A Igreja sempre
se preocupou pela bela e correta celebração da Santa Missa. Sabemos que a
beleza vem de Deus e leva-nos a Deus. Se Deus é perfeito, e assim o cremos,
Deus é infinitamente belo. Ter uma bela e correta celebração dos Santos
Mistérios nos facilita no entendimento do que é a Igreja (Esposa de um Dono) e
os seus Dons, que na verdade não é dela, mas do Espírito Santo de Deus. A
Igreja não tem nada, tudo é do seu Senhor. E, assim, os ritos retamente
celebrados torna a nossa participação —plena, ativa e consciente“.
A Santa Missa,
memorial da Paixão-Morte-Ressurreição de Nosso Senhor, é a mais perfeita oração.
Então, quando celebramos dignamente os Santos Mistérios, nós entramos na
Liturgia, deixando-a frutificar em nós. Quando a Missa é celebrada segundo as
normas, não por rubricismo, mas por entendimento e fé madura, deixamos o
Mistério falar por si.
É com esse ímpeto
e desejo, que queremos convidar a todos os fiéis dedicados ao serviço litúrgico
de nossa paróquia para um breve momento de formação e capacitação com esta
leitura, na perspectiva de podermos crescer ainda mais na beleza e seriedade da
liturgia de nossa Igreja.
DOMINGO DE RAMOS
No domingo de Ramos, da Paixão do
Senhor, a Igreja entra no mistério do seu Senhor crucificado, sepulto e
ressuscitado, o qual ao entrar em Jerusalém, preanunciou Sua Majestade. Os
cristãos levam ramos em sinal do régio triunfo, que sucumbindo na cruz Cristo
abraçou. De acordo com a palavra do Apóstolo: “Se com ele padecemos, com ele
também seremos glorificados” deve-se na celebração e catequese deste dia,
salientar o duplo aspecto do mistério pascal.
O TRÍDUO PASCAL
O espírito do Tríduo pascal tem sua
origem nas linhas mestras da liturgia primitiva dos séculos III e IV, na época de S. Agostinho, em
que tinha lugar na Sexta-Feira e Sábado Santos e
no Domingo de Páscoa.
Na Idade Média, passou-se a dar maior relevo
à Paixão, considerando-se a Ressurreição aparte da Paixão e Morte de
Cristo: assim, o Tríduo Pascal passou a ter lugar em Quinta, Sexta e Sábado
Santos.
Atualmente,
o Tríduo Pascal inicia-se à hora de «Vésperas» de Quinta-Feira
Santa (à Missa Vespertina «in Cena Domini») e termina com o
Ofício de «Vésperas» do Domingo de Páscoa.
Devemos
saber que PAIXÃO, MORTE e RESSURREIÇÃO constituem um todo,
ou seja, o Mistério da Redenção.
A
quaresma acabou, foi uma lenta subida de quarenta dias para converter-se a
Cristo; ela preparou-nos também para celebrar, o Mistério Pascal.
Desde
os primeiros séculos da nossa era cristã, a Igreja celebra o mistério da
salvação, nas suas três fases (Paixão, Morte e Ressurreição), no decorrer de
três dias, que constituem o ponto culminante do ano litúrgico.
Nestes
dias celebramos a Cristo que morrendo destruiu nossa morte e ressuscitando
restaurou a vida. Nestes expressamos o louvor e a gratidão a Jesus nosso
Salvador, que por amor, entregou sua vida a Deus Pai para libertar-nos do
pecado e da morte.
A
primeira linha fundamental é a exigência de ligação entre a lembrança da
Paixão e da Ressurreição. A morte de Cristo já é sua entrada numa vida
nova: na vida do Ressuscitado permanece a vida em que ele entrou superando a
morte. Esta unidade dos dois elementos do Mistério pascal indica ao cristão que
não pode haver para ele uma vida de união com Cristo, sem morrer primeiramente
a tudo o que constitui o velho mundo.
