Nós como membros da Igreja Católica Apostólica
Romana, cremos na vida Eterna. Esta é a fé da Igreja! A porta inaugural para
esta “vida Eterna” é o Batismo. Uma vez batizado, pertencemos ao Corpo de Cristo.
Somos parte desse corpo, gozando de todas as bênçãos e graças do Céu. Mas,
independente de ser cristão ou não, cada homem recebe em sua alma imortal a
retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que
coloca sua vida em relação à vida de Cristo (C.Ig.C 1022).
A
grande preocupação que devemos ter nesta vida é viver no amor-doação, viver bem
e viver a fé, pois, no entardecer de nossa vida, nós seremos julgados sobre o
amor (S. João da Cruz).
Nós
cristãos, por pertencer ao Corpo Místico de Cristo, recebemos como privilégio o
"selo do Senhor”. Este selo é o Sacramento do Batismo que foi-nos dado
pelo Espírito Santo "para o dia da redenção" (Ef 4,30). Este dia é o
grande dia da Ressurreição de todos. Para ressuscitar com Cristo é preciso morrer
com Ele, é necessário "deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do
Senhor" (2 Cor 5,8). Nesta "partida", a alma é separada do
corpo. Ela retomará o corpo que deixa na terra no dia da ressurreição dos
mortos.
Como cristãos, devemos ter uma visão contextualizada à luz da Sagrada Escritura, partindo do sentido original que Jesus Cristo nos deu sobre a morte. Não devemos nos apegar a certos versículos isolados da Palavra de Deus, sem procurar saber para quem foram dirigidos, o seu contexto histórico e cultural. Por exemplo, o Livro de Eclesiastes 9, 5-6 nos traz essa afirmação:
“Porque
os vivos sabem hão-de morrer, mas os mortos não sabem coisa alguma; tão pouco têm
eles jamais recompensa, mas sua memória
jaz no esquecimento. Tudo o que fizeram em vida – os seus amores,
ódios, rivalidades – já pereceram e já não têm parte alguma naquilo
que se passa aqui na Terra.”
O
importante é vermos em primeiro lugar: temos que ter muito cuidado ao definir
que “mortos” significa neste contexto. Como sabemos, os que se
mantém firmes na vida do Evangelho de nosso Senhor são garantidos
“Vida Eterna”, tal e qual assegurou Jesus à Marta diante da morte de seu
irmão Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá, ainda que esteja morto, viverá; e todo que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês nisto.”
(Jo 11, 24-25).
Então,
como podemos interpretar corretamente Eclesiastes 9, 5-6? O que o autor sagrado
quer dizer em Eclesiastes é para todos àqueles que partiram injustificados ou
fora da ‘amizade’ de Deus. Ele afirma claramente que os mortos, não têm
mais recompensa alguma, e morreram (ou seja, não alcançaram a Vida Eterna, a
recompensa dos que acreditam em Deus) juntamente com seu amor, ódio e inveja.
Eles não têm parte nesse mundo ou no vindouro. Claramente, este versículo não
se refere àqueles que
viveram o Evangelho e confessaram fé em Jesus como Senhor e Salvador. Caso
contrário, como poderíamos ter sequer esperança de alcançarmos o
Reino dos Céus? O Antigo Testamento também confirma esse entendimento em
outra passagem, onde aquele que ‘morre’ consiste claramente naquele
que em vida não se arrepende de suas ofensas e parte do
mundo físico fora da Graça de Deus.
A
Sagrada Escritura ensina que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo (I
Cor 12, 27; Ef. 1,22-23), e que
esse corpo é formado pelas pessoas viventes batizadas na Trindade Santíssima (os
fiéis) (Mt 28, 19), pelas almas dos fiéis defuntos (Jo 11, 24) e pelos já
glorificados por Cristo no Céu (os santos) (Ap 8, 4). A Igreja ensina também
que dentro do Corpo de Cristo há o que chamamos de Comunhão dos Santos (Ap 7,
14) tanto na terra como no céu, como é mencionado no nosso Credo:
Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos
e na vida eterna.
O
fundamento bíblico sobre a morte cristã
Pela
fé nós acreditamos que todos os batizados na Igreja que foram fiéis na vida com
Cristo e, que partiram do mundo físico continuam vivos, pois alcançaram a vida
eterna. Este é o fato que nos dar a certeza de que eles não deixam de fazer
parte do Corpo Místico de Cristo! A Bíblia nos atesta isso em várias passagens,
como por exemplo as que seguem abaixo:
Mt 17, 2-3 – “Ali ele foi transfigurado diante deles. Seu rosto brilhava como o
sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Só então
apareceu diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus.”
Sb 3, 1-9 –
“A vida
dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá. Aos olhos dos
insensatos parecem ter morrido; sua
saída do mundo foi considerada uma desgraça, e sua partida do meio
de nós, uma destruição; mas eles estão em paz. Aos olhos dos homens
parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de imortalidade;
tendo sofrido leves correções, serão cumulados de grandes
bens, porque Deus os pôs à prova e os achou dignos de si. Provou-os
como se prova o ouro no fogo e aceitou-os como ofertas de holocausto.
Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão
junto dele, porque a graça e a misericórdia são
para seus eleitos.”
Fl 3, 20-21 –
“Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso Salvador,
o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará
semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que
tem de sujeitar a si todas as coisas”.
Jó 19, 1. 23-27 –
“Gostaria que minhas palavras fossem escritas e gravadas
numa inscrição com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na
rocha para sempre! Eu sei que o meu redentor está vivo e que,
por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha
carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei,
meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”.
Rm 14, 7-12 –
“Ninguém
dentre nós vive para si mesmo ou morre para si
mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos,
é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos
ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor
dos mortos e dos vivos. E tu, por que julgas o teu irmão? Ou, mesmo,
por que desprezas o teu irmão? Pois é diante do tribunal de Deus que todos
compareceremos. Com efeito, está escrito:
‘Por minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim e
toda língua glorificará a Deus’. Assim, cada um de nós prestará contas
de si mesmo a Deus”.
Todas estas passagens
maravilhosas nos oferecem a verdadeira interpretação da morte em nossa vida.
Ninguém ao morrer é destruído por inteiro. Apenas o corpo material padece a
corrupção para que um dia ser ressuscitado por Cristo de uma vez por todas.
Neste dia esperado por todos, receberemos um corpo glorioso, igual ao de Jesus
e Maria. Os que já vivem na glória do Céu, retomarão seus corpos para assistir
o julgamento dos que ainda se encontrarão na terra. Somente neste dia, veremos
novamente os que já nos deixaram com os seus corpos glorificados. Pois todos os
que já deixaram a terra não voltam mais (Ef 4, 4). A reencarnação não existe!
Uma vez deixada a terra, todos gozam da plenitude da Palavra de Deus proclamada
por São Paulo: “os que morrem fiéis, têm suas vidas escondidas em Cristo” (Cl
3, 3).
Os dois julgamentos do ser humano após a morte
Existem dois julgamentos
para o ser humano: o primeiro é o particular; o segundo é o universal. A Igreja crê que cada pessoa
enfrenta o juízo individual depois de sua morte (Hb 9, 27). Somente a Jesus, a
Quem pertence o poder de julgar os vivos e os mortos, julga as nossas almas e
nos encontra passíveis de entrar no Céu imediatamente, ou em
carência de passarmos por mais purificação no purgatório, ou fadados ao
inferno por causa de nossa recusa de separar-nos do pecado e/ou por nossa
indisposição para nos arrependermos.
A existência do Purgatório
O
Purgatório existe e é bíblico! Enganam-se àqueles que não acreditam na sua
existência. O Catecismo da Igreja Católica reserva alguns artigos
importantíssimos para falar dele, vejamos:
Os que morrem na graça e na
amizade de Deus, mas não de todo purificados, embora seguros da sua
salvação eterna, sofrem depois da morte uma purificação, a fim de obterem a
santidade necessária
para entrar na alegria do céu (n. 1030).
A
Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que é absolutamente distinta do castigo
dos condenados. A Igreja formulou a doutrina da fé
relativamente ao Purgatório sobretudo nos
concílios de Florença e de Trento. A
Tradição da Igreja, referindo-se a certos textos da
Escritura fala dum fogo purificador: «Pelo que diz respeito acertas faltas leves,
deve crer-se
que existe, antes do julgamento, um fogo purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando
diz que, se alguém proferir uma blasfêmia contra o
Espírito Santo, isso não lhe será perdoado
nem neste século nem no século futuro (Mt 12, 32). Desta
afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser perdoadas neste mundo e outras no mundo que há de vir» (n. 1031).
Esta
doutrina apoia-se também na prática da oração pelos defuntos, de que já fala a Sagrada Escritura: «Por isso,
[Judas Macabeu] pediu um sacrifício
expiatório para que os mortos fossem livres das suas faltas» (2
Mac 12, 46). Desde os primeiros tempos,
a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor,
particularmente o Sacrifício eucarístico para
que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as
indulgências e as obras de penitência
a favor dos defuntos: «Socorramo-los e façamos comemoração deles. Se os filhos de
Job foram purificados pelo sacrifício
do seu pai por que duvidar de que as nossas oferendas pelos
defuntos lhes levam alguma consolação? [...] Não hesitemos em socorrer os que partiram e em
oferecer por eles as nossas orações» (n. 1032).
É
fato! Para a Igreja o purgatório é um lugar de sofrimento em que as almas dos
que morrem em estado da graça, mas sem haver satisfeito à justiça divina
quanto à pena temporal incorrida por seus pecados, acabam de se purificar,
solvendo essa dívida para poderem ser admitidas no Céu, onde conforme a
Escritura, só entrará quem for puro.
São
Boaventura nos trás uma lógica de pensamento muito interessante sobre o
Purgatório, afirmando que ele deve existir por muitas causas. Procurarei ser
fiel a sua ideia: A primeira, como observa Santo Agostinho, é que há
três ordens de pessoas: Umas inteiramente más, e a essas não aproveitam os
sufrágios da Igreja; outras inteiramente boas, que não precisam de tais
sufrágios; outras, enfim, que não são de todo más, nem de todo justas e a estas
cabem as penas passageiras do Purgatório, porque suas faltas são veniais. A
segunda causa é a própria justiça de Deus, porque, assim como a soberana
bondade não sofre que o bem fique sem remuneração, assim a suprema justiça
não permite que o mal fique sem nenhuma punição… A terceira razão para
que haja um Purgatório é a sublime e santíssima dignidade da luz divina que
somente olhos puros devem contemplar. É preciso, pois, que volte cada um à sua
inocência batismal, antes de comparecer na presença, do Altíssimo.
Além
disso, todo pecado ofende a Majestade Divina, — é prejudicial à Igreja — e
desfigura em nós a imagem de Deus. Ora, toda ofensa pede um castigo, todo dano
uma reparação, todo mal um remédio; portanto é necessário também (neste mundo
ou no outro) uma pena que corresponda ao pecado. Demais, os contrários
ordinariamente curam-se com os contrários, e como o pecado nasce do prazer, o
castigo vem a ser o seu remédio natural.
A
ninguém pode aproveitar a negligência, que é um defeito, e, se tal defeito não
fosse punido, pareceria de vantagem para a vida futura não cuidar de fazer penitência
neste mundo.
Como vivem as almas que estão no
Purgatório?
Devemos
dar crédito a revelação que nos fala claramente da existência de um Purgatório que
não se explica tão claramente sobre o estado em que se acham as almas que
precisam de purificar-se; quer dizer, não podemos, portanto, saber com exatidão
nem onde elas sofrem, nem o que sofrem, nem de que modo sofrem.
Só
podemos afirmar que as penas do Purgatório são extremamente graves e de duas espécies:
a primeira, a mais insuportável, diz o Concílio de Florença, é a privação de
Deus.
