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quarta-feira

Carta por ocasião da comemoração dos cinquenta anos da Sacrosanctum Concilium


Aos coordenares da EPL,
Organizadores de celebrações,
Todos os que amam a Sagrada Liturgia.

Hoje, queremos começar a nossa conversa agradecendo-te, para que você veja que seu trabalho é super importante! Tudo o que escreverei aqui será para recapitular, fomentar e quem sabe, ensinar alguma coisa que diz respeito ao seu serviço prestado aos irmãos na fé. É muito bom saber que existem cristãos católicos que amam preparar, rezar e viver a Sagrada Liturgia em nossa comunidade paroquial. Deus seja louvado pelo teu empenho meu(minha) irmão(ã) no meio de nós! Ele é valiosíssimo diante do Senhor e de toda a nossa comunidade paroquial. Você é um colaborador(a) direto(a) do nosso pároco e dos vigários em nossa paróquia. As vezes os nossos encontros organizados, servem apenas para aprender, discutir e preparar as nossas celebrações e nos esquecemos de agradecer a você por este serviço tão especial no Reino de Deus.
Partirei dos pontos fundamentais que estudamos no último encontrão de Liturgia, deste a espiritualidade litúrgica às disposições de cada parte da Santa Missa. Estamos vivendo um tempo de graça na Igreja com o Ano da Fé. A 50 anos atrás aconteceu em nossa Igreja um novo Pentecostes com o Concílio Vaticano II, ali vimos a ação do Espírito Santo que faz novas todas as coisas (Ap 21, 5), suscitando no coração da Sociedade perfeita (Igreja Católica) reflexões novas para um tempo novo. Podemos afirmar com os mais renomados teólogos do nosso tempo que no Vaticano II não houve uma ruptura da história litúrgica da Igreja, mas uma continuidade na descontinuidade. As interpretações sobre o Concílio Vaticano II não tardou em começar, muito antes mesmo dos Documentos concluídos saírem. À luz desde Documentos, surgiram interpretações maravilhosas, pena que muitas foram equivocadas, deturpando certos pontos fundamentais que os textos do Vaticano II queriam dizer de verdade, causando um sério dano na Igreja, principalmente em questões litúrgicas. É por isto que devemos correr contra o tempo para entender o que verdadeiramente a Igreja nos disse nos Documentos do Vaticano II, deixando os achismos e os pensamentos particulares à cerca de certos pontos que nós os consideremos importantes na Sagrada Liturgia. Para isto devemos voltar as fontes!  
Vamos passar por algumas citações muito delicadas, mas terei a oportunidade, de com vocês, medita-las e redirecionar certos passos em nossa caminhada eclesiológica-litúrgica. Queremos deixar claro que toda equipe de liturgia tem um papel maravilhoso! Papel este que serve para preparar objetos, lugares e pessoas que farão visível a manifestação de Deus na Igreja.
Escrevi esta carta enumerando-a para que você leia aos poucos, medite, reze, sublinhe, escreva e se não entender alguma coisa, responda com suas dúvidas ou críticas a alguns dos pontos apresentados aqui. O meu email pessoal é o josewilson.fabricio@gmail.com faça dele um instrumento de comunicação entre nós.
Repito, muito obrigado por tudo! Aqui eu falo da Liturgia porque eu gosto muito. Dediquei muitos momentos da minha vida a ela para que conhecendo-a, possa viver amando-a. 2013 é o ano jubilar da Sacrosanctum Concilium, onde este Documento completa 50 anos em que foi publicado. Podemos dizer assim que este ano será o Ano da Liturgia. Muita coisa será publicada por esta ocasião. Eu, já estou me antecipando para fazer desse acontecimento o meu ponto de orientação neste encontro que vamos ter agora.

Espiritualidade Litúrgica

01.  O povo de Deus ainda procura por homens e mulheres da Igreja que são amigos íntimos de oração, da devoção, da Sagrada Escritura, da Eucaristia, da modéstia no agir e no vestir, do amor a Nossa Senhora e dos Santos. A Igreja tem mais necessidade de sacerdotes, religiosos consagrados, leigos santos e zelosos, do que de pessoas doutas e insensíveis, para com as coisas Sagradas de Deus. O desrespeito ao que é sagrado já está presente em muitas comunidades eclesiais. Para as pessoas insensíveis, participar do Santo Sacrifício da Missa ou de qualquer rito sacramental é igualado a qualquer evento social, ou a um teatro em que da parte do padre haverá um show de humor, de música e de perguntas e respostas na hora da homilia; e da parte das equipes litúrgicas um show de criatividade, animação, dança e teatro que alegrarão a “galera”.

02.  Lamentavelmente a Liturgia é vítima de quem a promove. A grande preocupação que devemos ter, como equipe de liturgia é de não permitir que o ritual da Santa Missa perca a sua essência, porque é nele que experimentamos a manifestação de Deus. Quando dona criatividade entra na liturgia corremos o risco de se auto-celebrar, deixando de celebrar o rito de Igreja, Esposa de nosso Senhor Jesus Cristo. O rito da Missa não está para ser modificado, mas para ser executado em espírito de obediência a Igreja. Este amor não é matéria de ensino, nem de prescrição, mas é coisa prática. Não adianta falar bonito de Deus, se a ação litúrgica na hora do culto não é dele, mas das pessoas que estão a frente de nossas celebrações.


03.   Participando de um encontro formativo em uma casa carmelitana, li uma frase que estava escrita na parede de um salão que mexeu profundamente comigo, fazendo-me pensar sobre a santidade na vida da Igreja. Este escrito remetia a Santa Terezinha que, recordando de seus pais, disse: “Bastavam olha-los para saber como rezam os santos”. Agora, faço uma pergunta a todos: será que as nossas celebrações preparadas com tantas dinâmicas, procissões, roupas coloridas, danças, teatros, objetos nos pés dos nossos altares, ritmos e gestos pertencem ao depósito litúrgico da Igreja? Cada coisa inventada que são extramanhas ao ritual da missa levam os nossos irmãos a um encontro com Deus em cada ato litúrgico que participamos?

04.  Repito, estamos dentro das festividades dos cinquenta anos da abertura do Concílio Vaticano II, rezemos com mais intensidade para que aquilo que foi impresso na SACROSANCTUM CONCILIUM deixe de ser verdade escrita, para ser verdade vivida por todos os batizados: “Cristo está sempre presente em sua Igreja, e especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agora se oferece pelo ministério sacerdotal é o ‘mesmo que, outrora, se ofereceu na cruz’, como sobretudo nas espécies eucarísticas”.   (num. 7)   

05.  O Espírito Santo no Concílio chamou a todos os ministros ordenados a viverem conforme o que acabamos de ler. A assimilação dessas palavras são necessárias para a glorificação de Deus e a edificação da Igreja. Conta-se na vida do Beato Frederico de Ratisbona que ele exultava de alegria ao ornamentar os altares, procurando o decoro do recinto sagrado. Para ele a beleza externa da casa de Deus edificava a beleza interna nos corações das almas. Com esta atitude, Frederico proporcionava um encontro piedoso dos filhos com o Pai que, em nossos sacrários, vive para as suas criaturas. Provocando assim nos consagrados ao Senhor uma vivência mais radical no chamado.

06.  Os Santos nos fazem tremer ao tratarem dos prejuízos que podem acarretar o estado da insensibilidade para com o sagrado e a tibieza na fé! Santo Afonso usa de expressões candentes quando se fala sobre o amor pela vida em Deus, usando este argumento: “Há pessoas que, pela sua própria condição, estão obrigadas a uma vida de santidade, a saber, os sacerdotes, os religiosos e as religiosas”. Ele mesmo narra que declarou um dia Nosso Senhor a Santa Ângela de Foligno que: “Aqueles que Eu ilumino para trilharem o caminho da perfeição, e treinam em seguir a via ordinária, serão por mim abandonados”. (Selva Predicab. cap. V: Cap. V e VI: Del pericolo d’una religiosa imperfetta)

07.  A liturgia não é um espetáculo, um espetáculo que necessite de realizadores geniais nem de atores de talento. A liturgia não vive de surpresas “simpáticas”, de ideias “cativantes”, mas de repetições solenes, não deve exprimir a atualidade e o efêmero, mas o mistério do Sagrado. Foram muitos os que pensaram e disseram que a liturgia deve ser “feita” por toda a comunidade, para que seja verdadeiramente sua. Trata-se de uma visão que conduziu a que o seu “sucesso” passasse a ser avaliado em termos de eficácia espetacular, de entretenimento. Deste modo, porém, perdeu-se o proprium litúrgico, que não deriva daquilo que nós fazemos, mas daquilo que aqui acontece. Uma coisa que nós, em conjunto, não podemos de fato fazer.

