Arquivo do blog

quarta-feira

A Evolução do Dogma da Imaculada Conceição


I. Introdução
O dogma da Imaculada Conceição foi definido em 1854 pelo “SENSUS FIDEI” (senso de fé) da Igreja. Este dogma não pode ser compreendido com a concepção virginal de Maria. O dogma envolve mais a questão do pecado original. Pena que constitua para ponto de atrito no diálogo ecumênico com os irmãos protestantes e ortodoxos. Os primeiros consideram o dogma uma questão de afirmação grave e arriscada devido o silêncio das Escrituras e da Tradição Antiga, ou uma doutrina que derruba a “boa nova” da Salvação, já que põe Maria fora do campo do pecado, e com isso Jesus não seria mais o Salvador. Os ortodoxos não aceitam o que foi definido por Pio IX.

II. Processo Histórico Teológico do Dogma de Imaculada Conceição
Foi um processo lento, mas é preciso situar-se no contexto da fé eclesial que amadurece e cresce na compreensão das verdades reveladas sobre a influência do Espírito Santo que faz discernir a verdade da mentira e ensina todas as coisas interiormente (1Jo 2,20-21.27), ou com os “olhos da mente” para um conhecimento mais profundo do plano de Deus (Ef. 1,17-18; Cl.1, 9; Rm.12,2; Fl.1, 9-10).
Todo cristão é sujeito prioritário do “SENSUS FIDEI”, que o torna capaz de uma percepção instantânea do dado revelado e das suas virtudes e o capacita para observar e desenvolver a revelação. Foi neste amadurecimento da Experiência Cristã que o dogma surgiu não como uma invenção, mas como FATO da Igreja. O mesmo surgiu como privilégio mariano. Não é fácil documentar a fé popular, já que ela não se expressa com escritos, mas com FATOS. A primeira indicação seria o Proto-Evangelho de Thiago (séc.II – Apócrifo), mas o autor não reconhece a Tradição Judaica e escreve no Egito usando um gênero Literário fantasioso. Todavia, o relato fala da Consagração de Maria na consciência intuitiva e mística da Santidade perfeita e original.
No Concílio de Nicéia (325) a Igreja exalta a Santidade de Maria. Diante da heresia Pelagiana (que nega o pecado original), a Igreja quer demonstrar que Maria não esteve sujeita ao Demônio. No decorrer dos séculos a fé popular veio confirmar o Dogma da Imaculada Conceição. Foi na Teologia que o dogma foi elucidado pela fé popular com os dados revelados. O primeiro teólogo sobre o Dogma da Imaculada Conceição foi Eadmer (+1134), que demonstra que Deus pode conferir por graça um corpo sem pecado, baseando-se na união de Maria com o seu filho.
No entanto foi Dom Scotus (+1308) que elaborou o conceito de redenção preservativa, ou seja, o dogma da Imaculada não é uma exceção a redenção de Cristo, mas um caso de União Salvífica Perfeita. Cristo exerceu o mais alto grau de meditação a uma pessoa para o qual ele era o mediador. Isso não teria acontecido se ele não houvesse merecido preservá-la do Pecado Original.
Coube ao Magistério Eclesiástico moderar, esclarecer, promover e decidir sobre tal questão. Foi Pio IX que construiu a Comissão de teólogos e Cardeais para examinar a questão dogmática. Isso resultou numa consulta a 546 bispos que elaboraram documentos a favor do dogma. Na Bula Ineffabillis Deus é declarado como doutrina que a Virgem Maria no instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente e em vista dos méritos de Cristo, Salvador do Gênero Humano, foi provada imune de toda mancha do pecado original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida.
O sujeito da Conceição não é a alma de Maria, mas sua pessoa. O termo privilégio não deve ser entendido no sentido escrito de anulação da Lei. Também não fica definido se trata de privilégio único e exclusivo, mas singular. Descoberto o Dogma da Imaculada Conceição, foi fruto de dinamismo de fé que interessou todos os membros da Igreja. Não é um mito inventado pelos Teólogos, mas, sobretudo é um evento de ordem eclesial. O dogma não decorre necessariamente e obrigatoriamente de nenhuma revelação, mas, do instinto sobrenatural progressivo explicitado na sua potencialidade. Enfim, é a fé da Igreja que expressou com consentimento global dos fiéis, base conscientemente válida como definição dogmática: A Igreja se baseia na assistência infalível do Espírito Santo na Igreja, a fim de fazê-lo chegar a Plenitude da Verdade.
O dogma não é rejeição da Sagrada Escritura e nem repetição da mesma, e muito menos é uma nova revelação. O dogma é o desenvolvimento homogêneo e percebido pelo instinto da fé que já se encontra no horizonte global da revelação.
III. Fundamentação Bíblica
No Antigo Testamento em (Gn 3,15) diz: “Porei inimizade entre e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela”. Cristo mediador entre Deus e os homens, assumiu a natureza humana, destruiu por decreto a condenação que havia contra nós, pregando triunfal na cruz. Se o vinculo estreito indissolúvel a Maria que foi junto de Cristo e por meio dele eterna inimiga da serpente venenosa que esmagou a cabeça dela com o seu pé virginal. Foi Maria em seu corpo que trouxe por graça divina o Salvador do mundo onde Cristo se formou pela ação do Espírito Santo. Maria é o Trono excelso de Deus (Eclo 24,4 ) como a Arca Santificada (Ex 25,10) e Rainha cumulada de delícias e apoiada no seu amado “Ct 8,5”. No Novo Testamento é o próprio anjo que saúda com “Ave cheia de graça” (Lc 1,28), Izabel a chama de Bendita (Lc. 1, 42). Maria se torna a criatura por excelência a todos os louvores dos homens e anjos. A Igreja é guiada pelo Espírito Santo (Jo16,13), sondou a riqueza virtual desta palavra até amadurecer na fé da Imaculada Conceição de Maria.
Em (Ef 1,4): “Em Cristo o Pai nos escolheu antes da criação do mundo, para sermos Santos e Imaculados”, já que os dons de Deus são irrevogáveis (Rm 11,29). Jesus quis dar a Menina de Nazaré um Penhor com novos céus e novas terras já que seu filho Jesus Cristo é o prelúdio da nova criação.
Maria é a morada de Deus de Templo (Is 60,14), o sol e a lua não brilharão mais nela, pois o próprio Deus é a Fonte de sua Luz (Is 60,19-20). Em (Dt 18,18-19) diz: “Eu suscitarei para eles um profeta no meio dos meus Irmãos e porei em sua boca as minhas palavras ele lhes dirá tudo que eu lhe ordenar. Se alguém não escutar as palavras que ele disser em meu nome, eu lhe pedirei contas”. Como Maria, nós pessoas humanas suspiramos pelo dia que comparecermos diante de Cristo de maneira gloriosa, sem mancha nem ruga, mas Santo e Imaculado (Ef. 5, 27). Enfim o dogma da Imaculada Conceição é o início que traz em si antecipação de nosso fim.
IV. Conclusão
Deus, que não desperdiça seus prodígios, na Imaculada aponta a Esperança. A Toda Santa se coloca no termo de uma longa história de graça e de pecado (Gn 3,15…”porei inimizade entre ti e a mulher”).Se Deus é por nós, quem será contra nós? (Rm 8,31). Apesar da explicitação tardia do dogma da Imaculada Conceição, foi um fato eclesial, porque amadureceu na consciência dos crentes ao longo dos séculos cristãos e se impôs na Igreja, superando os obstáculos a ordem teológica.
O dogma da Imaculada Conceição harmoniza muito bem com sua maternidade divina e santa. Maria colabora na obra de seu filho como único redentor pela união em Cristo. A Imaculada Conceição é um exemplo de Justificação por pura Graça. Maria foi envolvida desde o primeiro instante de sua existência pelo amor do Pai, pela graça do Filho e pelos esplendores do Espírito Santo. Conseqüentemente foi preservada de todo sujeição do mal, tanto interior e exterior. A graça que Maria recebe não ficou inerte nela, mas provoca uma resposta de fé total ao Deus Santo que a Santificou. Maria manifesta a plenitude e a perfeição do amor redentor de Cristo, já que mostra sua eficácia retroativa e preservativa. Maria não cria obstáculo ao movimento da história em busca da unificação e perfeição em Cristo, mas promove, tornando por sua vez comunicador de Salvação. Maria é o fruto não envenenado pela serpente, o paraíso concretizado em tempo histórico sem perigo de contaminação e putrefação. Em Maria a Igreja encontra a sua imagem mais Santa depois de Cristo. A Imaculada Conceição não é privilégio aristocrata, mas popular e participátivel. Se Maria ficou imune do pecado e da concupiscência que conduz ao mal, a Imaculada Conceição não ficou isenta dos sentimentos humanos mais intensos e vitais, das limitações e do condicionamentos culturais, do sofrimento, do caminho de amadurecimento e da peregrinação na fé. Em Maria sobre influência da graça, todos os fiéis são impulsionados a uma vida de entrega perfeita, incondicional e total de Santidade a Deus. Por isso que somos Filhos de Deus, assim como Jesus quis ser Filho de Maria

Nenhum comentário: