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sexta-feira

Realeza do Canto Litúrgico



Partindo do curso sobre música litúrgica, coloco aqui alguns apontamentos usando para a reflexão dos nossos amados leitores. Estou disponível para acolher contribuições,  comentários e convites. Informações: josewilson.fabricio@gmail.com 






Canto (ou música) litúrgico é aquele que a Igreja admite de direito e de fato na celebração litúrgica, e por este mesmo motivo, deve manifestar plenamente a fé católica. A música será litúrgica quando nela a Igreja reconhecer sua oração, quando ela aparece para acompanhar os textos a serem cantados. Como dizia santo Agostinho aos pagãos que indagavam sobre sua fé: "Queres ver em que eu creio, venha à Igreja ouvir o que canto".



Diferença entre "canto litúrgico" e "canto religioso" 

É preciso distinguir a diferença que existe entre música liturgia e música religiosa. Faz-se necessário considerar que uma música religiosa, por melhor que seja não serve para o uso litúrgico, mas foi composta para outra finalidade. São aquelas músicas que procuram expressar o sentimento religioso dos fiéis, mas não têm lugar na liturgia. Elas servem para encontros, exercícios de piedade, etc. Na música religiosa podemos encontrar cantos para encontros, para reuniões de grupos de rua, cantos para grupos de oração, etc. Também não se deve nutrir pré-conceito a respeito da música religiosa. Ela tem seu valor na vivência cristã. Pelo fato de não serem adequadas para liturgia não significa que não tem sua importância no sentimento religioso de nosso povo. Porém, não podemos cair no erro de acharmos que temos o direito de colocá-las na liturgia só porque são bonitas e animadas e por conta disto desprezarmos a música litúrgica. Cada canto no seu lugar. Não temos o direito de ignorar as regras litúrgicas e as orientações do Magistério da Igreja.

No presente artigo serão analisados os cantos relativos à celebração da Eucaristia.


A importância do canto 
“A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor que ultrapassa todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte integrante da liturgia solene” (Constituição Sobre a Sagrada Liturgia). Esta afirmação do Concílio Vaticano II faz eco à Sagrada Escritura que apresenta em suas páginas mais de seiscentas referências ao canto e à música. Do primeiro livro, o Gênesis, ao último, o Apocalipse, o canto aparece como o desenrolar de uma esplendida e majestosa liturgia. “Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome, apregoais entre as nações suas obras. Cantai-lhe hinos e cânticos, anunciai todas as suas maravilhas”, diz o rei Davi em 1Cr 16,8-9. Este relato, entre tantos outros, deixa transparecer uma rica e jubilosa liturgia, na qual as aclamações, a música e o canto são elementos que fazem parte da fé de um povo. Deste modo, os atos litúrgicos revestem-se de forma mais elevada e nobre quando os ofícios, nos quais o povo participa ativamente, são celebrados com canto, pois onde há manifestação de vida comunitária existe o canto e onde existe o canto, celebra-se a vida. Podemos perceber, então, que após a comunhão sacramental, o canto é o elemento que melhor colabora para uma verdadeira participação na liturgia, já que é uma das expressões mais profundas e autênticas da própria liturgia, possibilitando ao mesmo tempo a participação pessoal e comunitária dos fiéis. Por ser a celebração do Mistério Pascal realizada pelo povo de Deus, a participação das pessoas é de fundamental importância. Na liturgia, essa participação manifesta-se também através do canto e da música. Estes, no contexto da ação litúrgica, não são realidades autônomas, mas sim funcionais, ou seja, têm uma função: estão a serviço do Mistério da Fé e da assembléia. O que deve prevalecer não são os gostos, a estética individual de cada um, mas a essência do Mistério e a participação prazerosa e frutuosa de todos. Como já foi dito, Deste modo, a liturgia, como exercício da função sacerdotal de Cristo, comporta um duplo movimento: de Deus para nós homens, para operar nossa santificação, e de nós homens para Deus, para que possamos adorá-lo em espírito e verdade. Por isso, a liturgia, de um modo geral, pode ser entendida como um diálogo entre Deus-Trindade e o Homen-Comunidade. Este diálogo é composto de vários momentos. Cada momento tem seu “espírito” próprio, seu sentimento peculiar e, portanto, uma expressão diferenciada. Adaptando-se a essa espiritualidade, cada momento exige um tipo de expressão musical. Os cantos litúrgicos da missa devem respeitar cada um dos seus ritos: os Ritos Iniciais, o Rito da Palavra, o Rito Eucarístico, o Rito da Comunhão e Ritos finais. Devem ser cantos originais e jamais adaptações de cantos não religiosos. Na liturgia, os cantos podem ser classificados em dois grupos:

a)   Os cantos que acompanham o rito

Os cantos que acompanham o rito, como a própria definição demonstra, devem terminar quando o rito terminar. Os cantos que são o próprio rito devem ser cantados por inteiro, pois não se deve interromper o rito pela metade. São exemplos de cantos que acompanham o rito: o “canto de abertura” que acompanha o rito da entrada, o “canto de apresentação das oferendas” que acompanha o rito da procissão das oferendas, o "cordeiro de Deus" que acompanha a fração do pão e o “canto de comunhão” que acompanha a procissão de comunhão.

b)   Os cantos que são o próprio rito

São exemplos de cantos que são o próprio rito: o “santo” que é um grande louvor, o Ato Penitencia, o Hino de louvor. Se a música for de fato como requer a Liturgia, será um sinal que nos leva do visível ao invisível, um carisma que contribui para a edificação de toda a comunidade e a manifestação do mistério da Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo. Enfim, a música auxilia nossa prece, fortalecendo a Palavra que ouvimos.

O Canto na Assembleia
Nas nossas celebrações devemos levar em consideração as pessoas. A liturgia é o lugar por excelência do encontro das pessoas humanas entre si, e das pessoas humanas com a as Pessoas Divinas, ou seja, a assembléia reunida encontra-se consigo mesma e com Deus. Servir a essa assembléia e ajudar a promover esse encontro é o papel de todos aqueles que atuam na liturgia. Trata-se de desempenhar seu papel de tal modo que se introduza o povo reunido cada vez mais, pela fé, nos Mistérios de Cristo, levando em consideração as suas possibilidades, sua riquezas culturais e seus limites. Este é o caminho mais seguro para se chegar a uma celebração cheia de vida, sobretudo quando se trata de canto e música. A assembléia litúrgica não é apenas uma soma dos indivíduos que a compõem. Ela é a Igreja inteira manifestando-se naqueles que estão reunidos e Cristo aí está, presente e agindo. É uma comunhão de pessoas e servir a essa comunhão é a função do agente litúrgico-musical. Assim, não tem sentido, por exemplo, escolher os cantos de uma celebração em função de alguns que se apegam a um repertório tradicional ou de outros que só cantam músicas do seu grupo ou movimento. Todos têm o direito de compreender e participar. É preciso que se pense em todos, e em cada um na comunhão com os demais. Desse modo, alguns critérios devem ser observados para que uma musica seja executada na liturgia:

a)    A música deve estar intimamente ligada à ação litúrgica a ser realizada, exprimindo mais suavemente a oração, favorecendo a unanimidade e dando maior solenidade aos ritos sagrados.
b)    Deve-se respeitar a sensibilidade religiosa do povo.
c)    A música deve ser adequada ao tipo de celebração na qual será executada, levando em conta o tempo litúrgico.
d)    Deve estar em sintonia com os textos bíblicos de cada celebração, especialmente com o Evangelho, no que diz respeito ao canto de comunhão.
e)    A música deve estar de acordo com o tipo de gesto ritual que será executado pelos ministros e pela assembléia.

Ministérios e serviços do Canto

Quando a assembléia litúrgica se reúne para celebrar o Mistério de Cristo, ela se serve de pessoas (os diversos ministros), e de coisas (música, flores, velas, etc...) que passam então, a desempenhar um papel ministerial na celebração. Em se tratando de pessoas, temos aí a equipe de liturgia, que cuida da preparação da celebração e assume as várias tarefas de animação e coordenação. Entre essas pessoas temos os cantores e os instrumentistas. Uma coisa importante que temos que ter em mente é que “nas celebrações litúrgicas, cada um, ministro ou fiel, ao desempenhar sua função, faça tudo e só aquilo que pela natureza da coisa ou pelas normas litúrgicas lhe compete”.(Sacrossanto Concilium, nº20). Devemos, então, evitar o costume de acumular funções e ministérios durante uma celebração, como por exemplo, uma pessoa tocar um instrumento, cantar e fazer os comentários da missa. Não esqueçamos que uma assembléia litúrgica se expressa na diversidade de ministérios e serviços, preservando-se sempre a unidade. Vejamos algumas funções do ministério da música e suas atribuições:

a) O cantor. A função do cantor no contexto de uma assembléia litúrgica é mais antiga do que se pensa e não se resume a animar o canto, mas também, orientar a escolha das músicas que serão executadas na celebração, para que as mesmas sejam adequadas ao tempo, à festa, aos ritos. O cantor quando transmite uma mensagem religiosa ao povo, torna-se um verdadeiro profeta de Deus (1Cron 25,1).

b) O instrumentista. Como o próprio nome diz, é aquele que se ocupa com os instrumentos. Estes, os instrumentos podem ser de grande utilidade na liturgia, quer acompanhando o canto, quer sem ele, na medida que prestam serviço à palavra cantada, ao ritual e à comunidade em oração. Além de serem usados para acompanharem o canto, os instrumentos podem ser executados sozinhos em alguns momentos da celebração, como por exemplo, antes da celebração, para criar um clima de recolhimento; durante a procissão das oferendas, após a comunhão; no final da celebração. Um detalhe importante: O recurso de “fundo musical” em momentos como a proclamação da leitura e durante a oração eucarística, será sempre “inoportuno”.

O instrumento deve sempre ser tocado de forma adequada ao momento celebrativo e à natureza da assembléia, nunca abafando sua voz ou a do cantor. Da mesma forma, a voz do cantor nunca deve encobrir a da assembléia. Deve-se observar também o espaço celebrativo: uma igreja grande requer um som mais “carregado” e mais instrumentos, enquanto que uma pequena igreja exige um som mais baixo. Executar um instrumento musical exige atitude espiritual em qualquer situação, principalmente quando se trata de uma celebração litúrgica. Portanto, o instrumentista como ministro da celebração, deve estar profundamente envolvido com a ação litúrgica por sua atenção e participação.

c)O salmista. É importante valorizar a função do salmista na assembléia, como ministério específico, como um dom de Deus para a comunidade. Este ministério poderá ser exercido com habilidade artística, evitando-se o virtuosismo, na proclamação do salmo e na participação nos outros cantos responsoriais. Durante o canto da assembléia, o salmista deve cantar sempre a melodia principal evitando uma segunda voz, a fim de não dificultar o canto da assembléia ou inibi-la em sua participação, principalmente ao usar o microfone.


Algumas falhas

a)    A postura de alguns animadores de canto nem sempre tem proporcionado um clima de oração e interiorização. Às vezes, tem-se mais “ruído” e distração do que contemplação e louvor. Em alguns casos a música é vista como algo complementar e que serve apenas para quebrar a monotonia de algumas celebrações.
b)    Muitos animadores de canto, por falta de formação litúrgica, desconhecem os critérios para a escolha dos cantos de uma celebração, esquecem que o canto é funcional, ou seja, tem uma função a exercer na liturgia.
c)    Muitos desconhecem a hierarquia dos cantos, já que alguns são “elementares”, e por isso mesmo, mais importantes e necessários; outros são “acessórios”, e conforme as oportunidades são dispensáveis.
d)    A adequação dos cantos a cada tempo litúrgico, a cada festa, tipo de celebração, tipo de assembléia, passa às vezes, totalmente despercebidos pelos animadores de música.
e)    Observa-se uma total separação entre canto e liturgia. Canta-se “na” liturgia qualquer música religiosa, ao invés de se cantar “a” liturgia.
f)     A questão da comunicação também e problemática, apresentando alguns problemas que não favorecem a execução do canto: instalação inadequada do som, abuso do microfone, que abafa a voz da assembléia, bandas e grupos não integrados com a equipe de celebração, etc.
g)    A mudança constante de repertório faz com que o povo não aprenda bem nenhum canto, ficando impedido de participar com gosto e prazer, uma vez que a repetição, em matéria de música, é fundamental no aprendizado.








Os Diversos Cantos Da Missa


 
O “canto de abertura”
Deus caminha ao nosso encontro: esse é o sentido da procissão de entrada. Em diversas passagens bíblicas vemos o povo de Deus caminhar, seja em busca da terra prometida, seja em busca de libertação. Ora a caminho de Jerusalém, ora ao encontro de Jesus. É por isso, que na pessoa do sacerdote, aclamamos a Cristo que vem ao nosso encontro, com toda a sua majestade, seu poder e autoridade, para celebrarmos juntos os Mistérios do sacrifício da Missa. O canto de abertura (ou de entrada) está inserido nos ritos iniciais e cumpre o papel de criar comunhão. (IGMR 48) Uma de suas funções é a de acompanhar a procissão do sacerdote e não para acolher ou receber o sacerdote, pois é este quem acolhe a todos os presentes na assembléia para participarem do grande sacrifício da Santa Missa. Toda a assembléia reunida canta a alegria festiva de reunir-se com os irmãos. Seu mérito é o de convocar a assembléia e, pela fusão de vozes, juntar os corações ao encontro com do Cristo ressuscitado. Este canto tem que deixar a assembléia num estado de ânimo apropriado para a escuta da palavra de Deus, além de deixar claro que festa ou Mistério do tempo litúrgico irá ser celebrado. Todo o povo deve estar envolvido na execução desta canção. Este canto não deve ser longo e deve terminar quando o sacerdote chegar ao altar (ou quando terminar o rito de incensação do altar).
Conforme diz Santo Agostinho: “Canta e caminha!” Finalidade: constituir e congregar a assembléia, introduzindo-a no mistério a ser celebrado – tempo litúrgico, sonorizar o caráter festivo da celebração, fomentar a união dos fiéis, dar o tom da celebração. O Missal Romano diz: “... seja adequado à ação sagrada ou à índole do dia ou do tempo litúrgico”, elevando seus pensamentos à contemplação do mistério litúrgico.

O “Ato Penitencial”

Senhor, tende piedade ou Kyrie eleison - é uma aclamação suplicante endereçada a Cristo, o Senhor, louvando-O e à sua misericórdia. Pertence aos cantos rituais, constituindo o próprio rito da celebração (Ordinário da Missa) Não é o Ato Penitencial (IGMR 52), mas sim uma doxologia ou proclamação da bondade e misericórdia de Deus, cantado após o Ato Penitencial e a absolvição, a não ser que já tenha participado do mesmo, através das várias fórmulas apresentadas pelo Missal Romano, como variante deste.  Historicamente o Kyrie eleison parece provir da Oração dos fiéis, com caráter de ladainha. Após o Concílio Vaticano II: “É um canto mediante o qual os fiéis aclamam o Senhor e imploram sua misericórdia.” Quando São Dâmaso mudou a missa do grego para o latim, deixou o Kyrie imutável, em grego, e assim atravessou os séculos. Seria completamente alheio a seu caráter substituir o Senhor por um hino, estrófico ou não. (Kyrios foi o nome mais comum dado a Cristo Ressuscitado pelos primeiros cristãos). Farão parte dele o povo e os cantores. Importa não acentuar demais o aspecto penitencial na Celebração Eucarística, evitando também paráfrases e outros cantos penitenciais.
Dicas práticas: Liturgicamente correto é:
1.    Rezar o “Confesso a Deus Todo Poderoso e a vós irmãos...”;
2.    Após a absolvição dos pecados (Deus Todo Poderoso tenha compaixão...) o ministério cantar o “Senhor, tende piedade de nós; Cristo, tende piedade de nós; Senhor, tende piedade de nós”;
3.    Logo em seguida, sem nenhuma introdução nem por parte do presidente da celebração, nem por parte do comentarista ou ministério de música, os cantores iniciam o hino do glória.

O “Glória”
a)   Este hino não é, portanto, uma aclamação trinitária, mas sim, cristológica. Como ele é o próprio rito, deve ser cantado integralmente. Por isso, para que um canto de “Glória” seja litúrgico, ele deve conter, obrigatoriamente, todo o hino de louvor. Portanto, é falsa a ideia de que basta ter as invocações “Glória ao Pai”, “Glória ao Filho" e “Glória ao Espírito Santo”, para que o canto seja um verdadeiro hino de louvor. (IGMR 53) A entoação inicial não é mais reservada a quem preside a celebração e pode ser feita pela equipe de música. Cantado de forma direta pela assembléia dos fiéis ou pelo povo em alternância com os cantores, ou ainda só pelo coro. É uma das peças mais antigas da Missa, incorporada pela Igreja no século II, por ocasião do Natal. Sua nota dominante: o júbilo, louvor confiante e alegre... Repito, devemos evitar os “Glorinhas”, trinitários, que abreviam o conteúdo rico do mesmo. Não deve ser substituído por outro canto de louvor, pois faz parte dos cantos rituais, é o próprio rito.


O “Salmo Responsorial”
Para a Liturgia da Palavra ser mais proveitosa, há séculos um salmo tem sido cantado como prolongamento meditativo e orante da Palavra de Deus proclamada. O costume de se cantar o salmo após a leitura remonta aos primeiros séculos do cristianismo, prática herdada do culto da sinagoga judaica. Santo Agostinho fala do valor do salmo cantado durante a liturgia da palavra, como uma “leitura cantada”. Faz parte integrante da Liturgia da Palavra, como resposta orante da comunidade à proposta e às maravilhas proclamadas por Deus na primeira leitura, e deve ser cantado de forma dialogal, o texto de preferência extraído do Lecionário. (IGMR 57) Importância da função do salmista, ao mesmo tempo ouvinte e ministro da Palavra; ele  proclama o salmo no ambão – mesa da Palavra. O salmo é a proclamação da Palavra cantada, por isso requer-se o mínimo de preparo técnico e vocal, litúrgico e musical do salmista. Devido à sua importância, não deve ser omitido nem substituído por “canto de meditação”. É um canto ritual interlecional, cantado entre as leituras. Segundo a Instrução Geral do Missal Romano(IGMR), “como parte integrante da Liturgia da Palavra, o salmo é sempre um texto bíblico, comumente extraído do saltério”.
Dicas Práticas:
1.    Por fazer parte da Liturgia da Palavra, deve ser cantado ou proclamado do ambão;
2.    Não deve ser substituído por qualquer cântico ou hino meditativo;
3.    Antes de executar o salmo, não se fala: “Salmo Responsorial”;
4.    Não se repita por várias vezes o refrão! Repete-se apenas 1 vez no início;
5.    É recomendável um momento de silêncio entre o final da proclamação da leitura e o canto do salmo responsorial.


O canto de “Aclamação ao Evangelho”
A aclamação “hallelu-jah!”, que quer dizer louvai ao Senhor, tem sua origem na liturgia judaica e ocupa um lugar de destaque na tradição cristã. Sempre foi uma expressão de acolhimento solene de Cristo que vem após sua palavra viva, sendo deste modo uma manifestação de fé na presença atuante do Senhor. (IGMR 59) Como o Evangelho é o próprio Cristo que fala, devemos estar de pé, na posição de quem ouve o recado para ir anunciar as palavras de salvação. Este canto é o próprio rito de aclamação ao Evangelho e deve ser cantado integralmente. Para que um determinado canto possa ser considerado como canto de aclamação ao Evangelho, este deve, obrigatoriamente, conter a palavra “aleluia!”, que demonstra alegria, com exceção do tempo do Advento e da Quaresma, onde o “aleluia!” é vetado em virtude do forte tempo de contrição e penitência. Neste caso, pode-se cantar um verso aclamativo da Sagrada Escritura (como por exemplo, Mt 4,4) ou uma doxologia (como está em 1Tim 6,16; 1Pd 4,11; Ap 1,6). O “Aleluia!” ou o versículo antes do Evangelho podem ser omitidos, quando não são cantados, e substituídos por um momento de silêncio. O “Aleluia!” pode ser repetido após a proclamação do Evangelho.

Dicas Práticas:
1.    Deve-se sustentar o canto se tiver a procissão do Evangeliário do Altar até o ambão. Obs: Na Liturgia da Missa somente existe duas procissões do Evangeliário: o sacerdote (o diácono ou o leitor instituído) entra com o Livro Santo na procissão de entrada da Missa e no momento da proclamação do Evangelho. É estranho a Liturgia uma procissão de Bíblia ou do próprio lecionário, após a oração da coleta da missa. Se vai fazer procissão da Palavra de Deus, observe-se as normas litúrgicas. Não existem dançarinas, teatrinhos, criatividades baratas e bailes para entrada ou acompanhamento da Palavra de Deus no rito da Missa. Em um encontro pode-se fazer, mas NÃO NO RITO DA MISSA.
2.    No tempo da Quaresma é proibido o uso do “aleluia” e o “glória” (exceto nas solenidades que o calendário litúrgico traz em suas datas fixas).
3.    No tempo do Advento se aconselha a não contar o aleluia.


A “Profissão de Fé” (Credo)
A “Profissão de Fé”, ou o “Credo”, é uma resposta à Palavra de Deus. É uma resposta de fé e de compromisso da comunidade. Nela, expressamos os principais dogmas de nossa fé. A Profissão de Fé pode ser cantada, mas toda a assembléia deve conhecer bem o canto, para que ninguém fique sem manifestar publicamente a sua fé, por não conhecer a melodia ou a letra. No Brasil não é comum cantá-la, mas quando isso for feito, devemos observar que esse canto é o próprio rito da Profissão de Fé, devendo todo o seu conteúdo ser preservado. Foi introduzido lentamente na liturgia da Missa. Chegou a Roma pelo século X, embora na Espanha já fosse aceito no século III. A partir do canto polifônico, se tornou uma peça musical brilhante. Os documentos dizem que não existe obrigação de cantá-lo, pois não é hino nem aclamação, mas sim profissão de fé. Se for cantado, “procure-se fazê-lo como de costume, todos juntos ou alternadamente”. Existe a possibilidade de cantar a fórmula mais breve, denominada “símbolo apostólico”, mas não pode ser substituído por canto religioso. Como em todas as partes fixas da Missa, nunca se deve substituir a recitação do Credo por um canto que não contenha integralmente a sua letra.


Canto da “Apresentação das Oferendas”
Este canto acompanha a procissão das oferendas que leva ao altar o pão e o vinho que serão consagrados, e também o gesto de “colocar os bens em comum, para as necessidades da comunidade” (Rm 12,1-2; Ef 4,28). Em nossas comunidades o canto de “apresentação das oferendas” tornou-se um momento em que o povo deseja expressar sua disposição de querer oferecer sua vida, sua luta e trabalho ao Senhor, o que parece ter um alto valor espiritual. (IGMR 73) Deve-se observar um canto que não contenha "pão e vinho" em celebração da Palavra, pois não há apresentação de oferendas. O término deste canto não precisa coincidir como fim da apresentação das oferendas, mas pode ser cantado inteiramente, devendo ser encerrado, no máximo, quando o sacerdote termina de oferecer o pão e o vinho e purifica as mãos.


Dicas Práticas:
1.    O Canto de Apresentação das Oferendas pode ser substituído por uma música instrumental;
2.    O ministério de música não deve parar o canto, até que o rito da incensação tenha-se concluído por parte do diácono (acólito) junto a assembleia.


O canto do “Santo”
Para concluir o prefácio da Oração Eucarística o povo aclama o Senhor com as palavras que o profeta Isaías ouviu os serafins cantarem no templo, em sua visão (Is 6,3). O “Santo” é um dos três principais cantos fixos da Missa. Nele, toda a assembléia se une aos anjos e santos, para proclamarem as maravilhas do Deus Uno e trino. É o canto dos anjos (Is 6,2-3) e também dos homens (Lc 19,38). Este canto pertence, então, a comunidade toda e não teria sentido convidar os céus e a terra, os anjos e santos para cantarem a uma só voz, e, depois, somente um coral ou um solista executar o canto sozinho. O “Santo” é o próprio rito da aclamação e deve ser cantado integralmente. Porque a Igreja se preocupa para que este hino não seja adulterado? Por causa de seu valor histórico, tais como o “Senhor, tendo piedade de nós. Cristo tende...; Glória a Deus nas alturas...; e o Cordeiro de Deus.
Dados históricos: Tem sua origem no Oriente, século II. O texto bíblico: um manto de retalhos, uma compilação de textos bíblicos – As duas primeiras aclamações, tiradas de Isaías, de sua visão dos anjos prostrados diante do altar... “Toda a terra está cheia de sua glória” Hosana. do hebraico Hosiah-na= dá a salvação, do salmo 118,25 Senhor, dai-nos a salvação!” Nas alturas = Deus que habita os altos céus... Bendito o que vem: Sl 118,26, que a tradição transformou numa aclamação messiânica: Bendito O que vem em nome do Senhor!”, festejando e aclamando o Senhor, quando de sua entrada em Jerusalém. (Mt 21, 9). Portanto, o clima bíblico do Santo é de celebração gloriosa: teofania (manifestação de Deus), deve produzir expressão exuberante de alegria, aclamação jubilosa, unânime e solene com que se conclui o prefácio (que inicia a oração eucarística, e devia ser cantado).O santo, como o salmo e o Amém doxológico, é o principal dos cantos principais da missa. É a primeira aclamação da assembléia na prece eucarística, e como hino-aclamação.  Segundo o Apocalipse, o Sanctus é a aclamação da liturgia celeste. A assembléia deveria ficar à vontade e alegre, ao cantar esse louvor solene, sentindo-se intérprete fundamental desta aclamação, a primeira e mais importante a ser cantada pela comunidade. A melhor forma de cantar o Santo é a forma direta. Não deve ser substituído por “versões tão livres que não correspondam à doxologia bíblica.”
Dicas Práticas:
1.    Para que um canto do “Santo” seja considerado litúrgico, ele deve conter, obrigatoriamente, todas as palavras da oração recitada. Ou seja: “Santo, Santo, Santo; Senhor Deus do universo. O céu e a terra proclamam a vossa glória; Hosana das alturas. Bendito o que vem em nome do Senhor; Hosana nas alturas”. O recomendável mesmo é que o canto se atenha à esta aclamação bíblica, sem introduzir alterações no texto original.
2.    Está proibido o uso de determinados hinos que devem ser evitados pelos ministérios, tais como: a) Santo, santo, santo; dizem todos os anjos... céus e terras passarão... b) Deus é santo, Deus é amor... c) Santo três vezes santo, mil vezes santos... d) O Senhor é santo, ele está aqui, o Senhor é santo, eu posso sentir... etc.
3.    No momento da narração da instituição da Eucaristia, está proibido a execução de hinos, instrumentais ou o canto da narração da instituição por parte do presidente da celebração. 

A “Aclamação Memorial”

“Aclamação Memorial” é uma das aclamações mais importantes da missa e seria muito conveniente se fosse sempre cantada por todos, em resposta à introdução “eis o Mistério da fé”, entoada pelo presidente da celebração. Esta aclamação nunca deve ser substituída por textos que expressam a Presença real de Cristo na eucaristia, pois altera o sentido litúrgico do Mistério que se celebra. Este é o momento do memorial, do anúncio do mistério pascal, da Morte e Ressurreição de Cristo e não o momento de devoção à Presença Real. Portanto, não se deve substituir essa aclamação por um canto eucarístico. De uma maneira geral, temos duas aclamações como resposta: “Toda a vez que se come deste pão, toda vez que se bebe deste vinho, se recorda a Paixão de Jesus Cristo e se fica esperando a sua volta!”, é reservada especificamente para a Oração Eucarística nº 5. A outra resposta “Anunciamos a sua morte Senhor, e proclamamos a sua ressurreição!”, pode ser usada nas outras Orações Eucarísticas.


A “Doxologia Final” (ou “Grande Amém”)
O “Grande Amém” é o Amém! mais importante da missa, pois finaliza com a confirmação de que “assim seja”, todo o Mistério salvífico apresentado e realizado na Oração Eucarística. Esta aclamação deveria sempre ser cantada e pode ser repetida três vezes. O “Amém!” é uma aclamação comunitária e, quando cantado, deveria sempre ser acompanhado dos instrumentos para reforçá-lo.


O “canto da Paz”
A “saudação da paz”, antes da Oração do Pai-Nosso, está liturgicamente prescrita e por ser um gesto simbólico, deve ser dada com sobriedade aos que estão mais próximos, do lado, preferencialmente, sem sair do lugar. A Instrução Geral do Missal Romano diz que o sacerdote deve permanecer no presbitério, podendo saudar o ministro ou alguém na assembléia, mas permanecendo no âmbito do presbitério. A saudação é prescrita, mas o canto não, e entre cantar ou não, melhor que não se cante para valorizar o gesto (IGMR 82), não causar dispersão na assembléia e, também, não abafar o canto do “Cordeiro de Deus”, já que este tem a preferência durante o rito de “Fração do Pão”.

O “canto do Pai-Nosso”
É um dos cânticos mais cantados nas missas solenes pontificais. Se for cantar esta oração, deve-se observar na íntegra toda a letra da oração, sem diminuir ou acrescentar nada.
Dicas Práticas:
O famoso canto do Pai Nosso do padre Marcelo pode-se cantar em um encontro qualquer, nunca na missa!

O canto do “Cordeiro de Deus”
Após a “Saudação da Paz”, o sacerdote fraciona o Pão (Corpo de Cristo) e mistura-o ao Vinho (Sangue de Cristo). Com esse gesto, relembramos Jesus na Última Ceia, bem como as celebrações das primeiras comunidades cristãs, que, reunidas, partiam o pão entre si, celebrando os Mistérios da Salvação. Esse gesto nos faz lembrar, também, dos discípulos de Emaús, onde reconheceram o Cristo Ressuscitado somente no momento de partir o pão. Após o ato da “Fração do Pão”, o sacerdote apresenta para a assembléia o Cordeiro Imolado, assim como João Batista mostrou ao mundo o Cordeiro de Deus, aquele que superaria todos os sacrifícios e seria imolado, remindo toda a humanidade consigo. Este canto é o próprio rito de aclamação ao Cordeiro e deve ser cantado integralmente, devendo ser iniciado justamente no momento em que o sacerdote toma nas mãos o Corpo de Cristo, fraciona-o e põe um fragmento no cálice junto com o Sangue. É muito importante que o grupo de canto esteja atento a este momento. A invocação e súplica podem ser repetidas quantas vezes o exigir a ação que acompanham, mas atenção, devem terminar sempre com a súplica “dai-nos a paz”. Quem inicia este canto não é quem preside, mas a assembléia ou mesmo o grupo de canto. C Uma observação importante: como este canto acompanha o rito de “partir o pão”, antes de proceder a sua distribuição, não deve ser usado como se fosse uma maneira de encerrar o movimento criado na assembléia durante o momento do abraço da paz. (IGMR 83)


O canto de “Comunhão”
O “Canto de Comunhão” é o canto mais antigo da Missa. Historicamente falando, era um canto idêntico aos salmos, contendo as estrofes com um refrão repetitivo. Por ele, através da procissão e da união das vozes, expressamos nossa união espiritual em torno de Jesus. Todos ao redor da mesma mesa, congregados numa mesma Igreja, participamos do mesmo Pão do Céu. E esta é realmente a função do canto de comunhão: fomentar o sentido de unidade. Desta forma, ele manifesta a alegria da unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja, e alegria pela realização do Mistério que está sendo celebrado. Os hinos eucarísticos usados na adoração ao Santíssimo Sacramento não são apropriados para o momento de comunhão, pois eles destacam apenas a fé na Presença Real de Cristo na Eucaristia, mas não manifestam o sentido de unidade da participação em comum. A letra deste canto não deve ser individualista, ou seja, manifestar a comunhão apenas daquele que comunga, mas sim coletiva, isto é, deve provocar na assembléia uma sensação de que todos comungam ao mesmo tempo. Este canto acompanha o rito da comunhão e deve terminar quando a última pessoa comungar. Em certas oportunidades, este canto deve favorecer o acolhimento, para evitar um comungar puramente rotineiro e inconsciente. Os hinos eucarísticos podem ficar como uma segunda opção (canto de ação de graças), após todos comungarem. Lembramos que equipe de música deve proporcionar o silêncio eucarístico necessário ao encontro e oração pessoal que se dará, mais oportunamente, no momento seguinte.


O canto de “Ação de Graças”
Como já foi visto, após a comunhão deve-se adotar o silêncio sagrado, onde todos meditam (IGMR 88), louvam e rezam a Deus no íntimo de seu coração. Esse momento é dedicado exclusivamente a Deus, onde a criatura adora o Criador. A assembléia pode cantar um hino que una todas as preces de louvor e adoração num só propósito. Alguns consideram esse canto como inapropriado ao momento, porque toda a Missa é ação de Graças e o momento é particular entre quem recebeu a santa Eucaristia e Deus, mas ele está previsto no Missal Romano. Portanto, pode ser cantado, muito embora seja facultativo. Deve ser, obrigatoriamente, um canto onde o destinatário seja o próprio Deus, ou seja, deve ser um canto que ajude no diálogo com Deus, com o Cristo Eucarístico. Jamais deve ser executado um canto a Nossa Senhora, ou a qualquer outro santo. É preferível que este canto seja breve e executado por todos, com moderação no volume dos instrumentos e dos microfones. É preciso que o ministro de música tenha a devida sensibilidade e discernimento para saber se este canto é conveniente neste momento. O canto de “ação de graças” não é recomendável, e nem mesmo desejável, quando o canto de comunhão se prolongou após o rito da comunhão. Deve-se evitá-lo também, quando a celebração estiver muito prolongada.  E muita atenção: o “canto de ação de graças” não deve e não pode excluir o silêncio sacramental após a comunhão.


 “Canto Final”
A reforma litúrgica realizada pelo Concílio Vaticano II propôs, como última fórmula da celebração litúrgica, o “Ide em paz”. Um canto “final” após este momento seria lógica-incorreta, pois a assembléia está dispensada. O que temos, na verdade, é um canto de despedida. Este canto de despedida, executado durante a saída do povo, parecer oportuno ser, por exemplo, um hino missionário ou um hino direcionado ao padroeiro, ou em honra a Mãe do Senhor em algumas de suas comemorações. Este pode ser substituído por uma música instrumental, se parecer oportuno. 

Org: José Wilson Fabrício da Silva, crl
Cônego Regular Lateranense


Bibliografia


CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Estudo sobre os cantos na missa. 2. ed. São Paulo: Edições Paulinas, 1978. (Estudosda CNBB, 12).
       
ALVES Melo Antonio. A presença do Senhor na eucaristia: mistério no mistério. Considerações históricas, teológicas e pastorais. In: REB, Petrópolis, 64, fasc. 254, 2004, p. 337-361.

BASURKO X. & GOENAGA J. A. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO Dionísio (Org.). A celebração na Igreja 1: Liturgia e sacramentologia fundamental. São Paulo, Loyola, 1990, p. 37-160.

BECKHÄUSER Alberto. Novas mudanças na missa. Petrópolis, Vozes, 20035.

INSTRUÇÃO GERAL sobre o Missal Romano. Petrópolis, Vozes, 2004.

LLOPIS Joan. La liturgia a través de los siglos (= Emaús 6). Barcelona, Centre de Pastoral Litúrgica, 1993.

VATICANO II. Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia”. In: Compêndio do Vaticano II. Constituições, Decretos, Declarações. Petrópolis, Vozes, 1997, p. 259-306.
                                                                                                             


CERIMONIAL DOS BISPOS, Paulinas, São Paulo, 1988;

INTRODUÇÃO GERAL SOBRE O MISSAL ROMANO, 4ª ed., Paulinas, São Paulo, 2011;

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, São Paulo, Loyola, 1993;

BÍBLIA DE JERUSALÉM, 7ª ed., São Paulo, Paulus, 2011.

                                    
http://conhecimentodossantos.blogspot.com.br/2012/09/o-canto-gregoriano-servico-da-igreja.html

terça-feira

O que acontece com um ser humano após a morte? A visão católica da Morte


Nós como membros da Igreja Católica Apostólica Romana, cremos na vida Eterna. Esta é a fé da Igreja! A porta inaugural para esta “vida Eterna” é o Batismo. Uma vez batizado, pertencemos ao Corpo de Cristo. Somos parte desse corpo, gozando de todas as bênçãos e graças do Céu. Mas, independente de ser cristão ou não, cada homem recebe em sua alma imortal a retribuição eterna a partir do momento da morte, num Juízo Particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo (C.Ig.C 1022).
            A grande preocupação que devemos ter nesta vida é viver no amor-doação, viver bem e viver a fé, pois, no entardecer de nossa vida, nós seremos julgados sobre o amor (S. João da Cruz).
            Nós cristãos, por pertencer ao Corpo Místico de Cristo, recebemos como privilégio o "selo do Senhor”. Este selo é o Sacramento do Batismo que foi-nos dado pelo Espírito Santo "para o dia da redenção" (Ef 4,30). Este dia é o grande dia da Ressurreição de todos. Para ressuscitar com Cristo é preciso morrer com Ele, é necessário "deixar a mansão deste corpo para ir morar junto do Senhor" (2 Cor 5,8). Nesta "partida", a alma é separada do corpo. Ela retomará o corpo que deixa na terra no dia da ressurreição dos mortos.

            Como cristãos, devemos ter uma visão contextualizada à luz da Sagrada Escritura, partindo do sentido original que Jesus Cristo nos deu sobre a morte. Não devemos nos apegar a certos versículos isolados da Palavra de Deus, sem procurar saber para quem foram dirigidos, o seu contexto histórico e cultural. Por exemplo, o Livro de Eclesiastes 9, 5-6  nos traz essa afirmação:


                                   “Porque os vivos sabem hão-de morrer, mas os mortos não sabem                                         coisa alguma; tão pouco têm eles jamais recompensa, mas sua memória jaz no esquecimento. Tudo o que fizeram em vida – os seus amores, ódios, rivalidades – já pereceram e já não têm parte alguma                                                naquilo que se passa aqui na Terra.”


            O importante é vermos em primeiro lugar: temos que ter muito cuidado ao definir que “mortos” significa neste contexto. Como sabemos, os que se mantém firmes na vida do Evangelho de nosso Senhor são garantidos “Vida Eterna”, tal e qual assegurou Jesus à Marta diante da morte de seu irmão Lázaro: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim viverá, ainda que esteja morto, viverá; e todo que vive e crê em mim nunca morrerá. Crês nisto.” (Jo 11, 24-25). 

            Então, como podemos interpretar corretamente Eclesiastes 9, 5-6? O que o autor sagrado quer dizer em Eclesiastes é para todos àqueles que partiram injustificados ou fora da ‘amizade’ de Deus. Ele afirma claramente que os mortos, não têm mais recompensa alguma, e morreram (ou seja, não alcançaram a Vida Eterna, a recompensa dos que acreditam em Deus) juntamente com seu amor, ódio e inveja. Eles não têm parte nesse mundo ou no vindouro. Claramente, este versículo não se refere  àqueles que viveram o Evangelho e confessaram fé em Jesus como Senhor e Salvador. Caso contrário, como poderíamos ter sequer esperança de alcançarmos o Reino dos Céus?  O Antigo Testamento também confirma esse entendimento em outra passagem, onde aquele que ‘morre’ consiste claramente naquele que em vida não se arrepende de suas ofensas e parte do mundo físico fora da Graça de Deus.

            A Sagrada Escritura ensina que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo (I Cor 12, 27; Ef. 1,22-23), e que esse corpo é formado pelas pessoas viventes batizadas na Trindade Santíssima (os fiéis) (Mt 28, 19), pelas almas dos fiéis defuntos (Jo 11, 24) e pelos já glorificados por Cristo no Céu (os santos) (Ap 8, 4). A Igreja ensina também que dentro do Corpo de Cristo há o que chamamos de Comunhão dos Santos (Ap 7, 14) tanto na terra como no céu, como é mencionado no nosso Credo:

Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos e na vida eterna.

O fundamento bíblico sobre a morte cristã

            Pela fé nós acreditamos que todos os batizados na Igreja que foram fiéis na vida com Cristo e, que partiram do mundo físico continuam vivos, pois alcançaram a vida eterna. Este é o fato que nos dar a certeza de que eles não deixam de fazer parte do Corpo Místico de Cristo! A Bíblia nos atesta isso em várias passagens, como por exemplo as que seguem abaixo:



                                   Mt 17, 2-3 – “Ali ele foi transfigurado diante deles. Seu rosto brilhava                                       como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Só então apareceu diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus.”
                                   Sb 3, 1-9 –A vida dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum                                          tormento os atingirá. Aos olhos dos insensatos parecem ter morrido; sua saída do mundo foi considerada uma desgraça, e sua partida do meio de nós, uma destruição; mas eles estão em paz. Aos olhos dos                                                homens parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de                                                imortalidade; tendo sofrido leves correções, serão cumulados de grandes bens, porque Deus os pôs à prova e os achou dignos de si. Provou-os como se prova o ouro no fogo e aceitou-os como ofertas de                                        holocausto. Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão junto dele, porque a graça e a misericórdia são para seus eleitos.”

                                   Fl 3, 20-21 – “Nós somos cidadãos do céu. De lá aguardamos o nosso                                               Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas”.

                                   Jó 19, 1. 23-27 – “Gostaria que minhas palavras fossem escritas e                                           gravadas numa inscrição com ponteiro de ferro e com chumbo, cravadas na rocha para sempre! Eu sei que o meu redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó; e depois que tiverem                                                         destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão, e não os olhos de outros”.

                                   Rm 14, 7-12 –Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para                                     si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para                                              isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos. E tu, por que julgas o teu irmão? Ou, mesmo, por que desprezas o teu irmão? Pois é diante do tribunal de Deus que todos compareceremos. Com efeito, está                                          escrito: ‘Por minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim e toda língua glorificará a Deus’. Assim, cada um de nós prestará contas de si mesmo a Deus”.



            Todas estas passagens maravilhosas nos oferecem a verdadeira interpretação da morte em nossa vida. Ninguém ao morrer é destruído por inteiro. Apenas o corpo material padece a corrupção para que um dia ser ressuscitado por Cristo de uma vez por todas. Neste dia esperado por todos, receberemos um corpo glorioso, igual ao de Jesus e Maria. Os que já vivem na glória do Céu, retomarão seus corpos para assistir o julgamento dos que ainda se encontrarão na terra. Somente neste dia, veremos novamente os que já nos deixaram com os seus corpos glorificados. Pois todos os que já deixaram a terra não voltam mais (Ef 4, 4). A reencarnação não existe! Uma vez deixada a terra, todos gozam da plenitude da Palavra de Deus proclamada por São Paulo: “os que morrem fiéis, têm suas vidas escondidas em Cristo” (Cl 3, 3).

Os dois julgamentos do ser humano após a morte

            Existem dois julgamentos para o ser humano: o primeiro é o particular; o segundo é o universal. A Igreja crê que cada pessoa enfrenta o juízo individual depois de sua morte (Hb 9, 27). Somente a Jesus, a Quem pertence o poder de julgar os vivos e os mortos, julga as nossas almas e nos encontra passíveis de entrar no Céu imediatamente, ou em carência de passarmos por mais purificação no purgatório, ou fadados ao inferno por causa de nossa recusa de separar-nos do pecado e/ou por nossa indisposição para nos arrependermos.

A existência do Purgatório

            O Purgatório existe e é bíblico! Enganam-se àqueles que não acreditam na sua existência. O Catecismo da Igreja Católica reserva alguns artigos importantíssimos para falar dele, vejamos:

                                   Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não de todo                                           purificados, embora seguros da sua salvação eterna, sofrem depois da morte uma  purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrar na alegria do céu (n. 1030).


                                   A Igreja chama Purgatório a esta purificação final dos eleitos, que                                           é absolutamente distinta do castigo dos condenados.  A Igreja formulou a doutrina da fé relativamente ao Purgatório sobretudo nos concílios de Florença e de Trento. A Tradição da Igreja,                                                            referindo-se a certos textos da Escritura fala dum fogo                                                                        purificador: «Pelo que diz respeito acertas faltas leves, deve crer-se que existe, antes do julgamento, um fogo purificador, conforme afirma Aquele que é a verdade, quando diz que, se alguém                                                      proferir uma blasfêmia contra o Espírito Santo, isso não lhe será  perdoado nem neste século nem no século futuro (Mt 12, 32).  Desta afirmação podemos deduzir que certas faltas podem ser                                                           perdoadas neste mundo e outras no mundo que há de vir» (n. 1031).

                                   Esta doutrina apoia-se também na prática da oração pelos                                                      defuntos, de que já fala a Sagrada Escritura: «Por isso, [Judas                                                           Macabeu] pediu um sacrifício expiatório para que os mortos   fossem livres das suas faltas» (2 Mac 12, 46). Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo                                                sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício eucarístico  para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus.  A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de                                       penitência a favor dos defuntos: «Socorramo-los e façamos  comemoração deles. Se os filhos de Job foram purificados pelo sacrifício do seu pai por que duvidar de que as nossas oferendas                                           pelos defuntos lhes levam alguma consolação? [...] Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer por eles as nossas  orações» (n. 1032).

            É fato! Para a Igreja o purgatório é um lugar de sofrimento em que as almas dos que morrem em estado da graça, mas sem haver satis­feito à justiça divina quanto à pena tem­poral incorrida por seus pecados, acabam de se purificar, solvendo essa dívida para poderem ser admitidas no Céu, onde con­forme a Escritura, só entrará quem for puro.
            São Boaventura nos trás uma lógica de pensamento muito interessante sobre o Purgatório, afirmando que ele deve existir por muitas causas. Procurarei ser fiel a sua ideia: A primeira, como observa Santo Agos­tinho, é que há três ordens de pessoas: Umas inteiramente más, e a essas não aproveitam os sufrágios da Igreja; outras inteiramente boas, que não precisam de tais sufrágios; outras, enfim, que não são de todo más, nem de todo justas e a estas cabem as penas passageiras do Purgatório, porque suas faltas são veniais. A segunda causa é a própria justiça de Deus, porque, assim como a soberana bon­dade não sofre que o bem fique sem re­muneração, assim a suprema justiça não permite que o mal fique sem nenhuma punição… A terceira razão para que haja um Purgatório é a sublime e santíssima dignidade da luz divina que somente olhos puros devem contemplar. É preciso, pois, que volte cada um à sua inocência batismal, antes de comparecer na presença, do Al­tíssimo.
            Além disso, todo pecado ofende a Majestade Divina, — é prejudicial à Igreja — e desfigura em nós a imagem de Deus. Ora, toda ofensa pede um castigo, todo dano uma reparação, todo mal um remédio; portanto é necessário também (neste mundo ou no outro) uma pena que cor­responda ao pecado. Demais, os contrários ordinariamente curam-se com os contrários, e como o pecado nasce do prazer, o castigo vem a ser o seu remédio natural.
            A ninguém pode aproveitar a negligên­cia, que é um defeito, e, se tal defeito não fosse punido, pareceria de vantagem para a vida futura não cuidar de fazer pe­nitência neste mundo.

Como vivem as almas que estão no Purgatório?



            Devemos dar crédito a revelação que nos fala claramente da existência de um Purgatório que não se ex­plica tão claramente sobre o estado em que se acham as almas que precisam de purificar-se; quer dizer, não podemos, portanto, saber com exatidão nem onde elas sofrem, nem o que sofrem, nem de que modo sofrem.
            Só podemos afirmar que as penas do Purgatório são extremamente graves e de duas espécies: a primeira, a mais insu­portável, diz o Concílio de Florença, é a privação de Deus.
            A necessidade de ver e possuir a Deus, que a alma, desprendida do corpo, com­preende ser o objeto único de sua felici­dade: essa necessidade se faz sentir a todas as nossas faculdades com uma força extraordinária.
            É uma sede ardente, é uma fome devoradora, é um vazio medonho, uma espécie de asfixia produzida pela ausência de Deus, que é o alimento e o ar de nossa alma.
            A segunda é uma dor que põe a alma em torturas mais cruéis do que as que os tiranos infligiam aos mártires.
            A Igreja não definiu a natureza desta dor, mas permite ensinar-se geralmente que há no Purgatório, como no inferno, um fogo misterioso que envolve as almas sem consumi-las; e, diz La Luzerne, con­quanto não seja um artigo de fé, todas as autoridades dão tanto peso à doutrina de um fogo expiatório que seria temeridade desprezá-la.
            Podemos perceber que há uma necessidade de não vivermos envolvidos nos relativismos teológicos protestante e libertador, chegando a ignorar a Doutrina da Igreja. Não é dogma de fé, mas está livre para quem quiser acreditar na aparições de Nossa Senhora em Fátima. Em duas destas aparições, uma Maria mostra o inferno aos pastorzinhos, em outra Maria pede que se rezem pelas almas que sofrem no Purgatório ensinando a eles a seguinte oração:

                                   Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno. Levai as almas                         para o Céu e socorrei principalmente àquelas que mais precisarem.

