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quinta-feira

O Martelo do Cardeal Piacenza sobre os sacerdotes: "No atual contexto secularizado, são sinais de contradição os sacerdotes santos"



Apresentamos a segunda parte de nossa tradução da entrevista do Cardeal Mauro Piacenza (foto) sobre o sacerdócio. Numa lúcida análise sobre os desafios e barreiras encontradas pelos sacerdotes e pelos fiéis, especialmente pelo horrível exemplo praticado por aqueles que foram ordenados ministros de Deus. Fonte Kath.net.

Com seu livro “El Sello – Cristo, Fuente de la Identidad del Sacerdote”, publicado em 2010, o senhor recorda a identidade do sacerdócio, declarando que qualquer discurso sobre uma nova evangelização, objetivo principal da Igreja, é em vão se não se baseia na renovação espiritual do sacerdote. Concretamente, como poderia configurar-se a renovação do sacerdócio? O que significa dizer que “o sacerdote é sinal de contradição na sociedade atual? De onde deve partir a Igreja e, em particular, como deveriam intervir os responsáveis pelos seminários?

Quem renova continuamente a Igreja e, nela, o sacerdócio, é o Espírito Santo! Fora de uma visão claramente pneumática e, por isso, sobrenatural, é impossível pensar em uma renovação. Considero que este é precisamente um dos principais caminhos para se recorrer: o da clara recuperação da dimensão vertical, espiritual do ministério. Nas décadas passadas, demasiados reducionismos, animados pela assim chamada “teologia da desmistificação”, tiveram como resultado a transformação do sacerdócio em um simples “super-ministério”, de animação e coordenação eclesial. O sacerdote é também aquele que anima a vida pastoral de uma comunidade, porém, exerce tal ministério em virtude de uma vocação sobrenatural e da conformação à Cristo, determinada pelo sacramento da Ordem. Antes de todo “serviço ministerial”, ele representa a Jesus o Bom Pastor no coração da Igreja e, concretamente na comunidade para a qual foi enviado.

Consequência disto é que a renovação deverá passar necessariamente pelo primado da oração, da relação íntima e prolongada com Cristo Ressuscitado, presente espiritualmente nas Sagradas Escrituras, realmente na Eucaristia, e com o qual o sacerdote está perenemente em relação ao serviço concreto de cada gesto ministerial. Primado da oração significa também primado da fé: a fé pura e sincera dos santos, capaz de desestruturar, precisamente por sua sensatez, todo o cálculo humano ou arrazoamento. Um sacerdote assim, em um contexto cultural fundado no eficientismo e no ativismo, se converte necessariamente em sinal de contradição; assim, a Sua imagem [com referência a Cristo], todo o sacerdote é chamado a sê-lo; precisamente em virtude da pertença a Cristo e à Igreja, e da “novidade perene” que a apostolica vivendi é para o mundo.

No atual contexto secularizado, são sinais de contradição os sacerdotes santos, fiéis, dedicados ao próprio ministério porque se dedicaram a Deus e são capazes, por isso, de conduzir as almas a um encontro autêntico com o Senhor. Só quem é todo de Deus pode ser todo das pessoas.

Em tudo isto deve, essencialmente, serem formadas as novas gerações de sacerdotes, evitando cuidadosamente cair na tentação de quem quiser “simplificar” o sacerdócio, pensando, de tal modo, fazê-lo mais aceitável aos jovens e aos homens de nosso tempo. Isto, pelo contrário, levaria à “deserfiticação” das vocações. O futuro do sacerdócio, que está garantido a nível sobrenatural pela fidelidade de Deus para com Sua Igreja, está também, no que nos concerne, na preocupação de sua natureza autêntica, que é – as Escrituras testemunham e a grande Tradição Eclesial e magisterial o confirma – de origem exclusivamente divina.

O Papa Bento XVI em seu livro-entrevista com Peter Seewald, "Luz do mundo", diz: "É concebível que o demônio não lograsse suportar o Ano Sacerdotal e então jogou a imundice. Ele queria mostrar ao mundo quanta sujeira está também entre os sacerdotes”. O senhor acha que é coincidência que precisamente durante o Ano Sacerdotal, em muitos países do mundo se instalou o escândalo de abuso sexual? O senhor acha que o diabo tenha realmente perdido ao final?

Você sabe bem que a casualidade não existe! Existe, no entanto, as coincidências e, mais à miúdo, as estratégias humanas, que se expõem às instrumentalizações do maligno.

Há que recordar, em primeiro lugar, que o demônio não venceu durante o Ano Sacerdotal, como afirmou o Santo Padre, “nos deixou de cara com a imundice”, senão bem mais quando alguns ministros de Deus, chamados pela vocação a anunciar o Evangelho e administrar os sacramentos, abusando de sua própria tarefa, feriram de modo mortal jovens vidas inocentes*. Nesta perversão absoluta está a verdadeira vitória do maligno, e o feito de que, tais terríveis e atrozes comportamentos, tenham emergido durante o Ano Sacerdotal, não diminuiu a verdade do sacerdócio senão, que, permitindo a necessária penitência e reparação pelo ocorrido, favoreceu uma consciência mais profunda de como o extraordinário tesouro, doado por Cristo a Sua Igreja, está contido em vasos de barro.

Tal situação, que é dramaticamente inquietante, poderia, inclusive, voltar desesperadamente se não estivéssemos seguros de que o diabo, o qual vence por desgraça muitas batalhas, perdeu definitivamente sua guerra já que foi derrotado pela Morte Redentora de Nosso Senhor Jesus Cristo e por Sua gloriosa ressurreição.

Com freqüência, particularmente em países de língua alemã, muitos sacerdotes são expostos a pressões por parte dos leigos e conselhos pastorais. Quase se tem a sensação de que certos leigos querem tomar o espaço do altar para assumir funções ministeriais. Em poucas dioceses de língua alemã, sacerdotes que querem ser fieis à Igreja se encontram frequentemente solitários. Às vezes nem sequer os bispos diocesanos oferecem aos seus sacerdotes o apoio necessário. Como que é visto este problema em Roma? Como deveriam e poderiam ser defendidos os sacerdotes em tal situação?

Em primeiro lugar quero afirmar com absoluta claridade e motivado convencimento que a colaboração entre sacerdotes e leigos é tão necessária quanto sacramentalmente fundada. É necessário vivê-la dentro de alguns parâmetros irrenunciáveis, tanto desde o ponto de vista teológico como pelo perfil pastoral. Há que recordarmos que o ministério do testemunho estão chamados todos os batizados e não simplesmente aqueles que receberam algum ministério eclesial. Os fiéis leigos dever ser educados neste sentido permanente do apostolado, que deve ser vivido sobre todo o mundo, em suas concretas circunstâncias existenciais, familiares, afetivas, laborais, profissionais, educativas e públicas. Os leigos realmente “comprometidos” são aqueles que se comprometem em dar testemunho de Cristo no mundo, não aqueles que suprem a eventual carência de clero, reivindicando porções de visibilidade dentro das comunidades.

Partindo desta clarificação sobre a vocação universal dos batizados, nada exclui que eles possam efetivamente colaborar no ministério dos sacerdotes, recordando sempre que entre o sacerdócio batismal e o ministerial, existe uma diferença essencial e não somente de grau.

Também neste caso se trata de redescobrir a fé na Igreja, que não é uma organização humana, nem muito menos pode ser administrada com critérios “empresariais” que obedecem as leis humanas, como a presunçosa ou real competência ou eficiência e a necessária repartição do poder, e que estão os mais distantes possíveis do autêntico serviço eclesial.

Considero que precisamente esta “redução empresarial” do modo de pensar a Igreja é uma das causas da assim chamada crise do número de respostas às vocações, como das polêmicas que, em sucessivas artimanhas, as vezes também orquestradas, se desencadeiam contra o celibato sacerdotal. Tudo isso forma aquela míope “estratégia de normalização” que busca, em última instância, expulsar Deus do mundo, retirando d’Ele aqueles sinais que, objetivamente, remetem a Ele de modo mais eficaz; em primeiro lugar a vida daqueles que, fiel e alegremente, escolhem viver na virgindade do coração e no celibato pelo Reino dos Céus, testemunhando desse modo que Deus existe, que está presente, e que por Ele é possível viver.

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