A segunda linha essencial da liturgia pascal se
percebe através do exuberante simbolismo das celebrações litúrgicas,
características do Tríduo sacro.
A
morte e a vida do Senhor se realiza novamente no mistério litúrgico. E na nossa
participação nesse mistério; participação no mistério que implica em mais
profunda morte ao pecado, renovação da nossa ressurreição para a vida da graça
, nosso empenho mais firme na realização da nova criação que se vai efetuando,
e emprego maior da liberdade espiritual que se torna privilégio nosso.
Uma
terceira linha provém das próprias origens da festa pascal do Antigo Testamento.
A Páscoa era a festa nacional do povo eleito, lembrança da sua libertação
e sua constituição.
A Páscoa
permanece como a festa do povo cristão; festa da sua constituição em povo
santo, em sacerdócio real. Não se pode celebrá-la sem tomar consciência das
características essenciais próprias de um povo de “redimido”: toda a sua vida
de caridade e obediência a Deus constitui o culto em espírito e verdade
que o Calvário inaugurou.
Perto
das Liturgias Orientais, especialmente as de origem bizantina, o nosso Rito
Romano é simples e humilde. Assim, dentro de nossa humildade e simplicidade,
devemos deixar o Rito falar com si mesmo, com a sua Solenidade e Ritmo, e
elevarmos até o Mistério Celebrado.
O MISTÉRIO PASCAL
Durante toda a sua vida Jesus
procurou realizar a vontade de salvação de seu Pai, na obediência e no amor
total. Jesus não cessou de ir ao encontro do homem, para tirar-lhe do pecado e
fazer-lhe livre para amar a Deus e aos outros. Isto lhe trouxe como
consequência o ódio de alguns que irão até matar-lhe.
Jesus com sua morte e ressurreição,
tornou-se o "Príncipe da Vida" (At. 3,15).
"Humilhou-se
a si mesmo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso Deus o
exaltou grandemente e lhe deu o nome que está acima de qualquer nome" (Fl 2,8-9)
Esta passagem para Jesus da morte à
vida nova, chamamos "Mistério Pascal". Este mistério é para nós a
salvação, pois plenamente solidário dos homens, Jesus pode juntar-nos para
sempre, nele, e fazer-nos morrer a nossos pecados na sua morte para
conduzir-nos à alegria da vida nova na sua ressurreição.
A partir de agora, ficamos a saber
que o Mistério Pascal, pelo qual conhecemos a purificação do pecado e a
reconciliação com Deus, tem dois momentos – um de sofrimento, outro de glória.
A morte é apenas um aspecto do Mistério total da Páscoa: não é o final, mas uma
passagem para a vida.
Durante
os três dias do Tríduo pascal a liturgia quer desenvolver mais fielmente
possível os fatos que aconteceram nos últimos dias da vida pública de Cristo;
convida-nos assim a unir-nos a Cristo no seu mistério pascal. Jesus
encaminha-se para a morte, voluntariamente, numa total liberdade, em amorosa
entrega aos homens. Somos, assim,
convidados a contemplar Jesus Cristo, que, pela sua morte e pela sua
ressurreição, revela e realiza o plano de amor de Deus de nos reunir todos como
irmãos e de nos destinar, para além da morte, à comunhão de felicidade na sua
própria vida.
Vamos
ver agora as três grandes celebrações desses dias.
l.
Quinta feira Santa: Ceia do Senhor
A
Quinta-feira Santa, primeiro dia do Tríduo Pascal, encontra-se no cruzamento da
Quaresma com a Páscoa; último dia da Quaresma, a missa vespertina introduz no
Tríduo Pascal, ela é a preparação final da Páscoa e inicia já a celebração
pascal. Preparação é a palavra chave. Assim se deu com a primeira Quinta-feira
Santa, quando Jesus enviou Pedro e João: "Ide e preparai tudo para
comermos a Páscoa " (Lc
22,8-13).
Celebram-se
duas Missas: Uma na Catedral - Missa do Crisma - e outra nas Paróquias - A
Missa vespertina da Ceia do Senhor.
A Missa do Crisma
Ocorre
de manhã, na Catedral. Nesta missa a Igreja consagra o Santo Crisma para as
unções do Batismo e da Confirmação e benze os Óleos tradicionalmente chamados
dos catecúmenos e dos enfermos. É este um rito próprio do Bispo, em volta do
qual reúnem-se, para com ele celebrar a Eucaristia todos os Sacerdotes da
Dioceses (diocesanos e religiosos), numa prova de unidade eclesial. A ênfase
recai no tema do sacerdócio e sua instituição por Cristo. Nesta Missa, uma das
características mais impressionantes é, renovação dos Sacerdotes do seu
compromisso de serviço à comunidade dos crentes, reafirmam o seu desejo de
fidelidade ao Espírito.
A Missa da Ceia do Senhor
Na
Quinta feira Santa, véspera da paixão, Jesus juntou-se com seus discípulos para
comer com eles a páscoa. Com o banquete pascal, o povo hebreu revivia, todos os
anos, a libertação do Egito e a sua constituição como “povo”, em consequência
dessa ação libertadora de Deus. Através desse rito pascal, que consistia na
imolação de um cordeiro, agradeciam também como Deus estive sempre presente, ao
longo dos séculos, ajudando ao povo, fiel a sua Aliança, e proclamavam a sua
esperança na libertação definitiva.
Mas
Cristo quis fazer dessa refeição, o alimento da Nova e definitiva Aliança,
selada com seu sangue. Por isso instituiu, sob os sinais de pão e do vinho,
mudados em seu corpo e sangue, o memorial do sacrifício que ele oferecerá ao
dia seguinte sobre a cruz.
Neste
encontro da quinta-feira santa, Jesus vai humilhar-se como o último dos servos
lavando os pés dos discípulos. Nesse dia da primeira Eucaristia, ele nos lembra
que toda sua vida foi um serviço dos homens.
Todo
o ministério de Jesus foi uma permanente entrega ao povo necessitado. Os
enfermos, endemoniados e marginalizados receberam de Jesus uma mão amiga. Todos
os tocados por Cristo, compartilharam a sua mesa e foram considerados felizes.
Até o final de sua vida terrena, Jesus entrega tudo o que é, tudo o que sabe,
tudo o que tem. Agora se prepara para entregar definitivamente sua existência
humana para tornar todas as demais, de antes e depois dele, em existência perdoada
e divinizada.
Atenção!
Jesus se impõe à dureza do inevitável. Ele conhecia perfeitamente a sorte dos
profetas que o precederam. João Batista foi assassinado por leviandades da
rainha da corte de Herodes. Outros muitos morreram por reivindicações menores.
A morte dos profetas era uma tentativa de calar a voz de Deus. Em meio a esta
situação, Jesus encontra o momento propício para demonstrar que a entrega pela
causa do Reino começa e termina nos pequenos e quotidianos gestos de entrega,
perdão e generosidade.
Nosso
Senhor Jesus Cristo realiza com gosto e convicção uma atividade reservada para
os serventes: toma os pés de seus discípulos, os lava e seca um a um. A mão que
serve, a mão que acaricia, é a mesma mão que está disposta a deixar-se
traspassar pela injustiça a fim de reclamar justiça.
O
Filho de Deus não começa seu testemunho estendendo os braços na cruz. Seus
braços e suas mãos já anteciparam a autenticidade do seu testemunho. Sua mão já
se estendeu em direção ao enfermo para resgatá-lo da prostração; sua mão já
auxiliou os indigentes na busca da dignidade; sua mão resgatou homens da morte
e lhes outorgou novamente a vida.
Às
vezes pensamos que é fácil deixar-se ajudar pelos outros, no entanto a
realidade é diferente.
Pedro,
estava disposto a entregar a sua vida por Jesus e pelo evangelho, mas não
compreendia as intenções de Jesus e não aceitava sua mensagem.