Quais são as causas que velam as almas ao Purgatório?

            São duas as causas do Purgatório: a primeira é a falta de satisfação suficiente pelos pecados remetidos. É dado de fé que Deus, perdoando os pecados cometidos depois do batismo e a pena eterna devida a esses pecados quando são mortais, deixa ordi­nariamente ao pecador já reconciliado a dívida de uma certa pena temporal que ele há de solver nesta vida ou na outra. A segunda causa está nos pecados veniais de que os justos podem estar maculados quando partem deste mundo.

Quanto tempo ficará uma alma no Purgatório?

            Em Deus não existe tempo! Mas, para nós essas penas durarão pouco em relação às penas do inferno que são eternas, mas, consideradas em si mesmas, podem durar muito tempo. A Igreja autoriza os sufrágios de aniversário por muitos anos e até durante séculos: o que faz supor que as almas podem ficar todo esse tempo no Purgatório. Autores respeitáveis, entre outros Belarmino, admitem que haja peca­dores detidos no Purgatório até o fim do mundo.

Podemos ajudar os nossos irmãos que estão padecendo no Purgatório?

            À luz da Bíblia, há entre os fieis vivos e os mor­tos comunicação das boas obras. A Igreja católica, esclarecida pelo Espírito Santo, aprendeu nas divinas Es­crituras e na antiga Tradição dos Santos Padres, e tem ensinado nos grandes Con­cílios, que há um Purgatório e que as almas detidas nesse lugar são socorridas pelos sufrágios dos fiéis e principalmente pelo precioso Sacrifício do Altar. (Conc. Trent. sess, 25.)
            Como sabemos, o corpo místico de Jesus Cristo se com­põe de uma Igreja unida em três partes bem distintas: a Igreja triunfante no Céu, — a Igreja padecente no Purgatório e a Igreja militante na terra. Essas partes, distintas em razão de sua situação diversa, compõem realmente um só corpo, do qual Jesus Cristo é a cabeça; em virtude da comunhão dos Santos, que professamos no Credo, elas se pres­tam mútuo auxilio. Tal é a magnífica harmonia do Corpo Místico de Cristo.
            Não poderíamos nunca, diz o Catecismo da Igreja Católica, exaltar e agradecer devidamente a inefável bondade divina que outorgou aos homens o poder de satisfazer uns pelos outros e pagar assim o que é devido ao Senhor.
            É certo que as almas do Purgatório não podem merecer para si, mas ensinam comumente os teólogos, diz Monsenhor Devie, que se lhes pode fazer súplicas e que Deus se digna atendê-las, quando elas exercem a caridade para conosco, pedindo o que é necessário. — Os Santos no Céu, acrescenta esse prelado, não podem mere­cer para si; entretanto eles pedem por nós. É a doutrina de Belarmino, de Suarez, de Lessio e de Liguori. As almas que pensam, diz Belarmino, são santas, oram como os Santos; e são escutadas em razão de seus méritos an­teriores.
            Podemos concluir esta parte afirmando o seguinte: se não existisse o purgatório, desde os primeiros séculos do cristianismo a Igreja não teria reservado dentro da Oração Eucarística uma parte chamada de intercessões. Nestas intercessões rezam-se por nossos defuntos.

Para onde vamos após a morte?

            Depois de falarmos exaustivamente sobre o purgatório, vamos agora olhar de uma forma geral sobre o que acontece conosco depois da morte. Podemos dizer com toda a certeza, pautada na Bíblia e na Tradição da Igreja que é uma indicação de nossa própria escolha pessoal, sabermos para onde vamos após a morte.
            Somos livres para escolher a Deus e o caminho para a santidade ou para nos revoltarmos contra Ele. O que acontece após a morte também indica que o nosso Deus é um Deus tanto de justiça quanto de misericórdia. O Catecismo nos orienta:

                                   O Credo cristão – profissão da nossa fé em Deus Pai, Filho e                                          Espírito Santo, e na sua ação criadora, salvadora e santificadora –                                        culmina na proclamação da ressurreição dos Mortos no fim dos                                                   tempos, e na vida eterna. (n. 988)
                                   Nós cremos e esperamos firmemente que, tal como Cristo                                                      ressuscitou verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim  também os justos, depois da morte, viverão para sempre com Cristo ressuscitado, e que Ele os ressuscitará no último dia. Tal                                             como a d'Ele, também a nossa ressurreição será obrada Santíssima  Trindade: «Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de                                                    entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais,  pelo seu Espírito que habita em vós» (Rm 8, 11). (n. 989)
                                   A palavra «carne» designa o homem na sua condição de                                                         fraqueza e mortalidade «Ressurreição da carne» significa que, depois da morte, não haverá somente a vida da alma imortal, mas também os nossos «corpos mortais» (Rm 8, 11) retomarão a vida.                                             (n. 990)
                                   Crer na ressurreição dos mortos foi, desde o princípio, um                                                      elemento essencial da fé cristã. «A ressurreição dos mortos é a fé dos cristãos: é por crer n ela que somos cristãos» (561): «Como é  que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos                                                          mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação,  e vã é também a vossa fé. [...] Mas não! Cristo ressuscitou dos                                                          mortos, como primícias dos que morreram» (1 Cor 15, 12-14, 20).                                           (n. 991)

            Enquanto cristãos, não devemos temer a morte para não concluirmos a nossa caminha terrena sem estivermos preparados, mas sim, a cada dia nos prepararmos para ela, crescendo em santidade e lutando pela vida eterna.
            Podemos concluir essa primeira parte de nossa reflexão afirmando que para os católicos, a morte é uma passagem. ‘Não existem mortos, mas vivos e ressuscitados. O Senhor nos toca e nos reerguemos para a vida eterna.


Breves posições da Igreja sobre as outras visões da morte

 


            Nós católicos acreditamos que a morte verdadeira acontece no batismo, iniciando o caminho para a vida eterna. Corpo e alma não é uma só coisa, porém, necessários (Ef 4, 4).

            Ao desfalecer ser humano na terra, acontece uma morte única e definitivamente. Com esta morte, o homem criado a Imagem e semelhança de Deus, entra na verdadeira vida (Lc 23, 42-43). Por isto, a reencarnação não existe!

            O corpo pode ser enterrado ou cremado. Mas, é aconselhável que deposite o corpo no túmulo por inteiro. No momento do sepultamento, há a "benção do túmulo", cujo objetivo é pedir o acolhimento do corpo pela terra na esperança de que na segunda vinda de Cristo, do túmulo Deus restaure novamente a vida material do morto para participar do último julgamento do mundo.



A verdadeira consolação cristã para os que perderam um ente querido


            O que consola um cristão é a esperança de que, para além de toda dor e da morte, existe uma mão que “enxugará todas as lágrimas de seus olhos”, e de que morte já não existirá, nem haverá luto, nem pranto e fadiga (Ap 21, 4). Quem assim falou foi Deus, o Deus que se autodefiniu como Aquele que é o Senhor da vida e da Morte (Ap 22, 12-13).
            O Senhor Deus não quer que os nossos entes queridos, nem nós, desapareçam para sempre no nada. Para isto ele nos deu um espírito, Imagem e Semelhança de seu próprio Ser. Ele optou pela vida, este é seu projeto fixado no cosmos! Nenhum ser humano termina o curso de sua vida plena com  sua morte biológica (1 Cor 2, 9).
            É desejo de Deus que todos sejam Salvos (1Tm 2, 4/ Rm 5, 15). Ele está ansioso para que vivamos bem, usufrua de toda obra de sua criação com respeito (Jo 10, 10), façamos o bem e deixemos este mundo para ter um encontro pessoal com seu Ser em sua realidade plena.
            A alegria do Senhor é revelar a sua face verdadeira às suas criaturas. Quanto a isto, o nosso coração humano também sente essa falta de satisfação plena. Enquanto vivemos procuramos a Verdade para nos tranquilizarmos e nos sentirmos felizes encontrando-a em alguma parte. Mas, esta satisfação plena está unida a Verdade que não está aqui. Podemos encontrar seu fim primeiro aqui, porem, seu fim último é o encontro com Deus!


Como Deus age com aqueles que já morreram?


            Todos os que morreram são tratados de maneira inexplicável. Muitos pensam que Deus está armado com a espada da justiça na mão, esperando diariamente todos os que morrem para a sua aniquilação e condenação ao inferno. Sem sombra de dúvida, ele está como o Pai misericordioso esperando o filho que estava longe e, arrependido, resolveu voltar a sua pátria natal.
            É vontade de Deus que aquelas pessoas que amamos continuem vivendo numa vida de plenitude e de amor no céu. Assim como guardamos um objeto com carinho e cuidado de um amigo que se foi, mas voltará; da mesma forma acontece com aqueles que nos pertencem, mas nos deixou para ir ao encontro definitivo com o nosso Criador. Deus guarda com amor a todos os que nos são caros. Isto é maravilhoso! Lá estão orando por nós que aqui ainda ficamos (Ap 8, 4).
            Ao morremos, diante de Deus não seremos desconhecidos, pois, os nossos entes queridos que já morreram, terão falado de nós ao Senhor da vida! É esta a certeza que nos permite a não acreditarmos na reencarnação. Ela não existe! Vivemos uma única vez! Esta vida começa com a nossa origem em nossos pais (Is 49, 1/ Jr 1, 5) e termina em Deus, de lá não voltaremos a terra até uma última ordem de Deus para que assistamos o julgamento do mundo (Mt 24, 21-39).
            Há vida depois da morte, o autor desta vida é Deus, eis a nossa esperança! Deus deixou-se seduzir pelos caminhos do amor e agora está de tal maneira ligado a nós que nada pode separa-Lo de suas criaturas. É um exemplo muito impróprio, mas, faço uso do mesmo para compreendermos a linguagem do amor de Deus: podemos compara-Lo como um Ser apaixonado que corre atrás de sua noiva infiel. Um Amante incondicional, um Pai bondoso com um olhar igual ao de uma mãe cheia de ternura. Tudo isto é Deus! É com este Deus que cada pessoa humana se encontra com sua morte (Is 49, 15; 54, 6).


A experiência que passamos com a nossa morte


            Após a nossa passagem (morte), passamos por uma experiência similar àquela de um despertar em cada manhã. Despertar de um sono profundo carregado de sentimentos, como àqueles de uma noite em que nosso consciente e inconsciente experienciou um sonho, que para nós parecíamos real ao despertarmos.
            O lugar que despertamos será preparado por Deus, pautado em sua justiça e misericórdia, mas, segundo as nossas obras, intenções, desejos e aspirações vividos aqui na terra. Ali nos encontraremos com Deus, percebendo que cada um lucra da felicidade, amor, gozo e paz. Tudo segundo a misericórdia do Senhor, pois nada mais era do que um desejo ardente Dele por cada um nós.
            Diante de Deus, o seu olhar me penetra e, como uma menina envergonhada, irei me sentir cheio de timidez perante este olhar que não é um olhar qualquer, mas um olhar que me conhece bem. Aí começa o julgamento pautado na verdade, justiça e misericórdia.
            Eu serei o centro do olhar de Deus. Serão medidos as dores e as alegrias que causei a meus familiares, amigos e conhecidos. Serão vistos os corações felizes e os feridos, pelos quais me tornei responsável, não só no decorrer da minha vida, mas também, depois dela; porque as consequências históricas da minha vida ultrapassa a nossa existência material. Neste julgamento, verei todos os atos de minha vida diante de mim.
            O mais importante nessa hora é percebemos que o amor de Deus é mais forte que os meus fracassos. Lembremos que na morte eu me apresento diante de Deus como aquela pessoa que me formei durante toda a minha vida. O meu caráter e a minha personalidade formada aqui na terra serão confrontados com os parâmetros da vida de Jesus Cristo, nosso Modelo primeiro de vida a ser imitado.


Visão errada dos cristãos que não são católicos sobre a morte


            Existem irmãos que hoje estão tão convencidos de si e de sua salvação, que nem se quer por um minuto, pensam na possibilidade de que também eles necessitam de conversão, confissão dos pecados e redireção na vida (Jo 20, 22-23). São pessoas que se consideram justos diante de Deus com toda a sua convicção, chegando parecer que já são salvos de antemão sem precisar passar pelo crivo do julgamento. Pessoas que se dizem ter a certeza de terem atitudes corretas, a religiosidade certa, a igreja certa, a verdade plena! Fora isto, segundo eles, todos estão no inferno! Têm-se tamanha convicção, chegando a certeza de que o próprio Deus deverá curvar-se diretamente a eles.
            Estes irmãos não creem no poder renovador do Sacramento da Confissão (Jo 20, 23), na restauração de vida que a Eucaristia pode causar, não entendem que a Igreja Católica é o Sacramento Universal da Salvação, não acreditam na Comunhão dos Santos, no poder da intercessão da Mãe do ressuscitado, etc.


Iremos rever os que já morreram?


            Perante Deus e, junto dele, nos encontraremos com as pessoas que um dia amamos na vida, mas também com aqueles que humilhamos, ferimos e pisamos no decorrer de nossa caminhada terrena. A todos estes, pediremos perdão pelo mal que fizemos! E da mesma maneira deveremos perdoar a todos aqueles aos quais não perdoamos na vida, para que não haja rancor, nem ódio entre nós e, para que o amor, que é Deus, seja tudo em todos. São esses perdões que possibilitam-me a tornar um ser pleno, um ser realmente capaz de amar. Caso a justiça de Deus, usando de sua misericórdia (Is 43, 1. 3-4) chamar-me a passar pelo crivo do polimento (purificação), terei a plena certeza de que essa experiência me libertará e não estarei condenado para sempre! Em breve eu estarei na visão plena da face de Deus no Céu, situação do Amor (Rm 8, 38-39).
            Fica claro para nós que as nossas relações humanas não vão desaparecer, mas serão plenificadas (Jo 14, 2-3; Mt 20, 1-16)!


As pessoas que nasceram com deficiências corporais e mentais serão salvas?


            É a grande questão ética de nossos tempos! Dizem: “um feto pode ser descartado ou utilizado em pesquisas porque ainda não está formado todo o ser biológico do homem; ou uma pessoa que perdeu a memória, está impossibilitada de continuar vivendo normalmente! Por essa causa, pode-se deixa-la morrer tranquilamente sem nenhuma ajuda, porque não adianta mais nada a fazer.” Ambas afirmações estão condenadas pela nossa fé!
            Um feto já foi fecundado, não está formado totalmente, mas ali está uma vida que só precisa de um curto espaço de tempo para se desenvolver. No óvulo fecundado encontramos a vida, manifestação da ação de Deus! A mesma coisa acontece com uma pessoa que por consequência da má formação fetal ou por acidente natural biológico, tornou-se uma pessoa impossibilitada de exercer suas funções normais. Ali há vida! E porque há vida, não se pode aniquila-la por conveniência. Mesmo que um ser humano na sua má formação, venha a tornar-se anencéfala, isto não é motivo para aniquila-la, pois os outros órgãos de seu corpo biológico estão vivos. E porque não se tem um cérebro, não se pode compara-la a qualquer animal sem razão! O ser humano é Imagem e semelhança de Deus! Se não se gerou perfeitamente, a culpa não está em Deus, mas, tão pouco nos pais. A dificuldade está no óvulo fecundado não encontrar os nutrientes e meios necessários para uma saudável formação por parte dos pais biológicos. Por este motivo, não se deve encontrar culpados para um caso extraordinário na formação de um ser humano.
            Devemos cuidar e preservar a vida com todo o carinho porque diante de Deus não existe pessoas com qualquer tipo de deficiência! Com nossa morte, não nos apresentaremos diante do Senhor Perfeitíssimo com o corpo gasto pelo tempo (criança ou adulto), doente, mutilado, deforme, inacabado ou sem memória. Junto a Deus me apresentarei como um homem perfeito e evoluído até as últimas possibilidades de meu ser.

José Wilson Fabrício da Silva, crl
(Cônego Regular Lateranense)


Bibliografia:

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, São Paulo, Loyola, 1993;
BÍBLIA DE JERUSALÉM, 7ª ed., São Paulo, Paulus, 2011.
MADRID, Teodoro C., La Iglesia Católica según San Agustin, Madrid, Editorial Revista Agustiniana, 1994.
BRUSTOLIN, Leomar Antônio. Morte: uma abordagem para a vida, Porto Alegre, EST Edições, 2007.
BLANK, Renold. J, Consolo para quem está de luto, São Paulo, Paulinas, Ed. 3ª, 2006