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domingo

Homilias da Semana Santa








Domingo de Ramos



Queridos irmãos!
Hoje nos reunimos para celebrar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. E para que ele entrou em Jerusalém? Para fazer cumprir toda a profecia do Antigo Testamento. Entra em Jerusalém para pagar com a própria vida, a nossa libertação do inferno! O pecado fere profundamente o Coração de Deus, pois o homem não foi feito para o pecado, mas por sua livre vontade, escolheu desobedecer ao seu Criador. E a consequência dessa desobediência foi à condenação a morte. O homem longe de Deus chega a sua verdadeira realidade, dar-se conta que é pó e para o pó há de voltar. Foi isto que meditamos na quarta feira de cinzas, dando assim, a abertura do tempo quaresmal.
Recordemos que Deus nos fez à sua imagem e semelhança. E, uma das características dessa nossa semelhança com Javé, é a imortalidade da alma. Deus não morre, Ele é Eterno! Se somos imagem dEle, também nós não morremos, somos eternos. Agora, devemos examinar a nossa consciência constantemente; mudando algumas atitudes de morte (de pecado) que trazemos dentro de nós, que colaborará tanto para a vida, como para a morte.
Dentro de nós há uma guerra constante, onde podemos dizer que é a luta do bem e do mal, ganha essa batalha, àquele de alimentarmos mais. Por isso que a quaresma é importante em nossa vida. É um tempo que a Igreja nos apresenta para fazer uma faxina dentro de nós, para melhorarmos em alguma coisa. Já dizia Santo Agostinho: “Triste do homem que não repensa a sua vida e não muda”. Então, é por isto que estamos aqui neste momento. Para colocarmos a Palavra de Deus em nossa consciência, e assim vermos em que precisamos fazer diferente.
A quaresma que fizemos, nos lembrou o retiro que Moisés realizou com o povo de Deus, caminhando por 40 anos à terra prometida; nos lembrou o jejum de 40 dias que fez o profeta Elias; e os 40 dias de tentação e deserto que Jesus passou antes de sua Paixão.
Estamos hoje no domingo de ramos da semana santa, é a semana mais importante do ano, por isto que a chamamos de santa, porque ela coloca freio em nossas atividades (trabalhos) para refletirmos, revivermos, fazermos memória ao ato de libertação nossa, feita por Jesus Cristo, no seu sofrimento e morte de Cruz.
O domingo de ramos nos faz reviver a entrada de Jesus em Jerusalém, perto da celebração da Páscoa. Jesus entra na cidade rodeado por uma multidão em júbilo. Podemos dizer que as expectativas de Israel sobre o Messias chegaram ao ápice naquele dia. Eram expectativas alimentadas pelas palavras dos antigos profetas e confirmadas por Jesus de Nazaré com seus ensinamentos, e, especialmente, com os sinais que tinha realizado. Aos fariseus, que interpelaram Jesus no meio da multidão pedindo que repreendesse os seus discípulos, Jesus respondeu: “Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão” (Lc 19, 40). Neste caso, fazia referência às paredes do templo de Jerusalém, construído de frente para a avenida do Messias e, reconstruído com grande esmero depois de ter sido destruído quando da deportação para a Babilônia. A lembrança da destruição e reconstrução do templo ainda estava viva na consciência de Israel, e Jesus fazia referência a isto quando afirmava: “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei” (Jo 2, 19). Da mesma forma como o antigo templo de Jerusalém tinha sido destruído e reconstruído, assim também, o templo novo e perfeito do corpo de Jesus deveria morrer na cruz e ressuscitar ao terceiro dia.

           A primeira leitura nos apresenta o servo de Javé que se oferece com generosidade aos insultos e cusparadas. É uma prefiguração do Cristo que passou por tudo isto da Quinta a Sexta feira Santa (primeira leitura). Na epístola aos Filipenses, Paulo apresenta uma reflexão profunda sobre a humilhação de Cristo, que chega até uma obediência de morte e morte de Cruz (segunda leitura). Era necessário que o Cristo sofresse para que assim entrasse na sua glória (Lc 24, 26).
Esta semana nos ajuda a compreendermos que Jesus foi rejeitado pelo seu povo, onde não se importaram com o valor de sua Palavra, levando-O a morte. Mas ele não ficou na morte, Ele ressuscitou!
Hoje, acontece a mesma coisa. A sociedade está tirando Deus de sua vida. Estão tirando Deus da família, da escola, do trabalho e da política. A consequência dessa rejeição estamos vendo; tudo está comprometido. Sem Deus nada progride, sem Deus tudo é destruído.  Inclusive a família. Cristo para muitos é um produto que eu encontro nas prateleiras das seitas, grupos religiosos, igrejas e templos, onde quem paga, recebe a melhor parte, mas não é assim. Ele está em cada batizado que pertence a sua Esposa, que é a Igreja Católica, pela qual derramou todo o seu sangue.
Nesta semana, vamos rever o sofrimento de Cristo, causado pelo peso de nossos pecados, para abrir as portas da Salvação a todos nós.
A procissão que fizemos hoje, simboliza que nós Igreja Militante, estamos caminhando a espera da segunda vinda gloriosa de Jesus, vinda esta que há de marcar o fim dos tempos e o aperfeiçoamento final das criaturas na Eternidade.
Os ramos que trouxemos nas mãos é o troféu de Vitória de Cristo, Rei e Pacífico que os mártires levam nas mãos. É os ramos verdadeiros que nos recordam que, Jesus é a Arvore e nós, somos os ramos dessa arvore.
 Esta semana é o coração do mistério da salvação. Quando Jesus entra em Jerusalém, já sabe que o júbilo da multidão o introduz no coração do “mistério” da salvação, que é o mistério da morte e ressurreição, mistério de dar a vida para resgatá-la de novo. Jesus é consciente de ir ao encontro da morte e de que não receberá uma coroa real, mas uma de espinhos. Não se engana quando vê multidão que o aclama. No seu olhar e no seu coração, a glória do Pai e a salvação dos homens através do seu sacrifício está presente.
Ele é o Messias, mas o modo de salvar o seu povo é diferente daqueles que os homens poderiam ter pensado. Repito, as leituras da celebração de hoje fazem referência ao sofrimento do Messias até o ponto culminante da paixão. Este mistério de dor e de amor insondável é proposto pelo profeta Isaías – considerado como o evangelista do Antigo Testamento – e pelo salmo que acabamos de rezar: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Sal 21, 2). Devemos ter os mesmos sentimentos de Cristo para saber morrer. Saber morrer nas pequenas batalhas de cada dia; saber morrer para a desordem, para a busca da própria glória, para passar a procurar sempre Deus e o seu plano de salvação; saber morrer nos sofrimentos de cada dia; saber morrer nas limitações que a idade impõe, nas penas da vida, dos sofrimentos físicos e morais. A contemplação de Cristo sofredor nos convida a suplicar ao Pai, que misteriosamente quis a humilhação para o seu Filho, que nos conceda a graça de ter sempre em mente o ensinamento da sua paixão, para participarmos assim da sua ressurreição (oração coleta).





Quarta-feira Santa


            Domingo passado revivemos com nossa caminhada, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, para com essa entrada, entregar-se aos juizes religiosos da época para morrer por nós.
Mas, hoje somos convidados a refazer uma revisão daquilo que fomos aprendendo a cada domingo que passamos nesta quaresma:
            No 1° Domingo da quaresma, a liturgia nos apresentou a tentação de Jesus, como também os remédios para resistir às nossas. Sendo estes remédios: o jejum, a caridade e a oração.
            No 2° domingo, vimos a transfiguração de Jesus e o desejo de Deus, que é de salvar a todos nós, entregando-nos os meios necessários para que isto aconteça. Sendo como o primeiro ponto de partida, a renuncia do mundo.
            No 3° domingo, Jesus matou a sede da samaritana no poço de Jacó com seu amor e quer com a sua Palavra nos saciar também.
            No 4° domingo, Jesus curou um sego, significando que Sua voz ouvida, tira toda a cegueira que o pecado nos colocam. As vezes já estamos tão acostumados com o pecado que, pensamos que o pecado que fazemos não é pecado. Deus quer curar-nos dessa cegueira. 
No 5° domingo, Jesus ressuscitou a Lázaro. Para esta ressurreição, Santo Agostinho ensina:
“Jesus realizou tres ressurreições; a 1° foi a da filha de Jairo – ela estava em casa – significa os pecados dos maus desejos e os demais pecados internos; a 2° foi a do filho da viúva – no caminho para o cemitério significa os pecados cometidos em atos, a mentira, o roubo, a fofoca, etc.; a 3° foi a de Lázaro – já estava enterrado, podre – significa a cura dos vícios, da morte espiritual”. Mesmo que digam que não tem mais jeito, o Senhor cura, salva e liberta.
            Hoje, a liturgia nos apresenta em Isaias, a profecia de que Jesus seria flagelado e humilhado, mesmo sendo Deus. Já no evangelho de Mateus, vemos a instituição da Eucaristia, que é para nós hoje, a vida da Igreja. Amanhã trataremos com mais dignidade sobre este grande tesouro que temos, a Eucaristia.
            O que a Igreja que nos ensinar hoje, é que não se pode fazer a Deus coisa mais agradável, que apresentar-lhe os méritos da Paixão de Jesus, para que nos perdoe os pecados e nos conceda as graças que necessitamos. A Paixão do Senhor deve ser não somente meditada, mas também sentida mediante sincero arrependimento dos pecados; é preciso queridos irmãos, a todo o custo, arrancar do próprio coração o pecado, que foi o algoz de Cristo, o que mais doeu Nele, por nossa culpa.
            Para isto, vamos olhar os Tesouros que Deus nos entregou, que são os seus Sacramentos. Estes, são sinais eficazes e sensível da Graça, instituído por Jesus Cristo para a santificação dos homens. Sem os Sacramentos é impossível uma pessoa ser salva, diz a Palavra de Deus: “Quem Crer e for Batizado, será salvo. Quem não crer, será condenado” (Mc 16, 16). Percebam que Fé e Batismo fizeram parte da pregação dos Apóstolos e da Grande Ordenança de Jesus. Quer dizer, é eu acreditar (viver minha fé na Igreja, viver meu Batismo), no mundo que me levará a receber aquilo que me é de direito pelo Batismo: a Salvação.
            Porque, então, o Batismo? Assim como a Cruz, o batismo foi instituído por Jesus para a Igreja Católica como símbolo. Símbolo exterior de uma revolucionária transformação interior que deve ser renovada a cada ano na Páscoa.
            O católico que não vive à semelhança de Cristo, desonra o batismo e desonra seu Mestre. O batismo por si só não salva, mas a vivência sincera de um batizado convicto pode induzir pessoas à salvação, pela fé em Cristo. É para isto que serve a vida dos santos na Igreja. Ao ser batizado, aquele que crê dá testemunho de que morreu para o mundo e ressuscitou para Deus. Aquele que se submete ao batismo meramente por conveniência social, menos preza o poder da fé em Cristo e entrona o símbolo no lugar do simbolizado, será condenado.
            Hoje á tarde começou o tempo de trevas, com que nestes dias a Igreja celebra de algum modo, as exéquias do Senhor. Chama-se de trevas porque era neste dia que apagavam todas as luzes da igreja, cobria as imagens, deixando transparecer somente a imagem do Cristo flagelado. Vamos pedir a Deus que nos dê os mesmos sentimentos de Nossa Senhora para acompanhar a Jesus nestes passos que ele quer fazer em nossa vida. Ninguém neste mundo, soube como Maria viver dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus. Amém.






Quinta feira Santa


 
Hoje, Quinta Feira Santa, iniciamos a celebração do Tríduo Pascal. Estamos celebrando o Mistério Maior de nossa fé. A Quinta Feira Santa antecipa e vive o Mistério dos três dias de maneira sacramental, como fez Nosso Senhor Jesus Cristo e mandou que fizéssemos o mesmo. É o mistério da tragédia e o mistério da festa,  que chamamos de Mistério Pascal! A Imolação do Cordeiro Pascal e a Vitória do Cordeiro sobre o pecado e a morte! Mistério que dá sentido e força à nossa vida, vida de dor, de esperança e de vitória. Vida de dor porque ela é uma realidade dura na história do novo Povo de Deus, quando experimentamos as consequências do pecado, ou o próprio pecado a nos levar à tentação do desânimo e desolação.
Hoje, a Igreja, mesmo pensando e se compadecendo da Morte temporária de Jesus, para alegrar-se com Ele na sua Ressurreição no domingo próximo, celebra a instituição da Eucaristia e do Sacerdócio. São estas duas instituições o nosso Tesouro, Pérola que Jesus entregou a sua Igreja antes de sua Paixão, para que após a sua gloriosa Ressurreição, a Igreja continuasse a fazer memória, a tornar real e atual este Mistério. Eu vos pergunto: Que valor estamos dando a Eucaristia e ao Sacerdócio? Estamos rezando pelos padres, para que eles sejam santos e nos santifiquem? As vezes só queremos que o padre venha a nós, mas não queremos e nem apoiamos que um jovem saia de nossas casas para ir ao seminário. 
Se soubéssemos o valor da Eucaristia, as nossas igrejas todos os dias estavam lotadas. Pois a ela não tem valor nenhum aqui na terra, que pague a sua Riqueza. A Eucaristia é nosso Tesouro. Hoje queremos agradecer a Deus por esses dois presentes que ele nos deu: a Hóstia Consagrada e o ministério sacerdotal. Na Hóstia, Cristo vem a nós; no Sacerdote, Cristo de manifesta no meio de nós! Não existe Eucaristia sem Sacerdote, nem Sacerdote sem Eucaristia.
 Quinta-feira Santa é um convite para fazermos da Eucaristia o centro da nossa vida. É um convite para participarmos da missa dominical todas as semanas “lembrando-nos das maravilhas que Deus fez por nós”. É um convite para irmos, sempre que possível, fazer uma visita ao sacrário e conversar com Cristo, que está real, verdadeira e substancialmente presente no sacramento do altar.
Na Eucaristia, cheio de graça e de verdade, Jesus Cristo ordena os costumes, forma o caráter, alimenta as virtudes, consola os aflitos, fortalece os fracos, convida à sua imitação todos aqueles que se aproximam dele; e enche os sacerdotes de graças para incrementar a santificar o Corpo Místico.
Vimos na leitura do Evangelho que Cristo lava os pés dos discípulos, com este gesto de humildade ensina-os o dom do serviço, dizendo: se quisermos ser grandes no Reino dos Céus, temos que o servidor de todos. Isto é difícil para muitos hoje, pois vivemos em uma sociedade marcada pelo poder, pela facilidade e pelo comodismo. Descer e servir o outro é sinal de humilhação para muitos. Jesus insiste: tem que servir aos demais, tem que sofrer aqui na terra, para descansarmos eternamente em Deus.
Só imitando o gesto de Jesus é que seremos realmente amados por Deus. Lembremos aqui de tanto irmãos nossos, que entenderam esta mensagem: Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Padre Eustáquio, Padre Mariano de la Mata, Santa Paulina, Santo Antonio Galvão e tantos outros de nosso tempo. 
Hoje, em todas as igrejas católicas do mundo, se inicia o Tríduo Pascal com a transladação do Santíssimo Sacramento, que vamos fazer após a comunhão. Vamos com Jesus ao monte, vamos acompanhar-Lo em sua dor por nós. Contemplando nesta tarde o mistério do amor que a última Ceia volta a nos propor, também nós, somos convocados a permanecermos em comovida e silenciosa adoração até o Sábado Santo.




Sexta feira Santa


Sexta Feira Santa ou simplesmente da Paixão e Morte de Jesus. Somos levamos a contemplar e vivenciar o mistério manifestado por causa da iniquidade humana na pessoa de Jesus sim, mas e, sobretudo o mistério do Seu triunfo definitivo. O rito da apresentação e adoração da cruz vem como consequência lógica a proclamação da Paixão de Cristo. A Igreja ergue diante dos fiéis o sinal do triunfo do Senhor, que havia dito: “Quando vocês levantarem o Filho do Homem, saberão que Eu sou” (Jo 8, 28).
Nós não vamos adorar a cruz, como o sentido da palavra dar a entender, mas o nosso gesto de beijar a Cruz, perpassa a cruz como objeto, chegando ao seu fim último que é Jesus Cristo Nosso Senhor.
Por que vamos em gesto de adoração a Cristo beijar a cruz?
Porque foi a cruz o instrumento escolhido por Nosso Senhor, para ser a lenha posta sobre o Altar do Cordeiro que é o próprio Jesus, onde a Oferenda e o Ofertante foi Ele mesmo. Então, a Cruz é o canal que vamos usar para manifestar a nossa adoração e gratidão a Deus pena sua entrega total por nós.
            Especialmente neste dia em que estamos aqui, imprimamos nas chagas sacrossantas de Jesus o beijo de nosso mais vivo arrependimento, do mais ardente amor, da mais sentida gratidão e do mais firme propósito para uma vida sempre mais cristã.    
A Cruz foi-nos entrando, ao longo da última quaresma, pelos olhos dentro, atravessando, como dor e amor, o nosso próprio coração. Recordamos, então, como, num texto de singular densidade, São Paulo nos diz que a Cruz é “Cristo exposto por escrito diante dos nossos olhos” (Gal. 3,1). A Cruz tornara-se assim uma “palavra” silenciosa e eloquente do amor, que fala por si de Deus e de nós; uma espécie de filme dobrado, de uma paixão onde vemos a Deus e nos vemos a nós; um “espetáculo de amor” destinado a fazer-nos bater no peito e a converter as nossas vidas (Lc.23,48).
Naquela sua poderosa impotência, o Crucificado, esse Servo de Deus humilhado, é a parábola que nos faz ver, até aonde a simples vista não alcança: faz-nos ver, por um lado, bem dentro de nós, a crueza da nossa violência e malvadez; por outro lado, faz-nos ver n’Ele, no Crucificado, a beleza da força subversiva e nova do amor e do perdão de Deus. Digo de outro modo: O Crucificado releva, por um lado, a debilidade e a culpa do homem e, por outro, o verdadeiro poder de Deus, ou seja, a gratuidade do seu amor incondicional e invencível por nós: precisamente esta total gratuidade do amor, este amor sempre dado, mesmo se não amado, é toda a sabedoria e poder de Deus.
O Crucificado é sabedoria e poder de Deus, porque manifesta verdadeiramente quem é Deus, ou seja, o poder imenso do seu amor, que vai até à Cruz, para salvar o homem.
Pois bem, “a séculos de distância, nós vemos que, na história do mundo, venceu a Cruz e não a sabedoria, que se opõe à Cruz. Deus serve-se de modos e instrumentos que, à primeira vista, nos parecem tão débeis e frágeis. E isso diz-nos, com toda a clareza e beleza, que podemos encontrar a nossa força, precisamente na humildade do amor. Podemos encontrar a sabedoria, naquele amor, que nos torna frágeis, naquele amor, capaz de renunciar a si mesmo, para nos fazer entrar assim na força de Deus (Bento XVI), fiados na sua graça”.
Meus queridos irmãos e irmãs: Anunciar hoje a morte de Jesus não tem qualquer sentido fúnebre. Não é anunciar o sofrimento dorido ou a coragem do herói, tão-pouco a resignação de um vencido, ou, no lado oposto, qualquer combate sangrento pela fé contra a impiedade dos homens. Trata-se hoje, apenas de anunciar a soberana novidade desta dádiva incessante da vida, por amor, e a todos sem exceção.
Doravante, devemos formar a nossa vida sobre esta verdadeira sabedoria: não viver mais para nós mesmos, mas para os outros, por amor daquele, de quem todos nós havemos de dizer, como São Paulo: Amou-me e entregou-se por mim! (Gal 2,20) na Cruz, assim e até ao fim.


Sábado Santo


Meus queridos irmãos e irmãs,
Durante todo o tempo da Quaresma, a Igreja foi nos preparando com orações, encontros nas casas, celebrações nas comunidades e as Vias Sacras, fazendo com todos estes momentos paralitúrgicos o convite a mudarmos de vida e a praticarmos as obras de caridade e jejuns, para esta “Santíssima Noite”.
Tudo nos trouxe para esta noite, deste Sábado Santo. Toda a Liturgia de hoje, nas suas orações e preces, faz menção a esta “noite”.
E a palavra “noite” aparece 14 vezes em toda a Liturgia. Segundo as regras da interpretação quando num texto ou dentro de um contexto uma mesma palavra vem repetida várias vezes, quer dizer ela é a chave de interpretação de todo o texto ou contexto.
            Dai a pergunta: “que tem de especial esta ‘noite’? Que tem de diferente a noite de sábado, que a liturgia chama ora ‘santa noite’, ora ‘ santíssima noite’?
            O grande hino pascal que cantamos logo à chegada ao altar com as nossas velas acesas, o “Pregão Pascal”, o anúncio público, alegre e vitorioso, dá resposta, diz-nos qual é a importância para nós desta “noite santíssima”.
Esta “santa noite” faz memória daquela noite em que, aos nossos pais, filhos de Israel, foram libertos por Deus do cativeiro do Egito. A pé enxuto os fez atravessar o mar vermelho. A leitura do Êxodo relembrou-nos o grande evento da libertação dos filhos de Israel da terra do Egito. Deus por amor e mantendo-se fiel ao seu juramento feito a Abraão, Isaac e Jacob, vendo a opressão do seu povo, decide-se em libertá-lo. Naquela noite o anjo exterminador passou pelas terras dos Egito e matou todos os primogênitos dos homens e dos animais, deixando com vida aqueles dos filhos de Israel. Serviu de sinal o “sangue” dos cordeiros colocados nos umbrais das portas. Hoje Deus nos quer libertar do pecado, não com o sangue de touros ou cabritos, mas com o sangue do Cordeiro Inocente, Jesus Cristo. Para ser estrondosa e definitiva a vitória do Senhor sobre Faraó, Deus afoga no mar vermelho os valorosos combatentes do Egito que perseguiam o seu povo. Atravessando o mar vermelho a pé enxuto, o Povo de Deus passa definitivamente da casa da escravidão para a terra da promessa, onde mana leite e mel.
Esta noite é santíssima porque faz memória daquela “noite em que destruindo a prisão da morte, Cristo se levanta vitorioso do Túmulo”.
Hoje é o dia da Páscoa do Senhor, a vitória de Jesus sobre a morte:
por que motivo procurais entre os mortos Aquele que está vivo? – perguntam os anjos às mulheres – Não está aqui! Ressuscitou”.
Não se trata de uma vitória parcial, provisória; é uma vitória total, definitiva e gloriosa. Cristo se levanta do túmulo e com a sua ressurreição são confirmados os desejos mais ardentes do homem de ver a morte despedaçada; aquela morte que dissolvia ‘no nada’ todas as esperanças e sonhos do homem. Jesus morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida, dando outro sentido, outro rumo a nossa vida, vivemos, “não já para nós próprios, mas para Ele que por nós morreu e ressuscitou...”.
Esta noite faz memória daquela “noite que através de Jesus o mundo inteiro foi introduzido na liberdade de Cristo, tendo força para ser livre dos vícios do mundo e da cegueira do pecad;, para os restituir à graça e fazer participantes da santidade”.
Cristo morreu e ressuscitou por nós, restituiu-nos à vida. Como outrora Deus interveio para libertar o seu Povo da casa da escravidão, hoje também Cristo passa e quer libertar-nos a nós, aqui da cidade de (falar o nome do lugar); quer tirar-nos do abismo da morte para a vida verdadeira. Cristo passa também por nós para nos libertar dos nossos vícios. Quer restituir-nos à graça e fazer-nos santos como nosso Pai Celeste é Santo. Quais são estes vícios que se opõem à vida que Cristo com a sua morte e ressurreição inaugurou? Nesta noite da vigília pascal Cristo Ressuscitado passa também pela nossas casas e pelas nossas famílias e nos quer libertar daquilo que é a origem de todos os males: a inveja, que não nos deixa amar e sermos amados. Ela é a mãe de todos os vícios e a origem de todos os pecados.
Esta Noite Santíssima é, finalmente, a noite de graça que “os crimes afugenta, as culpas apaga, aos pecadores restitui a inocência, aos tristes a alegria”. É a noite batismal, deste sacramento que nos cancela a culpa original e outros pecados atuais, que torna filhos de Deus, membros de Cristo e da Igreja.
Aquela água regenera-nos para Deus, em novas criaturas, passamos da morte do pecado para a vida da graça.
Nesta noite louvamos e agradecemos a Deus que na Igreja hoje, da fonte batismal, são gerados novos filhos adotivos. Nesta noite também nós fazemos memória do nosso batismo e queremos mais uma vez, com o coração iluminado com a graça do Senhor Ressuscitado, renovar as nossas promessas batismais: renunciando a tudo quanto nos impede a ser verdadeiros cristãos e prometendo adorar unicamente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Meus irmãos, eis a mensagem que eu vim aqui a esta comunidade, em nome de Cristo, neste dia do Senhor por excelência para transmitir-vos: “se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto”. Procurar as coisas do alto significa, vivendo cá no quotidiano as fadigas do dia a dia, ter os olhos fixos, voltado para o Senhor Ressuscitado na esperança de encontrá-lo um dia na sua glória. Procurar as coisas do alto significa imitá-lo, Ele que passou cá na terra fazendo o bem e sanando a todos. Significa concretamente, como Ele procurar e fazer o bem a todos, em particular “aqueles que nos odeiam”; significa ter sentimentos bons e construtivos. E a paz que é o grande dom de Deus, a verdadeira paz, só se alcança e nela se persevera fazendo o “bem a todos”, estendo a mão da reconciliação e do perdão àqueles que nos ofenderam; respeitando o outro e aquilo que lhe pertence; respeitando e aceitando as diferenças políticas, religiosas e de proveniência dos outros.
            Cristo Ressuscitado é a nossa paz; Ele, com a sua morte e ressurreição, abriu-nos o caminho que nos conduz ao Pai; e abateu o muro que nos separava, tornando-nos irmãos uns dos outros e filhos do mesmo Pai. Procuremos, então no nosso dia a dia, as “as coisas do alto, lá onde se encontra Cristo Ressuscitado”.
Agora, vamos ficar de pés e renovar as promessas do nosso batismo, professando a nossa fé e renunciar as obras das trevas.


Domingo de Páscoa


Querido irmãos!
Hoje estamos celebrando a Ressurreição de Jesus, o dia dos dias, a verdadeira libertação de todo o povo de Deus. É a festa das festas, a solenidade das solenidades! A primeira e mais augusta, o dia do Senhor por excelência.
Jesus com sua morte não ficou dormindo ou apagado aos olhos humanos. Ele neste tres dias de silêncio para a humanidade que, chamamos nesta semana santa de Tríduo Pascal, desceu aos infernos para destruir as potências de satanás. Houve um grande reboliço nos infernos, pois neste dia, todos os demônios viram a glória de Deus. Jesus mostrou a eles com sua morte que, nenhuma condenação, nem escravidão de morte eterna, estariam com aqueles que estarão nEle.
Jesus foi atormentar àqueles que decidiram abandonar a Trindade no início dos tempos, quando aconteceu a rebelião dos anjos que se tornaram maus com Lúcifer. Foi quebrar as correntes que prendiam os primeiros homens, criados a Imagem e Semelhança de Deus. Neste dia, Adão e Eva foram libertos de sua condenação. O Senhor foi aos infernos para sentenciar a seus inimigos, foi para riscar do livro da condenação os nomes dos justos que terminaram suas vidas em uma perfeição incompleta.
É isto que celebramos neste dia! A Páscoa que quer dizer passagem. Por ordem de Deus, os hebreus a celebravam com maior solenidade, em memória de sua libertação do Egito e, dos milagres que operara o Senhor, mandando o anjo exterminador a imolar os primogênitos dos egípcios; até que o Faraó deixasse partir os Hebreus. O mesmo anjo do Altíssimo guiou-os, assinalando-lhes os passos com maravilhas, até á terra prometida a Abraão e a sua descendência, que já então formava nação numerosa, para sempre. O povo com sua libertação, foi convidado por Deus a ser um povo santo. Mas, o pecado do povo de Deus foi mais forte. Os sacrifícios já não Lhe estavam agradando, a idolatria tomava parte das vidas das pessoas, Deus já não era mais importante para eles.
Isto, estamos vendo justamente acontecer novamente nos dias atuais! O consumismo com todas as suas facilidades é o ídolo dominante da sociedade em geral, até para àqueles que dizem “ter fé”. Deus é um produto chamado de “necessidade da necessidade”.
Enquanto que esta realidade não começar a mudar em nossas famílias para serem atingidas no mundo, as consequências dos pecados do mundo sentiremos. Precisamos reintroduzir Deus sobre todas as coisas em nossa vida, em nossa família. Cristo não morreu para nada. Morreu para que, Ressuscitando, ressuscitemos com Ele para a Vida que não morre.
Então, Páscoa quer dizer libertação! Significa que ainda temos chances de receber aquilo que nos é de direito pelo batismo que renovamos ontem. Basta mudar de vida. Diz o Senhor em sua Palavra: “Não quero a morte do ímpio, mas que ele mude de conduta e vida” (Ez 18, 23). 
Para que isto aconteça, precisamos reconhecer a nossa dignidade de filhos de Deus e deixar ser conduzidos por Ele mesmo que Diz: “Agora, irmãos, pela misericórdia de Deus, eu vos exorto a vos oferecerdes como sacrifício vivo, santo e aceitável: seja esse o vosso culto espiritual. Não vos ajusteis a este mundo, e sim transformai-vos com uma mentalidade nova, para discernir  a vontade de Deus, o que é bom, aceitável e perfeito” (Rm 12, 1-2).
A Ressurreição de Jesus libertou a todos os homens desde sua origem até o seu término. Claro, esta libertação são para àqueles que querem estar em Deus. Não são todos os que serão salvos, mas os que querem ser salvos por Jesus.
Neste dia, Jesus mostrou quem Ele verdadeiramente É. Ele não é um simples filho de Deus, mas Ele é o próprio Deus. Sendo Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, não é menor em nada a Deus Pai e Espírito Santo.
Jesus é o Cordeiro de Deus, mas também é o Leão da tribo de Judá, Ele tomou nossas cadeias e nos libertou. Ele é a rocha da nossa vitória, nossa força em tempos
de fraqueza, uma torre em tempos de guerra. Basta reconhecer os benefícios que o Santíssimo Sangue de Jesus trouxe para os batizados.
Enfim, a Ressurreição de Jesus é a garantia e o penhor da ressurreição final de todos os justos, filhos da Igreja Católica, Esposa Virgem e sem mancha de pecado. A Ressurreição de Jesus nos deu a posse de Deus no Céu.
Em cada domingo, depois de hoje, vamos carregar baterias, encher de combustível o depósito da nossa alma. Junto de Jesus ressuscitado, que ficou conosco pelos tempos fora, na Eucaristia. Vamos encher-nos de energias para viver essa vida nova que nos trouxe pela Sua morte e ressurreição. Se ressuscitastes com Cristo – lembra-nos o Apóstolo – aspirai às coisas do alto, onde está Cristo sentado à direita de Deus.
Em cada domingo afinamos o rumo da nossa vida, para corrermos mais animosos em direção à meta que nos espera. Enchemo-nos de esperança e de coragem. Oferecemos os nossos trabalhos, as nossas penas e alegrias a Deus pelas mãos de Jesus.
Tocamos em Seu corpo, como os apóstolos, contemplamos as Suas chagas, reafirmamos a certeza de vencer com Ele o pecado e o demónio, nas tentações de cada dia, enchendo-nos da Sua força para levarmos uma vida de santidade.
Como aqueles cristãos no início de nossa Igreja que, na perseguição de Diocleciano, foram presos quando participavam na Eucaristia de domingo, também nós havemos de dizer: não podemos viver sem o domingo. Sem o dia do Senhor e, sobretudo, sem a Santa Missa, que é o centro de cada domingo, a nossa vida vai perdendo sentido e sabor.
Em alguns países o domingo é chamado o dia do sol. Os cristãos aproveitaram esse nome; porque Jesus é o verdadeiro sol que ilumina e aquece a nossa vida. O domingo é para nós o dia do Sol, que é Jesus Cristo ressuscitado.
O domingo é dia do descanso “Graças ao descanso dominical – lembra o servo de Deus João Paulo II na carta apostólica o Dia do Senhor, que vale a pena ler ou reler – as preocupações e afazeres quotidianos podem reencontrar a sua justa dimensão: as coisas materiais, pelas quais nos afadigamos, dão lugar aos valores do espírito; as pessoas com quem vivemos, recuperam no encontro e diálogo mais tranquilo a sua verdadeira fisionomia: As próprias belezas da natureza – frequentemente malbaratadas por uma lógica de domínio, que se volta contra o homem – podem ser profundamente descobertas e apreciadas (O dia do Senhor, 67).
Saibamos organizar os programas de domingo, evitando tudo o que pode afastar de Deus. Não deixando, por exemplo, que a preguiça, os programinhas de bebedeiras ocupe o primeiro lugar ou impeça de ir à missa, sobretudo aos mais novos. Os pais têm de estar atentos àqueles que por má fé ou por irreflexão ocupam com atividades desportivas as manhãs de domingo. E isto está a acontecer cada vez mais, por toda a parte de nossas cidades.
Como as Santas Mulheres, como os Apóstolos que foram correndo ao Túmulo para encontrar o Túmulo vazio, corramos também nós à nossas igrejas para Ouvir, Ver e Comungar o Senhor que repete o Sacrifício da Cruz em cada Santa Missa celebrada.
Que Deus nos ajude a melhor viver a nossa fé.

Autor: Côn. José Wilson Fabrício da Silva, OCRL

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