A
necessidade de ver e possuir a Deus, que a alma, desprendida do corpo, compreende
ser o objeto único de sua felicidade: essa necessidade se faz sentir a todas
as nossas faculdades com uma força extraordinária.
É
uma sede ardente, é uma fome devoradora, é um vazio medonho, uma espécie de
asfixia produzida pela ausência de Deus, que é o alimento e o ar de nossa alma.
A
segunda é uma dor que põe a alma em torturas mais cruéis do que as que os
tiranos infligiam aos mártires.
A
Igreja não definiu a natureza desta dor, mas permite ensinar-se geralmente que
há no Purgatório, como no inferno, um fogo misterioso que envolve as almas sem
consumi-las; e, diz La Luzerne, conquanto não seja um artigo de fé, todas as
autoridades dão tanto peso à doutrina de um fogo expiatório que seria
temeridade desprezá-la.
Podemos
perceber que há uma necessidade de não vivermos envolvidos nos relativismos
teológicos protestante e libertador, chegando a ignorar a Doutrina da Igreja.
Não é dogma de fé, mas está livre para quem quiser acreditar na aparições de
Nossa Senhora em Fátima. Em duas destas aparições, uma Maria mostra o inferno
aos pastorzinhos, em outra Maria pede que se rezem pelas almas que sofrem no
Purgatório ensinando a eles a seguinte oração:
Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno. Levai as almas para o Céu e socorrei principalmente
àquelas que mais precisarem.
Quais são
as causas que velam as almas ao Purgatório?
São
duas as causas do Purgatório: a primeira é a falta de satisfação suficiente
pelos pecados remetidos. É dado de fé que Deus, perdoando os pecados cometidos
depois do batismo e a pena eterna devida a esses pecados quando são mortais,
deixa ordinariamente ao pecador já reconciliado a dívida de uma certa pena
temporal que ele há de solver nesta vida ou na outra. A segunda causa está nos
pecados veniais de que os justos podem estar maculados quando partem deste
mundo.
Quanto
tempo ficará uma alma no Purgatório?
Em
Deus não existe tempo! Mas, para nós essas penas durarão pouco em relação às
penas do inferno que são eternas, mas, consideradas em si mesmas, podem durar
muito tempo. A Igreja autoriza os sufrágios de aniversário por muitos anos e
até durante séculos: o que faz supor que as almas podem ficar todo esse tempo
no Purgatório. Autores respeitáveis, entre outros Belarmino, admitem que haja
pecadores detidos no Purgatório até o fim do mundo.
Podemos
ajudar os nossos irmãos que estão padecendo no Purgatório?
À
luz da Bíblia, há entre os fieis vivos e os mortos comunicação das boas obras.
A Igreja católica, esclarecida pelo Espírito Santo, aprendeu nas divinas Escrituras
e na antiga Tradição dos Santos Padres, e tem ensinado nos grandes Concílios,
que há um Purgatório e que as almas detidas nesse lugar são socorridas pelos
sufrágios dos fiéis e principalmente pelo precioso Sacrifício do Altar. (Conc.
Trent. sess, 25.)
Como
sabemos, o corpo místico de Jesus Cristo se compõe de uma Igreja unida em três
partes bem distintas: a Igreja triunfante no Céu, — a Igreja padecente no
Purgatório e a Igreja militante na terra. Essas partes, distintas em razão de
sua situação diversa, compõem realmente um só corpo, do qual Jesus Cristo é a
cabeça; em virtude da comunhão dos Santos, que professamos no Credo, elas se prestam
mútuo auxilio. Tal é a magnífica harmonia do Corpo Místico de Cristo.
Não
poderíamos nunca, diz o Catecismo da Igreja Católica, exaltar e agradecer
devidamente a inefável bondade divina que outorgou aos homens o poder de
satisfazer uns pelos outros e pagar assim o que é devido ao Senhor.
