Vivemos em dias difíceis. Até o séc. XX a sociedade sabia diferenciar um cristão católico de qualquer outra pessoa que não praticava uma religião, porque o comportamento, estilo de roupa, a forma de conversar e até o jeito de rezar lhe dava uma certa singularidade. Verdadeiramente poder-se-ia vê no batizado um farol de “luz” e um “sal” que temperava o mundo de Deus.
Ultimamente a nossa Igreja está sendo desacreditada devida o comportamento de muitos de seus filhos, chegando-se até a iguala-la a qualquer seita, grupo religioso ou filosofia de vida que não tem um compromisso com Deus e com os irmãos. Os motivos são vários, dentre eles destaca-se o relativismo religioso e social, que coloca o cristão católico em uma posição comum aos sem religião.
Assim como nas demais religiões existem pessoas que se intitulam diáconos, pastores, bispos, apóstolos e missionários, chegando a criar postaralmente cultos de bênçãos e graças, libertações e profetísmos, curas e prosperidades; assim estão acontecendo sutilmente em várias paróquias de nossas dioceses com as promoções artísticas de pessoas que chegaram ao sacerdócio, não por vocação, mas por obter um status, respeito, poder e estudos. São pessoas que não cultivam espiritualidade nenhuma, criticam tudo e todos, e ainda lutam para dentro da Igreja, combaterem a santa piedade e devoção sã do povo de Deus em nome de “uma fé consciente”, mas vazia de Deus. Não sabemos de quem estão copiando, mas é fato de que, lamentavelmente, estas coisas acontecem aqui também. Tudo isto ofusca o verdadeiro Mistério de Cristo e da Igreja, pois o que encontramos é a manipulação de Deus nas mãos de alguns que não são pastores verdadeiros, mas, funcionários do sagrado.
As consequências gravíssimas desses acontecimentos estão sendo detectadas na forma de como o povo de Deus vive e manifesta a sua fé, perante a sociedade. Se o relativismo toma parte dos pastores, como as ovelhas poderão sair ilesas desse mal?
Lamentamos que em nossas paróquias existam tantos encontros, louvores, eventos festivos e missas temáticas, simplesmente para acompanhar a moda religiosa atual de misturar superstição, sensacionalismo, emoção e ofertas. Devemos ter muito cuidado para não plagiar ideias baratas dos movimentos religiosos contrários a Igreja, para obter um maior número de participação de fiéis em nossas comunidades eclesiais; esquecendo de que o sentido principal de nos reunirmos em nossas comunidades é de nos alimentarmos espiritualmente em um lugar pleno de conhecimentos bíblico, eucarístico, mariano, orante e fraterno.
Conheço muitos grupinhos religiosos que na programação semanal do templo, têm por obrigação um dia chamado de “reunião de doutrina”. Neste culto se diminuem os louvores para estudar, mesmo com os seus limites de conhecimento teológico, a Bíblia. Agora eu pergunto: há em todas as nossas comunidades paroquiais a “Escola da Fé”? Estamos preocupados com a formação litúrgica, bíblica e doutrinal de nosso povo? A resposta que ouvimos de muitos administradores do sagrado é: “Fazer uma escola da fé não dá certo porque o povo não participa”!
Não importa o número de fiéis que acorrem a estes encontros fundamentais para a vivência cristã católica! O importante é que aconteçam constantemente esses encontros. Mesmo que seja com o número reduzido de participantes, estes momentos formativos devem acontecer! Conforma-se apenas com as classes de catequese da primeira eucaristia e de crisma, muitas vezes, defasadas, sem conteúdo sólido ou nenhuma didática pedagógica não dar mais.
Desculpem! O que estou tratando aqui é um assunto muito delicado, mas sou obrigado a dizer. Se não podemos identificar a diferença que existe entre um cristão no mundo atual e uma pessoa sem religião, é porque lhe falta o principal, o perfeito conhecimento de Jesus Cristo e da sua Igreja.
Ensina o Catecismo que o “patrimônio sagrado da fé (“depósito fidei”) contido na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, foi confiado pelos apóstolos à totalidade da Igreja. Apegando-se firmemente ao mesmo tempo, o povo santo todo, unido a seus Pastores, persevera continuamente na doutrina dos apóstolos e na comunhão, na fração do pão e nas orações…”(CIC 84). Isto é muito forte! Por isso, todo o CRISTÃO CATÓLICO tem o DIREITO e o DEVER de conhecer aquilo que lhe foi confiado. Agora faço uma pergunta: como se pode amar, perseverar e difundir naquilo que não se conhece? A mensagem do Evangelho muda a conduta de qualquer ser humano, tirando-o do caminho do mau e do relativismo, dando-lhe uma vida nova em Cristo.
Estamos nos esquecendo de que “o ofício de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo, isto é, aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma” (CIC 85). Esta matéria de fé é inalterável! Agora, se não estamos colocando em prática aquilo que nos ensina a nossa Doutrina, quem irá valorizar, cultivar e ensinar com a vida o que a Igreja nos diz?
“Fica, portanto, claro que segundo o sapientíssimo plano divino, a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja estão de tal modo entrelaçados e unidos, que um não tem consistência sem os outros, e que juntos, cada qual a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas” (CIC 95).
Os sacerdotes tomem consciência de que são eles:
a) Os legítimos representantes do bispo, membro do Magistério vivo da Igreja em suas comunidades;
b) Têm a obrigação de cuidar da parcela do rebanho que lhe confiou o Senhor Deus através do bispo;
c) Exercem o múnus sacerdotal do bispo junto do povo;
d) As paróquias não são propriedades de nenhuma pastoral, movimento, família ou de algum sacerdote. O único responsável por cada comunidade paroquial é o bispo;
e) E, assim como Cristo confiou aos apóstolos a sua missão, estes o transmitiram pela pregação e por escrito, sob a inspiração do Espírito Santo, a todas as gerações, até à volta gloriosa de Cristo (CIC 96).
Ser padre no mundo em que vivemos, foi, É e será eternamente outro Cristo no meio do povo. Cada sacerdote tome para si, a santa responsabilidade de ensinar, governar e santificar em nome do bispo e com o bispo em Jesus Salvador.
O ponto de partida para revolucionarmos a sociedade hodierna com a vida do cristão, como “sal da terra e luz do mundo”, é fixarmos os olhos em Jesus, pedindo a força e a graça do Espírito Santo para vivermos voltados para o Pai promovendo a vida, “e vida em abundância”.
Devemos voltar de onde nós Igreja saímos! O ponto de partida é o exemplo da comunidade de Jerusalém. A verdadeira catequese leva a experimentar e viver unicamente dos passos que São Lucas nos apresenta nos Atos dos Apóstolos ( 1, 42). Se não, continuaremos perdidos, repetindo categorias e teorias religiosas que não estão grávidos da Sabedoria de Deus.
Segundo um belo pensamento de S. Isidoro de Damietta, o sacerdócio é como uma ponte lançada entre o abismo das divinas perfeições e o abismo das misérias humanas. Com uma das extremidades atinge a natureza de Deus, com a outra a do homem: a primeira para honra-la, a segunda para reforma-la (Lib. 3, c. 2).
E como unir-se a Deus, não sendo pela oração, que os santos doutores chamam de Deitatis scala? Não precisamos de grandiosos discursos para conhecermos o sacerdote, mas a comunidade percebe sempre uma grande diferença entre o obreiro apostólico que se aplica seriamente a este exercício da vida interior, e aquele que o cumpre com negligência. O negligente fala com timidez de certos assuntos delicados referentes à vida de fé do povo de Deus, é um conversador que raciocina; o outro fala com liberdade, coragem, como homem que vê e que viu. O primeiro carece de inspiração, desse calor vivificante que só o Espírito Santo pode dar; o segundo é como Moisés descendo do monte Sinai, com o rosto inflamado, porque vem da conversa que teve com Aquele, que é o Pastor supremo das almas.
Um dia eu ouvia uma frase que me marcou profundamente, dizia assim: “Só se é um padre pela ordenação, só se é um bom padre pela oração”. Esta afirmação me fez pensar por um bom tempo, deixando uma conclusão de que, o Senhor só pode transparecer-Se por mim, quando eu pela oração, procuro unir-me a Ele. Que me ficaria, se Deus retomasse tudo o que ele me deu? Nada! Então, se Deus é meu tudo, eu tenho que provar isto com a vida. Devemos dar o exemplo de uma vida prática vivida de acordo com o santo Evangelho e isto nos basta. Amém.
Autor: Cônego José Wilson Fabrício da Silva, ocrl
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