08.  Na liturgia opera uma força, um poder que nem sequer toda a Igreja pode outorgar-se: aquilo que aí se manifesta é Algo completamente diferente que, através da comunidade (que, como tal, não é senhora, mas serva, mero instrumento) chega a nós. Para os católicos, a liturgia é a Pátria comum, a própria fonte da sua identidade: também por esta razão deverá ser “predeterminada”, “imperturbável”, porque através do ritual manifesta-se a Santidade de Deus. Ao invés, a revolta contra aquela que foi chamada a “velha rigidez rubricista”, acusada de limitar a “criatividade”, veio envolver também a liturgia na voragem do “faça você mesmo”, banalizando-a, porque a colocou ao nível da nossa medíocre medida”.


09.  Qualquer reflexão sobre a liturgia que levante alguma objeção a certos aspectos de aplicação da reforma pós-conciliar está destinada a enfrentar uma oposição acérrima por parte dos liturgistas. É-se imediatamente carimbado de “tradicionalista”, “lefebvriano”, “anticonciliar”. O importante é que cada geração tem o dever de melhorar e aproximar mais a liturgia do espírito das suas origens à luz do Concílio Vaticano II. E creio que hoje em dia há efetivamente motivo para trabalhar muito este aspecto, e “reformar a reforma” litúrgica distorcida que existem em muitas de nossas comunidades..

10.  A Santa Missa deve ocupar um lugar por excelência na vida de cada Cristão! Porque é através de sua participação que vamos antecipando o Céu. Isso a Igreja nos ensina, assim devemos crer.  A excelência principal do Santo Sacrifício da Missa deve ser considerada, sem dúvida nenhuma, como essencial e absolutamente, o mesmo oferecido na Cruz no alto do Calvário, com esta única diferença: O sacrifício da Cruz foi com todo o Sangue inocente de Jesus, e não o ofereceu mais de que uma vez, satisfazendo plenamente o Filho de Deus, com esta oferta única, para todos os pecados do mundo; Na Missa, o sacrifício do altar é o mesmo realizado na Cruz, mas, com uma diferença: é o sacrifício incruento, que pode ser renovado em cada lugar, tempo, língua e povo. Jesus, além de instituir a Igreja Católica, lhe dar o Mandamento Novo do amor e uma Aliança Nova (Mt 26,28), sinal de união da alma com Deus na hora do Santo Sacrifício. Quando participamos da Santa Missa com devoção, estamos ao pé da Cruz com Maria, João e as Santas Mulheres (Jo 19, 25).

11.  O Sacrifício feito com o Sangue de Deus Filho humanado, foi o instrumento da nossa redenção. Na Santa Missa, acontece um sacrifício sem derramamento do Sangue, mas, uma transformação da substância de vinho em sangue, onde nos dá a posse e um o valor igual e perfeito, do que aconteceu no Calvário. A Santa Missa derrama sobre aqueles que dela participa, um tesouro inesgotável de méritos infinitos do nosso Divino Salvador. E nos permite usá-los, colocando-os em nossas mãos. 

12.  A Missa, então, não é simplesmente uma representação, recordação apenas da Paixão e Morte do Redentor, mas uma real e verdadeira atualização do Sacrifício que foi feito no Calvário e, assim, podemos verdadeiramente dizer que o nosso Divino Salvador, em cada Missa a ser celebrada, misticamente renova sua Morte e Ressurreição por cada um de nós.

13.  Demos graças a Deus porque Ele nos dar permissão de nos envolvermos, de uma forma especial, no Mistério que se realiza sobre o altar. O mesmo organismo, o mesmo sangue, o próprio Jesus foi oferecido no Calvário e nos é oferecido do mesmo modo na Santa Missa. Muitos podem se perguntar: Qual é o centro de toda a Liturgia da Igreja Católica, já que se têm os sacramentos, devoções e etc.?

14.  O centro da Liturgia da Igreja é a Eucaristia! Ela é o centro de toda a Liturgia e de toda a ação sacramental. A “Ceia do Senhor”, memorial de sua Paixão salvadora, atualiza com a mesma presença do Senhor Ressuscitado todos os bens salvíficos. É causa desse grandioso tesouro que santificamos o Domingo (Ap 1,10), dia em que Cristo ressuscitou, para ser neste dia semanal a nossa festa principal, em que somos convidados a participar da Eucaristia, recordando constantemente a sua Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus. Dia em que glorificamos a Trindade, descansamos de nossos trabalhos e recarregamos as nossas baterias espirituais para todos os dias da semana. Realizamos assim, a nossa Páscoa semanal.

15.  A verdadeira educação litúrgica não pode consistir na aprendizagem nem no exercício de atividades exteriores, mas na introdução do poder transformador de Deus, que, através do acontecimento litúrgico pretende transformar a nós e ao mundo. Neste aspecto, a educação litúrgica dos sacerdotes e dos leigos deve melhorar à luz das orientações da Igreja presentes nos Documentos, na Doutrina e na Tradição da Igreja.


16.  Aprendamos com os Santos a forma, o gosto e comportamento piedoso de participar da Missa com infinito amor! Se aceitarmos com todo o nosso coração, todos os artigos de Fé que está contido em nosso Catecismo, não nos falta mais nada em nossa Vida Espiritual.

17.  A fé nô-lo ensina, e, portanto, somos obrigados a crer, que Jesus Cristo está realmente na Hóstia Consagrada. Temos ali, em verdade, Jesus, o Filho de Deus, como está no Céu, oculto embora sob as sagradas espécies.
Nosso Senhor reside sobre os nossos altares, como sobre um trono de amor e de misericórdia, esperando, convidando e acolhendo os que O visitam, para lhes dispensar Graças e favores celestiais. Por este fato estupendo devemos velar pela dignidade de nossas capelas do Santíssimo, pelos recintos sagrados; tanto na parte material, como espiritual.

18.  Além disso, estando Nosso Senhor, como está nesse Sacramento, abandonado e desprezado da maior parte dos homens, compreende-se quanto lhe será agradável a visita assídua das almas fiéis e agradecidas. Será esta a razão por que a Santa Igreja cercou sempre o Santíssimo Sacramento de tantas honras e dos esplendores do culto divino. Grandes altares foram construídos em nossas igrejas antigas. De vários santos conta-se, que encontravam o seu encanto, o seu repouso, o seu Paraíso na presença de Jesus na Eucaristia.  E isto é a pura realidade, pois Santo Ezequiel Moreno, conhecido como o Santito Ezequielito pelos colombianos, passava diariamente, cerca de seis horas, diante do Sacrário na presença de Deus. Sinto-me feliz em conhecer algumas das casas que esse santo viveu na Colômbia. Será que as disposições em que estão divididos os recintos sagrados de nossas comunidades nos leva a rezar? A nossa equipe de liturgia tem cuidado para que estes lugares sejam conservados? Principalmente a sacristia sofre com a falta de respeito por parte de muitos que ali ficam, antes e depois das missas para fazerem dali um lugar reservado para a conversa da elite da igreja.

19.  Quando estamos diante do Sacrário, estamos diante do Centro de nossa fé, o Sagrado Coração de Jesus. O coração é o centro do homem. O Coração de Jesus é o Tesouro de Deus, entregue a cada um de nós. Sabemos que a mãe é a responsável em cuidar e alimentar os filhos até quando ele se tornar independente em tudo. A nossa Mãe, a Igreja, nos alimenta daquilo que é a sua vida mesma aqui na Terra, a Eucaristia! Já pronunciou solenemente o servo o Bem Aventurado João Paulo II que, a Igreja Vive da Eucaristia. Ela vive do Sagrado Coração de Jesus. É do Sacrário que saem raios restauradores e miraculosos sobre aquele que de dele se aproxima. Olhai o Sacrário e vereis as vestes do Cristo, abri o Sacrário e vereis o Coração de Cristo. E para melhor meditarmos e nos deleitarmos dessa maravilha sacramental, Santo Afonso Maria de Ligório nos escreve: “Por toda parte, onde se achar o corpo, aí se reunirão as águias” (Mt 24,28). “Por este corpo os Santos entendem comumente o de Jesus Cristo; e pelas águias entendem as almas desapegadas, que se elevam, como estas aves, acima das coisas da Terra e voam para o Céu, para onde têm a sua morada contínua. Estas almas ainda na Terra têm o seu Paraíso, onde quer que encontrem o Santíssimo Sacramento, e parece que nunca se lhes sacia o desejo que sentem de ficar na sua presença. Quando as águias – diz São Jerônimo – percebem de longe a presa, logo se lançam para tomá-la. E nós com quanto maior ardor não devemos correr para o mais precioso alimento de nossas almas! Por isso, neste vale de lágrimas, os Santos sempre correram com avidez, como cervos sequiosos, para Jesus Sacramentado, como cervos sequiosos, para esta fonte celeste.”

20.  A liturgia é o culto da Igreja. O culto é essencialmente honra – manifestação da excelência divina; reverência – protestação da submissão interior da criatura à superioridade e domínio de Deus. Ela tem como finalidade específica quatro vias:
Adoração O adorador cala-se, funde-se, apaga-se, abisma-se na presença do ser que adora, confessando que o objeto do seu culto tem todas as perfeições, todos os direitos, todo o ser enfim; de tal modo que, comparado com Ele, tudo o mais é como se não existisse. 

Ação de graças Os agradecimentos das criaturas são os elos de ouro que vão encadeando num rosário sem fim os inúmeros dons da liberalidade divida.

Impetração Inclinado, dobrado diante da Majestade divina, o homem pede. A sua súplica é a confissão da própria indigência e o reconhecimento da munificência de um Deus benfeitor.

Propiciação O homem pecou. A sua culpa exasperou a divindade. Então, o sacrifício é sua reconciliação com Deus.

21.  Mas o rito da missa não é apenas o ato principal da liturgia; mas é o ato central. Qual luz cintilante que, encerrada numa urna de alabastro, da relevo aos contornos do vaso, a missa, colocada no centro da Religião, como o altar no ponto de encontro de todas as linhas arquiteturais do templo, esclarece todos os seus elementos, desde as mais elevadas verdades do dogma até às práticas mais humildes da moral.

22.  Em volta do Santo Sacrifício da Missa gravita a Oração oficial da Igreja, erguendo-se ao céu em suaves ondulações, em ascendentes espirais de louvor; desenrolam-se, num ciclo admirável, a Encarnação a Redenção, a Eucaristia, a Igreja, a graça, todas as verdades sobrenaturais – sublimes manifestações do Sacrifício, pois a verdade é o fulgor da sua chama.

23.  O que precisamos entender é que não existe e nem haverá outro meio pelo qual conseguiremos viver em plena comunhão com Deus, a não ser pelo meio do santo Sacrifício da Missa, momento especial onde somos nutridos de todas as formas para permanecermos em plena comunhão com Ele.

24.  No sacrifício fazemos uma oferenda de algo a Deus, uma vez oferecida, a coisa cessa de pertencer ao homem; e o instinto do homem não tarda em descobrir-lo. É a inutilização da oferta – cremação duma substância sólida, efusão dum líquido, morte de um animal.

25.  A diferencia entre o Santo Sacrifício da Missa e um sacrifício pagão, está aqui: aonde existia um animal oferecido a divindade para ser sacrificado, está o próprio Deus Filho que faz as vezes do cordeiro. Ele se torna Sacerdote, Altar e Cordeiro. Por isso que a Santa Missa é o ato principal de toda liturgia, em que tudo converge a Deus, Princípio e Fim de todas as coisas, visíveis e invisíveis.

26.  Os sacrifícios da Lei Antiga eram renovados sem cessar, por ser insuficientes para aplacar a Divindade ofendida e santificar a humanidade pecadora. A Vítima imolada na Cruz em substituição condigna e superabundatemente, realizou de uma só vez o que não podiam os sacrifícios tão multiplicados da religião mosaica. O Sacrifício de Jesus é portanto um Sacrifício único (Hb 9, 28).

27.   Este Sacrifício domina todos os tempos; abraça todas as gerações; é eterno. Não, por certo, no sentido de que a sua oblação dura toda a eternidade, pois é um ato e, como tal, transitório, temporal; mas quanto aos seus efeitos são eternos. Servem para a glória de Deus e a salvação das almas.

28.  Cristo se revestiu de nossa humanidade e penetrou no Santo dos Santos do céu, em virtude do seu próprio Sangue; apareceu diante do Pai com cicatrizes das suas chagas, único vestígio de sofrimento naquela mansão da felicidade, e está no trono do céu como um Cordeiro imolado, mas vivo (Ap 5, 6-14) – exercendo as funções do seu Sacerdócio eterno (Hb 7, 24).

29.  Se é verdade que o Sacrifício único e eterno do Calvário resgatou e santificou toda a humanidade, deve acrescentar-se que esta redenção e santificação foram operadas só em potência, em raiz. Para que os frutos do Sacrifício da Cruz possam aproveitar a cada um dos membros da humanidade, na série dos tempos, é preciso que lhe sejam aplicados. Esta aplicação faz-se por meio dos Sacramentos e do Santo Sacrifício da Missa.

A necessidade de uma expiação
30.  Podemos até afirmar que a repetição do termo sacrifício pode ser cansativo, mas não existe outra palavra que explique melhor o que é na realidade o único Culto agradável a Deus, pois só a Santa Missa é o prolongamento e renovação da Cruz, onde se torna para todos nós batizados em nome da Trindade Santa, conveniente e até necessário. Só a Santa Missa é por excelência um ato de Culto completo que aplica em seus participantes os merecimentos de Jesus.

31.  Quando o Concílio de Trento, anatemizou a doutrina protestante, declarou que a Missa é verdadeiro e propriamente um sacrifício.   


O sacrifício de Melquisedec
32.  David, anunciando o Messias chama-o de “Sacerdote para sempre segundo a Ordem de Melquisedec (Sal 109,4). Ora, se o sacerdócio é essencialmente orientado para o sacrifício (Hb 8, 3) – a ordem do sacerdócio derivará da ordem do sacrifício. Portanto, a forma e o rito da oblação de Melquisedec deve prefigurar o Sacrifício de Jesus Cristo, o qual sacrificará eternamente da mesma maneira de Melquisedec. O Gênesis 14, 18 diz que o Sacrifício de Melquisedec constituiu na oblação do pão e do vinho. Por conseguinte um Sacrifício análogo será oferecido por Jesus Cristo durante todos os séculos. É o Sacrifício do Altar.

Santa Missa, profecia de Malaquias
33.  Malaquias anunciou de maneira mais explícita o sacrifício eucarístico no seu livro no capítulo I, 10-11. Segundo o ensino unânime dos Santos Padres e a doutrina do Concílio de Trento, este texto prediz a celebração perpétua e universal do Sacrificio da Missa. Com efeito, Malaquias profetiza em primeiro lugar a cessação do culto mosaico. Os sacerdotes da tribo de Levi desagradaram a Javé pela irreverência e negligência como exerciam o santo ministério, e por isso a vontade de Deus os desaprovava e não queria aceitar as oblações das suas mãos. Mas o motivo principal porque Deus rejeita as oferendas dos levitas é anunciado por Malaquias em segundo lugar: a aparição de um novo culto.