Para
Pedro, o Mestre era o chefe e o discípulo, um simples subalterno! Jesus como
sempre os surpreende com uma terrível novidade: o Mestre é o servidor de todos
e o discípulo é digno das maiores atenções... a única maneira de reinar é o
serviço. Lavar os pés do companheiro de jornada significa compartilhar as
dificuldades, compreender suas limitações, aceitar sua oferta. Lavar os pés do
amigo implica um contato imediato com a parte do corpo que está submergida no
barro da existência quotidiana... Este gesto tão singular e surpreendente não é
fácil de entender e aceitar.
Lavar
os pés significa inclinar-se diante do outro, aceitar que o serviço é a única
entrega. Os discípulos haviam-se preparado para pregar, para expulsar demônios,
para ensinar... tudo isto exigia muita preparação e dedicação! No entanto, não
estavam preparados para assumir uma tarefa humilde, a mesma que realizam os
empregados da casa, porque esta tarefa implica prostrar-se, entrar em contacto
com a terra, o barro e a sujeira! Os discípulos deverão passar por muitas
dificuldades antes de compreender o que significa prestar um serviço generoso e
desinteressado sem fazer alarde de humildade, e deixar-se servir pelos demais
sem menosprezar o serviço alheio.
A
Eucaristia é o sinal permanente e atual do amor gratuito que puxou Jesus a
doar-se totalmente. Participar na Eucaristia significa entrar na lógica da
caridade, do amor gratuito que vem de Deus, para tornar-se igualmente “sinais
vivos” e instrumentos do amor verdadeiro de Deus para todos os homens.
Poderíamos
dizer que quinta-feira santa, marca uma celebração capital dentro de todo o ano
litúrgico, celebração solene e grandiosa moldurada no contexto dramático da
proximidade da paixão e morte do Senhor. É o dia cume da despedida e do amor
extremo feito serviço humilde e generoso. Muitas são as facetas que se
entrecruzam neste dia, as principais são:
- Dia
do amor fraterno: Nesse
dia ressoa na comunidade o mandamento novo, mandamento do amor, do amor “como
eu vos tenho amado”. “Amei-vos até o fim”, até fazer-me servo e escravo num
tipo de serviço considerado humilhante e próprio dos escravos (lavar os pés).
“Eu vos dei o exemplo”. “Vós também deveis lavar os pés uns dos outros.”
Trata-se de uma proclamação do mandamento do amor feita não com palavras mas
com um sinal prático, o serviço. Amar é servir. Ama quem serve. Obras são
amores.
- Instituição
da Eucaristia: Para
o evangelista São João, a instituição da Eucaristia está ligada estreitamente
ao lava-pés. A Eucaristia expressa e constitui o sacramento do amor de uma
maneira visível, assim como o lava-pés. Jesus parte e reparte o pão e o vinho,
e diz: “Fazei isto em minha memória”, ou seja: para recordar-me fazei isto; ou
também: partir e repartir a própria existência será a forma de seguir-me que
melhor testemunha e faz memória de mim. Celebrar a Eucaristia, a fração do pão,
será sempre muito mais que ouvir a missa: “cada vez que comemos deste pão...
anunciamos a morte do Senhor até que Ele venha.”
- Instituição
do Sacerdócio: Tradicionalmente
esta instituição tem data nesta celebração. É claro que Jesus não institui
sacerdotes. O que se apoia em Jesus é um ministério ordenado de serviço à
comunidade cristã que reproduz e dá continuidade à sua presença no meio a
comunidade.
Depois da missa, somos
convidados a prolongar nossa oração, para entrar no mistério da paixão. “Não haveis podido velar uma hora
comigo?” dizia Jesus
aos apóstolos nessa noite. Assim, com uma vigília de oração nos associamos a Cristo
que começa sua paixão.
SEXTA-FEIRA SANTA: PAIXÃO DO SENHOR
Em
cada Eucaristia, a Igreja celebra sempre a Morte do Senhor, juntamente com a
sua Ressurreição com a qual forma o Mistério Pascal. Na Sexta-Feira Santa,
porém, consagra-lhe um especial Rito Comemorativo, que normalmente, se realiza
à hora em que Jesus morreu, por volta das três horas da tarde.
Neste
dia e no Sábado Santo, a Igreja, segundo uma tradição muito antiga, não celebra
a Eucaristia. O altar deve estar totalmente despido: sem cruz, sem velas, sem
toalhas. Os sacerdotes e ministros revestem-se de cor vermelhos; a celebração
começa em silêncio. Trata-se de comungar no sacrifício voluntário de um homem
que é o Filho de Deus.
A
liturgia da Sexta-feira Santa apresenta a síntese da Paixão e Morte de Cristo.
A celebração compreende três partes bem distintas: a Liturgia da Palavra, a
Adoração da Cruz e a Comunhão Eucarística.
A Liturgia da Palavra: Começa por nos introduzir, por
meio de Isaías, de S. Paulo e de S. João, no mistério do sofrimento e Morte de
Jesus.
Isaías
(52,13 – 53,12) apresenta-nos o “Servo sofredor”. Escolhido por Deus para
libertar da opressão do pecado o Seu Povo, o “Servo” realizará na humilhação e
na dor a sua missão de resgate. Rei e profeta, será também consagrado, com a
unção do “Servo”, para exercer a função sacerdotal de mediador. Pelo sacrifício
da sua vida, oferecido a favor dos homens e em sua substituição, reconciliará
os homens com Deus. No seu aniquilamento conhecerá a glorificação: o seu
sacrifício dará origem a uma humanidade nova.
Apresentando
a figura misteriosa do “Servo” é Jesus Cristo que o profeta anuncia. Ele é o
“Servo de Deus”. Da Sua morte nascerá um novo Povo, a Igreja.
Assim,
solidário com os homens, pois assumiu a natureza humana com todas as limitações
e sofrimentos, Jesus não é apenas o “Homem das dores”, apresentado por Isaías.
É também o nosso Sumo Sacerdote, e o único Mediador entre Deus e os homens.
Pelo seu sacrifício de obediência, que o levou à cruz Ele resgatou a humanidade
e com a confiança do Pai, restituiu-lhe a misericórdia e a graça. A sua morte
foi causa da nossa salvação. Vamos ver isto na segunda leitura de S. Paulo aos
Hebreus 4,14-16; 5,7-9.
No
evangelho S. João (18,1-19,42), que era o discípulo predileto de Jesus, viveu
de perto a sua Paixão e no seu relato deixa, sobretudo, transparecer a sua
admiração pela maneira como Jesus enfrenta a morte. Não é, na verdade, como um
vencido pelo sofrimento que avança para ela. Consciente de que chegara Sua
“Hora”, encaminha-se, livremente e como senhor dos acontecimentos, a cumprir a
sua missão. Acompanhando-O no Seu sofrimento, João vê n’Ele o Verbo Encarnado,
O Verdadeiro Cordeiro de Deus, cujo Sacrifício redentor se prolongará,
sacramentalmente, na Igreja, presente em Maria que junto da Cruz de Jesus e ao
lado do Evangelista, se associava à geração da nova humanidade.
Depois
das leituras e a homilia, somos convidados a unir-nos a esse ato de expiação e
intercessão. Assim, a Liturgia da Palavra encerra-se com uma solene oração, que
abrange a humanidade inteira, pela qual Cristo morreu. Somos convidados a rezar
pelas grandes intenções da Igreja e do mundo para que a salvação de Cristo
alcance ao mundo inteiro e a cada homem e mulher em particular.
A Adoração da Cruz: A Cruz, “sinal do amor
universal de Deus”, símbolo do nosso resgate, domina a segunda parte da
Celebração. Levada, processionalmente até ao altar, a cruz é apresentada à
veneração de toda a humanidade pecadora, representada pela assembleia cristã.