É
certo que as almas do Purgatório não podem merecer para si, mas ensinam
comumente os teólogos, diz Monsenhor Devie, que se lhes pode fazer súplicas e
que Deus se digna atendê-las, quando elas exercem a caridade para conosco,
pedindo o que é necessário. — Os Santos no Céu, acrescenta esse prelado, não
podem merecer para si; entretanto eles pedem por nós. É a doutrina de
Belarmino, de Suarez, de Lessio e de Liguori. As almas que pensam, diz
Belarmino, são santas, oram como os Santos; e são escutadas em razão de seus
méritos anteriores.
Podemos
concluir esta parte afirmando o seguinte: se não existisse o purgatório, desde
os primeiros séculos do cristianismo a Igreja não teria reservado dentro da
Oração Eucarística uma parte chamada de intercessões.
Nestas intercessões rezam-se por nossos defuntos.
Para onde
vamos após a morte?
Depois
de falarmos exaustivamente sobre o purgatório, vamos agora olhar de uma forma
geral sobre o que acontece conosco depois da morte. Podemos dizer com toda a
certeza, pautada na Bíblia e na Tradição da Igreja que é uma indicação de nossa
própria escolha pessoal, sabermos para onde vamos após a morte.
Somos
livres para escolher a Deus e o caminho para a santidade ou para nos revoltarmos
contra Ele. O que acontece após a morte também indica que o nosso Deus
é um Deus tanto de justiça quanto de misericórdia. O Catecismo nos orienta:
O Credo cristão – profissão da
nossa fé em Deus Pai, Filho e Espírito
Santo, e na sua ação criadora, salvadora e santificadora – culmina na proclamação da
ressurreição dos Mortos no fim dos tempos, e na vida eterna. (n. 988)
Nós
cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para
sempre, assim também os justos, depois da morte,
viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os
ressuscitará no último dia. Tal como
a d'Ele, também a nossa ressurreição será obrada Santíssima Trindade: «Se o Espírito d'Aquele
que ressuscitou Jesus de entre os
mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida
aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós»
(Rm 8, 11). (n. 989)
A
palavra «carne» designa o homem na sua condição de fraqueza e mortalidade «Ressurreição da carne» significa
que, depois
da morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os
nossos «corpos mortais» (Rm 8, 11) retomarão a vida. (n. 990)
Crer
na ressurreição dos mortos foi, desde o princípio, um elemento essencial da fé cristã. «A ressurreição dos
mortos é a fé dos
cristãos: é por crer n ela que somos cristãos» (561): «Como é que alguns
de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos
mortos, também Cristo não ressuscitou.
Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e
vã é também a vossa fé. [...] Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que
morreram» (1 Cor 15, 12-14, 20). (n. 991)
Enquanto cristãos, não devemos temer
a morte para não concluirmos a nossa caminha terrena sem estivermos preparados,
mas sim, a cada dia nos prepararmos para ela, crescendo em santidade e lutando
pela vida eterna.
Podemos concluir essa primeira parte
de nossa reflexão afirmando que para os católicos, a morte é uma passagem. ‘Não
existem mortos, mas vivos e ressuscitados. O Senhor nos toca e nos reerguemos
para a vida eterna.
Breves posições da Igreja sobre as outras visões da morte
Nós católicos acreditamos que a
morte verdadeira acontece no batismo, iniciando o caminho para a vida eterna. Corpo
e alma não é uma só coisa, porém, necessários (Ef 4, 4).
Ao
desfalecer ser humano na terra, acontece uma morte única e definitivamente. Com
esta morte, o homem criado a Imagem e semelhança de Deus, entra na verdadeira
vida (Lc 23, 42-43). Por isto, a reencarnação não existe!
O
corpo pode ser enterrado ou cremado. Mas, é aconselhável que deposite o corpo
no túmulo por inteiro. No momento do sepultamento, há a "benção do
túmulo", cujo objetivo é pedir o acolhimento do corpo pela terra na
esperança de que na segunda vinda de Cristo, do túmulo Deus restaure novamente
a vida material do morto para participar do último julgamento do mundo.
A verdadeira consolação cristã para os que perderam um
ente querido
O que consola um cristão é a
esperança de que, para além de toda dor e da morte, existe uma mão que
“enxugará todas as lágrimas de seus olhos”, e de que morte já não existirá, nem
haverá luto, nem pranto e fadiga (Ap 21, 4). Quem assim falou foi Deus, o Deus
que se autodefiniu como Aquele que é o Senhor da vida e da Morte (Ap 22,
12-13).
O Senhor Deus não quer que os nossos
entes queridos, nem nós, desapareçam para sempre no nada. Para isto ele nos deu
um espírito, Imagem e Semelhança de seu próprio Ser. Ele optou pela vida, este
é seu projeto fixado no cosmos! Nenhum ser humano termina o curso de sua vida
plena com sua morte biológica (1 Cor 2,
9).
É desejo de Deus que todos sejam
Salvos (1Tm 2, 4/ Rm 5, 15). Ele está ansioso para que vivamos bem, usufrua de
toda obra de sua criação com respeito (Jo 10, 10), façamos o bem e deixemos este
mundo para ter um encontro pessoal com seu Ser em sua realidade plena.
A alegria do Senhor é revelar a sua
face verdadeira às suas criaturas. Quanto a isto, o nosso coração humano também
sente essa falta de satisfação plena. Enquanto vivemos procuramos a Verdade
para nos tranquilizarmos e nos sentirmos felizes encontrando-a em alguma parte.
Mas, esta satisfação plena está unida a Verdade que não está aqui. Podemos
encontrar seu fim primeiro aqui, porem, seu fim último é o encontro com Deus!
Como Deus age com aqueles que já morreram?
Todos os que morreram são tratados
de maneira inexplicável. Muitos pensam que Deus está armado com a espada da
justiça na mão, esperando diariamente todos os que morrem para a sua aniquilação
e condenação ao inferno. Sem sombra de dúvida, ele está como o Pai misericordioso
esperando o filho que estava longe e, arrependido, resolveu voltar a sua pátria
natal.
É vontade de Deus que aquelas
pessoas que amamos continuem vivendo numa vida de plenitude e de amor no céu.
Assim como guardamos um objeto com carinho e cuidado de um amigo que se foi,
mas voltará; da mesma forma acontece com aqueles que nos pertencem, mas nos
deixou para ir ao encontro definitivo com o nosso Criador. Deus guarda com amor
a todos os que nos são caros. Isto é maravilhoso! Lá estão orando por nós que
aqui ainda ficamos (Ap 8, 4).
Ao morremos, diante de Deus não
seremos desconhecidos, pois, os nossos entes queridos que já morreram, terão
falado de nós ao Senhor da vida! É esta a certeza que nos permite a não
acreditarmos na reencarnação. Ela não existe! Vivemos uma única vez! Esta vida
começa com a nossa origem em nossos pais (Is 49, 1/ Jr 1, 5) e termina em Deus,
de lá não voltaremos a terra até uma última ordem de Deus para que assistamos o
julgamento do mundo (Mt 24, 21-39).
Há vida depois da morte, o autor
desta vida é Deus, eis a nossa esperança! Deus deixou-se seduzir pelos caminhos
do amor e agora está de tal maneira ligado a nós que nada pode separa-Lo de
suas criaturas. É um exemplo muito impróprio, mas, faço uso do mesmo para
compreendermos a linguagem do amor de Deus: podemos compara-Lo como um Ser
apaixonado que corre atrás de sua noiva infiel. Um Amante incondicional, um Pai
bondoso com um olhar igual ao de uma mãe cheia de ternura. Tudo isto é Deus! É
com este Deus que cada pessoa humana se encontra com sua morte (Is 49, 15; 54,
6).
A experiência que passamos com a nossa morte
Após a nossa passagem (morte),
passamos por uma experiência similar àquela de um despertar em cada manhã.
Despertar de um sono profundo carregado de sentimentos, como àqueles de uma
noite em que nosso consciente e inconsciente experienciou um sonho, que para
nós parecíamos real ao despertarmos.
