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terça-feira

O valor teológico do Batismo para a Igreja Católica


A nossa fé ensina que os Sacramentos são necessários para a nossa salvação. Claro, o nosso único e suficiente salvador é Jesus Cristo! Mas, foi ele mesmo que por amor instituiu os Sacramentos da Igreja Católica. Todos são importantíssimos, porem os mais necessários para nossa salvação, são dois: o Batismo que recebemos uma só vez (Ef 4, 5) e a Penitência que podemos receber quantas vezes forem precisos; o Batismo (Mt 28, 19) é necessário absolutamente para todos, e a Penitência (Jo 20, 23) é necessária para aqueles que pecaram mortalmente depois do Batismo. A primeira coisa que devemos ter consciência é que o Batismo nos dá a honra de sermos injetados no Corpo Místico da Igreja como membros vivos de Jesus Cristo Ressuscitado.


O que é o Sacramento do Batismo?

O Batismo é o Sacramento pelo qual renascemos para a graça de Deus, e nos tornamos cristãos. Ele confere a primeira graça santificante no ser humano, que apaga o pecado original e também o atual, se o há; perdoa toda a pena que a ele está devida; imprime o caráter de cristão; faz-nos filhos de Deus, membros da Igreja e herdeiros do Paraíso; torna-nos capazes de receber os outros Sacramentos. Há uma obrigação para quem recebe o batismo? Sim! Qual? Quem recebe o Batismo, fica obrigado a professar sempre a fé e a observar a lei de Jesus Cristo e da sua Igreja.

“Na celebração litúrgica do Batismo, O Espírito Santo imerge os catecúmenos na morte e ressurreição de Jesus Cristo, que dá vida nova (Jo 3, 3-5; Rm 6, 4), e os envia a viver de modo tal que Jesus seja conhecido como a encarnação pessoal e histórica de justiça humana como divina”. (Rosato, pág. 57)

Símbolos usados no Ritual do Batismo

No ritual do Batismo a Igreja usa de matérias que são indispensáveis para que este sacramento seja conferido ao batizando. Usam-se de alguns símbolos que entendemos como uma linguagem original de fato do mistério, ou seja, a comunicação do mistério. Os Símbolos na Liturgia contém, ocultam, e ao mesmo tempo revelam e comunicam o mistério. Por isso dizemos que na Liturgia todos os Sinais são Sinais Simbólicos, e serão Sinais Litúrgicos na medida em que forem capazes de ocultar, conter, revelar e comunicar os mistérios de Cristo.
No Batismo o símbolo batismal mais importante é a água.  As Sagradas Escrituras nos diz que antes da criação plena do mundo o Espírito de Deus pairava sobre as águas, das quais emergiam a terra. À semelhança do que aconteceu na criação, das águas do Batismo santificadas pelo Espírito Santo emerge uma nova criatura. A Mãe Igreja, pela água do Batismo, fecundada pelo Espírito Santo, dá à luz a novos filhos. Jesus fala deste novo nascimento no diálogo com Nicodemos (Jo 3, 1-13). Também a imagem do dilúvio e do Mar Vermelho confere outro significado à água do Batismo: a água destrói, mata, mas ao mesmo tempo é meio de salvação. Como as águas do dilúvio submergiram um mundo pecador, e as águas do Mar Vermelho afogaram a cavalaria do Faraó que perseguia o povo que fugia da escravidão, assim também as águas batismais destroem o pecado, afogam o inimigo, exterminam e cancela o mal e seu veneno original.
A destruição das cadeias do mal que acontece no batismo, por sua vez é via para a libertação. No dilúvio foram poupados os justos; e das águas do Mar Vermelho saiu um povo livre e em festa. Da mesma forma, das águas do Batismo sai uma pessoa purificada das culpas, libertada da escravidão do pecado e do demônio (terá as tentações do maligno como todas as criaturas, mas não será escravo de satanás). Assim, a água é apenas um Símbolo. Ela não tem a força e nem o poder de purificar o pecado. É o Espírito Santo que foi invocado sobre ela na hora da benção, que nela atua em todos os acontecimentos e no momento do santo batismo, Ele, com a sua força e o seu poder Divino destrói todo o mal que existe e proporciona a alegria de uma nova vida.

