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domingo

SANTO AGOSTINHO FUNDADOR E MÍSTICO


                                 
Estamos nos aproximando da festa do grande santo da Igreja, Santo Agostinho. O santo mais buscado, lido e conhecido de todos os tempos na história universal.




 Por que falar tanto de Santo Agostinho?


 Porque ele é o humano mais santo e o santo mais humano que já tivemos na era final da Patrística e início da Idade Média. É um santo que teve uma busca incansável pela Verdade e encontrando-a, escavou no profundo a fonte, para que assim não só ele ficasse saciado, mas todos aqueles que dele se aproximassem ou o escutasse, fosse contagiado pela força da Verdade que é o próprio Cristo Jesus. A famosa frase pronunciada por ele, sintetiza tudo aquilo que chamamos de busca incansável: “Fizeste-nos Senhor para Vós e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansar em Vós”.

De Santo Agostinho nasce um carisma religioso no ano de 387 d. C., que se torna até os dias de hoje, como que eterna, apesar de sabermos que o único Eterno é Deus. Não estou falando neste sentido, mas no sentido figurado. Pois desde que Santo Agostinho resolveu viver uma vida religiosa de uma forma bem particular, Pois além de ser uma vida aberta as necessidades da Igreja em todos os sentidos, é uma comunidade que busca, luta e presa pela interioridade, o silêncio e o conhecimento pessoal. Sem esquecer a amizade, a fraternidade e o amor pela comunidade de irmãos. Isso foi muito novo na Igreja. Pois antes ou se vivia uma vida apostólica ou contemplativa. Santo Agostinho une as duas de uma forma harmoniosa.


                                        
Se inspirando nas primeiras comunidades de irmãos dos Atos dos Apóstolos 2, 33-42, ver que é possível viver como que, estar no mundo mas não pertencer ao mundo. Para ele, viver em comunidade é dilatar o amor de Deus que os une e nos faz ser verdadeiros adoradores em espírito e em verdade. Onde em cada casa religiosa deveria existir uma capela, destinada exclusivamente para a oração, como reza na santa Regra e que tudo seria posto em comum, onde todos vestiriam da mesma rouparia, usariam da mesma biblioteca, do mesmo alimento; e que só sairiam as ruas para qualquer necessidade em comum, para que um fosse o guarda do outro, e que assim, não viesse a pecar sem o aviso do irmão. Este santo foi um jovem, um estudante, um professor e um cristão que nunca gostou de viver sozinho, pois a amizade foi muito importante para que ele conseguisse viver tranqüilo e realizado. Lendo a sua autobiografia chamada de “Confissões” vamos observar que a amizade ao lado da busca foram as penas das asas que lhe levaram até Deus. As “Confissões” falam de pessoas caras, ao mesmo tempo que põe a nu os mais recônditos cantos de seu espírito, todas as tensões íntimas e as lacerações de sua vontade; vemos neste livro as suas superações e o seu encontro definitivo e progressivo com o Senhor que lhe chamou para uma vida sempre nova. De Agostinho nasce e bebe de sua fonte as Ordens Agostiniana, Agostiniana Recoleta, Agostiniana Descalça, Cônegos Regulares, Dominicanas, etc, etc, etc. todos vêem em Santo Agostinho um pai, um formador e um inspirador para as suas vidas.

Muitos podem ver na Regra de vida de Santo Agostinho uma utopia, na verdade não é, pois na medida em que eu vou vivendo, colocando os meus dons espirituais e matérias em comum, vou vendo que Regra é tão viva e eficaz. Para a vida dos seguidores de Agostinho ele diz: “Nenhuma coisa tenhais como própria e sim em comum”, Significando que cada agostiniano é convidado a ver que tudo é da comunidade primeiro, nada é meu a não ser a amizade, o carinho e zelo que devo colocar na casa, na fraternidade, nos trabalhos pastorais, na liturgia, na oração e em tudo o que é e vem de Deus.

A vida religiosa para Santo Agostinho se caracteriza pela configuração com Jesus Cristo Mestre e Senhor. Portanto, a formação agostiniana é concebida e estruturada seguindo a pedagogia do próprio Senhor Jesus Cristo. De tal modo o candidato à vida agostiniana é introduzido na dinâmica formativa a qual o Mestre Jesus se submeteu, ou seja, aprender Dele e com Ele crescer em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens, para atingir a estatura e a maturidade de Cristo. Então o agostiniano deve percorrer o itinerário formativo semelhante ao de Jesus, que se inicia no anonimato em Nazaré (postulantado), passando pela consagração no seu Batismo e pela purificação no deserto abandonando-se na vontade do Pai (noviciado), seguindo sua missão na vida pública (juniorato) até morrer com Ele na Cruz e com Ele ressuscitar (formação permanente). Em outras palavras, desde que o agostiniano se propõe à sequela de Cristo, deve passar pelas mesmas etapas pelas quais passou o Mestre Jesus.

Santo Agostinho antes de sua morte não faz testamento, porque era pauper Dei, mas sua herança foi presentear a Igreja que ele tanto amava, deixando mosteiros de homens e mulheres, com bibliotecas que continham as próprias obras; à posteridade os seus escritos como testemunha da grandeza e grandes santos e santas que souberam seguir perfeitamente os ensinamentos de Agostinho, suprindo em todas as necessidades da Igreja. E agora veremos o que dizia São Posídio ao escrever sobre Santo Agostinho:

Senti-me inspirado por Deus, que criou e governa o universo, a empregar meus limitados recursos de inteligência e palavra para a edificação da Igreja Católica de Cristo Senhor, santa e verdadeira...” em consequência disso, também eu, o menor dos administradores dos dons divinos, animado da fé sincera que é indispensável para servir ao Senhor dos senhores e a seus fiéis, assim como para ser-lhes agradável, empreendi narrar, auxiliado pela graça de Deus, o nascimento, a vida e a morte baseado no que ele (Agostinho) me contou e no que eu mesmo verifiquei, tendo usufruído por muitos anos de sua amizade, testemunho que Agostinho foi verdadeiramente um homem de Deus”. (POSSÍDIO, São. Vida de Santo Agostinho, Paulus, São Paulo, 1997)