Jesus Cristo, Autor do Sacrifício Eucarístico
34.  Ao instituir a Eucaristia, indicou claramente pelas palavras a realidade do Sacrifício. É o próprio Jesus que afirma: seu corpo “será dado por vós” (Lc 22, 19), e do seu Sangue: entregue por vós? (Mt 26, 28). Por ser a Santa Missa o momento em que escutamos a Deus e um sacrifício atualizado que se oferece nos altares da Igreja é unicamente a reprodução do ato de entrega de Jesus, instituído por ele mesmo, segundo as suas próprias palavras (Lc 22, 19).

Associação dos fiéis ao Santo Sacrifício
35.  Todos os fiéis, em virtude do caráter batismal, se tornam participantes do sacerdócio de Cristo e aptos para receber os frutos do Sacrifício ao qual se associam pelas suas oblações e imolações.  Sendo assim, o homem tem por obrigação de reconhecer que ele tem nada de si mesmo; tudo recebe de Deus para usos breves de seus dias terrenos. A Santa Missa se torna necessidade do homem para se reconciliar com Deus, gerando uma disposição para os demais sacramentos e um Sacrifício satisfatório ao Senhor Uno e Trino. Os fiéis devem, por conseguinte, revestir-se dos sentimentos de Jesus (Fil 2,5) e unir as suas imolações quotidianas à imolação de Jesus na Cruz e às imolações passadas dos Santos, para completar em certo modo a obra redentora da Paixão de Jesus. É justamente isto que pede a Igreja na oração da solenidade da SS. Trindade.


Espaço sagrado, apresentações musicais e danças dentro da Missa.
36.  O que passa nos últimos dias é que, querem mudar o espaço sagrado, tirando a mística sacrifical e transformando-o em um ambiente protestantizado, onde não há mais lugar silencioso que convide a oração, catequese visual com as sagradas imagens; chegando ao extremo de banir a imagem o crucificado dando lugar ao ressuscitado. Claro, celebrar é momento de festa também, por isso que cantamos o glória e o aleluia na aclamação ao Evangelho, mas a centralidade da Missa é o Sacrifício de Cristo.

37.  A forma de entender a Missa está tão distorcida, que ela está sendo utilizada como um ato de encontro qualquer, momentos de shows religiosos, apresentações de artistas, bailes de louvores, causando um verdadeiro desvio teológico pelos próprios (alguns) sacerdotes ou grupos de liturgias. Fazendo da Missa uma reunião social de final de semana, onde algumas pessoas que se dizem “entendidas em liturgia” pensam que o Vaticano II foi apenas a oportunidade que se deu para “inculturar a liturgia”, desvirtuando totalmente o verdadeiro significado da palavra inculturação. Apenas transformam a Liturgia da Igreja em “liturgias”, criando ritos próprios de missas tais como: sertaneja, nordestina, criola, africana, americana, indiana, caribenha, etc.

38.  Atenção! Não existe missa temática, nem inculturada! Não existe missa nordestina! Mas os nordestinos com seus instrumentos regionais e sua forma de experimentar o sagrado celebra a liturgia. Não existe missa sertaneja, mas os sertanejos com seus instrumentos regionais, sua forma de cantar, de viver a vida celebra a liturgia. Não existe missa afro, mas o africano em seu país de origem com seus instrumentos próprios, seus ritmos próprios, seu modo de viver, celebra a liturgia, etc. Agora, se um paulista se vestir como se veste o nordestino, querer imitar o sotaque nordestino, querer tocar os instrumentos nordestinos e celebrar como os nordestinos “porque isso é cultura”! É considerado pelo povo nordestino como uma pessoa que insulta o seu povo que tem seu jeito próprio de viver de Deus. Culturalmente, é considerado uma afronta ao nordestino e um pecado contra a sagrada liturgia. O mesmo se aplica a missas sertanejas, africanas, criolas, gauchas, etc. Estas missas temáticas ou inculturadas, preparadas por povos que não fazem parte daquela cultura, daquela região e daquele povo, transformam-se em momentos de danças extravagantes, profanas e o pior de tudo, totalmente fora do sentido celebrado. Você acha bonita uma missa sertaneja? Vá participar com o sertanejo da missa que eles estão celebrando! Para eles isto sim é inculturação da sagrada liturgia! Vivem com a sua cultura o sagrado. Isto é lindo! É maravilhoso ver como os gaúchos com suas roupas típicas, seu jeito próprio de celebrar! Mas, seu eu querer imitar isso lá no nordeste, só porque achei bonito, os próprios gaúchos irão reclamar da minha imitação barata deles, porque eu não sou gaucho! É isto que eu quero que vocês entendam!

39.  Outra coisa que devemos ter muito cuidado é com as teologias que estão presentes em nossa sociedade religiosa. Quero destacar a teologia da prosperidade pentecostal, que já está presente na mentalidade de organizadores de celebrações, onde afirmam que o sofrimento é obra do diabo e que Cristo já pagou uma vez por todas pela sua morte os nossos sofrimentos. O pare de sofrer já não deve fazer parte das homilias em nossa Igreja brasileira. Ouvi em um encontro de religiosos em 2011, da boca de uma irmã de uma congregação que fabricam subsídios de liturgia no Brasil que: “não devemos encher as igrejas de tranqueiras (as sagradas imagens), nem colocar o crucificado, mas o ressuscitado porque essa história de ver missa como morte e ressurreição de Cristo já passou ... o importante no templo não é o sacrário, pois não tem sentido fazer reverência, nem genuflexão para ele, porque Jesus está no altar, ele é o altar, por isso não se deve se preocupar com capela de Santíssimo”.   Eu não vou falar o nome dela aqui, usarei da caridade. Apenas a questionei-a sobre o erro que ela acabara de pronunciar, mostrando aos presentes no encontro que não era assim, pois o altar tem seu valor, mas o sacrário também. Ambos fazem parte integrante da estrutura do tempo. Fora da SANTA MISSA, o que nos chama a oração é o sacrário, dentro da SANTA MISSA, devemos voltar os nossos olhares para o altar. Agora, uma coisa é certa! Se eu fosse da hierarquia da Igreja, mandava essa irmã estudar novamente a sagrada liturgia ou então, pediria para que ela se retirasse de minha diocese, pois o mal que ela está fazendo aos grupos de liturgia é tremendo. Simplesmente ela quer vender seus produtos enfeitados, modernos e sem sentido litúrgico-teológico católico. Em sinal de desagravo, convidou-me para jantar em sua comunidade, onde sua educação não me convenceu de que por amizade, eu desconsiderasse o que ela havia afirmado.

40.  É por causa dessas más-interpretações dada aos Documentos do Concílio Vaticano II que a liturgia no Brasil, em muitos lugares perdeu o seu mistério, sentimento, respeito e vida. Tudo pode ser dançado, cantado e mudado. “Quem faz a liturgia em muitas paróquias são os seus sacerdotes, o que a Igreja estabeleceu para todo o orbe. Como o Sr. Bispo não está preocupado com a Sagrada Liturgia, então eu faço o que acho está certo”. Afirmou um padre, quando eu o questionava sobre uma procissão que ele fez com a Eucaristia, após a consagração, antes da elevação do cálice.

41.  É verdade que a Igreja é convidada a inculturar o Evangelho, mas isto não é fazer da sagrada liturgia um circo, onde eu posso trocar o cálice de um material nobre, por uma pata de vaca, como acontece em algum lugar do Brasil, tudo é mudado, inclusive o ritual da Missa, ele inventa o seu próprio ritual. Missa não é evento social, não é picadeiro e tão pouco ritual profanizado com músicas gospel e paródias. Missa é o rito sagrado que a Igreja, Esposa do Cordeiro celebra o santo Sacrifício e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, para a Expiação dos nossos pecados e salvação de nossas almas. Nela participamos da Mistagogia de Deus.

