “É um canto mediante o qual os fiéis aclamam o Senhor e imploram sua
misericórdia.” Quando São Dâmaso mudou a missa do grego para o latim,
deixou o Kyrie imutável, em grego, e assim atravessou os séculos. Seria
completamente alheio a seu caráter substituir o Senhor por um hino, estrófico
ou não. (Kyrios foi o nome mais comum dado a Cristo Ressuscitado pelos
primeiros cristãos). Farão parte dele o povo e os cantores. Importa não
acentuar demais o aspecto penitencial na Celebração Eucarística, evitando
também paráfrases e outros cantos penitenciais.
Dicas
práticas: Liturgicamente correto é:
1.
Rezar o “Confesso a Deus Todo Poderoso e a vós
irmãos...”;
2.
Após a absolvição dos pecados (Deus Todo Poderoso
tenha compaixão...) o ministério cantar o “Senhor, tende piedade de nós;
Cristo, tende piedade de nós; Senhor, tende piedade de nós”;
3.
Logo em seguida, sem nenhuma introdução nem por
parte do presidente da celebração, nem por parte do comentarista ou ministério
de música, os cantores iniciam o hino do glória.
O “Glória”
a)
Este
hino não é, portanto, uma aclamação trinitária, mas sim, cristológica. Como ele
é o próprio rito, deve ser cantado integralmente. Por isso, para que um canto
de “Glória” seja litúrgico, ele deve conter, obrigatoriamente, todo o hino de
louvor. Portanto, é falsa a ideia de que basta ter as invocações “Glória ao
Pai”, “Glória ao Filho" e “Glória ao Espírito Santo”, para que o canto
seja um verdadeiro hino de louvor. (IGMR 53) A entoação inicial não é mais
reservada a quem preside a celebração e pode ser feita pela equipe de música. Cantado
de forma direta pela assembléia dos fiéis ou pelo povo em alternância com os
cantores, ou ainda só pelo coro. É uma das peças mais antigas da Missa,
incorporada pela Igreja no século II, por ocasião do Natal. Sua nota dominante:
o júbilo, louvor confiante e alegre... Repito, devemos evitar os “Glorinhas”,
trinitários, que abreviam o conteúdo rico do mesmo. Não deve ser substituído
por outro canto de louvor, pois faz parte dos cantos rituais, é o próprio rito.
O “Salmo Responsorial”
Para a Liturgia da Palavra ser mais proveitosa, há
séculos um salmo tem sido cantado como prolongamento meditativo e orante da Palavra
de Deus proclamada. O costume de se cantar o salmo após a leitura
remonta aos primeiros séculos do cristianismo, prática herdada do culto da
sinagoga judaica. Santo Agostinho fala do valor do salmo cantado durante a
liturgia da palavra, como uma “leitura cantada”. Faz parte integrante da
Liturgia da Palavra, como resposta orante da comunidade à proposta e às
maravilhas proclamadas por Deus na primeira leitura, e deve ser cantado de
forma dialogal, o texto de preferência extraído do Lecionário. (IGMR 57) Importância da função do
salmista, ao mesmo tempo ouvinte e ministro da Palavra; ele proclama o salmo no ambão – mesa da Palavra.
O salmo é a proclamação da Palavra cantada, por isso requer-se o mínimo de
preparo técnico e vocal, litúrgico e musical do salmista. Devido à sua
importância, não deve ser omitido nem substituído por “canto de meditação”. É um
canto ritual interlecional, cantado entre as leituras. Segundo a Instrução Geral do Missal Romano(IGMR),
“como parte integrante da Liturgia da Palavra, o salmo é sempre um texto
bíblico, comumente extraído do saltério”.
Dicas
Práticas:
1.
Por fazer parte da
Liturgia da Palavra, deve ser cantado ou proclamado do ambão;
2.
Não deve ser
substituído por qualquer cântico ou hino meditativo;
3.
Antes de executar
o salmo, não se fala: “Salmo Responsorial”;
4.
Não se repita por
várias vezes o refrão! Repete-se apenas 1 vez no início;
5.
É recomendável um
momento de silêncio entre o final da proclamação da leitura e o canto do salmo
responsorial.