Santo Agostinho fundou uma comunidade para ser um lugar onde se cultive a fé no Deus Trino, a esperança de um mundo melhor e a caridade que une os irmãos no serviço mútuo. Quem quiser seguir as pegadas de Santo Agostinho tem que saber escutar a Cristo comunidade que ama o Pai e nos envia o Espírito Santo. Ele disse certo dia em um dos seus sermões, fazendo um comentário ao Evangelho de São João: “Você quer caminhar? Eu sou o Caminho. Você não quer ser enganado? Eu sou a Verdade. Vocês não querem morrer? Eu sou a Vida”. E é justamente esse elo que une todos os agostinianos! Um Caminho a percorrer, uma Verdade a ser vivida pra depois ser proclamada e uma Vida a ser defendida, amada e entregue a todos. Só aqui é que compreenderemos o que este homem de Deus aconselhava aos novos membros de sua comunidade: “Vocês devem ir aonde a Igreja necessite”. Esta é a beleza da vida agostiniana. Não ter um carisma específico, quer dizer, estar aberto a todos os dons que o Espírito Santo vá presenteando a cada irmão na comunidade. É se fazer presente em todos os lugares, culturas, línguas e raças, sem perder o foco, anunciar Cristo Jesus, Salvador e Senhor de nossas vidas.

Resumindo todo o carisma de Santo Agostinho vemos que é: Amar a Deus sem condições, saber viver em comunidade como irmãos, experimentar a Cristo na interioridade, servir a Igreja em tudo o que ela necessitar e o principal, anunciar a Cristo com a Palavra e com o exemplo de vida. O verdadeiro agostiniano fala de Deus sem dizer uma só palavra. Uma prova disso são os milhares de santos e santas que quiseram viver baixo a Regra de Santo Agostinho nestes 1580 anos de história após sua morte. Santo Agostinho descansou o seu coração que passou a vida toda inquieto no seu Amor, a “Beleza sempre antiga e tão nova”, Jesus.  Santo Agostinho abriu uma porta para o serviço da Igreja que nunca mais fechou, e Deus multiplicou o seu rebanho. Que Nosso Salvador Jesus Cristo nos ajude e esteja sempre atento as nossas preces. Assim seja!

                                                                    
                                                                              +José Wilson Fabrício da Silva
                                                                                     (josewilson.fabricio@gmail.com)

DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS E AO IMACULADO CORAÇÃO DE MARIA – 1ª SEXTA E 1° SÁBADO


As primeiras sextas-feiras e primeiros sábados de cada mês são consagrados ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, que rezemos com devoção a estes Corações.
Pode-se rezar o Terço, e Ladainha de Nossa Senhora, e depois a oração (1ª sexta ao Sagrado Coração; 1° sábado ao Imaculado Coração).

Conteúdo:

Ato de desagravo ao Sagrado Coração de Jesus
(1ª sexta-feira do mês)


Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é, destes, tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos: Eis-nos aqui prostrados diante do Vosso altar, possuídos pelo desejo de reparar, com especiais homenagens, a sua culpável indiferença e as nefandas injúrias com que a todo momento ferem o Vosso amantíssimo Coração.
Reconhecendo porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a Vossa misericórdia, prontos a expiar não só as próprias culpas, mas também as daqueles que, errando fora do caminho da salvação, se obstinam em sua infidelidade, recusando servir-Vos, a Vós, seu Pastor e Guia, ou sacudindo o jugo tão doce da Vossa Lei, calcam aos pés as promessas do seu Batismo.
De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos desagravar-Vos, principalmente da licença dos costumes e imodéstias nos vestidos, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra Vós e Vossos santos, dos insultos ao Vosso Vigário e a todo o Vosso clero, do desprezo e das horrendas profanações do Sacramento do Divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da Vossa Igreja.
Oh, quem pudera lavar em sangue tantas iniqüidades!
Para reparar a honra divina ultrajada, nós Vos oferece-mos, juntamente com os méritos da divina Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que na Cruz oferecestes ao eterno Pai, e que não cessais de renovar todos os dias em nossos altares.
Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da Vossa graça, para podermos, como é nosso firme propósito, com a viveza de Fé, pureza de costumes e fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e pelo nosso próximo, impedir por todos os meios novas injúrias à Vossa infinita Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.
Recebei, benigníssimo Jesus, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo e concedei-nos a graça de perseverar constantes, até à morte, no fiel cumprimento dos nossos deveres, para alcançarmos chegar à pátria bem-aventurada, onde, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais para todo o sempre. Amém.

Consagração ao Imaculado Coração de Maria
(1° sábado do mês)

Rainha do Santíssimo Rosário, auxílio dos cristãos, refúgio do gênero humano, vitoriosa de todas as batalhas de Deus, eis-nos prostrados suplicantes aos pés do Vosso trono, na certeza de obter de Vossa misericórdia as graças e a ajuda oportunas nas calamidades presentes, não em virtude de nosso mérito que são poucos, mas unicamente pela imensa bondade do Vosso Coração maternal.
Os abomináveis pecados do mundo, as perseguições dirigidas contra a Igreja de Jesus Cristo, mais ainda, a apostasia das nações e de tantas almas cristãs, em suma, os esquecimentos por parte da maioria dos homens de que sois a Mãe da Divina Graça, tudo isso é agonia para Vosso Coração Doloroso e Imaculado, tão unido, em sua com-paixão, aos sofrimentos do Sagrado Coração de Vosso Filho.
A fim de reparar tantos crimes, pedistes o estabelecimento da devoção reparadora à Vosso Imaculado Coração. Mas se atraís docemente as Vosso Coração os homens pecadores, é para conduzi-los ao Sagrado Coração de Jesus, ao Cristo-Rei. Jesus é a vida de que viveis. Tudo recebeste Dele e para Ele. Vosso Coração é como uma Eucaristia transparente; aquele que o comtempla vê Jesus, seu Salvador. Foi para conduzir os homens ao Coração de Vosso Filho que aparecestes em Fátima.
Dignai-Vos pois aceitar, ó Mãe de Deus, o ato solene de reparação que oferecemos ao Vosso Coração Imaculado por tantas ofensas que, juntamente com o Sagrado Coração de Jesus, é afligido pelos pecadores e pelos ímpios.
Dignai-Vos ó Rainha da Paz, outorgar ao mundo a paz que o mundo não pode dar, a paz das armas e a paz das almas, a paz de Cristo e o reino de Cristo pelo Reinado de Vosso Imaculado Coração. Amém.
Sagrado Coração de Jesus, nós temos confiança em Vós!
Imaculado Coração de Maria, sede à nossa salvação!

sexta-feira

Santa Juliana de Cornillon (Origem da Solenidade de Corpus Crhisti)


O Papa Bento XVI apresenta a vida de Santa Juliana, cônega regular. Graças a esta mística, nós temos na Igreja Católica a Solenidade da Festa de Corpus Crhisti. 