Nela, nós adoramos Jesus Cristo, aquele que foi suspenso da Cruz. Aquele que
foi, que é a “salvação do mundo”. É a Ele também que exprimimos o nosso
reconhecimento quando beijamos a cruz. É a Ele que pedimos, neste momento, a
força para levarmos a nossa Cruz.
Depois
da contemplação do mistério da Cruz e da adoração de Cristo crucificado, a
Liturgia vai-nos introduzir no mais íntimo do Mistério Pascal, vai-nos pôr em
contacto com o próprio “Cordeiro Pascal”.
Comunhão Eucarística: Não se celebrou a Eucaristia,
no entanto, pela Comunhão do “Pão que dá a Vida”, consagrado na Quinta- Feira
Santa, somos mergulhados na sua morte. Assim, unidos a Jesus enchemo-nos de
força para passarmos da morte do pecado à alegria da ressurreição.
Através
do Corpo do Senhor crucificado e ressuscitado ficamos também mais unidos ao Seu
Corpo Místico, isto é a Cristo que sofre e morre em cada homem e mulher do
nosso mundo. Como Jesus, também nos devemos dar a vida pelos nossos irmãos (1Jo
3,16).
Uma
vez que se distribui a comunhão acaba a celebração com uma oração do sacerdote.
Não há canto final, em silêncio todos se retiram, o altar fica desnudo sem
enfeites.
A
Igreja vigia junto a Cruz de Jesus!
Então por que morreu Jesus? Como é possível tornar-se
inimigo daquele que cura os doentes, abraça e acaricia as crianças, ama os
pobres, defende os fracos? Como o Pai pode querer a morte de seu Filho? Será
que Deus precisava ver correr o sangue de um inocente? É difícil aceitar isso.
Vejamos,
Jesus apareceu como a luz do mundo (Jo 9,5). “A luz brilhou nas trevas,
mas as trevas não a receberam” (Jo 1,5).
Alguns
raios desta luz rasgaram as trevas do mundo. São raios que penetraram no
coração das pessoas simples enchendo-as de alegria e de esperança, mas
encadearam, incomodaram, tornaram-se insuportáveis para os olhos turvos de
outros, naquele tempo e hoje. Por que?
Porque
Jesus propôs um novo rosto de Deus: já
não é o Deus justiceiro, mas um Deus que acolhe e salva a cada pessoa; propôs
um novo rosto da pessoa. Inverteu os valores deste mundo:
grande para Ele não é quem vence e domina, mas quem serve os irmãos; propôs
uma nova religião. Não a
religião dos ritos, mas a que “adora ao Pai em espírito e verdade”; propôs
uma nova sociedade em
que o “primeiro” é o pobre, o débil, o marginalizado.
Jesus não procurou a morte na
cruz, simplesmente foi fiel a sua missão, foi fiel ao Pai até morrer, até dar a
sua vida por amor aos homens e fidelidade a Deus. Será que nós estamos acolher
o seu Reino, aceitando o novo rosto de Deus, a
nova religião, o novo rosto da pessoa e a nova sociedade por Ele
proposto? “quem não está comigo está contra mim.”
SÁBADO SANTO
O
corpo de Jesus repousa no túmulo. A sua Alma desce até onde a esperam todos
aqueles que acreditaram em Deus e viveram na esperança da vinda do Redentor.
No
primeiro Sábado Santo, tudo parecia perdido. Os discípulos se dispersaram,
desesperados, com a esperança abalada. Somente Maria manteve a fé, e esperou a
ressurreição de seu filho; Por isso nos sábados durante o ano, a Igreja celebra
a Virgem Maria, e existe Missa votiva e ofício em honra.
Pondo
de parte toda atividade (este é o único dia, em que não há assembleia
eucarística).