O canto de
“Aclamação ao Evangelho”
A aclamação “hallelu-jah!”, que quer dizer louvai
ao Senhor, tem sua origem na liturgia judaica e ocupa um lugar de destaque na
tradição cristã. Sempre foi uma expressão de acolhimento solene de Cristo que
vem após sua palavra viva, sendo deste modo uma manifestação de fé na presença
atuante do Senhor. (IGMR 59) Como o Evangelho é o próprio Cristo que fala,
devemos estar de pé, na posição de quem ouve o recado para ir anunciar as
palavras de salvação. Este canto é o próprio rito de aclamação ao Evangelho e
deve ser cantado integralmente. Para que um determinado canto possa ser
considerado como canto de aclamação ao Evangelho, este deve, obrigatoriamente,
conter a palavra “aleluia!”, que demonstra alegria, com exceção do tempo do
Advento e da Quaresma, onde o “aleluia!” é vetado em virtude do forte tempo de
contrição e penitência. Neste caso, pode-se cantar um verso aclamativo da
Sagrada Escritura (como por exemplo, Mt 4,4) ou uma doxologia (como está em
1Tim 6,16; 1Pd 4,11; Ap 1,6). O “Aleluia!” ou o versículo antes do Evangelho
podem ser omitidos, quando não são cantados, e substituídos por um momento de
silêncio. O “Aleluia!” pode ser repetido após a proclamação do Evangelho.
Dicas
Práticas:
1.
Deve-se sustentar
o canto se tiver a procissão do Evangeliário do Altar até o ambão. Obs: Na
Liturgia da Missa somente existe duas procissões do Evangeliário: o sacerdote (o
diácono ou o leitor instituído) entra com o Livro Santo na procissão de entrada
da Missa e no momento da proclamação do Evangelho. É estranho a Liturgia uma
procissão de Bíblia ou do próprio lecionário, após a oração da coleta da missa.
Se vai fazer procissão da Palavra de Deus, observe-se as normas litúrgicas. Não
existem dançarinas, teatrinhos, criatividades baratas e bailes para entrada ou
acompanhamento da Palavra de Deus no rito da Missa. Em um encontro pode-se
fazer, mas NÃO NO RITO DA MISSA.
2.
No tempo da
Quaresma é proibido o uso do “aleluia” e o “glória” (exceto nas solenidades que
o calendário litúrgico traz em suas datas fixas).
3.
No tempo do
Advento se aconselha a não contar o aleluia.
A “Profissão
de Fé” (Credo)
A “Profissão de Fé”, ou o “Credo”, é uma resposta à
Palavra de Deus. É uma resposta de fé e de compromisso da comunidade. Nela,
expressamos os principais dogmas de nossa fé. A Profissão de Fé pode ser
cantada, mas toda a assembléia deve conhecer bem o canto, para que ninguém
fique sem manifestar publicamente a sua fé, por não conhecer a melodia ou a
letra. No Brasil não é comum cantá-la, mas quando isso for feito, devemos
observar que esse canto é o próprio rito da Profissão de Fé, devendo todo o seu
conteúdo ser preservado. Foi introduzido lentamente na liturgia da Missa.
Chegou a Roma pelo século X, embora na Espanha já fosse aceito no século III. A
partir do canto polifônico, se tornou uma peça musical brilhante. Os documentos
dizem que não existe obrigação de cantá-lo, pois não é hino nem aclamação, mas
sim profissão de fé. Se for cantado, “procure-se fazê-lo como de costume, todos
juntos ou alternadamente”. Existe a possibilidade de cantar a fórmula mais
breve, denominada “símbolo apostólico”, mas não pode ser substituído por canto
religioso. Como em todas as partes fixas
da Missa, nunca se deve substituir a recitação do Credo por um canto que não
contenha integralmente a sua letra.
Canto da
“Apresentação das Oferendas”
Este canto acompanha a procissão das oferendas que
leva ao altar o pão e o vinho que serão consagrados, e também o gesto de
“colocar os bens em comum, para as necessidades da comunidade” (Rm 12,1-2; Ef
4,28). Em nossas comunidades o canto de “apresentação das oferendas” tornou-se
um momento em que o povo deseja expressar sua disposição de querer oferecer sua
vida, sua luta e trabalho ao Senhor, o que parece ter um alto valor espiritual.
(IGMR 73) Deve-se observar um canto que não contenha "pão e vinho" em
celebração da Palavra, pois não há apresentação de oferendas. O término deste
canto não precisa coincidir como fim da apresentação das oferendas, mas pode
ser cantado inteiramente, devendo ser encerrado, no máximo, quando o sacerdote
termina de oferecer o pão e o vinho e purifica as mãos.
Dicas
Práticas:
1.
O Canto de
Apresentação das Oferendas pode ser substituído por uma música instrumental;
2.
O ministério de
música não deve parar o canto, até que o rito da incensação tenha-se concluído
por parte do diácono (acólito) junto a assembleia.
O canto do
“Santo”
Para concluir o prefácio da Oração Eucarística o
povo aclama o Senhor com as palavras que o profeta Isaías ouviu os serafins
cantarem no templo, em sua visão (Is 6,3). O “Santo” é um dos três principais
cantos fixos da Missa. Nele, toda a assembléia se une aos anjos e santos, para
proclamarem as maravilhas do Deus Uno e trino. É o canto dos anjos (Is 6,2-3) e
também dos homens (Lc 19,38). Este canto pertence, então, a comunidade toda e
não teria sentido convidar os céus e a terra, os anjos e santos para cantarem a
uma só voz, e, depois, somente um coral ou um solista executar o canto sozinho.
O “Santo” é o próprio rito da aclamação e deve ser cantado integralmente.
Porque a Igreja se preocupa para que este hino não seja adulterado? Por causa
de seu valor histórico, tais como o “Senhor, tendo piedade de nós. Cristo
tende...; Glória a Deus nas alturas...; e o Cordeiro de Deus.
Dados históricos: Tem sua origem no Oriente, século
II. O texto bíblico: um manto de
retalhos, uma compilação de textos bíblicos – As duas primeiras aclamações,
tiradas de Isaías, de sua visão dos anjos prostrados diante do
altar... “Toda a terra está cheia de sua glória” Hosana. do hebraico Hosiah-na= dá a
salvação, do salmo 118,25 – “Senhor, dai-nos a salvação!” Nas alturas =
Deus que habita os altos céus... Bendito o que vem: Sl 118,26, que a tradição
transformou numa aclamação messiânica: “Bendito O que vem em nome do
Senhor!”, festejando e aclamando o Senhor, quando de sua entrada em Jerusalém.
(Mt 21, 9). Portanto, o clima bíblico do Santo é de
celebração gloriosa: teofania (manifestação de Deus), deve produzir
expressão exuberante de alegria, aclamação jubilosa, unânime e
solene com que se conclui o prefácio (que inicia a oração eucarística, e devia
ser cantado).O santo, como o salmo e o Amém doxológico, é o principal
dos cantos principais da missa. É a primeira aclamação da assembléia na prece
eucarística, e como hino-aclamação. Segundo o Apocalipse, o Sanctus é a aclamação da
liturgia celeste. A assembléia deveria ficar à vontade e
alegre, ao cantar esse louvor solene, sentindo-se intérprete
fundamental desta aclamação, a primeira e mais importante a ser cantada pela
comunidade. A melhor forma de cantar o Santo é a
forma direta. Não deve ser substituído por “versões tão
livres que não correspondam à doxologia bíblica.”
Dicas
Práticas:
1.
Para que um canto
do “Santo” seja considerado litúrgico, ele deve conter, obrigatoriamente, todas
as palavras da oração recitada. Ou seja: “Santo,
Santo, Santo; Senhor Deus do universo. O céu e a terra proclamam a vossa
glória; Hosana das alturas. Bendito o que vem em nome do Senhor; Hosana nas
alturas”. O recomendável mesmo é que o canto se atenha à esta aclamação
bíblica, sem introduzir alterações no texto original.
2.
Está proibido o
uso de determinados hinos que devem ser evitados pelos ministérios, tais como:
a) Santo, santo, santo; dizem todos os anjos... céus e terras passarão... b)
Deus é santo, Deus é amor... c) Santo três vezes santo, mil vezes santos... d)
O Senhor é santo, ele está aqui, o Senhor é santo, eu posso sentir... etc.