“O Batismo é o mais belo e magnífico dos dons de Deus [...] Chamamos-lhe dom, graça, unção, iluminação, veste de incorruptibilidade, banho de regeneração, selo e tudo o que há de mais precioso. Dom, porque é conferido àqueles que não trazem nada: graça, porque é dado mesmo aos culpados: batismo, porque o pecado é sepultado nas águas; unção, porque é sagrado e régio (como aqueles que são ungidos); iluminação, porque é luz irradiante; veste, porque cobre a nossa vergonha; banho, porque lava; selo, porque nos guarda e é sinal do Senhorio de Deus” (C.I.C. nº 1216)

Recebemos também no rito do Batismo o sinal da Cruz. Os pais e padrinhos no início da celebração, pedem a Igreja o batismo para o batizando. O sacerdote acolhe a pessoa que será o novo membro da Igreja com o sinal da Cruz, traçando-a, juntamente com os interessados pelo batismo do batizando o sinal da Cruz em sua fronte. Este gesto tem grande significação. Ele quer exprimir o primeiro encontro da criança com a fé em Jesus Cristo e na Salvação pela morte redentora do Senhor na Cruz. Porque foi pela morte Dele que nos reconciliamos com o Pai Eterno e fomos inseridos na amizade da Santíssima Trindade. O Sinal da Cruz relembra esta verdade histórica e nos acompanhará até os últimos momentos de nossa existência humana.
Todos com atenção escuta a Palavra de Deus que será proclamada e explicada. Será ela que iluminará como a verdade revelada os candidatos ao batismo e a assembléia batizada, suscitando uma resposta de fé. Como o Batismo significa libertação do pecado e do demônio, após a explicação da Palavra, participamos do rito de Unção no Batismo.
A primeira unção é feita antes da infusão da água, durante as preces após a Liturgia da Palavra. É a Unção com óleo chamado dos Catecúmenos. O sacerdote unge o peito da criança, dizendo: “O Cristo Salvador te dê sua força. Que ela penetre em tua vida como este óleo em teu peito”. A partir desse momento o batizando é posse (propriedade) de Deus.
Após a unção, todos os presentes fazem a renúncia a Satanás e renovam as promessas do batismo que um dia receberam. Após este momento os padrinhos levam o batizando à pia batismal para receberem o banho da água. Agora sim, o batizando é batizado, novo povo de Deus!
Na parte final do Batizado é feita a segunda Unção com Óleo do Crisma. No Antigo Testamento era comum ungir os sacerdotes, reis e profetas. Também Cristo foi ungido pelo Espírito Santo de um modo muito especial. Então esta Unção quer significar que pelo Batismo nos tornamos participantes do poder messiânico de Jesus. E também, conforme a primeira epístola de São Pedro (2, 9-10) nos tornamos raça eleita com Cristo, reis (rainhas), sacerdotes (sacerdotisas) e profetas (profetisas). Profetas, porque participantes da salvação em Cristo, deveremos anunciar a humanidade por palavras e exemplos de vida. Mostrar que Deus é Amor através do verdadeiro amor pessoal. Tornamo-nos sacerdotes. Somos  participantes do sacerdócio de Jesus, como novo povo de Deus na Nova Aliança, sendo assim, parte de um povo sacerdotal capaz de oferecer sacrifícios com Cristo.
Terminada a unção, somos introduzidos nos gestos complementares do Batismo com a entrega da veste branca ao batizado. Este gesto tem sua origem no Batismo dos Adultos na Igreja primitiva. Ao chegarem à fonte, antes de descerem à água, as pessoas se despiam de suas vestes e eram ungidas. Após professarem sua fé e serem batizadas na piscina, saíam da água e eram revestidas de uma veste branca, simbolizando uma vida nova, despidos de seus pecados e paixões, tornando-se uma criatura nova em Cristo.
A veste branca quer expressar que por este sacramento entramos numa nova vida e esperamos levar esta nova vida até a participação do banquete celestial, onde o Senhor nos quer encontrar com a veste nupcial da amizade de Deus.
Outro gesto que temos no rito complementar é a recepção da vela acesa. Este é um gesto muito significativo. O celebrante convida os Pais a acenderem no Círio Pascal a vela da sua criança e ele reza a oração: “Pais e Padrinhos, esta luz vos é entregue para que a alimenteis. Por isso, esforçai-vos para que esta criança caminhe na vida iluminada por Cristo, como filho da luz. Perseverando na fé, possa com todos os santos ir ao encontro do Senhor, quando Ele vier. Recebei a luz de Cristo!” Pelo Batismo somos iluminados, participamos da Luz que é Cristo. Não mais andamos nas trevas, pois somos filhos de Deus. A vela acesa pode significar também a nossa fé. Ela mantendo-se acesa mostra que não caminhamos nas trevas do inimigo. Os Pais se tornam responsáveis para que a criança se torne luz para os outros em sua vida.

O Batismo na Igreja Católica desde o século I

É maravilhoso saber que o Sacramento do Batismo na Igreja Católica é administrado desde o dia de Pentecostes à aqueles que creem em Jesus Cristo (Ato 2, 37-41), e é necessário para a salvação, para aqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a possibilidade de pedir este sacramento.

Os autores neotestamentários não nos oferecem “informações exatas” a respeito daquilo que passaria a se chamar de iniciação à vida cristã. Todavia, “analisando o conjunto dos textos disponíveis, pode-se reconstruir com certa aproximação a sequência das ações”. Inicialmente se dá o anúncio da Boa-Nova centrada na história da salvação, interpretada pela luz dos acontecimentos centrais de Cristo (cf. At 2, 14-36 etc.). Pela fé, os ouvintes acolhem a Palavra divina, o que inclui a metanóia, mudança de mentalidade e de vida. Há sem dúvida em seguida um aprofundamento dos conteúdos centrais da proposta cristã. Espera-se da pessoa uma clara confissão de Jesus como Cristo, Salvador e Senhor. O Batismo (Rm 6), a imposição das mãos posterior (At 8, 17-20; 19, 6) e a participação na eucaristia (At 16, 34) acompanham este itinerário. (Revista pág. 448)

 Reconhecemos o itinerário da iniciação cristã vivido de uma forma bem natural por cada batizado no início da história da Igreja católica no séc. I e II, como um processo necessário para um aprofundamento no conhecimento da pessoa de Jesus Cristo. Com o passar do tempo, a Mãe Igreja aprofunda, sistematiza e fixa o valor teológico de cada sacramento, dando como tesouro da fé a todos aqueles que querem abraçar a vida de Deus.
O mais importante é sabermos que desde o início da Igreja, nunca se excluiu as crianças da graça de Deus.

Todavia, os cristãos não pretenderão excluir as crianças da participação neste processo, sobretudo ao tomar consciência da necessidade da graça retentora de Cristo para nossa salvação e da significativa presença de crianças no ministério de Jesus. (Revista pág. 449)

No Novo Testamento encontramos algumas passagens bíblicas com certas citações afirmando que os Apóstolos ministravam o batismo à algumas famílias cristãs. Coloco isto como base para entendermos o motivo de a Igreja Católica batizar os infantes desde a sua origem. Por exemplo: O batismo da família de Estevão (1 Cor 1, 16); a família do carcereiro (At 16, 31-34); a família de Cornélio (At 10, 1s.24.44.47s); e a família de Lídia (At 16, 14-15). A pergunta lógica que faço é: Por que uma só pessoa acreditava no Evangelho e toda a sua família era batizada? Não deveria ser assim, pois nem todos criam com toda a totalidade de consciência – por exemplo as crianças – no Nome de Jesus anunciado.
Está é uma prova bíblica de que primeiramente o importante é ser batizado (iniciado) na fé de Jesus Cristo, depois o aprofundamento e o aprimoramento da fé na Salvação recebida por este rito sagrado.

Circuncisão e Batismo

No Antigo Testamento o rito que fazia do povo participante da Aliança de Deus era a circuncisão dos meninos e a apresentação das meninas. Ora, a circuncisão tinha que se dar no oitavo dia após o nascimento do menino (cf. Gn 17, 10-14). Usando a visão crítica, podemos nos perguntar: Mas as crianças não sabiam que estavam sendo circuncidadas por causa da religião de seus pais, pois elas não tinham inteligência, consciência daquele ato tão doloroso que estava acontecendo com elas. Por que não deixarem elas crescerem para optar por ser circuncidadas ou não, aceitarem a fé de seus pais ou não, para que elas gozem da liberdade de escolha da religião?
Entenderam o tamanho do problema? A resposta que tenho é: A fé é dada por herança como um tesouro de pai para filho. No Antigo Testamento os pais não queriam que seus filhos fossem desamparados do Deus que eles serviam. Eram iniciados desde os primeiros momentos de suas vidas na religião judaica como alma, vida, regra de conduta de toda a sua existência.
Para o judeu a circuncisão era um sinal corporal da pertença ao povo de Deus, bem como da sua separação do mundo circundante e participação pessoal na aliança com Deus (cf. Ex 4, 24-26).
Sendo assim, o que foi a circuncisão para os filhos de Deus no Antigo Testamento, hoje, é o Batismo para nós, novo povo de Deus do Novo Testamento. Circuncisão dar lugar ao Batismo!

Na Nova Aliança em Jesus, a circuncisão certamente perdeu o seu significado (cf. At 15, 1; Hb 8, 13; Gl 5, 3-4). Contudo, esta prática continua sendo um dos tipos do batismo: “Nele fostes circuncidados, por uma circuncisão não feita por mão de homem, mas pelo desvestimento da vossa da vossa natureza carnal: essa é a circuncisão de Cristo. Fostes sepultados com ele no batismo...” (Cl 2, 11s; cf. Fl 3,3; Rm 2, 25-29). (Revista pág. 454)

Depois de partimos da Sagrada Escritura como ponto fundamental para entendermos o motivo da Igreja batizar as crianças, como membros de Cristo, vamos nos encontrar com os primeiros Padres da Igreja Católica que não hesitaram em dar continuidade a esta tradição apostólica. Exemplos:
Orígenes (185-253),
Tertuliano (160-220,
Hipólito de Roma (170-236),
S. Irineu de Lião (130-202),
S. Gregório Nazianzeno (329-389,
S. Ambrósio (340-397),
S. Agostinho (354-430) etc.

Estes homens defenderam que “A Igreja recebeu dos Apóstolos o costume de dar o batismo mesmo aos recém-nascidos”.

Fé e Batismo

Chegando a conclusão dessa reflexão, vejo que o Batismo é o sacramento da fé. Porém, a fé que se requer para o batismo não é uma fé madura, mas um começo, que deve desenvolver-se. O Batismo é para perdão de pecados e necessário para a Salvação (At 2, 38). Crê e ser batizado, eis o ponto fundamental da vida cristã!
Em todos os seres fiéis, crianças, jovens e adultos, a fé deve crescer após o batismo. É por isso que a Igreja celebra todo ano, na noite da Vigília Pascal (Sábado Santo), a renovação das promessas batismais, para que não se perca de vista que, a cada momento de nossa vida o tesouro que recebemos pelo batismo deve ser preservado e multiplicado.

Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Esse é também o papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser pessoas de fé sólida, capazes e preparados para ajudar o novo batizado, criança ou adulto, no seu caminho de vida cristã. O seu múnus é um verdadeiro ofício eclesial. Toda a comunidade eclesial tem uma parte de responsabilidade no desenvolvimento e na defesa da graça recebida no Batismo. (C.I.C. nº 1255)

Autor: Cônego José Wilson Fabrício da Silva, ocrl


Bibliografia:

Revista, Atualização: Revista de divulgação teológica para o cristão de hoje, Ano XL, nº 346, set-out, 2010.
Rosato, Philip J., Introdução à teologia dos Sacramentos, São Paulo, Loyola, 1999.
Bíblia Sagrada, Tradução CNBB, Brasília, Edit. CNBB, 2011.
Católica, Catecismo da Igreja. Petrópolis, Vozes, 1993.

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