A Festa litúrgica de Santa Juliana é dia 05 de abril.

Queridos irmãos e irmãs:
Eu gostaria de vos apresentar uma figura feminina, pouco conhecida, à qual a Igreja, no entanto, deve um grande reconhecimento, não somente pela sua santidade de vida, mas também porque, com seu grande fervor, ela contribuiu para a instituição de uma das solenidades litúrgicas mais importantes do ano, a do Corpus Domini (em português, mais conhecida como Corpus Christi, N. da T.).
Estamos falando de Santa Juliana de Cornillon, conhecida também como Juliana de Lieja. Possuímos alguns dados sobre sua vida, sobretudo por meio de uma biografia, escrita provavelmente por um contemporâneo seu, que recolhe vários testemunhos de pessoas que conheceram diretamente a santa.
Juliana nasceu entre 1191 e 1192, nas proximidades de Lieja, na Bélgica. É importante sublinhar este lugar, porque naquela época a diocese de Lieja era, por assim dizer, um verdadeiro "cenáculo eucarístico". Antes de Juliana, insignes teólogos haviam ilustrado lá o valor supremo do sacramento da Eucaristia e, sempre em Lieja, havia grupos femininos generosamente dedicados ao culto eucarístico e à comunhão fervente. Guiadas por sacerdotes exemplares, tais mulheres moravam juntas, dedicando-se à oração e às obras de caridade.
Órfã aos 5 anos de idade, Juliana, junto à sua irmã Inês, foi confiada aos cuidados das religiosas agostinianas do convento-leprosário de Mont-Cornillon. Foi educada sobretudo por uma freira cujo nome era Sabedoria e que acompanhou seu amadurecimento espiritual, até que a própria Juliana recebeu o hábito religioso e se converteu, também ela, em cônega regular agostiniana. Adquiriu uma notável cultura, chegando até a ler as obras dos Padres da Igreja em latim, particularmente Santo Agostinho e São Bernardo. Além de uma inteligência vivaz, Juliana mostrava, desde o começo, uma propensão particular à contemplação; tinha um sentido profundo da presença de Cristo, que experimentava vivendo de maneira particularmente intensa o sacramento da Eucaristia e meditando com frequência sobre as palavras de Jesus: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos" (Mt 28,20).
Aos 16 anos, teve uma primeira visão, que depois se repetiu muitas vezes em suas adorações eucarísticas. A visão apresentava a lua em seu pleno esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor a fez compreender o significado do que lhe aparecera. A lua simbolizava a vida da Igreja na terra; a linha opaca representava, no entanto, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz, isto é, uma festa na qual os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar sua fé, crescer na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento.
Durante cerca de 20 anos, Juliana - que, enquanto isso, havia se tornado a priora do convento - conservou em segredo esta revelação, que havia enchido seu coração de alegria. Depois contou a duas ferventes adoradoras da Eucaristia: a Beata Eva, que levava uma vida eremítica, e Isabel, que a havia seguido ao mosteiro de Mont-Cornillon. As três mulheres estabeleceram uma espécie de "aliança espiritual", com o propósito de glorificar o Santíssimo Sacramento. Também quiseram envolver um sacerdote muito estimado, João de Lausana, cônego da igreja de São Martinho de Lieja, pedindo-lhe que interpelasse teólogos e eclesiásticos sobre o que elas carregavam no coração. As respostas foram positivas e motivadoras.
O que aconteceu com Juliana de Cornillon se repete frequentemente na vida dos santos: para ter a confirmação de que uma inspiração vem de Deus, é necessário sempre submergir-se na oração, saber esperar com paciência, buscar a amizade e aproximar-se de outras almas boas e submeter tudo ao juízo dos pastores da Igreja. Foi precisamente o bispo de Lieja, Roberto de Thourotte, quem, depois das dúvidas iniciais, acolheu a proposta de Juliana e das suas companheiras e instituiu, pela primeira vez, a solenidade do Corpus Domini em sua diocese. Mais tarde, outros bispos o imitaram, estabelecendo a mesma festa nos territórios confiados aos seus cuidados pastorais.
Contudo, Deus frequentemente pede aos santos que superem provas, para que sua fé cresça. Isso aconteceu com Juliana, que teve de sofrer a dura oposição de alguns membros do clero e do próprio superior do qual seu mosteiro dependia. Então, por vontade própria, Juliana deixou o convento de Mont-Cornillon com algumas companheiras e, durante 10 anos, entre 1248 e 1258, foi hóspede de vários mosteiros de religiosas cistercienses. Ela edificava todos com sua humildade, nunca tinha palavras de crítica ou de reprovação para seus adversários, senão que continuava difundindo com zelo o culto eucarístico. Faleceu em 1258, em Fosses-La-Ville, na Bélgica. Na cela em que jazia, expuseram o Santíssimo Sacramento e, segundo as palavras do seu biógrafo, Juliana morreu contemplando, com um último arrebato de amor, Jesus Eucaristia, a quem sempre havia amado, honrado e adorado.
Para a boa causa da festa do Corpus Domini, foi conquistado também Giacomo Pantaléon de Troyes, que havia conhecido a santa durante seu ministério de arquidiácono em Lieja. Foi precisamente ele quem, ao tornar-se papa com o nome de Urbano IV, em 1264, quis instituir a solenidade do Corpus Domini como festa de preceito para a Igreja universal, na quinta-feira depois de Pentecostes. Na bula de instituição, intitulada Transiturus de hoc mundo (11 de agosto de 1264), o Papa Urbano também evoca com discrição as experiências místicas de Juliana, respaldando sua autenticidade, e escreve: "Ainda que a Eucaristia seja solenemente celebrada todos os dias, consideramos justo que, ao menos uma vez por ano, faça-se dela mais honrada e solene memória. As demais coisas, de fato, das quais fazemos memória, nós as apreendemos com o espírito e com a mente, mas não obtemos por isso sua presença real. No entanto, nesta comemoração sacramental de Cristo, ainda que sob outra forma, Jesus Cristo está presente conosco em sua própria substância. De fato, enquanto estava a ponto de ascender ao céu, disse: 'Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos' (Mt 28, 20)".
O próprio Pontífice quis dar exemplo, celebrando a solenidade do Corpus Domini em Orvieto, cidade em que então residia. Precisamente por ordem sua, na catedral da cidade se conservava - e se conserva ainda hoje - o célebre corporal com as marcas do milagre eucarístico ocorrido no ano anterior, em 1263, em Bolsena. Um sacerdote, enquanto consagrava o pão e o vinho, teve fortes dúvidas sobre a presença real do Corpo e do Sangue de Cristo no sacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a escorrer da Hóstia consagrada, confirmando, dessa forma, o que a nossa fé professa. Urbano IV pediu a um dos maiores teólogos da história, São Tomás de Aquino - que naquela época acompanhava o Papa e se encontrava em Orvieto - que compusesse os textos do ofício litúrgico desta grande festa. Tais textos, em uso ainda hoje na Igreja, são obras-primas nas quais se fundem teologia e poesia. São textos que fazem as cordas do coração vibrar, para expressar louvor e gratidão ao Santíssimo Sacramento, enquanto a inteligência, adentrando-se com estupor no mistério, reconhece na Eucaristia a presença viva e verdadeira de Jesus, do seu sacrifício de amor que nos reconcilia com o Pai e nos dá a salvação.
Ainda que, após a morte de Urbano IV, a celebração da festa do Corpus Domini tenha se limitado a algumas regiões da França, da Alemanha, da Hungria e da Itália Setentrional, o Papa João XXII, em 1317, restaurou-a para toda a Igreja. Desde então, a festa teve um desenvolvimento maravilhoso e ainda é muito especial para o povo cristão.
Eu gostaria de afirmar com alegria que hoje, na Igreja, há uma "primavera eucarística": quantas pessoas dedicam seu tempo a estar diante do Tabernáculo, silenciosas, para desfrutar de um diálogo de amor com Jesus! É consolador saber que muitos grupos de jovens redescobriram a beleza de rezar em adoração diante da Santíssima Eucaristia.
Rezo para que esta "primavera eucarística" se difunda para vez mais em todas as paróquias, em particular na Bélgica, a pátria de Santa Juliana. O Venerável João Paulo II, na encíclicaEcclesia de Eucharistia, constatava que, "em muitos lugares, é dedicado amplo espaço àadoração do Santíssimo Sacramento, tornando-se fonte inesgotável de santidade. A devota participação dos fiéis na procissão eucarística da solenidade do Corpo e Sangue de Cristo é uma graça do Senhor que anualmente enche de alegria quantos nela participam. E mais sinais positivos de fé e de amor eucarísticos se poderiam mencionar" (n. 10).
Recordando Santa Juliana de Cornillon, renovemos, também nós, a fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Como nos ensina o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, "Jesus Cristo está presente na Eucaristia dum modo único e incomparável. De fato, está presente de modo verdadeiro, real, substancial: com o seu Corpo e o seu Sangue, com a sua Alma e a sua Divindade. Nela está presente em modo sacramental, isto é, sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho, Cristo completo: Deus e homem" (Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, 282).
Queridíssimos amigos, a fidelidade ao encontro com o Cristo Eucarístico na Santa Missa dominical é essencial para o caminho de fé, mas tentemos também visitar frequentemente o Senhor presente no Tabernáculo! Contemplando, em adoração, a Hóstia consagrada, encontramos o dom do amor de Deus, encontramos a Paixão e a Cruz de Jesus, assim como sua Ressurreição. Precisamente por meio do nosso olhar em adoração, o Senhor nos atrai a Si, dentro do seu mistério, para transformar-nos como transforma o pão e o vinho (cf. Bento XVI, homilia na solenidade do Corpus Domini, 15 de junho de 2006). Os santos sempre receberam força, consolo e alegria no encontro eucarístico. Com as palavras do hino eucarístico Adoro te devote, repitamos diante do Senhor, presente no Santíssimo Sacramento: "Fazei-me crer cada vez mais em vós, que em Vós eu tenha esperança, que eu vos ame!".
Obrigado.

Resumo: 
Santa Juliana de Cornillon nasceu perto de Liegi, na Bélgica, no último decênio do século doze. Tinha dezesseis anos, quando, numa visão, lhe apareceu a lua no máximo do seu esplendor mas cingida com uma faixa escura que a atravessava diametralmente. O Senhor fez-lhe compreender que a lua simbolizava a vida da Igreja sobre a terra, a faixa negra exprimia a ausência duma festa litúrgica na qual os cristãos pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a sua fé e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento. Por outras palavras, faltava a Festa do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, que hoje temos, instituída pelo Papa Urbano IV cinquenta anos depois da referida visão e por influência dela; este Papa, durante o seu ministério de arquidiácono precisamente em Liegi, tinha conhecido Santa Juliana e deixara-se conquistar para a boa causa da Festa do Corpo de Deus.

CATEQUESE DO PAPA: JULIANA DE NORWICH E O AMOR DIVINO


Queridos irmãos e irmãs:
Ainda me lembro com muita alegria da viagem apostólica ao Reino Unido, feita em setembro passado. A Inglaterra é uma terra que deu origem a muitas figuras ilustres que, com seu testemunho e seu ensinamento, embelezam a história da Igreja. Uma delas, venerada tanto pela Igreja Católica como pela Comunhão Anglicana, é a mística Juliana de Norwich, de quem eu gostaria de vos falar nesta manhã.
As notícias que temos sobre sua vida - não muitas - são deduzidas principalmente a partir do livro em que esta mulher gentil e piedosa recolheu o conteúdo de suas visões, intitulado "Revelações do Amor Divino". Sabe-se que ela viveu aproximadamente entre 1342 e 1430, anos turbulentos, tanto para a Igreja - dividida pelo cisma após o retorno do Papa de Avinhão a Roma - como para a vida das pessoas, que sofriam as consequências de uma longa guerra entre o reino da Inglaterra e o da França. Deus, porém, mesmo em tempos de tribulação, não deixa de gerar figuras como Juliana de Norwich, para convidar as pessoas à paz, ao amor e à alegria.
Como ela mesma nos narra, em maio 1373, provavelmente no dia 13 daquele mês, foi atingida de repente por uma doença gravíssima que, em três dias, parecia levá-la à morte. Depois de que o sacerdote, que foi até o seu leito, mostrou-lhe o crucifixo, Juliana não só recuperou a saúde imediatamente, senão que depois recebeu dezesseis revelações que registrou por escrito e comentou em seu livro, as "Revelações do Amor Divino".
E foi o próprio Senhor quem, quinze anos depois destes acontecimentos extraordinários, revelou-lhe o sentido as visões. "Queres saber o que o teu Senhor pretendia e conhecer o significado desta revelação? Vê bem: amor é o que Ele pretendia. Quem te revela isso? O amor. Por que te revela isso? Por amor... Assim, aprenderás que o nosso Senhor significa amor" (Juliana de Norwich, "Revelações do Amor Divino", cap. 86, Milão, 1997, p. 320).
Inspirada pelo amor divino, Juliana tomou uma decisão radical. Como uma antiga anacoreta, escolheu viver dentro de uma cela, colocada perto da igreja dedicada a São Juliano, na cidade de Norwich, que naquela época era um grande centro urbano, perto de Londres. Talvez ela tenha adotado o nome de Juliana precisamente por causa do santo ao qual estava dedicada a igreja junto à qual ela viveu por muitos anos, até sua morte.
Poderia nos surpreender e até mesmo nos deixar perplexos esta decisão de viver "reclusa", como se dizia em sua época. Mas ela não foi a única em fazer esta escolha:  naqueles séculos, um número considerável de mulheres escolheu esta vida, adotando regras elaboradas especificamente para elas, como a composta por São Elredo de Rievaulx. As eremitas ou "reclusas", em sua cela, dedicavam-se à oração, à meditação e ao estudo. Assim, amadureciam uma fina sensibilidade humana e religiosa, que as fazia ser veneradas pelo povo. Homens e mulheres de todas as idades e condições sociais, que necessitavam de conselho e consolo, procuravam-nas com devoção. Então, não era uma decisão individualista; precisamente esta proximidade com o Senhor, amadureceu nela a capacidade de ser conselheira para muitos, de ajudar os que viviam em dificuldade nesta vida.
Sabemos que Juliana também recebeu visitas frequentes, como testemunha a autobiografia de uma cristã fervorosa do seu tempo, Margery Kempe, que foi a Norwich, em 1413, para receber sugestões sobre a sua vida espiritual. É por isso que, quando Juliana estava viva, era chamada, como está escrito no túmulo que contém seus restos, "Madre Juliana". Ela tinha se tornado uma mãe para muitos.
Mulheres e homens que se retiram para viver em companhia de Deus, precisamente graças a essa decisão sua, adquirem um grande senso de compaixão diante dos sofrimentos e fraquezas dos outros. Amigas e amigos de Deus têm uma sabedoria que o mundo - do qual se afastam - não possui e, gentilmente, a compartilham com aqueles que batem à sua porta. Penso, portanto, com admiração e reconhecimento, nos mosteiros de clausura femininos e masculinos que, agora mais do que nunca, são oásis de paz e esperança, tesouro precioso para a Igreja inteira, em especial para lembrar a primazia de Deus e a importância da oração constante e intensa no caminho da fé.
Foi precisamente na solidão habitada por Deus que Juliana de Norwich escreveu as "Revelações do Amor Divino", que chegaram até nós em duas versões, uma mais curta, provavelmente a mais antiga, e outra mais longa. Este livro contém uma mensagem de otimismo, baseada na certeza de ser amados por Deus e protegidos pela sua Providência. Lemos no livro as seguintes palavras, belíssimas: "Vai com segurança absoluta... porque Deus, mesmo antes de nos criar, amou-nos com um amor que nunca diminuiu e que nunca vai desaparecer. E, nesse amor, Ele fez todas as suas obras; nesse amor, Ele fez que todas as coisas fossem úteis para nós; nesse amor, nossa vida dura para sempre... Nesse amor, temos nosso princípio e veremos tudo isso em Deus sem fim" ("Revelações do Amor Divino", cap. 86, p. 320).
O tema do amor divino volta com frequência nas visões de Juliana de Norwich, quem, com certa ousadia, não hesitou em compará-lo ao amor materno. Esta é uma das mensagens mais características da sua teologia mística. A ternura, a solicitude e a doçura da bondade de Deus para conosco são tão grandes, que nos remetem ao amor de uma mãe pelos seus próprios filhos. Na verdade, os profetas bíblicos às vezes também usaram a linguagem que lembra a ternura, a intensidade e a totalidade do amor de Deus, que se manifesta na criação e em toda a história da salvação e que tem seu ápice na Encarnação do Filho. Deus, no entanto, sempre supera todo o amor humano, como diz o profeta Isaías: "Acaso uma mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei!" (Is 49, 15). Juliana de Norwich entendeu a mensagem central para a vida espiritual: Deus é amor e só quando a pessoa se abre a Ele, completamente e com total confiança, e permite que Ele se torne o único guia da existência, tudo se transfigura, encontra-se a verdadeira paz e verdadeira alegria; e a pessoa se torna capaz de difundi esse amor ao seu redor.
Eu gostaria de salientar um outro ponto. O Catecismo da Igreja Católica retoma as palavras de Juliana de Norwich ao expor o ponto de vista da fé católica sobre um tema que continua sendo um desafio para todos os crentes (cf. n. 304-314). Se Deus é sumamente bom e sábio, por que existe o mal e o sofrimento dos inocentes? Também os santos, precisamente os santos, levantaram esta questão. À luz da fé, eles nos dão uma resposta que abre nossos corações à confiança e à esperança: nos misteriosos desígnios da Providência, Deus sabe extrair do mal um bem maior, como escreveu Juliana de Norwich: "Eu aprendi da graça de Deus que devia permanecer firme na fé e, portanto, devia crer firme e plenamente que tudo ia terminar bem..." ("Revelações do Amor Divino", cap. 32, p. 173).
Sim, queridos irmãos e irmãs, as promessas de Deus são sempre maiores do que as nossas esperanças. Se entregarmos a Deus, ao seu imenso amor, os desejos mais puros e mais profundos do nosso coração, nunca seremos decepcionados. "E tudo terminará bem", "tudo será para o bem": esta é a mensagem final que Juliana de Norwich transmite e que também eu vos proponho hoje. Obrigado.
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Queridos irmãos e irmãs:
No ano de 1342, nasceu Juliana de Norwich, santa que é venerada tanto pela Igreja Católica como pela Comunhão Anglicana. Inspirada pelo amor divino, que a ela se manifestou em dezesseis visões, escolheu a vida de anacoreta, totalmente dedicada à oração, à meditação e ao estudo. Vivendo assim na companhia e amizade de Deus, cresceu nela um grande sentido de compaixão pelas tribulações e fraquezas dos outros. Homens e mulheres de todas as idades e condições procuravam devotamente o conselho e o conforto de Juliana; e ela, de viva voz e por escrito, em todos sabia acender o otimismo fundado na certeza de sermos amados por Deus e protegidos pela sua Providência. Se entregarmos a Deus os desejos mais puros e profundos do nosso coração, nunca ficaremos desiludidos; no seu amor, tudo resulta para o nosso maior bem.
Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação amiga para todos vós. Da infinidade de coisas - tantas vezes duras - da vida, aprendei a elevar o coração até ao Pai do Céu, repousando no seio da sua infinita bondade, e vereis que as dores e aflições da vida vos farão menos mal. Com estes votos, desça sobre vós e vossas famílias a minha bênção apostólica.
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]

CATEQUESE DO PAPA: A UNIDADE NA PRIMEIRA COMUNIDADE CRISTÃ



CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 19 de janeiro de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos, a seguir, a catequese dirigida pelo Papa aos grupos de peregrinos do mundo inteiro, reunidos na Sala Paulo VI para a audiência geral.
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Queridos irmãos e irmãs:
Estamos celebrando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na qual todos os crentes em Cristo são convidados a participar da oração para dar testemunho da profunda ligação entre eles e invocar o dom da plena comunhão. É providencial que, no caminho para construir a unidade, a oração seja colocada no centro: isso nos faz lembrar, mais uma vez, que a unidade não pode ser um mero produto da ação humana; é sobretudo um dom de Deus, que implica um crescimento em comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Concílio Vaticano II diz: "Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para impetrar a unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados:  ‘Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles' (Mt 18,20)" (decreto Unitatis Redintegratio, 8). O caminho para a unidade visível entre todos os cristãos habita na oração, principalmente porque a unidade não é "construída" por nós, mas quem a "constrói" é Deus, vem d'Ele, do mistério da Santíssima Trindade, da unidade do Pai com o Filho, no diálogo de amor que é o Espírito Santo; e nosso esforço ecumênico deve se abrir à ação divina, deve ser invocação cotidiana da ajuda de Deus. A Igreja é d'Ele, não nossa.
O tema escolhido este ano para a Semana de Oração se refere à experiência da primeira comunidade cristã de Jerusalém, conforme descrita pelos Atos dos Apóstolos (ouvimos o texto): "Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" (Atos 2,42). Devemos considerar que, já no momento de Pentecostes, o Espírito Santo desce sobre pessoas de diversa língua e cultura: isso significa que a Igreja abraça desde o começo as pessoas de diversas origens e, no entanto, justamente a partir dessas diferenças, o Espírito cria um único corpo. Pentecostes, como o início da Igreja, marca a expansão da Aliança de Deus a todas as criaturas, a todos os povos e a todas as épocas, para que toda a criação caminhe rumo ao seu verdadeiro objetivo: ser lugar de unidade e de amor.
Na passagem citada dos Atos dos Apóstolos, quatro características definem a primeira comunidade cristã de Jerusalém como um lugar de união e amor, e São Lucas não quer apenas descrever um acontecimento passado. Ele no-lo mostra como um modelo, como padrão para a Igreja do presente, porque estas quatro características devem constituir a vida da Igreja. A primeira característica é ser unida na escuta dos ensinamentos dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração. Como mencionei, estes quatro elementos ainda são os pilares da vida de cada comunidade cristã e constituem um fundamento único e sólido sobre o qual a basear nossa busca da unidade visível da Igreja.
Antes de tudo, temos a escuta do ensinamento dos Apóstolos, ou seja, a escuta do testemunho que eles dão da missão, da vida, da morte e da ressurreição do Senhor Jesus. Isso é o que Paulo chama simplesmente de "Evangelho". Os primeiros cristãos recebiam o Evangelho diretamente dos Apóstolos, estavam unidos para sua escuta e sua proclamação, pois o Evangelho, como diz São Paulo, "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1, 16). Ainda hoje, a comunidade dos crentes reconhece, na referência ao ensinamento dos Apóstolos, a própria norma de fé: todos os esforços feitos para construir a unidade entre os cristãos passam pelo aprofundamento da fidelidade ao depositum fidei que recebemos dos Apóstolos. A firmeza na fé é a base da nossa comunhão, é o fundamento da unidade dos cristãos.
O segundo elemento é a comunhão fraterna. Na época da primeira comunidade cristã, bem como em nossos dias, esta é a expressão mais tangível, especialmente para o mundo exterior, da unidade entre os discípulos do Senhor. Lemos nos Atos dos Apóstolos - e o escutamos - que os primeiros cristãos tinham tudo em comum, e quem tinha bens e haveres, vendia-os para ajudar os necessitados (cf. At 2,44-45). Esta comunhão dos próprios bens encontrou, na história da Igreja, novas formas de expressão. Uma delas, em particular, é o relacionamento fraterno e de amizade construído entre cristãos de diferentes confissões. A história do movimento ecumênico é marcada por dificuldades e incertezas, mas é também uma história de fraternidade, de colaboração e de comunhão humana e espiritual, que alterou significativamente as relações entre os crentes no Senhor Jesus: todos nós estamos empenhados em continuar neste caminho. O segundo elemento é, portanto, a comunhão, que é acima de tudo comunhão com Deus através da fé, mas a comunhão com Deus cria a comunhão entre nós e se traduz necessariamente na comunhão concreta sobre a qual fala o livro dos Atos dos Apóstolos, ou seja, a comunhão plena. Ninguém na comunidade cristã deve passar fome, ninguém deve ser pobre: é uma obrigação fundamental. Comunhão com Deus, feita carne na comunhão fraterna, traduz-se em particular no esforço social, na caridade cristã, na justiça.
Terceiro elemento. Na vida da primeira comunidade de Jerusalém, também foi fundamental o momento da fração do pão, na qual o próprio Senhor está presente com o único sacrifício da cruz, em entrega completa pela vida dos seus amigos: "Este é o meu corpo entregue em sacrifício por vós... este é o cálice do meu Sangue... derramado por vós". "A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o coração do mistério da Igreja "(encíclica Ecclesia de Eucharistia, 1). A comunhão no sacrifício de Cristo é o ponto culminante de nossa união com Deus e, portanto, também representa a plenitude da unidade dos discípulos de Cristo, a plena comunhão. Durante esta semana de oração pela unidade, está particularmente vivo o lamento pela impossibilidade de partilhar a mesma mesa eucarística, um sinal de que ainda estamos longe de alcançar a unidade pela qual Cristo orou. Esta experiência dolorosa, que confere uma dimensão penitencial à nossa oração, deve se tornar uma fonte de um esforço mais generoso ainda, por parte de todos, visando a eliminar todos os obstáculos à plena comunhão, para que chegue o dia em que seja possível reunir-se em torno da mesa do Senhor, partir juntos o Pão eucarístico e beber todos do mesmo cálice.
Finalmente, a oração - ou, como diz Lucas, "as orações" - é a quarta característica da Igreja primitiva de Jerusalém, descrita nos Atos dos Apóstolos. A oração é, desde sempre, uma atitude constante dos discípulos de Cristo, que acompanha sua vida diária em obediência à vontade de Deus, como testemunham também as palavras do apóstolo Paulo, escrevendo aos tessalonicenses, em sua primeira carta: "Estai sempre alegres. Orai sem cessar. Dai graças a Deus em todos os momentos: isso é o que Deus quer de todos vós, em Cristo Jesus" (1 Tes 5, 16-18; cf. Ef 6,18). A oração cristã, participação na oração de Jesus, é por excelência uma experiência filial, como testemunham as palavras do Pai Nosso, a oração da família - o "nós" dos Filhos de Deus, dos irmãos e irmãs - que fala a um Pai comum. Estar em oração implica, portanto, abrir-se à fraternidade. Só no "nós," podemos dizer "Pai Nosso". Abramo-nos à fraternidade que deriva de ser filhos de um Pai celeste e, portanto, a estar dispostos ao perdão e à reconciliação.
Queridos irmãos e irmãs, como discípulos do Senhor, temos uma responsabilidade comum para com o mundo, devemos fazer um serviço comum: como a primeira comunidade cristã de Jerusalém, partindo do que já compartilhamos, devemos oferecer um testemunho forte, espiritualmente baseado e apoiado pela razão, do único Deus que se revelou e que nos fala em Cristo, para ser portadores de uma mensagem que oriente e ilumine o caminho do homem da nossa época, frequentemente privado de pontos de referência claros e válidos. É importante, portanto, crescer diariamente no amor mútuo, empenhando-nos em superar essas barreiras que ainda existem entre os cristãos; sentir que há uma verdadeira unidade interior entre todos aqueles que seguem o Senhor; colaborar, tanto quanto possível, trabalhando em conjunto sobre questões ainda abertas; e, acima de tudo, estar cientes de que, neste itinerário, o Senhor deve nos ajudar, tem de ajudar-mos muito ainda, porque sem Ele, sozinhos, sem "permanecer n'Ele", nada podemos fazer (cf. Jo 15,5).
Queridos amigos, mais uma vez, é na oração que nos encontramos reunidos - especialmente nesta semana -, junto a todos aqueles que confessam sua fé em Jesus Cristo, Filho de Deus: perseveremos nela, sejamos pessoas de oração, implorando de Deus o dom da unidade, para que se cumpra no mundo inteiro seu desígnio de salvação e de reconciliação. Obrigado!
[No final da audiência, o Papa cumprimentou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]
Queridos irmãos e irmãs:

Estamos celebrando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, cujo tema, neste ano, refere-se à experiência da primeira comunidade cristã, descrita nos Atos dos Apóstolos: "Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações" (At 2, 42). Aqui encontramos quatro características que definem a primeira comunidade e que constituem uma sólida base para a construção da unidade visível da Igreja: "Escutar o ensinamento dos apóstolos", ou seja, o testemunho da missão, vida, morte e ressurreição do Senhor; "a comunhão fraterna", isto é, dividir os próprios bens, materiais e espirituais; "a fração do pão" - a eucaristia - o ápice da nossa união com Deus e que representa a plenitude da unidade; e, finalmente, "a oração", que deve ser a atitude constante dos discípulos de Cristo. Com efeito, o caminho para a construção da unidade entre os cristãos deve manter no centro a oração: isso nos lembra que a unidade não é um simples fruto da ação humana, mas é, acima de tudo, um dom de Deus.
Amados peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! A todos saúdo com grande afeto e alegria, exortando-vos a perseverar na oração, pedindo a Deus o dom da unidade, a fim de que se cumpra no mundo inteiro o seu desígnio de salvação! Ide em paz!
[Tradução: Aline Banchieri.
© Libreria Editrice Vaticana]

O Valor infinito de um Sacrifício com sangue humano, a Santa Missa



                                                                                                    
Como uma introdução a reflexão que vamos fazer agora, vimos na catequese anterior o que é o verdadeiro Ecumenismo, fortalecendo assim, nossa Fé no Deus Uno e Trino; onde S. Paulo nos pede que sejamos sempre unidos, tendo: Uma só Fé, um só Batismo e um só Senhor (Ef 4,5). Com isso, estamos reafirmando a nossa crença Apostólica, que proclama, sem sombra de dúvida, a Obra de Deus Criador que veio se revelando aos poucos a humanidade (Jo 1, 1-14). Uma revelação Trinitária, conhecida sem nenhuma dúvida, em Jesus Cristo, concedido virginalmente, segundo a carne, por obra do Espírito Santo, nas entranhas de Maria sempre Virgem. E assim, vamos afirmando na doutrina Católica que:

Cremos que Deus se gerou e nasceu;
Cremos que Ele viveu uma vida simples e humana, mesmo sendo Divino;
Cremos que Ele manifestou-se em ações e palavras;
Cremos que Ele deu início e término de sua missão salvadora com uma Morte humana e uma Ressurreição divina, sem deixar em nenhum momento de ser Deus, nem Homem;
Cremos que Ele subiu por seu próprio poder ao Céu, lugar que nunca abandonou, mesmo sendo Deus-Homem aqui na terra;
Cremos que Ele julga os mortos, após a separação do espírito da matéria (Ef 4,4) e que julgará os vivos que estiverem no dia da sua segunda volta;
Cremos que Ele nos perdoou e perdoa através dos Sacramentos do Batismo, Confissão, Unção dos Enfermos;
Cremos que Deus Filho está presente na Hóstia e no Vinho Consagrado (Mc 14, 22-24/ Jo 6, 51-59/ Mt 26, 26-29/ 1Cor 11, 23-25) e que a Santa Missa é o mesmo Sacrifício de Cristo na Cruz, Único Sacrifício aceito e agradável a Deus;
Cremos que assim como Jesus Ressuscitou com seu corpo glorioso, assim também nós ressuscitaremos, onde a nossa morte é um encontro definitivo de nossa alma com Deus, mas, que o nosso corpo também se unirá ao nosso espírito para a segunda volta de Cristo (1Tes 4, 16-17), onde, logo após o julgamento dos vivos e a reafirmação da sentença dos mortos, reinaremos eternamente com Jesus na Jerusalém celeste;
Cremos que a Igreja Católica fundada por Jesus sobre Pedro (Mt 16,18), os Apóstolos e os profetas (Ef 2,20) é o grande Sacramento da Salvação, que Ele instituiu para ministrar (distribuir) os Sete Sacramentos ao seu povo;
Cremos que a só Ela é o Corpo de Cristo (1 Cor 12,28). Só ela é a Arca de Noé que abriga do dilúvio do pecado. Que os Sete Sacramentos foram todos instituídos por Jesus para salvar o homem;
Cremos que entramos pelo Batismo e permanecemos até o final da nossa vida terrena, em comunhão com os Santos, onde eles estão na glória preparada por Deus (Jo 14, 3) e que rezam por nós (Ap 8,4) diante do Trono do Altíssimo;
Cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, onde “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para argumentar, para corrigir, para encaminhar na justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e instruído para toda classe de obra boa” (2Tm 3,16-17).
            Mas, a fé não deve ser somente professada e recordada, senão celebrada no Sacrifício oferecido pela Igreja ao Esposo e na celebração dos Sacramentos. Professamos nossa Fé com o Credo Apostólico que contem o que Deus, progressiva e pedagogicamente revelou em sua “economia salvífica”: a Criação e o mistério de seu Ser, “a plenitude dos tempos” (Gl 4,4) com a obra de Deus Filho, a efusão do Espírito Santo em Pentecostes como início do tempo da Igreja caminhando até a sua consumação (Mt 28,20) no Reino de Deus.
Por isso, nossa Fé deve ser celebrada na Liturgia mediante as palavras e ações sagradas com as que a Igreja, Povo de Deus e Esposa de Jesus Cristo, louva a Deus Pai por meio de seu Filho Jesus Cristo na força do Espírito Santo.








                                      A Missa


A Santa Missa deve ocupar um lugar por excelência na vida de cada Cristão! Porque é através da participação da Missa que vamos antecipando o Céu em nossa vida. Isso a Igreja nos ensina, assim devemos crerA excelência principal do Santo Sacrifício da Missa deve ser considerada, sem dúvida nenhuma, como essencial e absolutamente o mesmo oferecido na Cruz no alto do Calvário, com esta única diferença:
O sacrifício da Cruz foi com todo o Sangue inocente de Jesus, e não o ofereceu mais de que uma vez, satisfazendo plenamente o Filho de Deus, com esta oferta única, para todos os pecados do mundo;
Na Missa, o sacrifício do altar é o mesmo realizado na Cruz, mas, com uma diferença: é o sacrifício sem sangue, que pode ser renovado em cada lugar, tempo, língua e povo. Jesus, além de instituir a Igreja Católica, lhe dar o Mandamento Novo do amor e uma Aliança Nova (Mt 26,28), sinal de união da alma com Deus na hora do Santo Sacríficio. Por isto, quando participamos da Santa Missa com devoção, estamos ao pé da Cruz com Maria, João e as Santas Mulheres (Jo 19, 25). 
Assim, o Sacrifício feito com o Sangue de Deus Filho humanado, foi o instrumento da nossa redenção. Na Santa Missa, acontece um sacrifício sem derramamento do Sangue, mas, uma transformação da substância de vinho em sangue, onde nos dá a posse, e um o valor igual e perfeito, do que aconteceu no Calvário. A Santa Missa derrama sobre aqueles que dela participam, um tesouro inesgotável de méritos infinitos do nosso Divino Salvador. E nos permite usá-los, colocando-os em nossas mãos. 
A Santa Missa, então, não é simplesmente uma representação recordação apenas da Paixão e Morte do Redentor, mas uma real e verdadeira atualização do Sacrifício que foi feito no Calvário e, assim, podemos verdadeiramente dizer que o nosso Divino Salvador, em cada Missa a ser celebrada, misticamente renova sua Morte e Ressurreição por cada um de nós.
Demos graças a Deus porque Ele nos dar permissão de nos envolvermos, de uma forma especial, no Mistério que se realiza sobre o altar, onde realmente renovado, ainda que de incruento, o mesmo Sacrifício que foi feito na Cruz com derramamento de sangue. O mesmo organismo, o mesmo sangue, o próprio Jesus foi oferecido no Calvário e nos é oferecido do mesmo modo na Santa Missa.
Muitos podem se perguntar: Qual é o centro de toda a Liturgia da Igreja Católica, já que se têm os sacramentos, devoções e etc.?
O centro da Liturgia da Igreja é a Eucaristia! Ela é o centro de toda a Liturgia e de toda a ação sacramental da Igreja. A “Ceia do Senhor”, memorial de sua Paixão salvadora, atualiza com a mesma presença do Senhor Ressuscitado todos os bens salvíficos. É causa desse grandioso tesouro que santificamos o Domingo (Ap 1,10), dia em que Cristo ressuscitou, para ser neste dia semanal a nossa festa principal, em que somos convidados a participar da Eucaristia, recordando constantemente a Paixão, Ressurreição e Ascensão de Jesus. Dia em que glorificamos a Trindade, descansamos de nossos trabalhos e recarregamos a nossa bateria espiritual para todos os dias da semana. Realizamos assim, a nossa Páscoa semanal.  
Que aprendamos com os Santos a forma, o gosto e comportamento piedoso de participar da Missa com infinito amor! Se aceitarmos com todo o nosso coração, todos os artigos de Fé que está contido em nosso Catecismo, não nos falta mais nada em nossa Vida Espiritual.