O lugar que despertamos será
preparado por Deus, pautado em sua justiça e misericórdia, mas, segundo as
nossas obras, intenções, desejos e aspirações vividos aqui na terra. Ali nos
encontraremos com Deus, percebendo que cada um lucra da felicidade, amor, gozo
e paz. Tudo segundo a misericórdia do Senhor, pois nada mais era do que um
desejo ardente Dele por cada um nós.
Diante de Deus, o seu olhar me
penetra e, como uma menina envergonhada, irei me sentir cheio de timidez
perante este olhar que não é um olhar qualquer, mas um olhar que me conhece
bem. Aí começa o julgamento pautado na verdade, justiça e misericórdia.
Eu serei o centro do olhar de Deus. Serão
medidos as dores e as alegrias que causei a meus familiares, amigos e
conhecidos. Serão vistos os corações felizes e os feridos, pelos quais me
tornei responsável, não só no decorrer da minha vida, mas também, depois dela;
porque as consequências históricas da minha vida ultrapassa a nossa existência material.
Neste julgamento, verei todos os atos de minha vida diante de mim.
O mais importante nessa hora é
percebemos que o amor de Deus é mais forte que os meus fracassos. Lembremos que
na morte eu me apresento diante de Deus como aquela pessoa que me formei
durante toda a minha vida. O meu caráter e a minha personalidade formada aqui
na terra serão confrontados com os parâmetros da vida de Jesus Cristo, nosso
Modelo primeiro de vida a ser imitado.
Visão errada dos cristãos que não são católicos sobre a
morte
Existem irmãos que hoje estão tão
convencidos de si e de sua salvação, que nem se quer por um minuto, pensam na
possibilidade de que também eles necessitam de conversão, confissão dos pecados
e redireção na vida (Jo 20, 22-23). São pessoas que se consideram justos diante
de Deus com toda a sua convicção, chegando parecer que já são salvos de antemão
sem precisar passar pelo crivo do julgamento. Pessoas que se dizem ter a
certeza de terem atitudes corretas, a religiosidade certa, a igreja certa, a
verdade plena! Fora isto, segundo eles, todos estão no inferno! Têm-se tamanha
convicção, chegando a certeza de que o próprio Deus deverá curvar-se
diretamente a eles.
Estes irmãos não creem no poder
renovador do Sacramento da Confissão (Jo 20, 23), na restauração de vida que a
Eucaristia pode causar, não entendem que a Igreja Católica é o Sacramento
Universal da Salvação, não acreditam na Comunhão dos Santos, no poder da
intercessão da Mãe do ressuscitado, etc.
Iremos rever os que já morreram?
Perante Deus e, junto dele, nos encontraremos
com as pessoas que um dia amamos na vida, mas também com aqueles que
humilhamos, ferimos e pisamos no decorrer de nossa caminhada terrena. A todos
estes, pediremos perdão pelo mal que fizemos! E da mesma maneira deveremos
perdoar a todos aqueles aos quais não perdoamos na vida, para que não haja
rancor, nem ódio entre nós e, para que o amor, que é Deus, seja tudo em todos.
São esses perdões que possibilitam-me a tornar um ser pleno, um ser realmente
capaz de amar. Caso a justiça de Deus, usando de sua misericórdia (Is 43, 1.
3-4) chamar-me a passar pelo crivo do polimento (purificação), terei a plena
certeza de que essa experiência me libertará e não estarei condenado para
sempre! Em breve eu estarei na visão plena da face de Deus no Céu, situação do
Amor (Rm 8, 38-39).
Fica claro para nós que as nossas
relações humanas não vão desaparecer, mas serão plenificadas (Jo 14, 2-3; Mt
20, 1-16)!
As pessoas que nasceram com deficiências corporais e
mentais serão salvas?
É a grande questão ética de nossos
tempos! Dizem: “um feto pode ser descartado ou utilizado em pesquisas porque
ainda não está formado todo o ser biológico do homem; ou uma pessoa que perdeu
a memória, está impossibilitada de continuar vivendo normalmente! Por essa
causa, pode-se deixa-la morrer tranquilamente sem nenhuma ajuda, porque não
adianta mais nada a fazer.” Ambas afirmações estão condenadas pela nossa fé!
Um feto já foi fecundado, não está
formado totalmente, mas ali está uma vida que só precisa de um curto espaço de
tempo para se desenvolver. No óvulo fecundado encontramos a vida, manifestação
da ação de Deus! A mesma coisa acontece com uma pessoa que por consequência da
má formação fetal ou por acidente natural biológico, tornou-se uma pessoa
impossibilitada de exercer suas funções normais. Ali há vida! E porque há vida,
não se pode aniquila-la por conveniência. Mesmo que um ser humano na sua má
formação, venha a tornar-se anencéfala, isto não é motivo para aniquila-la,
pois os outros órgãos de seu corpo biológico estão vivos. E porque não se tem
um cérebro, não se pode compara-la a qualquer animal sem razão! O ser humano é
Imagem e semelhança de Deus! Se não se gerou perfeitamente, a culpa não está em
Deus, mas, tão pouco nos pais. A dificuldade está no óvulo fecundado não
encontrar os nutrientes e meios necessários para uma saudável formação por
parte dos pais biológicos. Por este motivo, não se deve encontrar culpados para
um caso extraordinário na formação de um ser humano.
Devemos cuidar e preservar a vida
com todo o carinho porque diante de Deus não existe pessoas com qualquer tipo
de deficiência! Com nossa morte, não nos apresentaremos diante do Senhor
Perfeitíssimo com o corpo gasto pelo tempo (criança ou adulto), doente,
mutilado, deforme, inacabado ou sem memória. Junto a Deus me apresentarei como
um homem perfeito e evoluído até as últimas possibilidades de meu ser.
José Wilson Fabrício da Silva, crl
(Cônego Regular
Lateranense)
Bibliografia:
CATECISMO
DA IGREJA CATÓLICA, São Paulo, Loyola, 1993;
BÍBLIA DE
JERUSALÉM, 7ª ed., São Paulo, Paulus, 2011.
MADRID, Teodoro C., La Iglesia Católica según San
Agustin, Madrid, Editorial Revista Agustiniana, 1994.
BRUSTOLIN, Leomar
Antônio. Morte: uma abordagem para a vida, Porto Alegre, EST Edições, 2007.
BLANK, Renold. J,
Consolo para quem está de luto, São Paulo, Paulinas, Ed. 3ª, 2006
2 comentários:
Se não há reencarnação, não haveria o argumento de jesus a Nicodemos: Ninguém pode ver o Reino dos Céus se não nascer de novo. João Cap III
Um Deus infinito em suas perfeições, causa primeira de todas as coisas, podemos dizer que é infinitamente Justo e Bom, e por assim dizer, na sua Justiça jamais privilegiaria um filho em detrimento de outro
O que significa nascer de novo conforme a afirmação de Jesus em São João 3?
Quando Jesus fala “nascer de novo”, quer dizer justamente do “nascer da água e do Espírito Santo”. Traduzindo, Cristo está falando exclusivamente do Sacramento Batismo que ainda, nem os discípulos haviam entendido direito, antes de sua Ascensão aos céus, como reza em Mateus 28. Jesus não está falando da reencarnação, do nascer materialmente de novo. Mas, mudar de vida, de purificação espiritual do pecado, que o profeta Ezequiel havia falado quando disse: “Então, aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo” (Ez 36, 25-26).
Aqui a água simboliza vida nova, purificação e perdão dos pecados, exatamente como coração novo e espírito novo falam da nova vida espiritual que Deus dá. O fato de essas duas ideias estarem intimamente relacionadas nessa conhecida profecia de Ezequiel, ao lado do fato de que Jesus pressupõe que Nicodemos deveria ter entendido esta verdade (“Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?”) (Jo 3, 10), junto com o fato de que Jesus está falando sobre assuntos completa e intensamente espirituais.
A reencarnação é reprovada e abominável aos olhos de Deus, e sobre isso São Paulo escreveu aos Efésios (cap. 4, 4): Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação.
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