A
Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua paixão e morte. É
dia de espera serena, orante. Participando embora do mistério do Seu sofrimento
e da Sua Morte, a Igreja vive na esperança. Sabe, que Jesus, tão fiel ao Pai
até à morte, não pode ficar “abandonado à corrupção”. A Sua Morte será o penhor
da nova Criação, que se aproxima. Sabe também que o “repouso” de Jesus é a
imagem do “repouso” de todos aqueles que foram batizados na Sua Morte e
Ressurreição. Depois que Ele morreu e foi sepultado, a morte, já não será uma
realidade terrível, mas sim “um intervalo, espiritualmente vivo, para o início
duma vida superior”.
Vigília Pascal
A
celebração anual da Morte e Ressurreição do Senhor tem o seu ponto culminante
na Vigília Pascal, coração da liturgia cristã, centro do ano litúrgico, a mais
antiga, a mais sagrada, a mais rica de todas as celebrações, “a mãe de todas as
vigílias” (Santo Agostinho).
Nesta
“noite de vigília em honra do Senhor” (Ex 12,42), os cristãos reúnem-se para
celebrarem, na esperança e na alegria, o grande acontecimento da salvação, pelo
qual Jesus, depois do Seu aniquilamento voluntário, foi constituído “filho de
Deus em todo o Seu poder” (Rm 1,4), “Senhor da Glória” (1 Cor 2,8), “Chefe e
Salvador” (At 5,31).
O
Mistério Pascal é uma “passagem”, um movimento, em que é envolvido todo o Povo
de Deus. Os cristãos esta noite não só comemoram um fato histórico, objetivo e
real, sua espera é a espera de Alguém. É a espera do Senhor, que volta, para
nos levar a fazermos a Sua “passagem”, a Sua Páscoa com Ele.
Misteriosamente
presente no meio da assembleia cristã, o Senhor Jesus renova nesta Vigília, o
Seu Mistério Pascal, inserindo-nos nele, fazendo-nos assim passar com Ele das
“trevas à luz admirável” (1Ped 2,9).
Esta
“passagem” da morte do pecado à vida da graça realiza-se, em primeiro lugar,
pelo Batismo. Ser batizado é, na verdade, morrer com Cristo, para ressuscitar
com Ele. Por isso, a Igreja, desde a mais alta antiguidade, pensou que o melhor
meio de celebrar o Mistério Pascal era batizar, nesta noite, os seus
catecúmenos e levar os batizados a reviver a própria ressurreição e a tomar
consciência do seu nascimento como Povo de Deus.
Esta
nova criação, surgida das águas do Batismo, só no último dia, na Vinda do Senhor,
“passará” da sua forma atual e perecível à forma definitiva e gloriosa. Por
isso, nesta Vigília, os cristãos, conservando nas suas mãos as lâmpadas acesas
(Lc 12,35ss), orientam também a sua espera para o momento do encontro com o
Esposo, que vem (Mt 25,13).
Dentro
deste espírito, a Vigília Pascal desenrola-se por este modo:
1.Início da Vigília ou “Lucernário”
(Liturgia da luz)
Diante
da porta da igreja, acende-se o fogo, símbolo da vida que desponta, se expande
e tudo transfigura e símbolo também da alegria fraterna, pois à volta do fogo
convivem os homens.
Neste
fogo se acende o Círio pascal, símbolo de Cristo crucificado e ressuscitado,
principio e fim de todas as coisas, luz do mundo, Salvador dos homens de todos
os tempos, "Eu sou o alfa e o ômega, o
primeiro e o último, o princípio e o fim" (Ap 22,13), como o indicam,
respectivamente, a primeira e a última letra do alfabeto grego nele gravadas e
os números do ano, em que decorre a Vigília. O Sacerdote pode aplicar no círio
cinco grãos de incenso, representando as chagas que o Salvador recebeu nos pés, nas mãos e no lado.
Guiado
pelo Círio pascal, o Povo de Deus entra na igreja (cujas luzes estão apagadas),
à semelhança do Povo de Israel que avançou para a Terra Prometida, conduzido
pela coluna de fogo.
Á
luz do Círio pascal, que está no centro dos ritos inicias da Vigília, anuncia e
proclama o mistério desta noite santa.