3.
No momento da
narração da instituição da Eucaristia, está proibido a execução de hinos,
instrumentais ou o canto da narração da instituição por parte do presidente da
celebração.
A “Aclamação
Memorial”
“Aclamação Memorial” é uma das aclamações mais
importantes da missa e seria muito conveniente se fosse sempre cantada por
todos, em resposta à introdução “eis o Mistério da fé”, entoada pelo presidente
da celebração. Esta aclamação nunca deve ser substituída por textos que
expressam a Presença real de Cristo na eucaristia, pois altera o sentido
litúrgico do Mistério que se celebra. Este é o momento do memorial, do anúncio
do mistério pascal, da Morte e Ressurreição de Cristo e não o momento de
devoção à Presença Real. Portanto, não se deve substituir essa aclamação por um
canto eucarístico. De uma maneira geral, temos duas aclamações como resposta:
“Toda a vez que se come deste pão, toda vez que se bebe deste vinho, se recorda
a Paixão de Jesus Cristo e se fica esperando a sua volta!”, é reservada
especificamente para a Oração Eucarística nº 5. A outra resposta “Anunciamos a
sua morte Senhor, e proclamamos a sua ressurreição!”, pode ser usada nas outras
Orações Eucarísticas.
A “Doxologia
Final” (ou “Grande Amém”)
O “Grande Amém” é o Amém! mais importante da missa,
pois finaliza com a confirmação de que “assim seja”, todo o Mistério salvífico
apresentado e realizado na Oração Eucarística. Esta aclamação deveria sempre ser
cantada e pode ser repetida três vezes. O “Amém!” é uma aclamação comunitária
e, quando cantado, deveria sempre ser acompanhado dos instrumentos para
reforçá-lo.
O “canto da
Paz”
A “saudação da paz”, antes da Oração do Pai-Nosso,
está liturgicamente prescrita e por ser um gesto simbólico, deve ser dada com
sobriedade aos que estão mais próximos, do lado, preferencialmente, sem sair do
lugar. A Instrução Geral do Missal Romano diz que o sacerdote deve permanecer
no presbitério, podendo saudar o ministro ou alguém na assembléia, mas
permanecendo no âmbito do presbitério. A saudação é prescrita, mas o canto não,
e entre cantar ou não, melhor que não se cante para valorizar o gesto (IGMR
82), não causar dispersão na assembléia e, também, não abafar o canto do
“Cordeiro de Deus”, já que este tem a preferência durante o rito de “Fração do
Pão”.
O “canto do
Pai-Nosso”
É um dos cânticos mais cantados nas missas solenes
pontificais. Se for cantar esta oração, deve-se observar na íntegra toda a
letra da oração, sem diminuir ou acrescentar nada.
Dicas Práticas:
O famoso canto do Pai Nosso do padre Marcelo
pode-se cantar em um encontro qualquer, nunca na missa!
O canto do
“Cordeiro de Deus”
Após a “Saudação da Paz”, o sacerdote fraciona o
Pão (Corpo de Cristo) e mistura-o ao Vinho (Sangue de Cristo). Com esse gesto,
relembramos Jesus na Última Ceia, bem como as celebrações das primeiras
comunidades cristãs, que, reunidas, partiam o pão entre si, celebrando os
Mistérios da Salvação. Esse gesto nos faz lembrar, também, dos discípulos de
Emaús, onde reconheceram o Cristo Ressuscitado somente no momento de partir o
pão. Após o ato da “Fração do Pão”, o sacerdote apresenta para a assembléia o
Cordeiro Imolado, assim como João Batista mostrou ao mundo o Cordeiro de Deus,
aquele que superaria todos os sacrifícios e seria imolado, remindo toda a
humanidade consigo. Este canto é o próprio rito de aclamação ao Cordeiro e deve
ser cantado integralmente, devendo ser iniciado justamente no momento em que o
sacerdote toma nas mãos o Corpo de Cristo, fraciona-o e põe um fragmento no
cálice junto com o Sangue. É muito importante que o grupo de canto esteja
atento a este momento. A invocação e súplica podem ser repetidas quantas vezes
o exigir a ação que acompanham, mas atenção, devem terminar sempre com a
súplica “dai-nos a paz”. Quem inicia este canto não é quem preside, mas a
assembléia ou mesmo o grupo de canto. C Uma observação importante: como este
canto acompanha o rito de “partir o pão”, antes de proceder a sua distribuição,
não deve ser usado como se fosse uma maneira de encerrar o movimento criado na
assembléia durante o momento do abraço da paz. (IGMR 83)
O canto de
“Comunhão”
O “Canto de Comunhão” é o canto mais antigo da
Missa. Historicamente falando, era um canto idêntico aos salmos, contendo as
estrofes com um refrão repetitivo. Por ele, através da procissão e da união das
vozes, expressamos nossa união espiritual em torno de Jesus. Todos ao redor da
mesma mesa, congregados numa mesma Igreja, participamos do mesmo Pão do Céu. E
esta é realmente a função do canto de comunhão: fomentar o sentido de unidade.
