O povo de Deus no Antigo Testamento foi convidado, mas convocado a participar da Liturgia Sagrada pelo próprio Libertador (Ex 19, 16-24 / Ne 8-9). Pois a partir daqui, a Liturgia não era somente a ação pública de um povo na sociedade, mas também um ofício religioso de direito para com Deus. A Liturgia passa a ser necessária na vida espiritual do povo. E Deus aceita esta ação se fazendo presente para ouvir, ver, tocar, falar e sentir tudo aquilo que era oferecido a Ele. Aqui percebemos que a liturgia no Antigo e Novo Testamento mobiliza os cinco sentidos de Deus. É por isso que os sacerdotes deveriam ter grande zelo, cuidado e amor por tudo o que era executado na sagrada Liturgia, porque tudo era para o Grande e Soberano Deus. O Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, para o Senhor que dar a vida e a tira de volta, o Deus temeroso que falava dentre os trovões e relâmpagos; Aquele que pediu a Moisés que confeccionasse objetos que seriam santificados por Ele, para o seu culto. Vemos isto em detalhes na belíssima leitura do Ex do 25 ao 30, do 36 a 40. Estes são capítulos que devem ser lidos atentamente; perceberemos que Deus é detalhista, gosta dos detalhes e pede que seja feita desde aos pequenos objetos às grandes cortinas das tendas.
Então, a Liturgia de Deus é o Tesouro que temos visivelmente aqui na terra para entrarmos em Deus e Deus em nós.
Se fizermos uma pesquisa do que vem ser a Santa Missa, vamos encontrar milhares de autores de todos os séculos depois de Cristo, dando sua avaliação concreta do que aquilo que celebramos é Mistério; como que, entramos (todos os participantes) na parte impenetrável da área espiritual, em que outrora o sacerdote da Antiga Lei, só era autorizado a entrar uma vez por ano. Diz assim o autor sagrado: “Ora, aconteceu que, ao desempenhar ele (Zacarias) as funções sacerdotais diante de Deus, no turno de sua classe, coube-lhe por sorte entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso. Toda a assembléia estava fora, em oração, na hora do incenso” (Lc 1,8-10). Vejam as palavras que estão sublinhadas: o sacerdote exerce seu ministério sacerdotal diante da presença real do Senhor. Na hora do culto não estão para agradar o povo, mas para agradar exclusivamente a Deus. E o povo o acompanha em oração. Se estão em oração estão em piedade, em contrição, pois não se faz uma boa oração se não tem esses dois requisitos.
Aqui não quero trazer uma idéia nova, mas compartilhar meu jeito particular do que para mim é a Santa Missa.
Quando participamos com a oração e o coração da Santa Missa, Deus nos fala através da Liturgia executada e nós falamos com Ele. Há uma comunicação entre Deus e nós, nós e Deus. Para muitos a execução dos rituais na Liturgia Eucarística podem ser um teatro, claro, para os que não vêem com os olhos da Fé, nem da devoção eucarística, aqueles ritos realizado pelo sacerdote. Mas, para os que se deixam ser conduzidos pelos ritos, vão mergulhando de uma forma surpreendente no Mistério.
Por que vão mergulhando?
Porque mistério não se entende, e sim, participamos dele. É isso que cada sacerdote, consagrado e leigo tem que recordar que na Santa Missa ocorre um mistério, pois a ordem do ritual da Missa não dever ser visto como coisa automática que tem sua hora de ser feita, e muito mal feita e pronto. Muitos, desde de leigos até sacerdotes, fazem do altar seus palcos de apresentações, fazendo do cântico um show, das leituras uma narração de jogo de futebol pelo rádio, do altar e ambão, um depósito de maracutaias, fitas, jarros e luzes. Substituem a entrada triunfal do Evangeliário na procissão de entrada, trazida pelo diácono ou um sacerdote, por umas pessoas quase desnudas com aquelas roupas finas, dançando um reboleixo e sendo aplaudido pelo povo de Deus que nesta hora deixa de ser assembléia e passa a ser um público qualquer.
Não se tem mais critérios para escolher os hinos cantados e aceitos pela Liturgia ortodoxa; não se tem mais respeito em grandes partes de nossas paróquias pelo Mistério celebrado. Os nossos sacerdotes estão preocupados com a parte administrativa de suas paróquias; e a parte principal, que é a vida espiritual das almas, está sendo esquecida. Está passando da hora de nossos padres perceberem que eles são OS CURAS de almas. Este nome antigo não morreu, porque no dia que ele cair de moda, os sacerdotes deixarão de ser o que são na sua essência de ministro ordenado. Pois um sacerdote age em Persona Christi, um dom digníssimo de perdoar, curar, libertar e santificar uma alma, através dos sacramentos, e principalmente por meio da Santa Missa.
Percebam que a Igreja, na hora da Santa Missa, participa de uma forma inexplicável, ativamente do mesmo Sacrifício realizado por Jesus no Calvário, isto ocorre de uma forma incruenta, como nos ensina a Igreja. Então, quando participamos da Santa Missa, estamos aos pés da Cruz Redentora no Calvário. Por isso que em cada templo católico que entramos, encontramos uma cruz no presbitério, para lembrar que ali ocorre um Sacrifício incruento da Cruz, em cada Santa Missa. Então em cada Missa que participamos, devemos estar concentrados o Maximo possível para que nenhuma palavra pronunciada passe por nós sem causar o seu efeito. Nossos sentimentos devem ser de piedade, devoção e contrição, pois estamos participando de um Ato de Amor de Deus, um Ato de Absolvição de pecados da humanidade, um Ato de Agradecimento e Graça que são derramados sobre nós e sobre aqueles que trouxemos como intenção para a Missa.
Que os shows artísticos que ocorrem inocentemente dentro da Santa Missa, não venha a tirar a sua piedade. Todos podem estar envolvidos pela música, você terá a obrigação de estar envolvido com Jesus que vem a nós na sua Palavra e na Comunhão. – Agora, se não ocorrer um divórcio entre a equipe de liturgia e o altar, participe com todo o amor possível. Porque tudo na Santa Missa nos deve levar ao Mistério Pascal.
Chegará um dia em que não necessitaremos de celebrar o Santo Sacrifício da Missa! Quando formos levados a realidade prometida por Deus, onde o veremos face a face.
A Santa Missa permite que antecipemos esse momento esperado.
Participar da Santa Missa é como que, somos transportados através de um portal espiritual a uma realidade incapaz de ser explicada por mentes humanas. Isto não sou eu que afirmo, mas a Igreja na Sacrosanctum Concilium num. 8: “Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro Tabernáculo; por meio dela cantamos ao Senhor um hino de glória com toda a milícia do exército celestial, esperamos ter parte e comunhão com os Santos cuja memória veneramos, e aguardamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até Ele aparecer como nossa vida e nós aparecermos com Ele na glória”. Este já e até, resume o pensamento da Igreja, com relação à Liturgia Eucarística, como eu havia falado, mas também afirma, aquilo que escrevi atrás, de que celebramos por um espaço de tempo humano, como antecipação daquilo que nos espera no futuro, onde não necessitaremos mais da celebração humana, pois seremos espirituais como Deus é, e prometeu que seriamos.
A Liturgia Eucarística é fonte de vida para os cristãos quando nós nos interessamos em entender-la. O Mistério Eucarístico não conseguimos entender, mas a Liturgia, sim, nós entendemos. Por isso, continua a SC no num. 10, dizendo: Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em assembléia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor. A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos «mistérios pascais», a viverem «unidos no amor»; pede «que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé»; e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja.
Então, quando se inicia o Santo Sacríficio da Missa, se abre um portal, como mencionei acima, e começamos a participar da glória de Deus com antecipação, terminando a Santa Missa, voltamos a nossa realidade humana, transformado para transformar o mundo. Diz São Paulo: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito". (Rm 12,2)
Tendo essa consciência de que somos inseridos na honra de Cristo no momento da Santa Missa, temos que agora, nos remodelarmos interiormente e exteriormente, diante do Tesouro que experimentamos. Por isso, o respeito pelo templo, pelas coisas sagradas, pelos objetos, vestimentas etc., devem estar pulsando dentro de nós, todas as vezes que cruzamos os umbrais da Casa de Deus. O grande São Cesário de Arles (470-543), disse: Na igreja, não fiqueis tagarelando, mas ouvi pacientemente as leituras da Palavra de Deus. Quem fica conversando na igreja deverá prestar contas, não só do mal que causa a si mesmo, mas também do que causa aos outros: pois nem ele ouve a Palavra de Deus nem deixa que os outros a ouçam. Nós, caríssimos irmãos, conscientes de nossa responsabilidade, advertimo-vos com solicitude paterna: se de bom grado nos ouvirdes, dar-nos-eis uma grande alegria e chegareis felizmente ao reino de Cristo. Que Ele se digne vo-lo conceder, Ele que, com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém .(sermão 13)
Aqui termino minhas palavras e deixo a parte final dessa matéria a um amigo que comunga comigo a respeito da seriedade que devemos ter na hora da celebração da Santa Missa. Espero que nos entendam por favor!
Nenhum comentário:
Postar um comentário