42.  A Eucaristia está deixando de ser Mistério de Fé, passando a dimensão de mero banquete, algo não misterioso, coisa já entendida. Cuidado! A Eucaristia FOI, É e SEMPRE será: Mistério da Fé! Claro que comungamos, mas isto dar-se, como união íntima de Cristo à nossas almas. Por isto que devemos está sempre preparados para receber-Lo. Aos preparados, o sacerdote exulta: Felizes são os convidados à Mesa do Senhor! Em outras palavras, são felizes os que estão verdadeiramente preparados para receber o Corpo e Sangue de Cristo. 

O que é esta preparação?
43.  É a ascese, a luta que o homem deve travar com o seu próprio ser, dominando os desejos da carne. Olhando para a confissão, como algo extremamente importante, fundamental e meio pelo qual, eu me humilho na presença de Deus, para receber o perdão de todos os meus pecados, tendo como consequência a nossa união sacramental de Deus e nós. O jejum não deve ser coisa esquecida para os dias de hoje, deve ser visto como algo querido e válido para a alma que quer se parecer com o seu Senhor que reza, vigia e jejua ao Pai.

Como receber-Lo?
44.  Com o coração contrito e humilde. Após a comunhão, devemos nos alegrar, pois Cristo sacrificado quer transparecer-Se em nossas ações. O Ressuscitado, Glorioso e Vencedor nos convidam a anunciar-Lo a todos os povos. Por isto que o padre diz: Ide, a Missa terminou, inicia agora a missão de vocês. Levai a todos a alegria do Evangelho!

O Papel dos ministros de Deus
45.  Os sacerdotes nunca deixaram de ser os curas de almas. São eles os zeladores delas, nutrindo-as com a Palavra de Deus e o Pão dos anjos no Santo Sacrifício da Missa. São os primeiros dentre todos, a serem os adoradores eucarísticos, os amantes da Casa de Deus aqui na terra, os ordenadores do silêncio e da modéstia dos lugares sagrados.

46.  Cada paróquia é um aprisco que pertence ao único Sumo e Eterno Sacerdote e Bom Pastor, Jesus Cristo, que confia à administração aos seus sacerdotes. Mesmo vivendo na era digital e das facilidades de nossos dias, os ministros de Deus devem chamar o povo fiel a viverem do Céu, mesmo estando no mundo. Isto chamamos de viver no Céu por antecipação: “aonde está o teu tesouro, aí estará teu coração”. (Mt 6, 21)


47.  Na Missa ou o Sacrifício do Senhor, o povo de Deus é convocado e reunido, sob a presidência do sacerdote que representa a pessoa de Cristo, para celebrar a memória do Senhor ou sacrifício eucarístico. Por isso, a esta reunião local da santa Igreja aplica-se, de modo eminente, a promessa de Cristo: "Onde dois ou três estão reunidos no meu nome, eu estou no meio deles" (Mt 18, 20). Pois, na celebração da Missa, em que se perpetua o sacrifício da cruz, Cristo está realmente presente tanto na assembléia reunida em seu nome, como na pessoa do ministro, na sua palavra, e também, de modo substancial e permanente, sob as espécies eucarísticas.

48.  A Missa consta, por assim dizer, de duas partes, a saber, a liturgia da palavra e a liturgia eucarística, tão intimamente unidas entre si, que constituem um só ato de culto. De fato, na Missa se prepara tanto a mesa da Palavra de Deus como a do Corpo de Cristo, para ensinar e alimentar os fiéis. Santo Agostinho já dizia que “em cada Missa devemos comungar dos três Pães: o Pão da Palavra, da Eucaristia e o pão da caridade.” Então é muito Forte e infinito o mistério que participamos e  comungamos na Missa.


49.  Em cada Missa experimentamos o Ressuscitado que se imola novamente e ressuscita a Si mesmo para o perdão de nossos pecados e dos pecados daqueles que os colocamos como intenção, no santo Sacrifício da Missa. Nisto podemos entender que quando participamos da renovação do Calvário, somos cada vez mais, aprofundados na vida do Ressurrecto, sem deixar de ver-Lo com as marcas da Paixão. Fazer-se presente ao ato redentor da Missa é ser inserido em nas três vias que são indispensáveis para solidificar-nos no seguimento de Cristo: Cruz (dificuldades diárias), Martírio (sofrimentos contínuos) e Eucaristia (ação de graças, mesmo sem ver dias melhores, mas sempre está na expectativa de viver-los).

50.  Deve ser entendido isto como meio que a Igreja Católica, guiada pelo Espírito Santo nos coloca como via realizada por Cristo, sendo por obrigação amorosa, repetida por nós como configuração com o Nosso Senhor. Pois, só é cristão de verdade quem faz as vezes do Cristo na sociedade em que se vive. Santo Agostinho nos ensina que nós devemos nos transformarmos nAquele que comungamos, sem nunca deixarmos de sermos discípulos da Escola da Oração, porque quem reza sempre vence, quem não reza é vencido!

51.  São João da Cruz diz que o demônio teme a alma unida a Deus como ao próprio Deus. Sendo assim, participemos com mais frequência da Santa Missa, pois nela está contida oração de agradecimento, pedido de perdão, Palavra de Deus, Alimento dos Anjos para nossas almas, culto espiritual, louvores, exorcismo e derramamento de graças. Então, nenhuma oração, nem rito é tão completo e agradável a Deus como a Missa, que é Ele mesmo o Sacerdote, Vítima e Altar.

52.  A liturgia da Igreja Católica foi, é e nunca deixará de ser a Lei da Oração, norma de Ação de Graças e Regra de Fé.

53.  Deve-se, por isso, interpretar a Liturgia conforme seu sentido integral. Ela é como um grande Livro do Espírito Santo. De fato, nas orações e nos atos de culto, o Espírito Santo ilumina as almas, manifesta-lhes a sua Vontade, infunde-lhes a sua graça, auxilia a nossa fraqueza, pois nem sabemos o que havemos de pedir, como convém. Mas, o próprio “Espírito Santo reza por nós com gemidos inenarráveis e Aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito Santo, porque este intercede em favor dos santos, sempre segundo a vontade de Deus” (Rm 8, 26-27).
                                            
A Igreja quer levar o homem a Deus
54.  É por meio da Liturgia que a Igreja quer levar o homem a Deus. A beleza disso é que Ela quer levar-lo integralmente: inteligência, vontade e coração. Por isto, a Igreja nos aponta a Nosso Senhor Jesus Cristo pela Liturgia, para que por ela experimentemos o Senhor que Se revelou como tal.

Missa para o homem tem um valor infalível e infinito
55.  Olhemos para a Santa Missa com os olhos da economia, para vermos que ela tem um valor infalível e infinito, porque é Sacrifício e oração do próprio Deus Filho feito Homem. Entendendo isto, teremos mais prudência na hora de vermos que no ritual da Missa não se usa de teatro, danças e procissões que não esteja já fixado, nem é digno dele.

56.  Os frutos dessa prudência recebem o homem. Eles são, dentro da economia espiritual, falíveis e finitos. Porque dependem das disposições daqueles que o recebem. Quanto mais o homem procura pela devoção, confissão e contrição de conversão diária, seu estado de graça é elevado por tais Dons.
                                   Quatro frutos proporcionam o Santo Sacrifício:
                                      1° Universal, para todos os fiéis vivos e defuntos;
                                      2° Geral, para aquele que participa (aquele que está presente) do      Sacrifício;
                                     3° Um especial, por quem é aplicada a Missa;
                                     4° Um especialíssimo para o celebrante. 
A essência da Santa Missa se divide em três partes: didática ou instrutiva, sacrifical e satisfatória.
primeira, instrutiva, apresenta os ensinamentos de Cristo, mediante a leitura dos livros Sagrados com a exaltação dos Evangelhos. Nesta parte entra a homilia, a profissão de Fé (credo) e é concluída com as preces do povo santo reunido ou pelo povo santo, caso o sacerdote queira, em seu Sacrifício particular, colocar. 
Na segunda parte é realizada a essência do Sacrifício: a Consagração. O sacerdote, em nome e na pessoa do Senhor Jesus Cristo, repete os gestos e as palavras onipotentes que Ele pronunciou na instituição da Eucaristia.
terceira parte é o complemento necessário do Santo Sacrifício: Jesus se dar totalmente as almas para fazer-las viver de sua própria Vida divina. Pois, ao redor da Consagração, em que está o Sacrifício Eucarístico todo, e da comunhão, com a qual o fiel participa intimamente da Vítima imolada, foram-se acrescentado, no decorrer dos séculos, desde os primórdios do cristianismo, ensinamentos em forma de várias preces.
Missa o centro da vida cristã
57.  Sendo o Missa o centro da vida cristã, merece realmente ser compreendida sempre e, sempre melhor. Em três tempos o católico é convidado a participar com corpo, mente e coração. Neles se realizam o magno drama da Redenção: principia com a Encarnação de Deus Filho, completa-se no Mistério Pascal e se aplica às almas com a vinda do Espírito Santo em Pentecostes, continuado com o tempo ordinário até a solenidade de Cristo Rei e Eterno Sacerdote. 

58.  Sem sombra de dúvida, pode-se dizer que a Liturgia da Igreja é essencialmente um reflexo da Liturgia celeste. Eminentemente escatológica e apocalíptica, não é visto como um acontecimento que virá no futuro, mas é «fato presente» pela ação litúrgica e pelo quadro no qual ela se desenrola. O mundo celeste participa na liturgia terrestre, se bem que não há, finalmente, mais que uma Liturgia, ao mesmo tempo, terrestre e celeste, da qual a Liturgia trinitária, o Triságion – a tríplice «ação de graças» in divinis – é o protótipo eterno e imutável. É por isso que, de uma forma bem especial em nossas solenidades, onde se utilizam do incenso, o celebrante começa a incensar as ofertas, depois a Cruz do Senhor, as santas imagens, depois os concelebrantes (sendo a hierarquia eclesiástica a imagem da hierarquia celeste) e, finalmente, o povo fiel.

59.  Os fiéis participam ativamente na Liturgia, do começo ao fim, com preces, hinos e respostas brotadas do coração da Igreja. Que a partir de hoje, tomemos consciência de catequizar o povo fiel na Liturgia de participamos, tendo em mente que ela não é invenção nossa, nem pode ser adaptada a gostos, nem por parte da comunidade, nem por parte do celebrante. Cuidado com isto! com o pretexto de inculturação litúrgica, o essencial seja perdido e o supérfluo inserido.

60.  O povo de Deus no Antigo Testamento não foi convidado, mas convocado a participar da Liturgia Sagrada pelo próprio Libertador (Ex 19, 16-24 / Ne 8-9). Pois a partir daqui, a Liturgia não era somente a ação pública de um povo na sociedade, mas também um ofício religioso de direito para com Deus.

61.  A Liturgia passa a ser necessária na vida espiritual do povo. E Deus aceita esta ação se fazendo presente para ouvir, ver, tocar, falar e sentir tudo aquilo que era oferecido a Ele. Aqui percebemos que a liturgia no Antigo e Novo Testamento mobiliza os cinco sentidos de Deus. É por isso que os sacerdotes deveriam ter grande zelo, cuidado e amor por tudo o que era executado na sagrada Liturgia, porque tudo era para o Grande e Soberano Deus. O Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, para o Senhor que dar a vida e a tira de volta, o Deus temeroso que falava dentre os trovões e relâmpagos; Aquele que pediu a Moisés que confeccionasse objetos que seriam santificados por Ele, para o seu culto. Vemos isto em detalhes na belíssima leitura do Ex do 25 ao 30, do 36 a 40. Estes são capítulos que devem ser lidos atentamente; perceberemos que Deus é detalhista, gosta dos detalhes e pede que seja feita desde aos pequenos objetos às grandes cortinas das tendas.

62.  A Liturgia de Deus é o Tesouro que temos visivelmente aqui na terra para entrarmos em Deus e Deus em nós.

63.  Se fizermos uma pesquisa do que vem ser a Santa Missa, vamos encontrar milhares de autores de todos os séculos depois de Cristo, fazendo avaliações concretas do daquilo que celebramos como Mistério; afirmando que entramos na parte impenetrável da área espiritual, em que outrora o sacerdote da Antiga Lei, só era autorizado a entrar uma vez por ano. Diz assim o autor sagrado: “Ora, aconteceu que, ao desempenhar ele (Zacarias) as funções sacerdotais diante de Deus, no turno de sua classe, coube-lhe por sorte entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso.Toda a assembléia estava fora, em oração, na hora do incenso” (Lc 1,8-10). Vejam as palavras que estão sublinhadas: o sacerdote exerce seu ministério sacerdotal diante da presença real do Senhor. Na hora do culto não estão para agradar o povo, mas para agradar exclusivamente a Deus. E o povo o acompanha em oração. Se estão em oração estão em piedade, em contrição, pois não se faz uma boa oração se não tem esses dois requisitos. Aqui não quero trazer uma idéia nova, mas compartilhar meu jeito particular do que para mim é a Santa Missa.

64.  Quando participamos com a oração e o coração da Santa Missa, Deus nos fala através da Liturgia executada e nós falamos com Ele. Há uma comunicação entre Deus e nós, nós e Deus. Para muitos, a execução dos rituais na Liturgia Eucarística podem ser um teatro, claro, para os que não vêem com os olhos da Fé, aqueles ritos realizado pelo sacerdote. Mas, para os que se deixam ser conduzidos pelos ritos, vão mergulhando de uma forma surpreendente no Mistério.

65.  Por que vão mergulhando? Porque mistério não se entende, mas, participamos dele. É isso que cada sacerdote, consagrado e leigo tem que recordar que na Santa Missa ocorre um mistério, pois a ordem do ritual da Missa não dever ser visto como coisa automática que tem sua hora de ser feita, e muito mal feita e pronto. O cuidado está para não fazermos do altar nossos palcos de apresentações, fazendo do cântico um show, das leituras uma narração de jogo de futebol pelo rádio,  do altar e ambão, um depósito de maracutaias, fitas, jarros e luzes. Substituindo a entrada triunfal do Evangeliário na procissão de entrada, trazida pelo diácono ou um sacerdote, por umas pessoas quase desnudas com aquelas roupas finas, dançando um rebolation e sendo aplaudido pelo povo. Nesta hora o povo reunido deixa de ser assembléia e passa a ser um público qualquer.

66.  Não se tem mais critérios para escolher os hinos cantados e aceitos na Liturgia; não se tem mais respeito em grandes partes de nossas paróquias pelo Mistério celebrado. Os nossos sacerdotes estão preocupados com a parte administrativa de suas paróquias; e a parte principal, que é a vida espiritual das almas, está sendo esquecida. Está passando da hora de nossos padres perceberem que eles são OS CURAS de almas. Este nome tão antigo não perdeu a sua essência, porque no dia que ele cair de moda, os sacerdotes deixarão de ser o que são na sua origem. Pois um sacerdote age em Persona Christi, um dom digníssimo de perdoar, curar, libertar e santificar uma alma, através dos sacramentos, e principalmente por meio da Santa Missa.

67.  Já vimos aqui exaustivamente que a Igreja, na hora da Santa Missa, participa de uma forma inexplicável, ativamente do mesmo Sacrifício realizado por Jesus no Calvário, isto ocorre de uma forma incruenta, como nos ensina a Igreja. E, quando participamos da Santa Missa, estamos aos pés da Cruz Redentora no Calvário. Por isso que em cada templo católico que entramos, encontramos uma cruz no presbitério, para lembrar que ali ocorre um Sacrifício incruento da Cruz, em cada Santa Missa. Então em cada Missa que participamos, devemos estar concentrados o Maximo possível para que nenhuma palavra pronunciada passe por nós sem causar o seu efeito. Nossos sentimentos devem ser de piedade, devoção e contrição, pois estamos participando de um Ato de Amor de Deus, um Ato de Absolvição de pecados da humanidade, um Ato de Agradecimento e Graça que são derramados sobre nós e sobre aqueles que trouxemos como intenção para a Missa.

68.  Que os shows artísticos que ocorrem inocentemente dentro da Santa Missa, não venha a tirar a sua piedade. Todos podem estar envolvidos pela música, você terá a obrigação de estar envolvido com Jesus que vem a nós na sua Palavra e na Comunhão. – Agora, se ocorrer um divórcio entre a equipe de liturgia e o altar, participe com todo o amor possível. Porque tudo na Santa Missa nos deve levar ao Mistério Pascal.

69.  Chegará um dia em que não necessitaremos de celebrar o Santo Sacrifício da Missa! Quando formos levados a realidade prometida por Deus, onde o veremos face a face. A Santa Missa permite que antecipemos esse momento esperado.

70.  Participar da Santa Missa é como que, somos transportados através de um portal espiritual a uma realidade incapaz de ser explicada por mentes humanas. Isto não sou eu que afirmo, mas a Igreja na Sacrosanctum Concilium num. 8: “Pela Liturgia da terra participamos, saboreando-a já, na Liturgia celeste celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual, como peregrinos nos dirigimos e onde Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do verdadeiro Tabernáculo; por meio dela cantamos ao Senhor um hino de glória com toda a milícia do exército celestial, esperamos ter parte e comunhão com os Santos cuja memória veneramos, e aguardamos o Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até Ele aparecer como nossa vida e nós aparecermos com Ele na glória”. Este  e até, resume o pensamento da Igreja, com relação à Liturgia Eucarística, como eu havia falado, mas também afirma, aquilo que escrevi atrás, de que celebramos por um espaço de tempo humano, como antecipação daquilo que nos espera no futuro, onde não necessitaremos mais da celebração humana, pois seremos espirituais como Deus é, e prometeu que seriamos. 

71.  A Liturgia Eucarística é fonte de vida para os cristãos quando nós nos interessamos em entender-la. O Mistério Eucarístico não conseguimos entender, mas a Liturgia, sim, nós entendemos. Por isso, continua a SC no num. 10, dizendo: Contudo, a Liturgia é simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua força. Na verdade, o trabalho apostólico ordena-se a conseguir que todos os que se tornaram filhos de Deus pela fé e pelo Batismo se reúnam em assembléia para louvar a Deus no meio da Igreja, participem no Sacrifício e comam a Ceia do Senhor.  A Liturgia, por sua vez, impele os fiéis, saciados pelos «mistérios pascais», a viverem «unidos no amor»; pede «que sejam fiéis na vida a quanto receberam pela fé»; e pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristiacorre sobre nós, como de sua fonte, a graçae por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam, como a seu fim, todas as outras obras da Igreja.

72.  Quando se inicia o Santo Sacrifício da Missa, se abre um portal, como mencionei acima, e começamos a participar da glória de Deus com antecipação, terminando a Santa Missa, voltamos a nossa realidade humana, transformado para transformar o mundo. Diz São Paulo: "Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito". (Rm 12,2) 

73.  Tendo essa consciência de que somos inseridos na honra de Cristo no momento da Santa Missa, temos que agora, nos remodelarmos interiormente e exteriormente, diante do Tesouro que experimentamos. Por isso, o respeito pelo templo, pelas coisas sagradas, pelos objetos, vestimentas etc., devem estar pulsando dentro de nós, todas as vezes que cruzamos os umbrais da Casa de Deus. O grande São Cesário de Arles (470-543), disse: “Na igreja, não fiqueis tagarelando, mas ouvi pacientemente as leituras da Palavra de Deus. Quem fica conversando na igreja deverá prestar contas, não só do mal que causa a si mesmo, mas também do que causa aos outros: pois nem ele ouve a Palavra de Deus nem deixa que os outros a ouçam. Nós, caríssimos irmãos, conscientes de nossa responsabilidade, advertimos-vos com solicitude paterna: se de bom grado nos ouvirdes, dar-nos-eis uma grande alegria e chegareis felizmente ao reino de Cristo. Que Ele se digne vo-lo conceder, Ele que, com o Pai e o Espírito Santo, vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém “.(sermão 13)

74.  No discurso da visita ad limina do Beato João Paulo II em 1998 para os bispos americanos do Alaska, Idaho, Montana, Oregon e Washington, afirmou maravilhosamente para cada um de nós que olhando o passado,  no campo de renovação da liturgia durante os anos desde o Vaticano II, vemos muitas razões para agradecer e louvar de coração a Santíssima Trindade pela consciência maravilhosa que tem se desenvolvido entre os fiéis sobre a função e responsabilidade deles nesta obra sacerdotal de Cristo e de Sua Igreja. Porém também percebemos que nem todas as mudanças foram sempre e em todo lugar acompanhadas pela explanação e catequese necessárias. Como resultado, em alguns casos houve um mal-entendido a respeito da natureza da liturgia, levando a abusos, polarização, e algumas vezes até mesmo escândalos graves. Depois de uma prática de mais de 30 anos de renovação litúrgica, estamos bem situados para avaliarmos ambos, os pontos fortes e os pontos fracos do que tem sido feito, para poder mais confiantemente esquematizar nossa trajetória no futuro que Deus tem em mente para Seu povo amado.

75.  O desafio agora é mover para além de quaisquer mal-entendidos que tenha havido e alcançar o ponto correto de equilíbrio, especialmente entrando mais profundamente na dimensão contemplativa da cerimônia, que inclui o senso de respeito, reverência e adoração que são atitudes fundamentais em nosso relacionamento com Deus. Isto acontecerá somente se reconhecermos que a liturgia tem dimensões ambas locais e universais, limitadas no tempo e eternas, horizontal e vertical, subjetiva e objetiva. São precisamente estas tensões que dão à cerimônia católica seu caráter distintivo.

76.  A Igreja Universal está unida em um grande ato de louvor, mas é sempre o ofício de uma comunidade particular numa cultura particular. É a cerimônia eterna do céu, mas está também impregnada no tempo. Ela reúne e constrói uma comunidade humana, mas é também a adoração da majestade divina. Ela é subjetiva no que depende radicalmente daquilo que os participantes trazem consigo, mas é objetiva no que os transcende como o ato sacerdotal do próprio Cristo, ao qual Ele nos une mas que por fim não depende de nós. É por isto que é tão importante que a lei litúrgica seja respeitada. O sacerdote é servo da liturgia, não seu inventor ou produtor, tem uma responsabilidade particular a este respeito a fim de que ele não esvazie a liturgia de seu significado verdadeiro ou obscureça seu caráter sagrado.

77.  O centro do mistério do rito cristão é o sacrifício de Cristo sendo oferecido ao Pai e a obra do Cristo ressuscitado que santifica Seu povo pelos símbolos litúrgicos. É portanto essencial que ao procurar entrar mais profundamente nas profundezas contemplativas da cerimônia, o mistério inesgotável do sacerdócio de Jesus Cristo seja inteiramente reconhecido e respeitado.

78.  Enquanto todos os batizados participam do sacerdócio de Cristo, nem todos participam da mesma maneira. O sacerdócio ministerial, enraizado na sucessão apostólica, confere aos sacerdotes ordenados faculdades e responsabilidades que são diferentes daqueles dos leigos, mas que estão ao serviço do sacerdócio comum e são direcionados ao desdobramento da graça batismal de todos os cristãos. O sacerdote então não é somente aquele que preside, mas aquele que age na pessoa de Cristo.

79.  Somente sendo radicalmente fiel a esta base doutrinal é que poderemos evitar interpretações unilaterais e unidimensionais dos ensinos do Concílio. A participação de todos os batizados no sacerdócio de Jesus Cristo é a chave para compreender o chamado do Concílio para "participação ativa, consciente e total" na liturgia. Participação total certamente significa que cada membro da comunidade tem uma parte a fazer na liturgia; e a este respeito bastante tem sido alcançado nas paróquias e comunidades por todo o vosso país. Mas participação total não significa que todos façam tudo, pois isto levaria ao clericato dos leigos e ao laicismo do sacerdócio e isto não é o que o Concilio tinha em mente. A liturgia, como a Igreja, é destinada a ser hierárquica e polifônica, respeitando as diferentes funções outorgadas por Cristo e permitindo que todas as diferentes vozes se misturem em um grande hino de louvor.

80.  Participação ativa certamente significa que em gestos, palavras, cânticos, e serviço todos os membros da comunidade participem no ato de adoração que é tudo, menos inerte ou passivo. Ainda assim, participação ativa não previne a passividade ativa do silêncio, quietude, e escuta: na verdade, ela o exige. Os participantes não são passivos, por exemplo, quando ouvem as leituras ou a homilia, ou as orações do celebrante que se seguem e os cantos e músicas da liturgia. Estas são experiências de silêncio e quietude, mas elas são a seu modo profundamente ativas. Numa cultura que nem favorece nem encoraja o silêncio meditativo, a arte de escuta interior é aprendida somente com dificuldade. Aqui nós vemos o quanto a liturgia, embora deva ser sempre inculturada apropriadamente, deve também ser contra-cultural.

81.  Participação consciente exige que a comunidade inteira seja instruída devidamente nos mistérios da liturgia, a fim de que a prática do ofício não se degenere em uma forma de ritualismo. Mas isto não significa uma tentativa constante dentro da própria liturgia de tornar o implícito explícito, pois isto normalmente leva a uma verbosidade e informalidade que não pertencem ao rito romano e terminam por trivializar o ato de adoração.

82.  O uso do vernáculo certamente abriu os tesouros da liturgia a todos o que tomam parte nela, mas isto não significa que o latim - e especialmente os cânticos, que são tão incrivelmente adaptados ao gênio do rito romano - devam ser completamente abandonados. Se a prática subconsciente é ignorada no serviço, um vácuo afetivo e devocional são criados, e a liturgia pode se tornar não só muito verbal, mas também muito cerebral. No entanto, o rito romano é novamente distinto no equilíbrio que ele alcança entre a disponibilização e a riqueza da emoção: alimenta o coração e a mente, o corpo e a alma.

83.  Tem sido escrito com bastante razão que na história da Igreja toda renovação verdadeira tem sido associada a uma releitura dos Pais da Igreja. E o que é verdade em geral, é verdade a respeito da liturgia em particular. Os Pais eram pastores com um zelo ardente pela tarefa de propagação do Evangelho; e portanto eles estavam profundamente interessados em todas as dimensões da cerimônia, deixando-nos alguns dos mais significativos e permanentes textos da tradição cristã, que são tudo, menos o resultado de um esteticismo árido.

84.  Os Pais eram pregadores ardentes, e é difícil imaginar que pudesse haver uma renovação eficaz da pregação católica, como desejava o Concílio, sem uma familiaridade suficiente com a tradição patrística. O Concílio promoveu uma mudança no modo homilético de pregação que exporia, como os Pais, o texto bíblico de uma forma que abre suas riquezas inesgotáveis aos fiéis.

85.  A importância que a pregação assumiu na cerimônia católica desde o Concílio significa que os padres e diáconos devem ser treinados a fazer bom uso da Bíblia. Mas isto também envolve familiaridade com toda a tradição patrística, teológica e moral bem como o conhecimento penetrante de suas comunidades e da sociedade em geral. Senão, a impressão que é dada é de um ensinamento sem raízes, sem aplicação universal inerente na mensagem do Evangelho. A síntese excelente da riqueza doutrinária da Igreja contida no Catecismo da Igreja Católica ainda tem que ser experimentada mais amplamente como uma influência na pregação católica.

86.  O rito romano tem sempre sido uma forma de rito que olha para a missão. É por isto que é comparativamente breve: havia muito a ser feito fora da Igreja, e é por isto que temos a dispensa "Ite missa est", que nos dá o termo da Missa: a comunidade é enviada a evangelizar o mundo em obediência ao mandamento de Cristo (cf. Mt 28, 19-20).

87.  Os jovens irão continuar a ter uma parte ativa na liturgia se eles a vivenciarem como sendo capaz de liderá-los a um relacionamento pessoal mais profundo com Deus, e é desta experiência que virão vocações sacerdotais e religiosas marcadas por uma energia verdadeiramente evangélica e missionária. Neste sentido, os jovens estão convocando o mundo todo a darem o próximo passo em implementar a visão do serviço litúrgico que o Concílio nos legou. Aliviados pela agenda ideológica de uma época anterior, eles são capazes de falar simplesmente e diretamente do seu desejo de experimentar Deus, especialmente em oração pública ou particular. Ouvindo-os, nós podemos muito bem ouvir "o que o Espírito está dizendo às igrejas" (Ap 2, 11).

88.  No âmago de nossa experiência de peregrinação está nossa jornada de pecadores dentro das profundezas impenetráveis da liturgia da Igreja, a liturgia da criação, a liturgia do céu - todas que são no final a liturgia de Jesus Cristo, o sacerdote eterno, no qual a Igreja e toda a criação são atraídos na vida da Santíssima Trindade, nosso verdadeiro lar. Este é o propósito de todo nosso serviço religioso e toda nossa evangelização.

Conclusão

89.  Enfim, para a glória de Deus e salvação das almas: Esta é a finalidade primeira da Liturgia. Devemos a Deus este culto, por ser Ele nosso Deus, nosso Senhor, nosso Criador e porque Ele nos livrou do fogo do inferno morrendo na Cruz por nós, merecendo por nós, já que não tínhamos como merecer sozinhos, o nosso perdão. Por isso louvaremos eternamente a Deus, cantaremos a sua glória, elevaremos nossas almas cheias de amor e de gratidão ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, a esta Trindade Santa que é um único e soberano Deus. Não há nada que agrade mais a Deus e, que lhe dê maior glória do que o culto que Ele mesmo instituiu para seus filhos, a Santa Missa sacrifício de seu Filho Unigênito.

90.  Toda a vida litúrgica abre para os homens de boa vontade um tesouro insondável, um reino misterioso e luminoso, cheio de luzes e de consolações, que nos invade com uma paz duradoura no meio dos maiores tormentos que a vida nos traz. Pela liturgia as almas descobrem o espírito de oração, a sacralidade de cada gesto, de cada objeto, o respeito cheio de graça, de beleza e de bondade que nos dá a proximidade de Deus e de sua Igreja, nossa Mãe. Na liturgia encontramos todos os instrumentos necessários para a nossa salvação, através dos sacramentos e das orações que a Igreja perpetua a Deus. Nela vivemos a vida de virtudes e de dons que aprendemos na moral, pelo exemplo de Jesus Cristo, pelas graças que recebemos de Nossa Senhora e pelo exemplo dos santos a quem tributamos um culto especial, por estarem eles muito perto de Deus, capazes de intercederem e pedir por nós.

91.  Antes mesmo de considerar que a Liturgia nos faz viver dentro destes instrumentos de salvação, podemos também verificar que todo o Catecismo, estudado ao longo de todos esses anos, estará presente diante de nós, cada vez que estivermos na igreja, elevando nossas almas a Deus, num culto de ação de graças a Deus. Que Maria Santíssima, mãe de Jesus Sacerdote nos ensine a perseverar na oração, em comunidade e na fração do Pão descido do céu.



Em Jesus e Maria Santíssima

José Wilson Fabrício da Silva, crl


Osasco, 25 de janeiro de 2013
Festa da conversão de São Paulo



Bibliografia
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ALVES Melo Antonio. A presença do Senhor na eucaristia: mistério no mistério. Considerações históricas, teológicas e pastorais. In: REB, Petrópolis, 64, fasc. 254, 2004, p. 337-361.

BASURKO X. & GOENAGA J. A. A vida litúrgico-sacramental da Igreja em sua evolução histórica. In: BOROBIO Dionísio (Org.). A celebração na Igreja 1: Liturgia e sacramentologia fundamental. São Paulo, Loyola, 1990, p. 37-160.

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