A preocupação do Magistério pelas homilias não é nova, mas agora se sublinha a necessidade de contar com homilias de qualidade
Em sintonia com a nova evangelização suscitada por Bento XVI, parece importante refletir sobre o papel das homilias na Missa dominical ou em outras festas e o modo de melhorá-las. Milhões de discípulos de Cristo escutam-nas em todo o mundo. Muitos fiéis se interrogam acerca da sua qualidade, especialmente enquanto ao seu conteúdo: às vezes ouvem temas distantes das leituras da Santa ou opiniões pessoais do celebrante; em outras ocasiões recebem quase uma simples repetição dos textos proclamados. Com freqüência alguns fiéis – fora da Missa – trocam suas impressões ou críticas de modos mais ou menos adequados sobre os defeitos que advertem.
Mas, às vezes, algumas falhas na pregação escutada nem sempre são fáceis de detectar. Por exemplo, alguém pode ouvir uma homilia muito bonita em uma tarde de Sexta-Feira Santa comentando as partes do rito e apresentando a morte de Cristo como um acompanhamento, a cada um de nós, nos sofrimentos da vida e especialmente na morte. No silêncio da meditação sucessiva à homilia, alguém se pergunta: bem, o Senhor me acompanha e consola não só com palavras, mas com obras, mas me salva, me redime e me outorga uma vida nova dirigida à Vida e à Ressurreição depois da minha morte? Ouvi algo sobre Jesus morto como vítima propiciatória pelos pecados de todos os homens? Os exemplos poderiam se multiplicar. Por isso, em sua recente Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini [i], Bento XVI menciona a “atenção particular que, no Sínodo, foi dispensada ao tema da homilia”[ii] e também recorda como na Exortação posterior ao Sínodo imediatamente anterior, dedicada ao sacramento da Eucaristia, havia indicado “a necessidade de melhorar a qualidade da homilia”[iii]. A preocupação do Magistério[iv] pelas homilias não é nova, porém agora se sublinha a necessidade de contar com homilias de qualidade. A homilia, parte da celebração eucarística
Façamos uma releitura com calma do ensinamento do Romano Pontífice no n. 59 da Verbum Domini: “Já na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Sacramentum caritatis, recordei como, ‘pensando na importância da palavra de Deus, surge a necessidade de melhorar a qualidade da homilia; de fato, <<esta constitui parte integrante da ação litúrgica>>, cuja função é favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fiéis’”.
A homilia não é uma ocasião para dirigir-se aos fiéis e comunicá-los algo distinto dos textos sagrados lidos. É “parte da ação litúrgica”, não um acréscimo opcional. Sua finalidade é “favorecer uma compreensão e eficácia mais ampla da Palavra de Deus na vida dos fiéis”.
A Santa Missa é ação de Deus em sua Trindade de Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. É ação de Cristo – o único Sacerdote -, por meio de instrumentos humanos, os sacerdotes. Eles emprestam seu próprio ser – palavras, gestos, inteligência, coração – para atuar in Persona Christi Capitis, em nome de Jesus Cristo Cabeça da Igreja, não em seu nome. Trata-se portanto de ajudar os fiéis – também o mesmo celebrante – a compreender, sob a ação do Espírito Santo, a Palavra de Deus e que esta seja cada vez mais eficaz em suas vidas.
Atualizar a Palavra de Deus dentro da celebração eucarística
“A homilia – segue dizendo o Santo Padre – constitui uma atualização da mensagem da Sagrada Escritura, de tal modo que os fiéis sejam levados a descobrir a presença e a eficácia da Palavra de Deus no momento atual da sua vida”[v]. A situação fundamental dos homens e mulheres de hoje com respeito a Deus segue sendo e será a mesma: somos obras sua, criados a sua imagem e semelhança, filhas e filhos muito queridos de Deus. No entanto as circunstâncias atuais da vida humana, especialmente em relação com os demais e com o mundo – o trabalho e tantos aspectos da cultura -, foram mudando. Por isso é necessária essa “atualização da mensagem da Sagrada Escritura”. A todos nós faz falta “descobrir a presença e a eficácia da Palavra de Deus no momento atual da sua vida”. Convém facilitar a escuta da Palavra de Deus, como realmente é: isto é, como Palavra eterna, sempre atual, sempre jovem, dirigida a cada um de nós: a mim, em primeira pessoa, e no peculiar momento de minha biografia hoje.
Quando estamos imersos em um tipo de trabalho com horários exigentes e vivemos rodeados de uma cultura midiática que não é fácil decifrar, a simples leitura da Palavra de Deus poderia incidir na própria existência e tornar-se como um piso superior sem escada de comunicação com a planta sob a casa de Deus que é cada Cristão.
A homilia não é uma aula ou uma conferência pronunciada em uma sala ou inclusive em um templo fora da Missa ou de outra ação litúrgica. Forma parte de uma ação divina, da celebração da Eucaristia, na qual se faz novamente presente o único Sacrifício de Jesus no Calvário. Por isso, a homilia tem um caráter peculiar, ao formar parte de um todo mais amplo. Escreve o Papa: “deve levar à compreensão do mistério que se celebra; convidar para a missão, preparando a assembléia para a profissão de fé, a oração universal e a liturgia eucarística”[vi]. Isto é, vamos renovar a nossa fé na Trindade, recitado o Credo, pedir pelas necessidade de todos e entrar na parte da liturgia eucarística com o oferecimento de tudo o que é nosso, para que o Senhor o una ao seu fazer presente novamente o Sacrifício da Cruz, seguido de sua Ressurreição e de sua Ascensão junto ao Pai. A orientação da homilia é esta: prepararmo-nos e introduzirmos-nos nesta ação divina oferecendo-nos também a nós com Cristo. Esta nossa inserção adquire, portanto, acentos distintos segundo os textos propostos pela Igreja para cada celebração da Missa e segundo as circunstâncias dos participantes. A homilia haverá de facilitar deixarmos-nos tomar por Cristo e empaparmos-nos com seu Sangue em suas mãos chagadas para lançarmos como boa semente de trigo ao campo do nosso mundo, da família, do trabalho diário, da participação ativa da vida pública[vii]. Cristo, centro da homilia
O Romano Pontífice desenvolve algumas consequências do papel singular da homilia: “aqueles que, por ministério específico, estão incumbidos da pregação tenham verdadeiramente a peito esta tarefa. Devem-se evitar tanto homilias genéricas e abstratas que ocultam a simplicidade da Palavra de Deus, como inúteis divagações que ameaçam atrair a atenção mais para o pregador do que para o coração da mensagem evangélica. Deve resultar claramente aos fies que aquilo que o pregador tem a peito é mostrar Cristo, que deve estar no centro de cada homilia”. O sacerdote, enamorado de Cristo, prega com gosto, com alegria, porque Jesus atrai todas as almas e não deixa indiferente a nada.
Cristo é o centro de toda a homilia. O é como conteúdo, pois se trata de “mostrar a Cristo”. Para isso contamos uns relatos inspirados pelo Espírito Santo, narrações humana e divinas ao mesmo tempo: os quatro Evangelhos, acompanhados de outros escritos também da Palavra de Deus. Cristo é o conteúdo, é o Caminho, a Verdade e a Vida, a Luz que ilumina a todos os homens. Em sua maioria, pertencem ao gênero narrativo tão adequado às circunstâncias atuais e às de todos os tempos. As parábolas interpelam, movem a pensar. Em ocasiões deixam ao ouvinte a tarefa de tirar a conclusão.
Mas também a forma de mostrar o amável rosto de Jesus Cristo tem – então, agora e sempre – uma pauta dada por Deus mesmo e uma luz e um fogo do Espírito Santo na inteligência e no coração do pregador e dos demais fiéis participantes da Missa.
Segundo Bento XVI, “deve resultar claramente aos fies que aquilo que o pregador tem a peito é mostrar Cristo, que deve estar no centro de cada homilia”.[viii]. Como é natural, isso leva consigo a dar mais importância aos parágrafos do Evangelho lidos na Missa que aos outros textos. Os fiéis percebem o amor do celebrante a Cristo no tom, nas expressões, na alegria, na sensibilidade, no entusiasmo. Daí deriva o tipo peculiar de preparação requerida para a homilia: um estudo meditativo, intimamente unido à oração pessoal. “Por isso, é preciso que os pregadores tenham familiaridade e contato assíduo com o texto sagrado; preparem-se para a homilia na meditação e na oração, a fim de pregarem com convicção e paixão”[ix]. Requer-se ter uma boa preparação teológica, mas nunca separada da meditação. Como é lógico, os fiéis também olham o comportamento do pastor. Recordando a São Jerônimo[x], o Romano Pontífice recorda que a pregação será acompanhada do testemunho da própria vida: “No sacerdote de Cristo, devem estar de acordo a mente e a palavra”[xi]. Três perguntas para a preparação da homilia
Bento XVI faz suas as sugestões do Sínodo dos Bispos de 2008 de que se tenham presentes as seguintes perguntas ao preparar a homilia: O que dizem as leituras proclamadas? O que dizem a mim pessoalmente? O que devo dizer à comunidade, tendo em conta sua situação concreta?[xii]. Estas três perguntas são uma grande ajuda para melhorar as homilias. 1. O que dizem as leituras proclamadas?
Antes de tudo, é necessário conhecer o que dizem as leituras. Normalmente o celebrante necessita atualizar sua compreensão do texto e recorrer aos instrumentos oportunos. Para isso serve-se dos textos paralelos dos evangelhos, e das referências implícitas ou explícitas das passagens do Antigo Testamento. Como é lógico, esta leitura se faz à luz da Tradição e com a ajuda do Magistério precedente e atual, organicamente sintetizado no Catecismo da Igreja Católica. Todos os fiéis, sacerdotes e leigos, agradecemos a luz irradiada pelo livro de Bento XVI Jesus de Nazaré, por suas homilias, assim como pelas de seu predecessor João Paulo II e pelas do Ordinário da própria circunscrição eclesiástica.
Não poucas pessoas afirmam que Bento XVI passará para a história pela qualidade e estilo de suas homilias, que recordam o estilo dos padres da Igreja[xiii]. Mas ao que se refere ao Evangelho, é muito útil voltar a considerar algum comentário à passagem de cada Missa em uma das numerosas obras sobre a vida de Jesus: R. Guardini, F. M. William, K. Adam, G. Papini, D. Rops, etc. Citamos também, a modo de exemplo, a Justo Pérez de Urbel, o Emmanuel de Carles Cardo, ao Abade G. Ricciotti e outros mais recentes.
Como é óbvio, toda esta preparação é prévia. Por isso fora dito com certo humor: a homilia requer saber a exegese própria da teologia bíblica, mas não é o momento de dar uma lição de exegese.
2. O que dizem a mim pessoalmente?
É muito importante esta segunda pergunta sugerida pelo Sínodo ao celebrante de sua tarefa de atualizar os textos lidos mediante a homilia. Comenta o Papa, no já citado nº 59 da Verbum Domini: “O pregador deve deixar-se interpelar primeiro pela Palavra de Deus que anuncia”[xiv], porque como diz Santo Agostinho: “seguramente fica sem fruto aquele que prega exteriormente a Palavra de Deus sem a escutar no seu íntimo”[xv]. É conhecida a descrição dos três graus do crescimento intelectual e pedagógico do professor: o jovem só ensina mais do que sabe, pois com freqüência transmite ideias lidas pouco antes, mas não muito assimiladas; o professor mais maduro diz o que realmente sabe; o que chega a ser mestre não expressa todos os seus conhecimentos: ensina somente o que convém aos seus ouvintes. Com isso se põe de relevo o papel da “interiorização” dos conhecimentos e de sua inserção existencial dentro da própria vida.
3. O que devo dizer a comunidade, tendo em conta sua situação concreta?
Vivendo no trato habitual com Jesus e esforçando-se para ser outro Cristo, o pregador pensa em seus irmãos. Fala sobre eles com Jesus Cristo, de suas necessidades espirituais e materiais. Pede luzes em sua oração pessoal: Senhor, o que vou dizer-lhes no domingo? O que queres que diga?
Em um clima de decadência cultural, todos necessitamos ouvir o tom animador, afetuoso, positivo de Jesus, que enche de luz, de alegria, de esperança. O celebrante da Missa busca também transmitir outra verdade fundamental sublinhada na primeira carta de São João: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados”[xvi]. Neste clima de sentir-se amados por Deus, de saber-se filhos de Deus, é mais fácil desejar conhecer melhor a doutrina, as palavras de vida ensinadas por Jesus e transmitidas na Igreja. É mais acessível o desejo operativo de formar-se mais, manter-se firmes na fé em um clima com freqüência neopagão, reconhecer os próprios pecados sem desanimar-se e sem ocultá-los. Nas circunstâncias atuais, todos necessitamos de uma abundância de sã doutrina. Daqui que o santo padre recomende também os breves comentários nas missas feriais: “e mesmo durante a semana nas Missas cum populo, quando possível, não se deixe de oferecer breves reflexões, apropriadas à situação, para ajudar os fiéis a acolherem e tornarem fecunda a Palavra escutada”[xvii]. Em todos os casos é necessário prepará-las bem, com estudo e oração, sem improvisar. Assim é possível pensar com precisão, clareza, de modo atraente o que será dito e expô-lo em um tempo razoável. Em geral é importante evitar as homilias longas, que podem refletir pouca preparação, como daquele autor de um texto de três mil páginas que se desculpou com o editor: saiu muito longo pois tive pouco tempo.
A amizade com Jesus, da qual tudo depende.
Este ponto capital nunca pode ser dado como pressuposto. A meu modo de ver, aqui está em jogo a amizade com Jesus, mencionada muitas vezes por Bento XVI. No prólogo do primeiro volume de Jesus de Nazaré alude a imprecisão bastante estendida da consciência geral da cristandade de que saberíamos poucas coisas certas sobre Jesus. Só a fé em sua divindade teria plasmado posteriormente sua imagem. “Semelhante situação é dramática para a fé, pois deixa incerto seu autêntico ponto de referência: a íntima amizade com Jesus, da qual tudo depende”[xviii]. Esta expressão “a íntima amizade com Jesus, da qual tudo depende” é uma das chaves decisivas para entender seu pontificado que concede tanta importância ao trato pessoal com Jesus na Palavra, na Eucaristia, e em toda a liturgia.
Não se conhece a Jesus verdadeiramente, se não se acompanha-o diariamente junto aos Doze, os setenta e dois discípulos, as mulheres que ajudam ao Mestre e tantos outros. A nova evangelização nasce de um renovado trato de amizade com Jesus, que não é uma figura do passado. Podemos falar d’Ele com o entusiasmo e a alegria do apóstolo João em sua primeira carta: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos e o que nossas mãos apalparam, do Verbo da vida – porque a Vida manifestou-se: nós a vimos e dela vos damos testemunho e vos anunciamos esta Vida eterna, que estava voltada para o Pai que nos apareceu – o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos para que estejais também em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo. E isto vos escrevemos para que a nossa alegria seja completa”[xix]. Veja-se por exemplo como sente a contemporaneidade com Cristo São Cirilo de Jerusalém em suas catequeses (348-350): “Qualquer ação de Cristo é motivo de glória para a Igreja universal; mas o máximo motivo de glória é a cruz. Assim o expressava com precisão Paulo, que tão bem sabia disto: O que é meu, Deus me livre de gloriar-me senão na Cruz de Cristo.
“Foi, certamente, digno de admiração o fato de que o cego de nascimento recobrara a vista em Siloé; mas, em que beneficiou isto a todos os cegos do mundo? Foi algo grande e sobrenatural a ressurreição de Lázaro, quatro dias depois de morto; mas este benefício afetou unicamente a ele, pois, em que beneficiou aos que em todo mundo estavam mortos pelo pecado? Foi coisa admirável o que cinco pães, como uma fonte inextinguível, bastaram para alimentar a cinco mil homens; mas, em que beneficiou aos que em todo o mundo se encontravam atormentados pela fome da ignorância? Foi maravilhoso o fato de que fora libertada aquela mulher a quem Satanás teria ligada pela enfermidade desde os dezoito anos; mas, de que serviu à nós, que estamos ligados com as cadeias de nossos pecados? Pelo contrário, o triunfo da cruz iluminou a todos os que padeciam da cegueira do pecado, livrou a todos nós das ataduras do pecado, redimiu a todos os homens”[xx]. Cristo não se encontra no passado: vive e atua agora no século XXI, como no século IV. Inclusive em certo modo de maneira mais universal agora que durante seus anos de vida terrena.
Os santos, raios de luz da Palavra de Deus
A Verbum Domini menciona com alegria o papel dos santos. “A interpretação da Sagrada Escritura ficaria incompleta se não se ouvisse também quem viveu verdadeiramente a Palavra de Deus, ou seja, os Santos. De fato, “viva lectio est vita bonorum”. Realmente a interpretação mais profunda da Escritura provém precisamente daqueles que se deixaram plasmar pela Palavra de Deus, através da sua escuta, leitura e meditação assídua”[xxi]. O papa não pensa somente nos santos de muitos séculos atrás mas naqueles de épocas mais recentes e inclusive nossos contemporâneos: “Cada Santo constitui uma espécie de raio de luz que brota da Palavra de Deus: assim o vemos também em Santo Inácio de Loyola na sua busca da verdade e no discernimento espiritual; em São João Bosco na sua paixão pela educação dos jovens; em São João Maria Vianney na sua consciência de grandeza do sacerdócio como dom e dever; em São Pio de Pietrelcina no seu ser instrumento da misericórdia divina; em São Josemaria Escrivá na sua pregação sobre a vocação universal à santidade; na Beata Teres de Calcutá missionária da caridade de Deus pelos últimos; e nos mártires do nazismo e comunismo representados, os primeiros, por Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), monja carmelita e os segundos pelo Beato Aloísio Stepinac, Cardeal Arcebispo de Zagrábia”[xxii]. Com a gratidão a Deus, recordo a pregação ouvida de São Josemaria, quem desde muito jovem se meteu na vida de Jesus “como um personagem a mais” e assim aconselhou como um caminho acessível a todos para alcançar a santidade. “Para nos aproximarmos do Senhor através das páginas do Santo Evangelho, recomendo sempre que nos esforcemos por meter-nos de tal modo na cena, que dela participemos como um personagem a mais. Sei de tantas almas normais e comuns que o fazem! Assim chegaremos a ensimesmar-nos, como Maria, que permanecia pendente das palavras de Jesus; ou nos atreveremos, como Marta, a manifestar-Lhe sinceramente as nossas inquietações, até as mais insignificantes[xxiii]. Dois instrumentos solicitados por Bento XVI
Disporemos dentro de algum tempo de um diretório homilético: “Pregar de modo adequado referindo-se ao Lecionário é verdadeiramente uma arte que deve ser cultivada. Por isso, dando continuidade à solicitação feita no Sínodo anterior, peço às autoridades competentes que, correlativamente ao Compêndio Eucarístico, se pense também em instrumentos e subsídios adequados para ajudar os ministros a desempenhar da melhor forma possível a sua tarefa, como, por exemplo um Diretório sobre a homilia, de modo que os pregadores possam encontrar nele uma ajuda útil a fim de se preparem no exercício do ministério[xxiv]. Ademais, no Motu próprio Ubicumque et semper de Bento XVI do dia 12 de outubro de 2010, constituindo o novo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, se indica como uma de suas tarefas: “promover o uso do Catecismo da Igreja Católica, como formulação essencial e completa do conteúdo da fé para os homens de nosso tempo” (art. 3, nº 5). Com efeito, nesta grande obra do pontificado de João Paulo II todos os fiéis encontram uma formulação completa da fé para hoje, na qual o Concílio Vaticano II se apresenta em toda sua beleza de inserção na corrente vital e doutrinal do Magistério ao longo dos séculos. Nele encontra o pregador uma ajuda para meditar os textos litúrgicos. Vale a pena recordar também a grande ajuda do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, como um instrumento mais acessível para o seu estudo e sua fixação na memória. No ciclo trienal do lecionário para a Missa dominical e solenidades permite-se considerar todos os aspectos do mistério de Cristo. Mas desde antigamente tem sido um bom complemento o estudo detalhado da profissão de fé, em seu desenvolvimento homogêneo ao longo dos séculos. Por isso, o estudo individual ou em grupo do Catecismo da Igreja Católica contribui a conhecer melhor em sua beleza e harmonia todo o conjunto orgânico da Revelação divina. Essas lições se situam não à margem, mas em conexão com a homilia litúrgica. Sem dúvida um uso mais assíduo do Catecismo contribuirá para uma pregação de qualidade em vista da tarefa árdua e apaixonante da nova evangelização
Lluis Clavell