Desta forma, ele manifesta a alegria da unidade do Corpo de Cristo, que é a
Igreja, e alegria pela realização do Mistério que está sendo celebrado. Os
hinos eucarísticos usados na adoração ao Santíssimo Sacramento não são
apropriados para o momento de comunhão, pois eles destacam apenas a fé na
Presença Real de Cristo na Eucaristia, mas não manifestam o sentido de unidade
da participação em comum. A letra deste canto não deve ser individualista, ou
seja, manifestar a comunhão apenas daquele que comunga, mas sim coletiva, isto
é, deve provocar na assembléia uma sensação de que todos comungam ao mesmo tempo.
Este canto acompanha o rito da comunhão e deve terminar quando a última pessoa
comungar. Em certas oportunidades, este canto deve favorecer o acolhimento,
para evitar um comungar puramente rotineiro e inconsciente. Os hinos
eucarísticos podem ficar como uma segunda opção (canto de ação de graças), após
todos comungarem. Lembramos que equipe de música deve proporcionar o silêncio
eucarístico necessário ao encontro e oração pessoal que se dará, mais
oportunamente, no momento seguinte.
O canto de
“Ação de Graças”
Como já foi visto, após a comunhão deve-se adotar o
silêncio sagrado, onde todos meditam (IGMR 88), louvam e rezam a Deus no íntimo
de seu coração. Esse momento é dedicado exclusivamente a Deus, onde a criatura
adora o Criador. A assembléia pode cantar um hino que una todas as preces de
louvor e adoração num só propósito. Alguns consideram esse canto como
inapropriado ao momento, porque toda a Missa é ação de Graças e o momento é
particular entre quem recebeu a santa Eucaristia e Deus, mas ele está previsto
no Missal Romano. Portanto, pode ser cantado, muito embora seja facultativo. Deve
ser, obrigatoriamente, um canto onde o destinatário seja o próprio Deus, ou
seja, deve ser um canto que ajude no diálogo com Deus, com o Cristo
Eucarístico. Jamais deve ser executado um canto a Nossa Senhora, ou a qualquer
outro santo. É preferível que este canto seja breve e executado por todos, com
moderação no volume dos instrumentos e dos microfones. É preciso que o ministro
de música tenha a devida sensibilidade e discernimento para saber se este canto
é conveniente neste momento. O canto de “ação de graças” não é recomendável, e
nem mesmo desejável, quando o canto de comunhão se prolongou após o rito da
comunhão. Deve-se evitá-lo também, quando a celebração estiver muito
prolongada. E muita atenção: o “canto de
ação de graças” não deve e não pode excluir o silêncio sacramental após a
comunhão.
“Canto Final”
A reforma litúrgica realizada pelo Concílio
Vaticano II propôs, como última fórmula da celebração litúrgica, o “Ide em
paz”. Um canto “final” após este momento seria lógica-incorreta, pois a
assembléia está dispensada. O que temos, na verdade, é um canto de despedida.
Este canto de despedida, executado durante a saída do povo, parecer oportuno
ser, por exemplo, um hino missionário ou um hino direcionado ao padroeiro, ou
em honra a Mãe do Senhor em algumas de suas comemorações. Este pode ser
substituído por uma música instrumental, se parecer oportuno.
Org: José Wilson Fabrício da Silva, crl
Cônego Regular Lateranense
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