2.Liturgia da Palavra
Para
preparar os catecúmenos para o Batismo, a Igreja mandava que lhes fossem lidos
aqueles textos da Bíblia, que nos apresentam os misteriosos desígnios de Deus a
respeito da humanidade. Seguindo esta catequeses batismal, a todos os cristãos
que, nesta noite, se preparam para reviver o Mistério Pascal e para renovar os
compromissos batismais são recordados os acontecimentos essenciais da história
da Salvação.
À
luz do Círio pascal, é evocada a história da salvação: da criação (Gn. 1,1-2,2;
Gn. 22,1-18) e da saída do Egito (Ex 14,15-15,1), a nova Jerusalém (Is
54,5-14), a salvação oferecida a todos gratuitamente (Is 55,1-11), a fonte da
sabedoria (Bar 3,9-15.31-4,4), o coração novo e o espírito novo (Ez 36,16-28),
justificados por Deus pela fé em Jesus (Rm 6,3-11) à Ressurreição de Jesus e à
Sua exaltação celeste (Mt 28,1-10 [ano A], Mc 16,1-8 [ano B], Lc 24,1-12 [ano
C]. À luz de Jesus compreendem-se acontecimentos e pessoas e descobre-se o fio
condutor da história da salvação – o amor de Deus.
A
descoberta deste amor de salvação do nosso Deus leva a comunidade cristã à
oração e ao canto.
3.Liturgia Batismal
Pelo
Batismo morremos em Cristo, para n’Ele ressuscitar para a vida da graça (Rm
6,8). Nasce o novo Povo de Deus. Por isso o Batismo domina esta parte da
Vigília. É benzida a água batismal, como que para significar que toda a sua
eficácia deriva do Mistério Pascal. E os catecúmenos, cuja preparação concluía
com as reuniões da Quaresma, são mergulhados na Morte de Cristo, para
renascerem espiritualmente. A Vigília Pascal só é plenamente vivida quando a
comunidade cristã apresenta, nesta noite, adultos ou crianças, para se
incorporarem em Cristo Ressuscitado.
Por
outro lado, toda a comunidade deve unir-se aos que, nesta noite, são batizados
e com eles dar a sua adesão pessoal a Cristo Ressuscitado, renovando as
promessas do seu Batismo.
4.Liturgia da Eucaristia
A
Vigília termina com a Eucaristia. Nela exprimimos a nossa alegria e dirigimos a
nossa ação de graças pelas maravilhas realizadas nesta noite, “em que Cristo,
nossa Páscoa, foi imolado”. Nela, ao tomarmos parte no banquete da Nova
Aliança, se ratifica a nossa adesão a Cristo vivo e ressuscitado, que nos
resgatou. Nela, faremos verdadeiramente nossa a Páscoa do Senhor.
Pela
ressurreição de Cristo, a vida substitui a morte; o amor ao egoísmo, a
esperança à desesperança: a criação nova é inaugurada. Ficamos pecadores mais
com Cristo ressuscitado, a salvação é possível e a vida divina é dada; o
sofrimento e a morte são caminho para a vida. A Vigília Pascal que celebra esta
ressurreição é verdadeiramente a solenidade de solenidades, a primeira e a
maior festa do ano.
A
Páscoa nos introduz numa fase dinâmica que brota da vida do Ressuscitado. Batizados
na Morte e Ressurreição de Jesus, começamos a caminha em novidade de vida. Este
nosso caminhar, este nosso “êxodo”, esta nossa “páscoa”, que tem a duração da
nossa existência exige de nós esforço, generosidade, sacrifício. Ressuscitados
com Cristo temos de levar uma vida de ressuscitados. Por maiores que sejam as
dificuldades, um verdadeiro cristão nunca desanima. Cristo Ressuscitado, vive
eternamente, vai conosco, para nos ajudar a sermos fieis ao Pai e aos homens,
nossos irmãos.
Org: José Wilson Fabrício da
Silva, crl
Fonte:
Missal Dominical;
Cerimonial
dos bispos;
Diretório
de Liturgia.
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