José Wilson Fabrício da Silva, ocrl conversa com o Bispo Auxiliar de
Aracajú – SE, Dom Henrique Soares da Costa. Este bispo vem se destacando no
Brasil como um dos pastores que mais é requisitado, por causa da sua profundidade
teológica e espiritual, piedade e ortodoxia, quer seja em suas homilias que
estão disponíveis em sites de orientação católica, quer seja em seu trabalhos pastorais que ultrapassa a geografia de sua arquidiocese. Confira a conversa
entre os dois religiosos:
José Wilson, crl: Como está estruturado
o Plano de Pastoral em sua Arquidiocese?
Dom Henrique Soares: O nosso Plano cobre o quadriênio 2012-2015. Como era de se
esperar, acolhemos as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e
as urgências propostas pela nossa Conferência Episcopal.
Tivemos nossa Assembleia Arquidiocesana
no final de 2011. Escolhemos como prioridades de nossa ação pastoral as
seguintes realidades: (1) setorização das paróquias, (2) formação dos leigos (iniciação
à vida cristã, formação bíblica e na doutrina social da Igreja), (3) promoção humana
e social, (4) família e juventude. Tais prioridades devem ser assumidas no
contexto das Diretrizes Gerais propostas pela CNBB e das urgências que foram
apresentadas pelos Bispos.
Quanto às atividades concretas e o
itinerário temático, pensamos no seguinte percurso:
• 2012:
Motivação e animação para o Ano da Fé.
• 2013:
Será dedicado ao aprofundamento da fé com o estudo do Motu Proprio Porta Fidei
do Santo Padre Bento XVI.
• 2014:
Ano da Esperança. Estudaremos a encíclica Spes
Salvi.
• 2015:
Ano da Caridade: abordaremos e meditaremos a encíclica Deus Caritas Est.
A cada ano estudaremos os sacramentos
em relação com a virtude teologal proposta naquele ano. Assim:
2013 – Ano da Fé (os sacramentos da
Iniciação à vida cristã = Batismo, Confirmação e Eucaristia)
2014 – Ano da Esperança (os sacramentos
da cura = Penitência e Unção dos Enfermos)
2015 – Ano da Caridade (os sacramentos
do serviço e da comunhão = Ordem e Matrimônio)
José Wilson, crl: Existe alguma ação
pastoral que o Plano contempla, que Vossa Excelência considera como boa,
louvável e modelo na Arquidiocese?
Dom Henrique Soares: Considero muito positiva a tomada de consciência da dimensão
missionária da vida paroquial. Concretamente, isto se manifesta no processo de
setorização das paróquias e na realização de missões em várias delas. Um
aspecto que julgo importante é que não se deve impor de modo uniforme e
burocrático a ação pastoral. Deixamos uma boa margem para que os párocos
decidam com os vários sujeitos da vida pastoral paroquial o melhor modo de
atuar o Plano na sua realidade. Todos têm claro quais as prioridades. O modo de
atuá-las, deixamos ao critério de cada paróquia, com o acompanhamento dos
Vigários Episcopais responsáveis por cada vicariato. Tenho procurado
desenvolver no clero o gosto pelo diálogo como troca de experiências pastorais.
Penso que isto seja muito enriquecedor e anime e inspire a muitos dos párocos
no seu trabalho.
José Wilson, crl: Que dificuldades se
podem encontrar na execução de certas diretrizes que estão contempladas no
Plano de Pastoral? Especifique e exemplifique as áreas, movimentos, pastorais
ou regiões que é de fácil percepção para responder esta pergunta.
Dom Henrique Soares: Um desafio constante é a formação permanente dos leigos. É
necessário levar em conta a realidade do Nordeste: não é fácil conseguir
pessoal qualificado para ministrar a formação, não é fácil montar cursos nas
várias áreas pastorais da Arquidiocese simultaneamente, não é fácil manter os
leigos nesses cursos até o fim. A maioria, infelizmente, não persevera. Também
sinto desarticulada a pastoral social. Temos uma coordenação arquidiocesana,
que trabalha com bastantes obras sociais em nível de Arquidiocese. Mas, para
mim, falta assumir esta dimensão de modo orgânico no nível paroquial. Aqui
estamos falhos realmente. Há, sim, iniciativas, mas não articuladas, não em
todas as paróquias, não com a transversalidade que seria necessária, envolvendo
todos os movimentos e grupos. Afinal, a caridade, no âmbito comunitário, é uma
das exigências do ser cristão e da ação pastoral!
José Wilson, crl: No caso de nem todos
os que formam clero da Arquidiocese acolherem o Plano Diocesano de Pastoral,
obviamente, estes podem não contribuir com a execução do mesmo. Como Vossa
Excelência lida com esta problemática? O padre ou leigo pode optar em não
aceitar as diretrizes vigentes?
Dom Henrique Soares: Sinceramente, nenhum padre ou leigo coloca-se contra o Plano
de Pastoral, pois trata-se de algo realizado por uma Assembleia Arquidiocesana
precedida de questionários enviados às paróquias e discussão em nível paroquial
e de vicariatos. Não haveria sentido em dissentir de algo que foi construído
por todos! Claro que uns são pastoralmente mais dinâmicos que outros, uns sabem
trabalhar de modo mais aberto à pastoral de conjunto que outros, mas todos são
interpelados a abraçar o projeto pastoral comum. Sobre isso falamos nas
reuniões gerais do clero e nas reuniões por vicariatos, que envolvem também os
leigos. Além do mais, mensalmente o Bispo faz visita pastoral às paróquias e
tem oportunidade de animar o pároco e os leigos no caminho pastoral comum.
É importante que o Bispo enfatize a
dimensão de animação mais que de cobrança, pois de modo forçado não se realiza
realmente um trabalho de evangelização. A Igreja não é uma máquina de atividade
pastoral, não é uma empresa que tem como objetivo a qualidade total! É preciso
fugir da burocratização pastoral! A Igreja é comunhão que vive e comunica a
vida divina que nos vem do Pai pelo Filho no Espírito. Nunca se deve perder
isto de vista! O Bispo não é um burocrata; é um pai e pastor; é uma testemunha
do Ressusscitado!
José Wilson, crl: Em poucas palavras,
defina a sua experiência de pastor em meio às alegrias e fadigas existentes na
missão, junto à parcela do povo de Deus em Aracaju.
Dom Henrique Soares: O que mais me impressiona no ministério episcopal é a
dimensão martirial: sou testemunha do Ressuscitado, sou a primeira testemunha
da fé apostólica na Igreja que me foi confiada! Eu mesmo peregrino, eu mesmo
frágil, eu mesmo inseguro, eu mesmo que, por vezes, não compreendo bem os
caminhos do Senhor, devo encontrar constantemente forças que não são minhas e
luz que não vem de mim mesmo, mas do Senhor, para ser presença do Cristo Jesus
que educa, rege e santifica o seu rebanho! Em outras palavras: a missão de um
Bispo é tremendamente maior que suas forças, porque não se trata principalmente
de administrar ou organizar, mas de crer, ele mesmo, testemunhar a fé com a
vida e as atitudes e suscitá-la nos outros. Isso não se pode fazer sem
colocar-se continuamente aos pés daquele que diz: “Eu sou o Bom Pastor! Vinde a
mim, aprendei de mim! Sem mim, nada podeis fazer!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário